É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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12/12/2024 (Nº 89) O INSTITUTO ARARA AZUL E SUAS FRENTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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O INSTITUTO ARARA AZUL E SUAS FRENTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Entidade é referência pelo trabalho de conservação no Pantanal, que envolve também as comunidades.

Instituto Arara AzulEliza Mense

Levantamentos realizados na década de 1980, especialmente em virtude da captura para o comércio nacional e internacional, a descaraterização do ambiente e a coleta de penas para confecção de souvenirs, fizeram com que mais de 10 mil araras-azuis-grandes (Anodorhynchus hyacinthinus) saíssem da natureza, o que a levou a constar na lista de espécies ameaçadas de extinção. Com isso, a espécie passou a constar no Apêndice I do Cites, no Livro Vermelho da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.

Em 1989, a bióloga Neiva Guedes, ao encontrar um bando de araras-azuis no Pantanal, encantou-se com a espécie, especialmente por saber que elas estavam fadadas a desaparecer da natureza. Em 1990, o Projeto Arara Azul nasceu de uma iniciativa pessoal dela, que passou a ser um exemplo de esforço e dedicação pela proteção da espécie na natureza.

Logo no começo dos seus estudos, Neiva Guedes passou a lidar com a espécie como uma bandeira para a conservação do Pantanal, aplicando a visão holística para a proteção do ecossistema. A bióloga defende que as ações nesse tipo de projeto não devem ser direcionadas exclusivamente à espécie, sendo importante considerar o meio ambiente como um todo. Portanto, ela enfatiza que a proteção e recuperação do hábitat, a disseminação e a educação ambiental são ações que devem ser integradas na hora de se elaborar um plano de conservação. Ressalta ainda a importância do trabalho conjunto de vários grupos: equipes de especialistas interdisciplinares, população local, voluntários, turistas, agentes governamentais, entre outros.

Ao longo dos seus quase 35 anos de trabalho incansável no Pantanal, muitos resultados positivos foram obtidos. Entre as ações do Projeto Arara Azul pelo aumento e manutenção da espécie, estão os ninhos artificiais desenvolvidos e implantados ao longo dos anos, sendo uma tecnologia pioneira e inovadora que beneficia a espécie e tantas outras que passaram a ocupar essas cavidades.

Em 2003, por iniciativa de Neiva Guedes, foi criado o Instituto Arara Azul, que passou a dar o respaldo legal ao Projeto Arara Azul. Juntamente com o Arara Azul, outros projetos passaram a fazer parte de importantes pesquisas para a conservação. Porém, como premissa, a educação ambiental sempre esteve permeada nas ações para a conservação, em que os resultados das pesquisas científicas são transformados em informações com uma linguagem simples e adequada a cada público.

Em dezembro de 2014, a arara-azul-grande foi retirada da Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, porém os reflexos não foram animadores. O tráfico voltou a crescer, porque as punições ficam menos duras para os criminosos pegos com as aves ou seus ovos. Além disso, outros fatores têm deixado a espécie muito vulnerável, como as mudanças climáticas oriundas do aquecimento global, que afetam o sucesso reprodutivo; os desmatamentos; as doenças pela baixa imunidade e os vastos incêndios que foram acentuados nos últimos anos, tanto no Pantanal Sul como no Pantanal Norte, e que dizimaram grandes áreas se suma importância para a espécie.

Outro fator preocupante que Neiva Guedes tem concentrado esforços para combater é o turismo não responsável que utiliza o animal silvestre como entretenimento e tem potencializado problemas que afetam a espécie diretamente, como as doenças.

Então mais do que nunca a ciência cidadã, através dos princípios da educação ambiental, passou a ser um mote importante em todos os projetos e ações da instituição. E a arara-azul-grande, um símbolo de beleza, carisma e resiliência, é um porta-estandarte muito valioso pela causa.

Educação ambiental como ferramenta de conservação

A educação ambiental pode ser definida como um processo que visa o desenvolvimento, através da informação e da sensibilização, de uma população consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe são associados. É uma ferramenta que envolve conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção de novos. É uma abordagem que transcende a educação formal e pode ser implementada a diferentes públicos.

Considerada, especialmente nos dias de hoje, como indispensável, a educação ambiental é capaz de mudar percepções, conceitos, preconceitos e comportamentos, e pode se multiplicar exponencialmente nos diferentes públicos da sociedade.

Desde o início do Projeto Arara Azul, Neiva Guedes envolveu várias pessoas nas suas atividades científicas, especialmente no campo, onde precisava engajar os pantaneiros na conservação da espécie. Por meio de programas de rádio, que na época era o meio de comunicação com maior alcance no Pantanal, através de spots e entrevistas, as informações chegavam nas fazendas, levando conhecimento e compreensão sobre a importância da conservação da espécie e da biodiversidade. Com o passar do tempo, as ações foram ampliadas atingindo vários públicos, que passaram a contribuir com os objetivos do Instituto Arara Azul, assumindo um papel de agentes “defensores” na proteção ambiental.

As atividades educacionais informais levam aos públicos oportunidades de aprendizagem, prazer pessoal, benefícios sociais e satisfação em contribuir com os projetos de pesquisa. Isso proporciona o maior envolvimento do público e uma democratização da Ciência. A partilha do conhecimento que o Instituto oferece é organizada em várias atividades para os diferentes públicos e faixas etárias, proporcionando uma linguagem adequada para a compreensão dos envolvidos.

Com as atividades de educação ambiental indo ao encontro da ciência cidadã, o envolvimento da comunidade local, que passou a prestar mais atenção na natureza, nas espécies e suas relações ecológicas, tem aumentado. Muitos proprietários passaram a conservar áreas de plântula de manduvi, fazer plantio e replantio de mudas dessa palmeira (essencial para as araras) e cuidar das aves, da fauna e dos ninhos. Para o público adulto, urbano e rural, o instituto abrange professores, proprietários e funcionários rurais, empresários e outros profissionais das diferentes áreas de atuação e, especialmente as comunidades no entorno do Pantanal.

O turista é dos exemplos que consideramos muito importante ressaltar. Atrelados aos projetos de pesquisas, o Instituo Arara Azul disponibiliza a observação de aves, em que o visitante pode acompanhar as equipes dos projetos de pesquisas e participar de um turismo responsável.

Atividades educativas com o público infanto-juvenil são desenvolvidas nas escolas, na sede do Instituto Arara Azul, na sociedade organizada e nas comunidades locais, em forma de oficinas, palestras, teatros, expedições mirins, entre outras. Tanto nas comunidades rurais como nas urbanas, os alunos são fundamentais no processo de aprendizagem e de multiplicação junto aos colegas, amigos e suas famílias.

Para exemplificar, os resultados obtidos com essas ações educativas têm demonstrado o engajamento dos professores e alunos, sendo que as atividades educativas são difundidas em várias disciplinas, gerando eventos como feiras, exposições, concursos e expedições com a equipe de pesquisadores.

Nos próximos artigos, vamos abordar cada experiência e o quanto, juntos, podemos engajar a nossa sociedade em ações que vão ao encontro da conservação da biodiversidade.

Sobre o autor / Instituto Arara Azul

O Instituto Arara Azul é uma organização não governamental, de direito privado e sem fins econômicos, tendo como principal finalidade, a promoção da conservação ambiental. O Instituto vem desenvolvendo projetos de proteção ambiental, como o projeto Arara Azul, desenvolvido há 25 anos no Pantanal e mantendo as populações viáveis em vida livre de araras-azuis (Anodorhynchus […]

Sobre o autor / Eliza Mense

Bióloga, com expertise em educação ambiental e gestão empresarial, com 36 anos de experiência em gestão de projetos sociais e ambientais. Desde 2014, faz parte da Diretoria Executiva do Instituto Arara Azul, desenvolvendo ações de sustentabilidade financeira e articulação interinstitucional em prol da implementação dos projetos de pesquisa e conservação.

Fonte: O Instituto Arara Azul e suas frentes de educação ambiental

Ilustrações: Silvana Santos