Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início
Cadastre-se!
Procurar
Área de autores
Contato
Apresentação(4)
Normas de Publicação(1)
Podcast(1)
Dicas e Curiosidades(5)
Reflexão(6)
Para Sensibilizar(1)
Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11)
Dúvidas(1)
Entrevistas(2)
Divulgação de Eventos(1)
Sugestões bibliográficas(3)
Educação(1)
Você sabia que...(2)
Reportagem(2)
Soluções e Inovações(3)
Educação e temas emergentes(6)
Ações e projetos inspiradores(24)
Cidadania Ambiental(1)
O Eco das Vozes(1)
Do Linear ao Complexo(1)
A Natureza Inspira(1)
Relatos de Experiências(1)
Notícias(26)
| Números
|
Dinâmicas e Recursos Pedagógicos
DENTRO DO MUSEU OU EM TRILHA NA NATUREZA: COMO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SÃO ABORDADAS EM SALA DE AULA Apesar de não ter uma disciplina específica, a educação ambiental permeia o currículo de escolas. Especialistas ouvidos por GZH destacam que os mais novos são promotores dessa consciência Bianca Dilly Pode ser dentro de um museu, analisando um mapa com os relevos do Rio Grande do Sul, ou em uma trilha ao ar livre, aprendendo sobre as árvores, pedras e solo. De ambas as formas, o foco das atividades é a educação ambiental. E se antes conteúdos como as mudanças climáticas já permeavam as salas de aula gaúchas, o assunto se torna cada vez mais urgente. Ainda que não se tenha uma disciplina específica para tratar o tema, especialistas apontam que a preocupação com o meio ambiente deve ser abordada ao longo do currículo escolar. Ciências e geografia são as áreas em que a educação ambiental é comumente discutida, mas a questão climática permeia a rotina das turmas desde a Educação Infantil, devendo entrar ainda em outras áreas como português, história e até matemática. — Faz tempo que trabalhamos o conteúdo com as crianças nas escolas, mas esse momento, com tudo o que aconteceu no Estado, é um divisor de águas. Precisamos colocar o tema de maneira muito mais intensa, prática e relacionando com a realidade. É urgente — avalia a Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Bettina Steren dos Santos. Já em gerações anteriores, os primeiros contatos com a pauta ambiental geraram repercussões positivas. A professora de Pedagogia da UniRitter Vanessa Kopp conta que, ainda criança, foi ela quem levou a necessidade da separação do lixo para casa, por exemplo. Só que agora é preciso ir além. — A questão ambiental e das mudanças climáticas é de aprendizado diário, de ação e consequência, de entender que tudo o que eu faço impacta na sociedade. Quanto mais pudermos trabalhar o tema desde os primeiros anos, as crianças vão crescendo com uma consciência ambiental melhor, mais aberta ao diálogo, com possibilidades de pensar diferente e de reconstruir de forma diferente — frisa. As especialistas destacam que os mais novos são os promotores iniciais dessa consciência e por isso é importante que conceitos como o da reciclagem, reutilização e redução sejam incorporados desde a tenra infância. A aprendizagem é colocada como um prédio em construção, em que a Educação Infantil e os anos iniciais são a base, a sustentação. Porém, os “andares sequentes”, do Ensino Médio e Superior, permitem que a edificação seja concluída. Desde a leitura de textos até trabalhos de iniciação científica, as mudanças climáticas devem ser fonte recorrente de debate nos diferentes níveis de ensino. — Tudo isso é necessário para o desenvolvimento do pensamento crítico, de análise e reflexão. Esses estudantes se tornam muito mais capazes de pensar no mundo de forma integral. Entender qual é o papel dele, de agente ativo nesse processo como um todo, tornando-se uma pessoa mais consciente do que faz e de onde vive — conclui Bettina. Museu virou extensão da sala de aula Para alunos do 4º ano do Ensino Fundamental no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, o clima e a sustentabilidade são parte integrante do currículo. Mas, nos últimos dias, o debate da temática ficou ainda mais intenso, com abordagens sobre a hidrografia do Rio Grande do Sul e o entendimento acerca da enchente em diversas cidades. É o Museu Anchieta que proporciona a extensão da sala de aula, um espaço para conhecer mais das espécies e da natureza. Sentados em volta de um mapa que apresenta o relevo do Rio Grande do Sul, estudantes da turma 4ºD permaneceram com olhares atentos e realizando contribuições na aula da última quarta-feira (12). — Acho que tudo isso está acontecendo por causa da poluição e do desmatamento. As pessoas não estão tendo cuidado com o meio ambiente. Isso é um sinal — alerta Helena Kimie Brinckmann Hirano, 10 anos. Segundo a coordenadora de Unidade de Ensino do Fundamental I, Tatiane Waldow, é importante que os alunos tenham acesso às informações para poder desconstruir achismos e incertezas que circulam. Ao conhecer o ambiente, os alunos se situam e pensam no futuro. — A gente tenta organizar as coisas e não deixar tudo jogado. Quando eu vejo lixo no chão, fico muito triste. As pessoas acham que não vão sofrer com o que estão fazendo agora, mas têm que pensar depois nos filhos e netos — repreende Martín Telechea Piuma, 9 anos. Outro estímulo feito ao grupo é o de buscar possibilidades de melhorias. No período da cheia, alunos se envolveram de diferentes formas, com as notícias, doações e voluntariado das famílias. Seguindo o que é adequado à faixa etária, eles propõem soluções. — Tem muita gente ajudando. E isso é muito importante, porque as pessoas estão em abrigos e tem bastante limpeza para fazer nas ruas. Se cada um fizer a sua parte, vamos recuperar o Rio Grande do Sul — afirma Antonella Toniolo Vieira Sales, 9 anos. Trilha para conhecer e preservar o Morro das Abertas Em outro ponto da cidade, a mais de 20 quilômetros de distância, as mudanças climáticas também marcam a lista de atividades desenvolvidas. Mas, neste caso, a extensão da sala de aula virou a própria natureza. Em uma aventura, na tarde da quarta-feira (12), integrantes do projeto de Educação Ambiental da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Professor Anísio Teixeira, bairro Hípica, participaram de uma trilha pedagógica. Cerca de 20 alunos, com idades entre 8 e 12 anos, tiveram o primeiro encontro presencial com o lançamento de um novo programa, chamado de A Escola Adota um Monumento – Brasil. A proposta é trabalhar, durante três anos, o Morro das Abertas, vizinho ao colégio. Nesse momento, o objetivo foi que o grupo conhecesse a área, percorrendo 2 quilômetros de mata. — Temos o privilégio desse espaço pertinho da escola. Resolvemos aproveitar, começando por saber mais sobre o monumento que vamos preservar. Incentivamos os alunos a entenderem por que o morro é importante para a cidade, quais são as suas características e espécies. A ideia é conhecer para preservar. Estamos tendo problemas com as mudanças climáticas e precisamos, mais do que nunca, cuidar do que é nosso — detalha a professora Cynthia Bairros Tarragô Carvalho, coordenadora do projeto de Educação Ambiental há mais de 20 anos. Além de percorrer o morro e observar o entorno, Cynthia propôs que os alunos escolhessem o ponto que mais chamou a atenção durante a caminhada para fotografar. Entre matacões, árvores e cogumelos, Letícia Feijó da Silva, 11 anos, escolheu registrar um pinheiro. — Eu achei que ficou bem bonito, com o sol no fundo. E escolhi porque eu gosto das árvores. Os passarinhos moram nelas. A profe sempre nos ensina a cuidar de coisas como o chão, para não jogarmos lixo. Isso faz mal para o mundo — pondera a estudante. Comunidade escolar como rede de proteção para uma região Premiada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, existe uma iniciativa nacional que busca educar e prevenir comunidades escolares sobre as ameaças de tragédias ambientais. Trata-se do Programa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) Educação, vinculado ao Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovações (MCTI). Por meio de jornadas pedagógicas, pesquisas e ações desenvolvidas em parceria com Defesas Civis, universidades e populações de áreas de risco, o Cemaden Educação busca trazer a teoria e a prática da ciência para a sala de aula. — A gente brinca que cada escola vira um Cemaden microlocal, que faz estudos, monitoramentos e entende os alertas que são emitidos à população. Há um convite para que todos tornem o local mais resiliente. E, assim, se cria uma proteção no entorno daquela comunidade escolar. Se tivermos mais espaços escolares do Brasil trabalhando, poderíamos nos tornar uma rede de proteção do país — explica a coordenadora do Cemaden Educação, a antropóloga e educadora Rachel Trajber.
Seguindo a orientação de Rachel, comunidade da região Aberta dos Morros deve ajudar a proteger o território. Mateus Bruxel / Agência RBS Conforme o mapa da rede participante, são 35 escolas, organizações não governamentais (ONGs), coletivos e outras instituições espalhados pelo Estado. Esses grupos realizam pesquisas, como a de monitoramento das chuvas, e compartilham com os integrantes, virando investigadores do próprio território e aprofundando conhecimentos em relação ao risco de desastres. Para isso, é necessário preencher um cadastro disponível no site. Porém, o conteúdo do portal também é aberto ao público em geral. Educadores podem ter acesso a jornadas pedagógicas sobre a instalação de pluviômetros e no acompanhamento de cheias ou deslizamentos, a vulnerabilidade estrutural e qualidade das edificações, além da cartografia social, em que mapas e imagens de satélite apresentam pontos de ameaça. — A educação ambiental climática traz a dimensão de entendermos de onde vêm as mudanças. Quais as causas, as raízes. E, com ela, tudo fica mais compreensível. Acredito que as gerações que têm contato com esses saberes vão poder pensar diferente e reconstruir de forma diferente — acrescenta Rachel. O Cemaden Educação também disponibiliza o livro E a chuva..., que contribui para explicar às crianças a tragédia da enchente no Rio Grande do Sul. A obra está disponível no link. Dicas de como o assunto pode ser trabalhado em sala de aula Feiras de iniciação científica, com o desenvolvimento de pesquisas de acordo com o nível escolar e assuntos de interesse dos alunos Utilização de recursos tecnológicos para propor a construção de uma cidade mais sustentável Idealizar e propor jogos relacionados à temática Produzir textos e até mesmo concursos de redação ambiental Atividades práticas de laboratório Convidar geólogos, geógrafos, ambientalistas, climatologistas e jornalistas da área para conversar com os estudantes Implementação de elementos como pluviômetros, para análise na própria escola Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao/educacao-basica/noticia/2024/06/dentro-do-museu-ou-em-trilha-na-natureza-como-as-mudancas-climaticas-sao-abordadas-em-sala-de-aula-clxdmfe1k00yx015gau8ce4dg.html |