É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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ESCOLA DE SABERES VALORIZA O CONHECIMENTO TRADICIONAL E A PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL Imersão em campo permite que estudantes apreendam as estratégias do saber local para garantir o plantio sustentável sem derrubar a floresta. Por ASCOM
A floresta em pé é uma realidade no sítio de Cimara dos Santos, produtora da agricultura familiar da ilha de Cotijuba. Há um ano trabalhando com a priprioca, desde criança ela planta coco e açaí. E sabe muito bem o valor da produção sustentável para o meio ambiente. “Essas iniciativas, essas parcerias, são muito boas para manter a floresta em pé e não deixar devastar tudo. Antigamente, os indígenas viviam muito bem e não derrubavam nada. Com a tecnologia que a gente tem, não devia derrubar nada, pra gente viver bem. Com tudo que a floresta pode nos dar e mais o que a gente pode plantar”, ensina a produtora. Ela foi uma das participantes da primeira ação de imersão em campo da Escola de Saberes, componente estruturante do Plano de Bioeconomia (PlanBio) do governo do Estado, coordenado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas). A atividade de incentivo e apoio à bioeconomia local foi realizada nesta sexta-feira (4), em Cotijuba, em uma parceria da Secretaria com o Cesupa (Centro Universitário do Estado do Pará) e com a MMIB (Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém). Observação em campo dos cultivados dos agricultores familiares de Cotijuba, durante visita dos alunos da Escola de Saberes A ação contou com 16 alunos e do professor Danilo Caetano da disciplina “Saber local com ciência socioambiental”, do Cesupa. A atividade também teve a participação da produtora cultural Márcia Conceição e de Mairna Dias, diretora de Projetos para a Sustentabilidade da Fecaf (Federação das Cooperativas da Agricultura Familiar). Troca – “É muito importante a troca de conhecimento e de fomento da própria comunidade. E para nós é fundamental o poder público ter conhecimento das nossas ações. É muito interessante para a gente ter esse acompanhamento e esse olhar da Secretaria sobre o que a gente está fazendo”, diz Adriana Lima, uma das fundadoras da MMIB. “A gente espera incentivo, troca de conhecimento, parceria. É necessário que haja esta conexão e que a gente consiga desenvolver projetos juntos. A gente tem muitos projetos aqui sendo desenvolvidos na área de meio ambiente e precisamos do poder público acompanhando a gente. O caminho já está aberto. A gente está aqui para trabalhar juntos”, completa Adriana Lima. Estrudantes da Escola de Saberes têm a oportunidade de trocar e apreender experiências com as comunidades tradicionais “A floresta em pé é condição inegociável para a agricultura familiar”, declara a diretora da Fecaf, Mairna Dias. Segundo ela, a produção sustentável é uma diretriz do setor. “A agricultura familiar é aquela que põe a comida realmente na nossa mesa. E a questão de poder articular essas economias, hoje a gente vê em larga escala. Por exemplo, na Federação, nós trabalhamos com vários ativos florestais, como sementes, frutas. Então, os nossos cooperados já percebem a importância, por exemplo, de não tocar fogo nas roças para poder abrir novos espaços para a plantação. É importante que a gente tenha acesso a esses agentes do estado e também dos saberes das construções pessoais, porque na agricultura familiar a gente percebe que a força da família, a opinião de cada um, diz muito com o que eles vão plantar naquele ano, a forma como eles vão fazer o manejo”, completa a diretora. Produtos da Terra Dourada, linha criada pelos produtores familiares de Cotijuba e apresentados aos alunos da Escola de Saberes Escuta – Ágila Rodrigues, servidora da Gebio (Gestão de Bioeconomia) da Diretoria de Planejamento Estratégico e Projetos Corporativos (DPC), da Semas, afirma que o processo de escuta das comunidades é ponto central do desenvolvimento da bioeconomia no Estado. “Hoje, o nosso objetivo em Cotijuba foi dar continuidade ao trabalho que vem sendo desenvolvido em parceria com o Cesupa e com representantes de comunidades que trabalham com produtos das cadeias prioritárias do Planbio. No caso aqui de Cotijuba, essa parceria ocorre com o Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém. Esse é mais um trabalho do Plano Estadual de Bioeconomia, do Estado Pará, na perspectiva da Escola de Saberes da Floresta. A ação ocorre após o primeiro momento de aula magna, no qual tivemos a oportunidade de reunir servidores da Semas, alunos do Cesupa, representantes da comunidade geral e de organizações de produtores rurais. Por meio da parceria com o Cesupa, surgem momentos como esse, de imersão junto às comunidades, porque nada melhor e mais justo do que ouvir suas trajetórias enquanto movimento social e enquanto pessoas que estão no território tentando desenvolver ações que vão ao encontro do nosso Plano de Bioeconomia, desde as voltadas para a agricultura familiar dentre outras soluções que visam manter a floresta em pé” Continuidade – As próximas ações da Escola de Saberes estão previstas para os municípios de Bujaru e Santo Antônio do Tauá. “Esse trabalho é uma continuidade, então haverão outros momentos de imersões em outros territórios aqui no nosso estado. Visamos justamente isso, esse fomento às cadeias produtivas sustentáveis, que está dentro da nossa política, que é o Plano Estadual de Bioeconomia. “As imersões foram pensadas desde o inicio para proporcionar aos alunos um contato mais aproximado com uma realidade às vezes distante deles. E essa realidade, às vezes, por ser aparentemente exógena, sugere incompreensões, dificuldades de entender, inclusive as discussões que a gente tem em sala de aula. E esse tipo de atividade aproxima de tal maneira que eles conseguem, na prática, entender os problemas, as questões, as dores, as soluções que essas populações encontram, e elas encontram muitas soluções que a gente às vezes ignora e que são fundamentais, inclusive para resolver problemas que a gente às vezes acha que são insolúveis. Essas populações são partes das solução, não do problema. Então, ouvi-las, compreendê-las, conhecê-las, é fundamental e esses momentos possibilitam essa aproximação”, comenta o professor Danilo Caetano. Encontro – “A Escola de Saberes é um momento de encontro entre os mestres das comunidades com o público em geral, pessoas, grupos, associações, com a academia. Para que o conhecimento tradicional não se perca. A preocupação principal da Escola de Saberes é que esses saberes sejam registrados para que a gente possa trabalhar com os três eixos do plano de bioeconomia, a exemplo do conhecimento tradicional associado, de pesquisa e o fomento aos negócios comunitários. Então, a Escola de Saberes vem com essa iniciativa de se aproximar do território, para que esse conhecimento tenha esse intercâmbio, essa troca e registros”, afirma Ágila Rodrigues. O Plano investe principalmente na sociobiodiversidade e na valorização do conhecimento tradicional. E é nesse reconhecimento que a Escola de Saberes da Floresta atua, sendo de extrema importância para a implementação da política pública de bioeconomia do Estado do Pará. Texto: Antônio Darwich – Ascom Semas |