Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Do Linear ao Complexo
14/03/2024 (Nº 86) PRÁTICAS EDUCATIVAS NO CONSUMO DA ENERGIA ELÉTRICA
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=4701 
  

PRÁTICAS EDUCATIVAS NO CONSUMO DA ENERGIA ELÉTRICA1

Thiago Ebert 2

Madalena Pereira da Silva3

RESUMO: Este trabalho diz respeito a práticas educativas e ao uso consciente e racional da energia elétrica. A metodologia versou numa pesquisa-ação, realizada com alunos do 2º ano do Ensino Médio, matutino, de uma Escola de Educação Básica, tendo como objetivo desenvolver atividades e ações que promovessem a reflexão sobre os cuidados, consumo consciente e racional de energia elétrica. Esta reflexão se desdobra em propostas de práticas educativas para mudanças de hábitos de todos os envolvidos, de modo a promover a redução do consumo e a importância em mantê-lo reduzido. Na pesquisa-ação foram desenvolvidas atividades envolvendo o cálculo de multiplicadores e economia de energia na escola e nas casas dos alunos. Os resultados foram promissores, pois foi possível perceber uma ótima aceitação e reflexão dos alunos durante a pesquisa-ação.

Palavras-chave: Educação, Energia Elétrica, Prática Educativa.

INTRODUÇÃO

Não é possível imaginar como seria o mundo sem energia. A verdade é que ela é sempre necessária e fundamental para que se tenha qualidade de vida. Hoje, nosso conforto, nosso trabalho e o desenvolvimento do nosso país dependem da existência de energia disponível. Ao longo de milhares de anos, o ser humano aprendeu a dominar e usar a energia de várias maneiras para produzir conforto, desenvolvimento e eficiência (MONTOIA, 2009, p.4). A descoberta do petróleo abriu novas possibilidades de uso da energia, no entanto, a da eletricidade transformou nossas vidas. É ela que permite o uso da geladeira para conservar os alimentos, do telefone e da televisão para a nossa comunicação, do videogame e do cinema para o nosso lazer, da lâmpada para nos iluminar à noite, etc. (MONTOIA, 2009, p.6). Devido a isso é necessário otimizar o uso da energia elétrica produzida e incentivar a conscientização ao uso racional da mesma, visto que a geração da mesma depende das condições do meio (fonte renovável) e recursos escassos (fonte não renovável) que podem ocasionar uma série de impactos sociais e ambientais. Assim, essa pesquisa-ação visa atuar com práticas de sensibilização para a redução de consumo de energia e incentivar os alunos utilizarem corretamente a energia elétrica com as ações de educação ambiental. Além disto, as estratégias em eficiência energética possibilitam a redução nos custos, modernização e readequação com a utilização de novos equipamentos com maior desempenho e durabilidade. A energia elétrica pode ser produzida por meio de diferentes fontes de energia: carvão mineral, derivados de petróleo, bagaço de cana, entre outras. Algumas definições tornam-se importante para o desenvolvimento deste trabalho, dentre elas a de eficiência, consumo e desempenho energético. Por eficiência energética compreende-se a capacidade de utilizar menor quantidade de energia, sem perder a qualidade, para produzir a mesma quantidade de iluminação, transporte, aquecimento ou outro serviço baseado na energia (BRASIL, 2007). Por sua vez, Grimoni et al. (2004) definem consumo energético como a quantidade de energia que um aparelho gasta para executar uma ação/reação, enquanto desempenho energético é um fator qualitativo com a capacidade de transmitir o resultado através de seu comportamento. Sobre isso Menkes (2004, p. 56) explana: Que devido o crescimento do consumo de energia, os países criaram instituições específicas para tratar da questão da eficiência energética, tais como o estímulo à utilização de fontes renováveis de energia e incentivos para implantação de sistemas mais eficientes. No Brasil, a energia vem, principalmente, de fontes limpas e renováveis, ou seja, que causam menor impacto ambiental. No Brasil quase toda a energia elétrica vem das usinas hidrelétricas, que utilizam as quedas d’água dos rios para gerar eletricidade. Depois de produzida, a energia elétrica vai para as cidades através das linhas e torres de transmissão de alta tensão. Essas linhas e torres são aquelas visíveis nas estradas e que levam a energia por longas distâncias. Quando a eletricidade chega às cidades, ela passa pelos transformadores de tensão nas subestações que diminuem a tensão. A partir daí, a energia elétrica segue pela rede de distribuição, onde os cabos instalados nos postes levam a energia até as residências. Quando nos referimos à eficiência energética, logo nos remetemos à relação entre a quantidade de energia empregada em uma atividade e aquela disponibilizada para sua realização. No entanto, para alcançarmos esta realidade, que implica na mudança de comportamento individual e coletivo de uma sociedade, a compreensão dos conceitos que permeiam este assunto precisa ser difundida. Para isso a educação tem um papel fundamental na formação de cidadãos comprometidos com uma vida de melhor qualidade. E, consequentemente, todos os assuntos que implicam para uma sociedade sustentável precisam ser tratados nos bancos escolares.

Na educação básica estamos disseminando saberes que são absorvidos por crianças e jovens que estão em plena formação de caráter. Trazer a tona o assunto eficiência energética no desenvolvimento desses cidadãos requer habilidade, criatividade e conhecimento por parte dos educadores. Sendo assim, antes de educarmos nossos alunos, precisamos dedicar nossos esforços na formação dos professores. Para buscar as ferramentas que qualificam os trabalhos desses educadores e estimular as ações socioambientais no ensino, outros segmentos da sociedade devem se articular em benefício de todos. (LOPES JR, 2018, p. 33) As iniciativas de programas de eficiência energética aplicadas pelas distribuidoras de energia apontam para esta direção (CPFL ENERGIA, 2018). O sucesso de uma iniciativa educacional na área de eficiência energética pode ser alcançado pela combinação entre a capacitação de educadores, que multiplicarão conceitos e valores, e a possibilidade de se testar o aprendizado na prática, por meio de equipamentos e estruturas disponibilizados aos alunos, e que ilustram, de maneira lúdica situações vivenciadas no cotidiano (LOPES JR, 2018). Desta maneira, além de aprender, o aluno aplica o aprendizado a sua realidade. Assim, as crianças também se tornam multiplicadores da informação em suas próprias casas, mudando a cultura da família e seus próprios hábitos. É preciso organizar os elementos que compõem o efetivo aprendizado para as diferentes faixas etárias da educação, proteger o ambiente e utilizar os recursos – como o da energia elétrica - de forma racional. Os mesmos esforços aplicados em encontrar novas fontes de energia devem ser empregados na melhor utilização dos recursos gerados hoje. Essa é a parte do compromisso da sociedade civil na busca por garantir o crescimento sustentável. (LOPES JR, 2006, p. 1). É por esse motivo que apostamos na importância da educação para a promoção do uso de energia com mais eficiência.

A economia de energia implica em mudanças de comportamento individual e coletivo de uma sociedade, a compreensão dos conceitos que permeiam este assunto precisa ser difundida, em especial, para as crianças que estão em fase de formação. Nesse viés a educação tem um papel crucial para a formação de cidadãos comprometidos e conscientes com uma cidade sustentável. Partimos do pressuposto que todos os assuntos que implicam numa sociedade sustentável precisam ser tratados nos bancos escolares. Com isso, este trabalho consiste numa pesquisa-ação desenvolvida numa escola de educação básica, com práticas educativas para conscientizar as crianças sobre o uso e consumo de energia, principalmente eletricidade, assim como perceber possíveis implicações do desperdício de energia, inclusive em termos de bem-estar e saúde humana. Pretende ainda, despertar a consciência em todos os envolvidos da necessidade da economia de energia no planeta, levar a reflexão de que a energia move o mundo sob vários pontos de vista e que o princípio de conservação da energia, a redução do consumo e dos impactos ambientais são de fundamental importância tanto para a sociedade, quanto para a comunidade escolar. Em adição, a pesquisa-ação se propõe em estimular os envolvidos a pensar de onde vem a energia usada no cotidiano (alimentação das lâmpadas, aquecimento do chuveiro, etc) e de que forma podemos usá-la racionalmente, contribuindo com o planeta.

METODOLOGIA

Este estudo se desenvolveu por meio de uma pesquisa-ação, que procede de uma busca alternativa ao padrão de pesquisa convencional. Representada por Demo (1995) como uma avaliação qualitativa das manifestações sociais, comprometida com intervenções que contemplem o autodiagnóstico (conhecimento, acumulação e sistematização dos dados) e consequente construção das estratégias de enfrentamento prático dos problemas detectados. A pesquisa participante, para Gajardo (1985, p. 40), reconhece as implicações políticas e ideológicas subjacentes a qualquer prática social, seja ela de pesquisa ou de finalidades educativas, e propugna pela mobilização de grupos e organizações para a transformação da realidade social ou para o desenvolvimento de ações que redundem em benefício coletivo. Diante disto, foram desenvolvidas ações junto aos professores e alunos para fins de avaliação das estratégias adotadas, de forma a garantir a participação e envolvimento de todos na pesquisa-ação. Para o desenvolvimento da pesquisa-ação foram necessários três encontros. No primeiro encontro para mobilizar os alunos e promover discussões sobre o tema, foram adotadas práticas educativas pautadas em reflexões do princípio de conservação, redução do consumo e dos impactos ambientais, fundamentais para a sociedade. Além da roda de conversa, os alunos foram sensibilizados com a aplicação de um vídeo (desenho animado) “Kika: De Onde Vem a Energia Elétrica?” (KIKA, 2018). Foi solicitado aos alunos, faturas com consumo de energia elétrica para o próximo encontro. No segundo encontro foi desenvolvida uma ação pedagógica em forma de roda de conversa, sendo abordadas as formas educativas para a conscientização e uso racional quanto ao consumo inteligente e sustentável da energia elétrica. Iniciamos a atividade levantando os conhecimentos prévios dos alunos sobre o uso doméstico de energia, principalmente eletricidade. Os alunos também foram convidados a refletirem sobre a necessidade, consumo e forma de economizar energia com uso dos equipamentos elétricos (TV, geladeira, microondas etc.). Na sequência houve um momento de discussões sobre a leitura de um texto informativo “Cuidados com a energia”. Posteriormente foi realizado o levantamento das faturas e efetuado os cálculos de porcentagens e KW/h. Após os cálculos foram apresentadas formas de redução no consumo de energia. No terceiro encontro foi realizada uma roda de conversa sobre assuntos relacionados à energia, desde história de eletricidade, caminhos que a energia percorre até chegar a residência, cuidados com a energia, EPI (Equipamento de Proteção Individual) entre outros. Logo após o término pedimos para os alunos avaliarem o projeto, com um pequeno relato sobre o tema proposto, metodologia e reflexões das práticas educativas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A proposta aqui apresentada alcançou os resultados desejados, uma vez que foi possível despertar a consciência em todos os envolvidos da necessidade de economizar energia. As práticas educativas foram pautadas em reflexões do princípio de conservação, redução do consumo e dos impactos ambientais, fundamentais para a sociedade. Os alunos foram estimulados e provocados através do aprender fazendo, no momento em que realizaram os cálculos com os gastos e o quanto podem economizar. A aprendizagem significativa (JONASSEN, 2007) permite que os alunos possam aplicar o conhecimento no cotidiano e tornarem-se multiplicadores das lições aprendidas. Na roda de conversa, os alunos aderiram às boas práticas educativas e se comprometeram em mudar os hábitos, através de simples atitudes, tais como, desligar as luzes ao sair dos ambientes; reduzir o tempo no banho, entre outras atitudes expostas. Na avaliação final da ação ficou evidente que os alunos compreenderam o objetivo da pesquisa-ação, relatando que aprenderam a importância do uso consciente e racional dos recursos naturais; da importância do cuidado, pois os recursos naturais podem se tornar esgotáveis; bem como o cuidado da eletricidade e uso de equipamento de proteção individual. Evidenciaram também as implicações do desperdício de energia, inclusive em termos de bem-estar e saúde humana. De acordo com CPFL Energia (2018) fica evidente que na educação multidisciplinar, a abordagem do uso racional de energia elétrica normalmente está atrelada ao ensino de ciências, biologia e física. Mas, é no processo educativo transdisciplinar que a abordagem das informações sobre uso consciente da energia elétrica e conservação de recursos naturais torna se didática, atrativa, e lúdica para os educandos. É o aprender fazendo, observando e interagindo. Através da pesquisa-ação aqui proposta essas práticas foram e podem ser propiciadas aos alunos, seja através de rodas de conversas, projetos integradores ou atividades lúdicas e colaborativas. No olhar da educação, a eficiência energética ganha aplicação quando os alunos compreendem que são as suas atitudes cotidianas que impactam diretamente no consumo da energia e consequentemente no uso dos recursos naturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema proposto pode ser abordado de modo transversal e transdisciplinar em várias unidades curriculares, sendo possível trabalhar através: - de projetos integradores, ações sociais, entre outros, oportunizando que os alunos aprendam de forma prazerosa e associada ao contexto do dia a dia. Quando as práticas educativas são envolventes e favorecem o protagonismo, há uma tendência natural que os alunos se tornam multiplicadores e acreditamos que esse objetivo foi alcançado. Portanto, concluímos que a pesquisa-ação atingiu o seu objetivo, pois através dos momentos de trocas de conhecimentos e devolutivas pelos alunos, ficou evidente a sensibilização e as mudanças de hábitos e atitudes para evitar a escassez dos recursos naturais e o desequilíbrio ambiental. Com a realização desta pesquisa acredita-se que foi possível contribuir na questão do uso racional de energia elétrica, principalmente no entendimento de como trabalhar com alunos e professores do ensino médio com esta temática. Com a pesquisa realizada na escola, foi possível avançar no entendimento sobre as questões relativas às possíveis formas de intervenção junto aos estudantes, no intuito de promover a conscientização para o uso racional de energia elétrica em suas residências. Para uma interferência junto a um grupo, diversos fatores estão envolvidos e o que se buscou nesta pesquisa foi delimitar ações específicas, realizadas com o auxílio do professor que resultaram nas boas práticas educativas no consumo de energia elétrica. Espera-se que esta pesquisa possa contribuir e incentivar futuros trabalhos na área, aproveitando a experiência aqui adquirida e ampliando o conhecimento acerca do tema quanto ao uso consciente e racional da energia elétrica.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério de Minas e Energia (MME). Balanço Energético Nacional 2007 – ano base 2006. Acessado em 31 agosto 2018. CPFL ENERGIA. Eficiência se faz junto com você. 2018. Disponível em: . Acesso em: 01 ago. 2018.

DEMO, Pedro. Metodologia científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1995.

GAJARDO, Marcela. Pesquisa participante: propostas e projetos. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 1550.

GRIMONI, J.A.B.; GALVÃO, L.C.R.; UDAETA, M.E.M. Iniciação a Conceitos de Sistemas Energéticos para o Desenvolvimento Limpo. 1.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. 308p.

GRIMONI, J.A.B; SUETA, H,; BURANI, G.F. Perdas em Instalações Residências: Causas, Impactos e Mitigação. Eletricidade Moderna, v.362, p.68-77, 2004.

JONASSEN, David. Computadores, Ferramentas Cognitivas: desenvolvendo o pensamento crítico nas escolas. Porto-Portugal: Porto Editora. Coleção Ciências da Educação Século XXI, nº 23, 2007. KIKA: De Onde Vem a Energia Elétrica?. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=8ti6FtlvMoc, acesso em 29 de julho de 2019.

LOPES JR, Luiz Carlos. A importância da educação para a eficiência energética – acesso em 30 agosto 2018. MENKES, Mônica. Eficiência Energética, Políticas Públicas e Sustentabilidade. Brasília. 2004.

MONTOIA, S. A Questão Ambiental. Campinas, SP, 2009.

1 O referido artigo foi apresentado no II EDUPALA - CONGRESSO INTERNACIONAL CONHECIMENTOS PERTINENTES PARA A EDUCAÇÃO NA AMÉRICA LATINA: FORMAÇÃO DE FORMADORES ANAIS - Edição 2018 – ISBN 978-85-68386-44-6 24/09/2018 A 26/09/2018

2 Pós Graduado em Educação, Universidade do Planalto Catarinense, Lages, SC, Brasil. thiagonayb@hotmail.com -

3 Dra. em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Docente do Programa de Pós-Graduação - Mestrado Acadêmico em Educação - PPGE/UNIPLAC email: madalenapereiradasilva@gmail.com



Ilustrações: Silvana Santos