Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Ações e projetos inspiradores
30/05/2023 (Nº 83) PROJETO RECUPERA ÁREAS DEGRADADAS E FAZ BROTAR ÁGUA DA TERRA SECA
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PROJETO RECUPERA ÁREAS DEGRADADAS E FAZ BROTAR ÁGUA DA TERRA SECA

By  SAMUEL STRAIOTO

12 de março de 2023

Um projeto tem recuperado áreas degradadas em cerca de 40 cidades goianas. Os locais eram regiões que sofriam com a crise hídrica, cujo abastecimento de água estava comprometido. Trabalho de extensão rural ajuda a recompor vegetação e aumentar a produção do recurso hídrico. Água corre em abundância após preservação ambiental.

A água alegra o verde, renova a vida. Há cerca de 10 anos, um programa de recuperação ambiental, ajuda a produzir mais água em locais que antes estavam degradados. A reportagem visitou duas propriedades rurais em Jandaia, a 120 km de Goiânia.

Hoje está em torno de 40 cidades, em que acontece ou em fase de elaboração. Esse projeto está desde 2012, cada ano fazemos de quatro a cinco cidades e estamos conseguindo já voltar água em vários municípios que antes a situação de abastecimento estava caótica”, destacou o supervisor de Agroecologia e Meio Ambiente da Emater, Léo Lince do Carmo Almeida.

Terraços

O trabalho é executado pela Emater e parceiros. Em uma das propriedades visitadas, nas partes mais altas, a água em vez de correr pela superfície, destruindo tudo, e levando tudo pela frente, tem a força contida por estruturas de terra chamadas terraços.

São cortes feitos na terra, formando uma espécie de canaleta, em que a água da chuva é direcionada para a estrutura. A função é diminuir a velocidade, e retendo ela por mais tempo, aumentando a penetração no solo, colaborando para recomposição do lençol freático.

Terraço usado para absorver água da chuva coberto por vegetação. Foto: Samuel Straioto.

Desta forma, de jeito manso, suave, delicado a água vai dançando charmosa, na sua jornada comprida, vai molhando solo a baixo, passando pelos riachos, enchendo lagoas.

A água quando ela cai, se não entrar para o solo, vai correr pela superfície provocando estragos e assoreando os leitos dos córregos e quando ela para nos terraços e nas bacias de contenção e ela vai encontrando meios de infiltrar no solo e com isso abastece todo o sistema hídrico dentro do solo”, afirmou Denilson Vieira, assistente de Desenvolvimento Rural, executor de projetos em nascentes.

Bacias de Contenção

Logo abaixo dos terraços, em chuvas mais fortes, há a necessidade de outra estrutura, as chamadas bacias de captação.

São buracos que acaba absorvendo a água da chuva, que penetra solo adentro recarrega bem o lençol freático, aumentando a porosidade do solo e resultando em afloramentos.

Cercamento da área

Outro trabalho importante que resultou na produção de mais água, foi a partir do cercamento de áreas que antes eram pisoteadas pelo gado. Os animais percorriam este tipo de ambiente para matar a sede e buscar alimentos. Mas o resultado para a vegetação era prejudicial, pois o solo ficava compactado.

No lençol freático a água se faz poupança, é reserva e esperança. Vereda vai se aninhando, onde água nunca falta. Nela o Buriti dá o sinal, as folhas verdes da palmeira se abrem, indicando que um oásis no meio do cerrado.

A área foi cercada, mudas plantadas e a própria mãe natureza ajudou na recomposição. O gado agora olha de longe, já não chega no brejeiro, fica do outro lado da cerca. Em apenas três anos, o trieiro que era caminho pro gado, agora virou corredeira. A água corre mansa e faceira, mas o trabalho foi árduo.

Antiga passagem de animais virou curso d’água. Vídeo: Samuel Straioto

Era tudo aberto. Não tinha a ideia de isolar as nascentes, com isso o gado pisoteava toda a área em torno das nascentes, compactando o solo e dificultando a porosidade do solo, pois é com os poros do solo que a água vem na superfície. Agora, depois do cercamento, o gado já não entra mais e o solo está se tornando poroso novamente e com isso, a água continua no seu fluxo normal, com a superfície com maior volume”, explicou Denílson.

O cercamento desta propriedade em Jandaia, foi feita com mão de obra de reeducandos do sistema penitenciário, num trabalho de remição da pena.

De acordo com o inciso I do artigo 126 da Lei 7210/84, a Lei de Execução Penal, a cada três dias trabalhados, o preso tem o perdão de um dia na sua pena.

Cerca foi feita com mão-de-obra do sistema prisional. Foto: Samuel Straioto.

Represamento

Já em outra propriedade rural, também no município de Jandaia, houve outro trabalho realizado para armazenar água da chuva. Em setembro do ano passado, foi construído uma estrutura para represamento, distribuindo níveis de terra.

A água que antes escorria e não era absorvida, agora ficou acumulada. A lagoa já tem cerca de 3 metros de profundidade a tendência é que aumente nos próximos períodos de chuva.

Lagoa passou a existir com água da chuva. Vídeo: Samuel Straioto

O resultado para a propriedade é fabuloso. Aqui puxava água na seca, mas praticamente secava, hoje não mais. Onde você anda há água e na vereda há um afloramento de água para todos os lados por onde você anda”, relatou Léo Lince.

Lagoa foi carregada com água da chuva. Foto: Samuel Straioto.

Abastecimento

Para o abastecimento de água, o resultado em Jandaia em dez anos é positivo. A vazão necessária para chegar as torneiras dos cerca de 6 mil habitantes é de 26 litros por segundo.

No período de seca, o mínimo é de 60 litros por segundo, mas durante as chuvas ultrapassa 200 litros por segundo.

Aqui em Jandaia, temos apoio quase que total dos produtores, da prefeitura, e é um projeto que está dando certo. Aqui a vazão para abastecimento de água estava chegando no limite, aqui era 26 litros por captação e tinha dia que era preciso parar as máquinas, hoje isso não precisa mais, a vazão subiu para mais de 60 litros na seca, período mais críticos”, destacou o supervisor de Agroecologia e Meio Ambiente da Emater, Léo Lince do Carmo Almeida.

Ser Natureza

O trabalho é desenvolvido pela Emater, Saneago, prefeituras, produtores rurais e é coordenado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), dentro de um projeto chamado Ser Natureza. A ação é desenvolvida desde 2012, em vez de mover ações judiciais, o MP preferiu aplicar o princípio jurídico da Economia Processual e desenvolveu um trabalho de conscientização ambiental, em conjunto com parceiros.

Repense

Esta reportagem integra a segunda temporada da série Repense desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Renapsi e da  Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 48 episódios abordamos temas relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas ONU. Nesta reportagem a temática inclui os ODS: 06 – Água potável e saneamento, 11 – Cidades e comunidades sustentáveis e 12 – Consumo e produção sustentáveis.

Fonte: Projeto recupera áreas degradadas e faz brotar água da terra seca - Sagres Online

Ilustrações: Silvana Santos