É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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Dinâmicas e Recursos Pedagógicos
12/12/2024 (Nº 89) PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À VISITAÇÃO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
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PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À VISITAÇÃO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

Uma pesquisa conduzida com visitantes em uma área protegida demonstrou a importância da educação ambiental aplicada.

Suzana Padua

Daqui nada se tira a não ser fotografias, nada de deixa a não ser nossas pegadas, nada se leva a não ser boas recordações.”

Quando montamos o programa de educação ambiental no Parque Estadual do Morro do Diabo, unidade de conservação do oeste de São Paulo, havia imenso temor de que os visitantes causassem degradações à natureza, como entalhes nas árvores ou lixo deixado nas trilhas. Tais atitudes poderiam colocar o próprio programa em risco, pois havia quem preferisse que a visitação não acontecesse e qualquer incidente poderia ser usado como desculpa para descontinuar uma iniciativa que prometia sucesso.

Estratégias adotadas

Foi com o intuito de evitar comportamentos destrutivos que criamos algumas estratégias e conduzimos um estudo científico para avaliar o que seria eficaz. Havia, sempre que possível, uma palestra anterior à caminhada na mata, cujo objetivo era preparar o visitante para o que iria vivenciar.

Nela, apresentávamos uma trilha limpa e nossa fala era de que essa era a forma com que os animais deixavam os caminhos por onde passavam. Nós, humanos, não havíamos sido convidados pelos animais ou pelas plantas que viviam ali e o mínimo que poderíamos fazer era deixar tudo como eles, sem sujeira ou degradação. Logo depois, havia a mesma imagem da trilha com lixos diversos, como embalagens de biscoitos ou balas, guardanapos de papel e objetos plásticos.

Nessa palestra, havia também a foto de uma árvore entalhada com as iniciais de um casal fictício, João e Maria, como o exemplo abaixo.

Nossa fala questionava o amor de “João” pela “Maria”, pois, se ele soubesse o mal que uma ação como essa causava à árvore, jamais marcaria o tronco como forma de declaração amorosa. Esse procedimento tão simples evitou casos posteriores de entalhes em troncos de árvores, observado por anos a fio.

Uma pesquisa com outra fala similar indicou como uma mensagem preparatória à ida à trilha poderia evitar o descarte de lixo no parque. O procedimento se deu da seguinte forma:

Nos preparamos para realizar a pesquisa com quatro grupos de visitantes aleatoriamente escolhidos entre muitos, sendo que dois de gente mais jovem (até 14 anos, aproximadamente) e dois com pessoas mais maduras (acima de 20 anos). Cada grupo foi separado por sorteio, ou seja, também aleatoriamente, em dois subgrupos: indivíduos que fariam parte do grupo experimental e a outra metade do grupo-controle.

Antes das visitas, “plantamos” lixo na trilha que iria ser percorrida, o que significa que colocamos produtos comuns como embalagens de biscoitos e balas, palitos plásticos e outros itens que poderiam ter sido deixados por visitantes anteriores.

Apenas para os quatro grupos experimentais (um em cada grupo), houve uma fala preparatória à ida à trilha que consistia em algo como:

Temos a certeza de que os animais que vivem aqui não se importarão que a gente visite seu hábitat se tomarmos alguns cuidados, como não sairmos da trilha demarcada e, principalmente, não deixarmos lixo por onde passarmos, porque se forem ingeridos podem causar sérias consequências. Podemos, ainda, pegar qualquer lixo que encontrarmos pelo caminho. Vocês não precisam catar, mas podem avisar aos nossos monitores que terão prazer em fazê-lo. Essa é a melhor maneira de darmos a nossa contribuição e garantirmos que não vamos causar qualquer dado ao ambiente.”

O grupo controle não recebeu essa fala, mas ambos os grupos foram observados pelos guias e monitores.

Observamos os seguintes comportamentos:

Os quatro grupos experimentais cataram todos os lixos “plantados” e acharam até alguns que não haviam sido colocados por nós, educadores. Já nos grupos-controle, em apenas um deles, houve uma moça que começou a recolher o que encontrava, mas olhou o grupo diversas vezes como para observar o comportamento dos outros e, como ninguém mais estava catando, deixou o que coletou à margem da trilha.

Conclusão

Uma fala singela, fácil de ser absorvida, foi eficaz para evitar problemas comuns em áreas de visitação. A aplicação de um método científico que consistiu em identificar aleatoriamente quem faria parte dos grupos (experimental e controle) mostrou a eficácia de uma estratégia simples e sem custo adicional, pois a fala sendo direcionada apenas ao grupo tratamento indicou que a fala preparatória foi eficaz para evitar problemas comuns em áreas de visitação. Além disso, a pesquisa ter sido direcionada a grupos de idades diferentes indica que a estratégia adotada pode servir a públicos diferentes e, por ter o objetivo de sensibilizar as pessoas em geral, pode ser adotada por qualquer programa de visitação a áreas naturais.

Adicionalmente, adotar métodos científicos na educação ambiental traz confiabilidade ao campo e indica com maior segurança o que funciona e deve ser mantido, e o que merece ajustes para ser melhorado. Com isso, evita-se desperdiçar tempo, energia e recursos, que são sempre escassos e valiosos para quem quer alcançar o melhor no menor espaço de tempo.

Sobre o autor / Suzana Padua

Doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e mestra em educação ambiental pela Universidade da Flórida (EUA). Atua em educação ambiental desde 1988, quando criou um programa no Pontal do Paranapanema (SP) ligado a áreas naturais, espécies ameaçadas e envolvimento das comunidades locais. Realiza pesquisas em educação ambiental e publicou inúmeros trabalhos no Brasil […]

Fonte: https://faunanews.com.br/educacao-ambiental-aplicada-a-visitacao-em-unidade-de-conservacao/

Ilustrações: Silvana Santos