Rico é aquele que sabe ter o suficiente. Lao Tze
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 90 · Março-Maio/2025
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Dinâmicas e Recursos Pedagógicos
14/03/2025 (Nº 90) 10 IDEIAS PARA DESENVOLVER A EDUCAÇÃO CLIMÁTICA EM SALA DE AULA
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10 IDEIAS PARA DESENVOLVER A EDUCAÇÃO CLIMÁTICA EM SALA DE AULA

Produções audiovisuais, bicicletadas, simulações de COPs e palestras com Defesa Civil: escolha qual dinâmica pode funcionar melhor para a sua turma

Por Ícaro Kropidloski

04/02/2025

É importante que as dinâmicas interajam com a realidade dos estudantes, estimulem o posicionamento crítico e sejam planejadas dentro de uma progressão, na qual o contato com temas socioambientais vai se aprofundando.

Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lançado em 2021, estamos enfrentando três grandes crises socioambientais: a climática, a da perda da biodiversidade e a da poluição. Nesse contexto, a educação emerge como uma importante ferramenta de sensibilização sobre os efeitos dessas crises no cotidiano. Nas escolas, é possível estimular o pensamento crítico a respeito da nossa relação com o meio ambiente e o modo de vida contemporâneo. 

A educação climática, um recorte e uma atualização necessária da educação ambiental, pode ser trabalhada por meio de diferentes formatos e em todas as etapas de ensino. Seu caráter transdisciplinar possibilita gerar projetos que combinem diversas informações para conscientizar a comunidade escolar.

É fundamental trabalhar conhecimentos apropriados a cada faixa etária, mas principalmente valores e posturas éticas de respeito sobre as relações entre humanos, entre os seres vivos e entre sociedade e natureza”, alerta Mauro Guimarães, líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade (GEPEADS) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Como fazer?

Ao criá-las, é importante que as dinâmicas interajam com a realidade dos estudantes, estimulem o posicionamento crítico e, em uma visão holística, sejam planejadas dentro de uma progressão, na qual o contato com temas socioambientais vai se aprofundando e ficando mais complexo de acordo com cada etapa de ensino. Para Livia Ribeiro, co-fundadora e diretora da Reconectta e do Movimento Escolas pelo Clima, as ações de educação climática podem seguir várias estratégias e ter formatos variados. “Pode ser um projeto, um estudo de campo, um cinedebate: são muitas as opções”, diz.

Pensando nisso, a NOVA ESCOLA conversou com especialistas sobre o assunto e reuniu dez sugestões de atividades para professores desenvolverem a educação climática em sala de aula. Confira: 

1. Plantio de árvores e produção de horta e composteira

Estimular o manejo e o contato com a terra é sempre uma boa estratégia, independentemente da faixa etária da turma. Com os pequenos da Educação Infantil e dos primeiros anos do Fundamental, é possível apostar no plantio de uma árvore nativa. A cada semana, a muda da planta fica sob os cuidados de um aluno diferente, virando um mascote da sala.

Após passar pelas casas de todos alunos, o encerramento do projeto é o plantio da muda na escola. A atividade envolve as famílias dos alunos, já que eles também participam do cuidado da planta, desperta o senso de comunidade e responsabilidade e é um ótimo gancho para debates iniciais sobre a relação do ser humano com a natureza e a importância da preservação do meio ambiente. 

Para os anos finais do Ensino Fundamental, pode-se complexificar as atividades com projetos transdisciplinares que envolvam diferentes etapas (do planejamento à execução), como produção de hortas e composteiras.  

A construção da horta mobiliza diversas áreas do conhecimento, alguns exemplos:

Matemática - para medir a área disponível e dividir proporcionalmente as seções da horta, utilizando conhecimentos de cálculo, geometria e proporção.

Ciências da natureza - para entender o que será plantado e o porquê, de acordo com o solo, a época do ano, o tempo de desenvolvimento de cada alimento e as demandas da escola e/ou comunidade escolar.

Ciências humanas - questionar sobre a necessidade da horta e o que será feito com os alimentos produzidos ali, estabelecendo debates sobre a realidade da comunidade escolar e a relação histórica e social do homem com o cultivo da terra.

Língua Portuguesa - elaboração de pesquisa e descritivos de cada alimento produzido na horta, com plaquinhas informativas que serão colocadas na área de cultivo. 

A composteira segue a mesma lógica transdisciplinar e com diferentes etapas de realização, com o diferencial de ser um item móvel, uma opção para escolas com menos (ou nenhuma) área de plantio disponível. Para fazer uma composteira é possível usar um buraco no solo, um recipiente de madeira ou tonel de plástico ou de tijolos. A composteira é uma ótima oportunidade para debater descarte de resíduos e reciclagem.

2. Palestras sobre ERRD com Defesa Civil e Bombeiros

Como está estruturado o plano de gerenciamento local para o caso de ocorrências climáticas extremas na cidade? Para responder essa pergunta, as escolas podem entrar em contato com a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros do seu município.

Vale a pena  agendar uma visita para entender o trabalho desenvolvido de prevenção e no momento de crise”, sugere Cristiane Cardoso, professora de Geografia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e coordenadora do Laboratório de Climatologia e Ensino de Geografia (ClimaEnGeo). 

Ela destaca que essas autoridades possuem trabalhos importantes relacionados às temáticas socioambientais. Por isso, gestores escolares e professores podem organizar palestras com representantes desses órgãos para abordar temas como percepção de risco, ações recomendadas em casos de emergência, educação para redução de riscos e desastres, e cuidados com o meio ambiente. 

As palestras podem abranger todas as faixas etárias, da Educação Infantil ao Ensino Médio, basta alinhar junto aos palestrantes o tema e a abordagem, fazendo adaptações necessárias de linguagem e formato. Com os pequenos, por exemplo, uma roda de conversa com todos sentados no chão. Com os maiores, uma estrutura mais formal, com apresentação de slides em um auditório ou sala de aula. É possível também pensar em uma “semana acadêmica”, com alguns dias (e/ou turnos) dedicados a debates e a palestras com os parceiros externos. 

3. Simulação de COP

Em 2025, teremos a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que acontecerá em Belém (Pará) – um ótimo gancho para professores do Fundamental e Médio proporem simulações de COP nas salas de aula. “É interessante os estudantes vivenciarem na prática algo que estará acontecendo, se aprofundando nas temáticas e pensando em soluções. É uma experiência dinâmica que avança em novos conhecimentos e deixa os alunos antenados e atualizados”, pontua Livia Ribeiro.

Mas como operacionalizar isso? Dividindo a turma em grupos que representam diferentes países ou organizações, e discutindo primeiramente sobre a importância e funcionamento da COP. Cada grupo pesquisa as políticas climáticas de seu país, e prepara as proposições e planejamentos.

Durante a simulação, realizada com moderação do educador, os grupos apresentam discursos com propostas direcionadas para temas como a redução de emissões e o financiamento climático.  Após a atividade, os resultados são analisados para refletir sobre a complexidade das negociações internacionais sobre o clima. 

4. Cinedebate

Produções audiovisuais podem ser aliadas dos professores para introdução de debates sobre alimentação e descarte de resíduos, consumo, emergência climática e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. O cinema tem a capacidade de retratar temas complexos de forma lúdica para alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Fundamental e de instigar o debate e o olhar crítico entre os anos finais do Fundamental e Ensino Médio. Abaixo algumas sugestões para diferentes faixas etárias. 

Para os menores = WALL·E (2008) e Lorax: Em busca da trúfula perdida (2012) - O filme WALL-E aborda uma realidade em que os seres humanos poluíram a Terra e transformaram o planeta em um grande “lixão”. WALL·E é o último robô que sobrou e seu trabalho é compactar o lixo restante no planeta. Já em Lorax conhecemos uma cidade em que o metal e o plástico ocuparam o lugar das árvores. Após uma conversa e instrução de sua avó, o garoto protagonista viaja em busca de explicações de como era o planeta. 

Para os maiores = Ecofalante Play - É uma plataforma online exclusiva para professores, educadores, agentes socioeducativos e instituições de ensino que desejam utilizar o cinema como ferramenta para discutir questões socioambientais contemporâneas em sala de aula. Mediante cadastro gratuito, os usuários podem solicitar sessões coletivas ou individuais das obras disponibilizadas na plataforma. Há inclusive uma seleção especial sobre emergência climática.

5. Construção de instrumentos meteorológicos

Com alunos do Ensino Fundamental, professores podem propor uma conversa sobre o que é uma estação meteorológica e para que serve e, a partir disso, construir seus aparelhos (pluviômetro, anemômetro, barômetro, biruta, heliógrafo, termômetro etc.) com materiais recicláveis. Neste vídeo é possível entender a funcionalidade de cada um dos equipamentos e acompanhar o passo a passo para elaborá-los.

Após assistir ao vídeo com os alunos, o professor pode contextualizar a origem e a função de cada aparelho e depois partir para os tutoriais de construção. Divididos em duplas ou grupos, cada time fica responsável por um protótipo.

Por último, para fechamento e debate, desenvolve-se uma atividade de campo com os estudantes. É possível monitorar o volume de chuva com pluviômetro, e discutir a percepção de risco e tangibilizar o que configura um alerta. Outra opção é selecionar pelo menos duas áreas para medir as condições do tempo: uma bastante arborizada e outra menos arborizada. Com o termômetro, é possível realizar a medição da temperatura nos dois locais e verificar como ela se comporta. Com essa atividade é possível discutir sobre ilhas de calor e frescor nos grandes centros, causas e consequências da urbanização, retirada da vegetação, entre outros temas. 

6. Criação de exposição e mini museu sobre os oceanos

Trazer a discussão sobre a importância dos oceanos e o impacto das mudanças climáticas sobre a vida marítima, tanto com quem vive na costa litorânea, quanto quem está no interior do Brasil – esse pode ser um ótimo tema para ser trabalhado na escola. “O desafio é democratizar o assunto e entender o oceano para além da praia, mas enquanto um ecossistema climático importante”, analisa Eduardo Carvalho, jornalista e autor da coleção Educação Climática com a Turma do Pererê. Ele destaca uma atividade do Livro Oceano, destinado para alunos do 5º ano como uma boa oportunidade para ampliar o conhecimento sobre a temática. 

A ideia ali é viabilizar, junto com os alunos, uma exposição ou mini museu por meio de cinco passos (ideia, pesquisa, construção da narrativa, checagem e ajustes e apresentação) sobre um assunto relacionado aos oceanos (uma espécie marinha, aumento do nível do mar, aquecimento das águas, poluição etc.) com recursos digitais ou analógicos (fotos, vídeos, cartazes, maquetes). 

É uma atividade que estimula a autonomia dos estudantes, deixando que identifiquem questões e busquem soluções em relação ao planejamento. Os professores podem trabalhar para facilitar o debate, fomentando a curiosidade das crianças em relação ao ambiente, apoiando ainda no elo com a sustentabilidade e a colaboração.  

A apresentação dos projetos será um momento potente de troca entre os estudantes e a comunidade escolar.


7. Experiências com e na natureza

Atividades de exploração da natureza podem proporcionar experiências que fomentem a conexão com a fauna e a flora locais.

Na Educação Infantil é importante estimular a relação espontânea das crianças com espaços ao ar livre, com o professor por perto, atento e disponível, desempenhando um papel de mediador entre o aluno e o ambiente. Na medida em que as crianças reconhecem o mundo a sua volta, é interessante o professor encorajar a perspectiva de que a natureza faz parte da vida cotidiana e não está apartada dela.  

Maria Isabel Amando de Barros, especialista em infâncias e natureza no Instituto Alana, avalia que o objetivo das atividades de exploração da natureza é o de proporcionar experiências que fomentem a conexão com a fauna e a flora locais. “As crianças têm o direito de se vincular com a natureza a partir do que é bom, do que é belo, com uma experiência afetiva relacionada ao amor mesmo, a apreciação, e não a partir do medo e da ameaça”, analisa. 

Abaixo, duas sugestões de dinâmicas para bebês e crianças pequenas:

Procurar e reconhecer cores na natureza - identificar as cores do arco-íris, com o apoio de uma paleta física se for necessário, e apontá-las na natureza: a folha verde, o céu azul, a terra vermelha… 

Montar um quadro sensorial com elementos naturais - estimular os sentidos de bebês e crianças pequenas por meio de um catálogo sensorial com pedras, gravetos e folhas que podem ser tocados e sentidos, estimulando a descoberta de diferentes texturas, sons e formatos. 

O Instituto Alana promove a iniciativa Criança e Natureza, que defende a “natureza próxima”, ou seja: aquela que pode ser acessada no cotidiano, em todos os espaços de convívio da criança. Seja em pátios escolares, ruas, parques, praças ou áreas remotas com menor interferência humana. Para Maria Isabel, as escolas precisam avaliar como podem favorecer esse contato, pensando no desenvolvimento integral dos estudantes. “As crianças se desenvolvem quando elas podem aprender e brincar do lado de fora”, afirma. 

8. Projetos de divulgação científica 

Democratizar o acesso à ciência por meio da divulgação de conhecimento científico. Com essa diretriz em mente, os professores podem estimular a produção audiovisual (podcasts e documentários) ou escrita (jornais, folhetos) entre estudantes do Fundamental até o Médio. Estes projetos podem valorizar o protagonismo dos estudantes e aproximar a ciência da comunidade escolar, popularizando diferentes temas.

Em todos esses formatos de produções, os alunos estarão desenvolvendo canais de comunicação. Então, podem ser entrevistados personagens importantes do bairro, como líderes comunitários, para investigar problemas da região – ilhas de calor, falta de saneamento básico, entre tantos temas mapeados previamente pelas turmas. 

Para o professor Mauro Guimarães, essas atividades estimulam debates vitais sobre as causas e as consequências da crise climática, gerando o posicionamento crítico dos estudantes. “Logo, o processo de divulgação científica torna-se formativo para cidadãos conscientes”, analisa. 

9. Feira de Ciências

Uma Feira de Ciências incentiva a prática acadêmica e da pesquisa por meio de oficinas, tendas com exposição e palestras. Além disso, integram a comunidade escolar. “A criação de eventos de mobilização estimula um ambiente favorável ao processo educativo, cultural e científico de modo a articular o ensino, a pesquisa e até a extensão acadêmica”, avalia a professora Cristiane Cardoso.

Uma feira oferece aos estudantes a oportunidade de explorar e aplicar conceitos científicos em projetos práticos, estimulando a criatividade, o pensamento crítico e a resolução de problemas. Todas as faixas etárias participam. Cada ano pode ficar responsável por desenvolver trabalhos sobre determinado tema e as turmas montam seus estandes ou oficinas, estabelecendo uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a prática cotidiana. 

O encontro pode ocorrer durante um sábado letivo, tornando-se um evento aberto para todos – pais, professores e outros membros da comunidade no processo educacional –, e promovendo a troca de experiências e o fortalecimento dos vínculos entre a escola e a sociedade.

10. Datas comemorativas e ações entre escola e comunidade

Uma estratégia que gera engajamento e pode ser empregada para diferentes anos é aliar efemérides com ações pontuais que dialogam com aquela data. No Dia Mundial sem Carro, por exemplo, combinar uma “bicicletada” em volta da escola ou em uma praça próxima.

Outra oportunidade é, durante o Dia Mundial da Limpeza Urbana, promover um mutirão para catar lixo em uma praça ou praia (para regiões litorâneas) próxima da escola. A ideia é transformar essas atividades em eventos altamente engajadores.

Atividades dessa natureza potencializam os debates sobre o papel social das escolas nas comunidades. “Como é que a gente pode favorecer iniciativas de urbanismo que facilitem a mobilidade perto das escolas para diminuir a emissão de gás carbônico e, ao mesmo tempo, favorecer a mobilidade ativa de crianças e famílias, promovendo o maior uso do entorno escolar para convivência e também para mobilidade? ”, questiona Maria Isabel. Uma “bicicletada” ou mutirão de limpeza respondem questões como esta de forma bastante prática.

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/22084/10-ideias-para-desenvolver-a-educacao-climatica-em-sala-de-aula



Ilustrações: Silvana Santos