Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
30/05/2023 (Nº 83) ATAQUES À GESTÃO DO MEIO AMBIENTE
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ATAQUES À GESTÃO DO MEIO AMBIENTE

Arno Kayser 

Às vésperas de mais uma semana do meio ambiente o Congresso Nacional tenta esculhambar mais ainda com os órgãos de proteção ambiental e defesa dos povos originários, hoje nas mãos de políticos comprometidos com essas causas.

Esse processo é uma revanche aos avanços na causa indígena, no caso da tragédia dos Ianomâmis e também no impedimento da exploração de petróleo na foz do Amazonas.

Mas é um processo que vem de muito tempo.

Hoje as forças inimigas do meio ambiente dominam o Congresso Nacional. Na verdade é uma decisão do povo brasileiro que na hora de votar não pensa em meio ambiente. Infelizmente a gente não tem sido eficiente em passar a mensagem de defesa da natureza ao ponto dela ser prioridade da agenda política. E as forças inimigas têm trabalhando muito melhor a difusão de seus temas. Um exemplo disso é que todo mundo acha que o agronegócio carrega o Brasil nas costas quando a verdade é que a exportação de commodities agrícolas custa bilhões para o governo federal em subsídio. O Brasil sustenta o Agronegócio e sua cadeia de corporações tecnológicas que produzem os insumos que ela usa e que muitas vezes são lesivos ao meio ambiente e aos povos originários.

Mas o discurso de que o agronegócio é pop está vencendo. É só tu olhar a nova novela das nove. Um discurso melodramático em prol do agronegócio descarado e pela expansão das fronteiras agrícolas.

E isso a maioria dos ecologistas ainda não sacou. O inimigo não é o Governo Federal. É o agronegócio e a indústria do petróleo. E contar só com pressão externa não ajuda muito também porque o mercado mundial quer a soja do Brasil de qualquer jeito.

Na geopolítica mundial o papel indicado pra nós é produzir bens minerais e alimento barato. Os vários ciclos econômicos da nossa história mostram isso. E sempre que houve uma tentativa de sair dessa roda tivemos ataques a nossa soberania com apoio de setores conservadores da nossa sociedade apoiado por grandes corporações e governos externos.

Além disto, hoje temos mais outro inimigo que é a especulação imobiliária. Por isso o fim da proteção da mata atlântica pra abrir caminho para indústria de sítio de lazer “em meio à natureza” onde todo alienado ambiental rico sonha em ir morar para viver longe da poluição.

Por isso todas as conquistas que a sociedade organizada conseguiu desde os anos sessenta passaram a ser atacadas sistematicamente.

O tema é muito mais complexo na verdade. É um embate de modelos civilizatórios em disputa que se trava em muitas frentes. E hoje os ecologistas e defensores dos povos originários estão na posição de resistência. Há uns 20 anos no mínimo. Desde que os postos de poder nas máquinas públicas passaram a ser ocupados por ministros e secretários de meio ambiente do campo político dos inimigos da natureza. As forças conservadoras estão no ataque desde a “Rio mais vinte” pelo menos. Antes, seus amigos do poder econômico já estavam mexendo seus lobbys contra as causas da natureza desde que Bush pai perdeu a eleição de 1992 e Al Gore ficou vice dos EUA. Fato que foi uma consequência direta da Conferência Rio 92. Ali é o ponto de virada mundial.

Os espaços políticos nos Ministérios da área ambiental e de direitos de povos originários passaram a ser ocupados por políticos inimigos do meio ambiente com o objetivo de destruir os avanços que a sociedade conseguiu nesses anos todos.

Por isso a pressão civil organizada tem que seguir fazendo força para sair da posição de resistência e voltar a por a questão ambiental no centro do debate mundial como já foi nos anos 60 a 80.  O tema das mudanças climáticas tem ajudado nesse sentido, mas ainda há outras frentes que precisam ser postas em evidência como o da perda da biodiversidade que segue em marcha e o do avança da pobreza e das migrações de pessoas pobres fugindo das guerras, da miséria e da fome.

O debate é entre um projeto de mundo que defesa a vida de todos os seres ou um mundo em que tudo que importa é o acumulo de capital nas mãos de pouco.

 

Arno Kayser

Agrônomo, Ecologista e Escritor

Fonte: Ataques à gestão do meio ambiente | Arno Kayser (wordpress.com)



Ilustrações: Silvana Santos