É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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Dicas e Curiosidades
12/12/2024 (Nº 89) 50 FATOS FASCINANTES SOBRE POVOS INDÍGENAS DE TODO O MUNDO
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50 FATOS FASCINANTES SOBRE POVOS INDÍGENAS DE TODO O MUNDO

Dois garotos indígenas Karo perto do Rio Omo na Etiópia. © Survival

A Survival International foi fundada em 1969 para lutar junto dos povos indígenas para defender suas terras e suas vidas. Não há nada de “primitivo” sobre eles, eles simplesmente vivem de maneira diferente. Os povos indígenas são extraordinariamente diversos e há muito a se aprender com eles. Para celebrar meio século do movimento global pelos povos indígenas, juntamos aqui 50 fatos para 50 anos.

 Os povos indígenas valorizam o espírito comunitário, priorizando o compartilhando de bens, objetos e alimentos.

O dinheiro não é o segredo para a felicidade. Uma pesquisa mostrou que um grupo de indígenas Maasai da África Oriental apresentava uma satisfação de vida semelhante a das pessoas mais ricas da Forbes 400.


Povos caçadores gastam muito menos tempo trabalhando do que nós. O povo Cuiva, da Colômbia e Venezuela, “trabalha” de 15 a 20 horas por semana e passa muitas horas por dia em suas redes, que são grandes o suficiente para que os cônjuges e os filhos possam deitar juntos;
De acordo com o povo Piaroa da Venezuela, a paz vem de rejeitar conceitos de propriedade, competição, vaidade e ganância. Eles repudiam a violência, consideram homens e mulheres iguais e nunca castigam fisicamente os filhos;


O povo Hadza da Tanzânia valoriza enormemente a igualdade e não tem líderes oficiais. Para eles, é uma obrigação moral dar o que você tem sem expectativa de retorno. Se você tem mais pertences do que você precisa, você deve compartilhá-los;


Os caçadores Yanomami não comem suas próprias caças. Eles dão para os outros antes mesmo de trazê-las para casa e só comem o que os outros caçadores lhes dão. Assim, todos comem algo fornecido por outra pessoa, promovendo o espírito comunitário e a coesão.
Os povos indígenas possuem um conhecimento incomparável sobre os animais e ecossistemas do mundo.

Os povos indígenas têm relações únicas com os animais. O povo Baka da África tem mais de 15 palavras diferentes para “elefante”, dependendo da idade, sexo e temperamento do animal. Eles acreditam que seus ancestrais caminham com os animais pela floresta;


Uma garota indígena do povo Baka, República do Congo. © Survival

Existem cerca de 100 povos indígenas isolados vivendo na floresta amazônica. Eles são caçadores-coletores e vivem em sintonia única com o meio ambiente e possuem um vasto conhecimento botânico. Proteger seus territórios é a melhor barreira contra o desmatamento;


Quando colhem mel do alto das árvores, o povo Soliga leva parte para si e deixa outra parte perto do chão para os tigres, que eles consideram parte de sua família, porque os tigres não podem escalar as árvores e colher mel para si mesmos;


Quando nasce uma criança do povo Orang Rimba na Indonésia, o cordão umbilical é plantado embaixo de uma árvore Sentubung. A criança tem um vínculo sagrado com aquela árvore pelo resto da vida, e para os Orang Rimba, cortar uma “árvore de nascimento” é equivalente ao assassinato;


Lavrar a terra é “arranhar o peito” da Mãe Terra, diz o povo Baiga da Índia, acreditando que Deus criou as florestas para prover tudo o que os humanos precisam e deu a eles a sabedoria para encontrá-las. Somente as pessoas as quais Deus não deu esse conhecimento precisam cultivar para sobreviver.


As colinas Niyamgiri da Índia absorvem a chuva das monções, dando origem a mais de cem riachos e rios permanentes, incluindo o rio Vamshadhara. O povo Dongria Kondh que habita esta paisagem exuberante se chama “Jharnia”, o que significa “Protetor de Riachos”;


Duas garotas do povo indígena Dongria Kondh, Índia. © Jason Taylor/Survival

O povo Arhuaco da Sierra Nevada colombiana assume uma grande responsabilidade pelo bem-estar do planeta, percebendo como seu trabalho manter a Mãe Terra em harmonia. Eles veem as secas e a fome como consequências do fracasso humano em manter o mundo em equilíbrio;


Muitos povos indígenas respeitam a igualdade de gênero; eles nos mostram que as normas de gênero da nossa sociedade não são “naturais”, mas sim culturalmente construídas

As mulheres eram tradicionalmente as principais provedoras do povo Chambri da Papua Nova Guiné. Elas faziam toda a pesca e levavam o os peixes extras que pescavam para as colinas ao redor para negociar com outros povos. Nenhum gênero é visto como dominante na vida dos Chambri;


Os pais Bayaka passam metade do dia perto de seus bebês. Se a criança está chorando, e a mãe ou outra mulher não estão disponíveis, eles até oferecem o peito para a criança mamar. Não é incomum acordar durante a noite e ouvir um pai cantando para seu filho;
A monogamia não é uma característica humana universal. Os indígenas 
Zo’é da Amazônia são polígamos: tanto homens quanto mulheres podem ter mais de um parceiro. Todos são iguais entre os Zo’é e, tradicionalmente, eles não apresentavam líderes. Eles também usam o “m’berpót” – um longo pedaço de madeira no lábio;


Uma família Zo’é relaxando numa rede feita de fibras de plantas © Fiona Watson/Survival

Muitas sociedades indígenas norte-americanas tradicionalmente reconheciam três gêneros. O terceiro gênero, chamado “Dois Espíritos”, é visto como abençoado e que possui uma visão única graças a sua compreensão das perspectivas masculinas e femininas;


As mulheres nas sociedades industriais ainda lutam por igualdade, mas o status igual dos gêneros é normal para o povo Awá da Amazônia brasileira. As mulheres Awá participam igualmente em viagens de caça e elas podem até ter vários maridos;


Clique aqui para apoiar os povos indígenas do Brasil


O nível de poder e independência das mulheres do povo indígena Innu do Canadá escandalizou os missionários católicos, que, até meados do século XX, tentaram impor seus padrões europeus e tornar as mulheres Innu subservientes a seus maridos.


Nem todo mundo considera os seios das mulheres indecentes: para muitos povos indígenas eles não são notáveis e outras partes do corpo podem ser tabus. As mulheres Emberá na Colômbia podem livremente ficar de topless mas devem sempre cobrir os lados das coxas;


O povo Wodaabe, do norte do Níger, realiza anualmente um concurso de beleza masculina no final da estação chuvosa. Os jovens usam maquiagem, jóias e suas melhores roupas, e fazem fila para competir pela atenção das mulheres;


Os povos indígenas desenvolveram conhecimentos extraordinários e tecnologias exclusivas para viver de maneira sustentável em alguns dos ambientes mais desafiadores do planeta.


O povo Penan de Sarawak prepara uma mistura para pescar de forma sustentável. Eles usam toxinas de plantas para que os peixem flutuem para a superfície. Os Penan pegam apenas o que precisam e permitem que os peixes menores se recuperem e continuem nadando, de modo que os estoques de peixes não se esgotem;


Um favo de mel especial é usado pelo povo Chenchu, do sudeste da Índia, para fazer moldes para membros quebrados. Eles também dizem que nunca coletam mel durante as chuvas, porque as abelhas terão dificuldade de construir uma nova casa enquanto as pedras estiverem escorregadias;


Mulher do povo indígena Chenchu, Índia. © Survival

Sirius é a estrela mais brilhante do céu e tem um parceiro oculto. Sirius B é invisível a olho nu e foi descoberto por cientistas ocidentais no século XIX. Mas o povo Dogon do Mali provavelmente sabia sobre a estrela e compreendia seu período orbital de 50 anos muito antes;


As mulheres Himba, da Namíbia e de Angola, se cobrem com um creme de otjize, uma mistura de gordura e ocre, para limpar a pele e o cabelo sem água. Otjize também protege contra o sol e as picadas de mosquito, mas as mulheres dizem que só usam para ficarem bonitas mesmo!


O halo lunar – um anel brilhante visível ao redor da lua quando há cristais de gelo no ar – foi usado pelos povos indígenas em toda a Austrália como uma refeerência para a previsão do tempo. A Austrália já foi habitada por até um milhão de pessoas que falavam mais de 250 idiomas;


O espetacular Vale de Baliem, em Papua Ocidental, abriga o povo Dani, que teria desenvolvido a agricultura há pelo menos 9.000 anos, provavelmente muito antes da Europa;


O povo Guugu Ymithirr da Austrália tradicionalmente não possuía palavras para esquerda e direita e só usavam Norte, Sul, Leste e Oeste para orientação. Eles se orientavam instintivamente, sendo capazes de usar cada ponto da bússola com precisão em relação ao local onde estavam;


O povo Jumma de Bangladesh permite que sua preciosa terra se recupere com a ‘agricultura itinerante’, cultivando alimentos em pequenas partes do seu território, antes de passar para outra área. Eles colocam uma mistura de sementes de diversos cultivos em cada buraco em diferentes estações do ano;


Mulher e criança do povo indígena Jumma, Bangladesh. © Mark McEvoy/Survival

As mulheres eram tradicionalmente as principais provedoras do povo Chambri da Papua Nova Guiné. Elas faziam toda a pesca e o peixe extra que pegavam, levavam para as colinas ao redor para negociar com outros povos. Nenhum gênero é visto como dominante na vida dos Chambri;


A malária é uma das doenças mais mortais do mundo. A quinina, feita a partir da casca das árvores de Cinchona, tem sido vital na luta contra a doença e foi usada pela primeira vez medicinalmente por povos indígenas como o Quechua do Peru, Bolívia e Equador como um relaxante muscular;


A compreensão sobre seu meio ambiente e a capacidade de interpretar os fenômenos naturais salvou os povos indígenas das Ilhas de Andaman da devastação do tsunami asiático de 2004. Eles conseguiram notar os sinais e se locomoveram para lugares altos;
Eles nos mostram que o leque de habilidades, percepções e experiências humanas é muito mais amplo do que o que existe em nossa sociedade.


O povo Shipibo da Amazônia peruana faz intrincada arte geométrica que pode ser lida como música. As pessoas podem “ouvir” a música observando os padrões, como partituras. Os padrões representam cânticos e músicas associadas a cerimônias de cura da Ayahasca;
Os indígenas Bajau, que vivem na costa da Malásia, podem prender a respiração por até 3 minutos e mergulhar até 20 metros. Os cientistas descobriram que os Bajau ficam submersos por até 60% do tempo que passam na água, quase o mesmo tempo que uma lontra marinha;
O inglês talvez não seja uma língua tão difícil de aprender, pois usa apenas 42 sons diferentes. ǃXóõ, uma língua falada pelos Bosquímanos do Deserto de Kalahari, tem mais de 160. Isso inclui cinco diferentes sons de “clique” originalmente encontrados apenas em idiomas bosquímanos;


Garoto em cima de um burro, povo indígena Kua do Kalahari, Botsuana. © Forest Woodward / Survival, 2015

Muitos povos indígenas usam substâncias psicoativas naturais para aprimorar suas habilidades mentais e físicas. Os homens e mulheres Matsés costumam usar veneno de rã antes das viagens de caça para produzir uma sensação de clareza, visão e força que pode durar vários dias;


Em um clima polar severo, com temperaturas próximas ao congelamento, os antigos habitantes indígenas da Tierra Del Fuego, no extremo sul da Argentina, podiam freqüentemente ficar sem roupa, dormiam ao relento e nadavam em água fria, suficiente para matar europeus;


O futuro está atrás de você e o passado a sua frente, segundo o povo Aymara dos Andes. Você pode “ver” o passado, mas não pode ver o futuro. A palavra Aymara para o passado literalmente significa olho, visão ou frente, e a palavra para o futuro significa “atrás” ou “as costas”;


Você está no seu auge mental à meia-noite? Dormir “a noite inteira” não é o que todos os povos do mundo fazem. Por exemplo, o povo Pirahã, do Amazonas, não dorme por cerca de 8h à noite: eles tiram sonecas a qualquer hora do dia ou da noite;


O povo Rarámuri do México desenvolveu uma tradição de corridas de longa distância, de até 200 milhas por vez, para a comunicação entre as vilas, para o transporte e a caça. Eles vivem em um terreno montanhoso desafiador, com grandes distâncias entre os vilarejos;


A língua Guarani tem duas palavras diferentes para “nós”. Um dos “nós" inclui as pessoas com as quais você está falando, é como dizer “eu e você”. O outro costuma falar sobre um grupo de pessoas que não estão presentes, como “eu e eles”;


Os Guarani usam o urucum para pintar seus rostos e corpos durante as festas, Brasil. © Survival

O povo Moken, do mar de Andaman, tem capacidades visuais notáveis. Seu estilo de vida aquático significa que eles desenvolveram a capacidade única de ver debaixo da água a fim de mergulhar em busca de comida no fundo do mar. A visão deles é 50% mais precisa que a dos europeus;


Você já ficou tão ansioso para ver alguém que fica indo lá fora para ver se já chegaram? A língua Inuktitut dos Inuit tem uma palavra para isso: “Iktsuarpok”, pronunciado eekt-soo-ahh-pohk;



Os povos indígenas são uma parte vital da diversidade humana


O lugar mais diverso do planeta é a ilha da Nova Guiné, habitada por cerca de mil povos indígenas diferentes. Embora apenas cerca de 0,1% da população mundial viva nessa ilha, ela é o lar de aproximadamente um sétimo dos 7.000 idiomas do mundo;
Existem 100 ou mais povos indígenas isolados na América do Sul e todos vivem na Amazônia – exceto um. Os Totobiegosode do Paraguai são um subgrupo do povo Ayoreo e alguns deles optaram por rejeitar a interação com a sociedade dominante;


Clique aqui para apoiar o direito dos povos indígenas isolados a viver como querem

Povos isolados não necessariamente querem o “nosso” modo de vida. Em 2014, três indígenas Awá isolados deixaram a floresta e conheceram a sociedade dominante. Não impressionados, dois deles retornaram à floresta, cobrindo seus rastros para que não pudessem ser seguidos;
O povo indígena de contato mais recente da Colômbia, os Nukak, tradicionalmente usava dentes de piranha para cortar seus cabelos. Eles viveram isolados até 1988, quando inesperadamente apareceram em uma cidade recém-estabelecida dentro do território Nukak;


Mulher do povo indígenas Nukak, Colômbia. © Survival International

Você fala com seus animais de estimação? O povo Bodi da Etiópia canta poemas especiais para suas vacas favoritas. Esse povo é agro-pastoralista e seu sustento e cultura giram em torno de seu gado;


É provável que os indígenas isolados do povo Sentinelese estejam vivendo isolados em sua ilha há muitos séculos. Seus vizinhos mais próximos, os 
Jarawa, não conseguem entender a língua deles, indicando que esses grupos próximos devem ter sido separados há centenas de anos;


O povo Enawenê Nawê pratica uma das mais longas celebrações rituais do planeta, com duração de mais de 4 meses. Eles constroem complexas barragens de madeira ao longo dos rios para capturar peixes que migram de suas áreas de desova. Depois que o ritual termina, as barragens são destruídas;


Até onde sabemos, os ancestrais do Bosquímanos, do sul da África, estavam na região dezenas de milhares de anos antes de qualquer outra pessoa. Eles provavelmente viveram em suas terras por mais tempo do que qualquer outra pessoa.

O mundo precisa dos povos indígenas. Nosso trabalho está impedindo sua aniquilação. Nós trabalhamos juntos dos indígenas e damos a eles uma plataforma para falar ao mundo. Precisamos dos seu apoio para alcançar uma mudança radical na opinião pública para garantir que eles tenham um futuro.

Fonte: https://survivalbrasil.org/artigos/50fatos

Ilustrações: Silvana Santos