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CUIDAR DO MEIO AMBIENTE COM CONSCIÊNCIA AMBIENTAL Luiz Eduardo Paulino da Silva1, Maelen Cristina Azevedo dos Santos Alzate2
1Doutor em Educação, Universidade Federal do Amapá (Unifap) – Amapá, AP, Brasil. ORCiD: https://orcid.org/0000-0003-0715-5550. E-mail: paulino.jesus@unifap.br 2Mestranda em Educação/PPGED – Universidade Federal do Amapá (Unifap), Amapá, AP, Brasil. E-mail: maelen@unifap.br
Resumo: O objetivo deste trabalho é contar uma história para crianças que leve em consideração a importância de cuidar do meio ambiente. Como professores do curso de Pedagogia, da Universidade Federal do Amapá, Campus Binacional, e com a experiência de educadores ambientais na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em Oiapoque, procuramos compartilhar vivências adquiridas durante nosso tempo nessa instituição. Trata-se de um estudo descritivo, classificado como relato de experiência, que foi realizado com base nas práticas durante a coordenação da SEMMEA. Nesta abordagem, estabelecemos uma narrativa que aborda a questão do lixão no município, com o intuito de apresentar o trabalho desenvolvido com as crianças da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. Nas intervenções foi utilizada uma televisão interativa para apresentar a história O Meio Ambiente, o Lixão e o Ser Humano, processo em que empregamos material reciclado, como sucata, garrafas PET, papelão e outros itens que conseguimos converter em instrumentos de aprendizado. A história desenvolveu-se como um estudo de campo em que foi possível abordar informações relevantes sobre o lixão de Oiapoque, a partir do diálogo com crianças pequenas, que levantaram questionamentos importantes no que diz respeito à preservação ambiental. Palavras-chave: Crianças. Meio Ambiente. Lixão. Consciência Ambiental.
Abstract: The objective of this work is to tell a story to children that takes into account the importance of taking care of the environment. As professors of the Pedagogy course, at the Federal University of Amapá, Binacional Campus, and with the experience of environmental educators at the Municipal Secretariat for the Environment, in Oiapoque, we seek to share experiences acquired during our time at this institution. This is a descriptive study, classified as an experience report, which was carried out based on practices during the coordination of SEMMEA. In this approach, we established a narrative that addresses the issue of landfills in the municipality, with the aim of presenting the work developed with children in early childhood education and in the early years of elementary school. In the interventions, an interactive television was used to present the story The Environment, the Trash and the Human Being, a process in which we used recycled material, such as scrap metal, PET bottles, cardboard and other items that we were able to convert into learning instruments. The story developed as a field study in which it was possible to address relevant information about the Oiapoque landfill, based on dialogue with young children, who raised important questions regarding environmental preservation. Keywords: Children. Environment. Dump. Environmental Awareness.
Introdução A consciência ambiental refere-se à capacidade do indivíduo de pensar sobre si mesmo, suas ações e as repercussões que elas geram. Ela exige uma análise centrada no meio ambiente, mostrando como até mesmo uma ação cotidiana pode impactar o ecossistema local. Segundo Brandão (2005, p. 17), “sou daqui ou sou de lá, mas vivo agora aqui. Daqui eu sou, e mesmo não tendo nascido aqui, de algum modo eu sou daqui. Aqui eu moro. Aqui eu vivo”. Ao afirmar "sou daqui, daqui eu sou", o autor leva-nos a refletir sobre nossa inserção no meio ambiente, do qual somos parte integrante. É fundamental entender a necessidade de zelar, preservar e adotar uma visão atenta em relação à natureza. Porém, o cuidado deve emergir do olhar atento dos seres humanos em relação aos animais, às plantas e a todos os organismos bióticos que compartilham o ambiente. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi contar uma história para crianças que leve em consideração a importância de cuidar do meio ambiente. O cuidado tem sinônimos importantes, como cautela, prudência, zelo e esmero, dentre outros, e todos eles nos levam à compreensão de que cuidar é fundamental para a vida. A BNCC (BRASIL, 2018, p. 17) diz que “nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo”, e a natureza requer essa atenção, da mesma forma que uma criança precisa de cuidados. Atuamos na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Oiapoque, Amapá, de 2018 a 2020. Durante esse período, foram desenvolvidos projetos de colaboração entre a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amapá - SEMA e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMAM, tratando sobre a educação ambiental nas escolas municipais de Oiapoque, o que nos permitiu realizar ações de conscientização e sensibilização com as crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, com enfoque especial na educação infantil. Para a educação infantil foram realizadas oficinas de confecção de material didático a partir de sucatas, com o intuito de desenvolver a percepção visual e auditiva das crianças. Assim, utilizamos garrafas pet para a construção de instrumentos sensório-motores, permitindo que os pequenos elaborassem suas próprias garrafas utilizando miçangas, gliter, pedras, colas coloridas e diversos outros objetos. Parte do projeto previa palestras e roda de conversa, e para o desenvolvimento do trabalho foram produzidas histórias, a partir da problemática do lixo no município de Oiapoque, que foram contadas por meio de uma televisão interativa confeccionada com papelão e outros materiais. Essas histórias discutiam a poluição dos rios e os efeitos do óleo de cozinha para a respiração e o oxigênio dos seres aquáticos, além de evidenciarem como o uso do óleo caseiro é nocivo para o meio ambiente e a biodiversidade. Nessa história, o foco principal era o rio Oiapoque e sua preservação. A mãe natureza (Gadotti, 2009) precisa ser cuidada, necessita de atenção, de um olhar sensível, pois já vem pedindo socorro, clamando pelo cessar fogo, chorando o desmatamento, entristecida com a poluição, sofrendo com a ambição da destruição em massa. Todos os dias, em algum canto, acontece o descuido com nosso maior bem: o meio ambiente. A poluição que impacta a cidade atinge diretamente a população, comprometendo a saúde dos moradores. Para promover a conscientização no município tivemos como foco as crianças da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, com quem abordamos o tema O Meio Ambiente, o Lixão e o Ser Humano, por meio de material feito de sucata, garrafas PET, papelão e outros objetos que conseguimos transformar em ferramentas educativas. É fundamental cuidar da natureza e preservar o meio ambiente, bem como é essencial ter uma visão atenta para as questões que prejudicam nosso planeta. Por isso, indagamos: quais impactos o descarte do lixo doméstico pode causar para o ser humano e a fauna que ali vivem? Diante dessa interrogativa pudemos repensar como cuidar do lixo e procurar mecanismos para conscientizar a população a não deixar o lixo por toda parte. Este estudo consiste em uma pesquisa descritiva, que é classificada como um relato de experiência, realizada com base nas nossas vivências. Além disso, também incorpora uma pesquisa bibliográfica, na qual dialogamos com teóricos que abordam questões ambientais, como Gadotti (2009), Boff (2011), Brandão (2015), Freire (2015) e Silva (2016), entre outros. É fundamental desenvolver uma consciência ambiental em relação às questões que impactam o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta. Isso implica reconhecer os efeitos das ações humanas na natureza, como a poluição, a degradação dos ecossistemas, as mudanças climáticas e a diminuição da biodiversidade. Ademais, a conscientização sobre questões ambientais pode ser incentivada através de campanhas, eventos na comunidade e a inclusão de tópicos ambientais nos currículos escolares e programas de capacitação. A participação ativa da sociedade, abrangendo pessoas, empresas e governantes, é fundamental para construir um futuro mais sustentável.
A Consciência de Si Sobre o Meio Ambiente Se a natureza nunca reclamou da gente Do corte do machado, a foice, o fogo ardente
Se nessa terra tudo
que se planta dá
Tem alguém
levando lucro (Zezé de Camargo e Luciano) A canção da dupla Zezé de Camargo e Luciano antecipa o que se pretende discutir sobre a conexão do ser humano com o meio ambiente. Nesse contexto, buscamos levantar a questão de que a falta de conscientização resulta em crises ambientais e que a educação pode influenciar comportamentos que promovam o cuidado com a natureza. De acordo com Boff (2011), é necessário que a sociedade adote um novo modelo de convivência que promova uma relação harmoniosa, mas intensa, entre os seres humanos e o planeta Terra. Assim, é fundamental estabelecer um pacto entre as nações para garantir o respeito e a preservação do que existe e habita no nosso mundo. Entendemos que é fundamental que os moradores do planeta Terra sejam sensíveis sobre a importância de preservar seu ambiente. Gadotti (2009) leva-nos a refletir sobre a consciência planetária, que envolve o desenvolvimento e a solidariedade no planeta, em que todos os povos precisam cultivar uma consciência e cidadania globais. O autor nos ensina que somos habitantes do planeta e precisamos coexistir com ele de maneira harmoniosa. Mas o que significa realmente viver em harmonia? É manter um equilíbrio interno, entendendo as condições reais para zelar pelo meio ambiente. É fundamental estar envolvido no seu desenvolvimento, caso contrário corremos o risco de sucumbir diante da nossa própria destruição. Assim, precisamos compreender e refletir sobre uma sociedade consciente de si e da natureza. Essa consciência de si refere-se a olharmos para cada ser individual, cada ser humano que nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre, de acordo com a lei da natureza. Nesse contexto, é fundamental que o ser humano, nos seus primeiros anos de vida, desperte a consciência sobre a importância do cuidado com o planeta Terra. Para alcançar essa conscientização, são necessárias ações que nos façam refletir cada vez mais sobre o meio ambiente. Como seres pensantes, racionais e reflexivos, devemos ter exemplos básicos de cidadania relacionados à nossa relação com a terra. Há exemplos simples que podemos incorporar na nossa rotina diária, como evitar jogar palitos de picolé e saquinhos de sacolé no chão, zelar pelas plantas, praticar a reciclagem em casa e preservar os recursos bióticos e abióticos do planeta, como também refletir, através de histórias infantis, sobre a importância de cuidar do meio ambiente. Conforme Boff (2011), observa-se que se tende a considerar mais a dimensão da demência no ser humano do que a da sapiência. A partir dessa afirmação, propomos uma reflexão sobre a condição humana, que, mesmo em meio à fé e à esperança, muitas vezes demonstra descrença nas efetivas contribuições que pode oferecer ao ambiente em que está inserido. Entretanto, os seres humanos agem como se fossem senhores de si mesmos, como se não houvesse um Deus que, conforme descrito no Gênesis, nos concedeu a responsabilidade de cuidar e preservar a Terra. Atualmente, muitos desenvolvem um complexo de divindade (Boff, 2011, p. 21), o que indica uma desconexão em relação a essa força superior. Com o progresso das ciências e o surgimento de novas tecnologias, a humanidade tem agido como se fosse a criadora, ignorando sua condição de criatura. Tal atitude tem propiciado uma evolução que, embora traga benefícios para o planeta e para a sociedade, também resultou em danos irreparáveis ao meio ambiente terrestre. A Bíblia já afirmava que o conhecimento científico se expandiria, e é precisamente essa busca incessante que leva os seres humanos a se saturarem de informações, poder e posses. Nesse contexto, esquecem-se de valores fundamentais, como cumprimentos simples, gestos de cortesia e a importância de cuidar do espaço coletivo. Tais atitudes podem representar uma significativa mudança em uma sociedade marcada pelo consumismo, desigualdade e hipocrisia. Entretanto, acreditamos que a "criança é a esperança do amanhã" e por meio delas podemos instigar uma consciência ou sensibilidade ambiental que poderá ser transmitida às futuras gerações. Por intermédio da análise histórica da relação entre o meio ambiente, os lixões e o ser humano, buscamos cultivar na mente das crianças uma conscientização ambiental.
A História Contada A narrativa a seguir foi elaborada a partir das intervenções da coordenação de educação ambiental da SEMMAM nas escolas de Oiapoque/AP. Durante essas atividades, ouvimos as crianças da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental sobre a grave problemática do lixão da cidade, quando surgiram os seguintes questionamentos: quem realmente é o grande vilão da natureza? Por que a cidade de Oiapoque tem tantas lixeiras viciadas? O que o ser humano pode fazer para acabar com a poluição? Com base nessas discussões e com o objetivo de sensibilizar os pequenos para a preservação ambiental, criamos uma história inspirada na realidade deles. Para a apresentação, utilizamos uma TV interativa confeccionada com sucata, como papelão, garrafa PET, cabo de vassoura e outros materiais recicláveis.
O Meio Ambiente, o Lixão e o Ser Humano Certo dia, um grupo de crianças foi até o lixão da cidade de Oiapoque para uma aula de campo. Chegando ao local, elas ficaram surpresas com a quantidade de lixo existente no entorno, e de repente ouviram um sussurro forte que, para a surpresa de todos, era o Senhor Lixão, que com uma voz estremecida e irônica falou: – Ora, ora, se não são os humanos curiosos? O que vocês estão fazendo aqui? Vieram deixar mais lixo? A professora que acompanhava as crianças prontamente respondeu: - Não! Viemos conhecer o senhor, trouxe as crianças para entendermos qual é o destino final do nosso lixo e por que nossa cidade está sendo alvo desse mau odor. O Senhor Lixão respondeu: - Todos me chamam de vilão pelo meu jeito rústico de ser, mas não me conhecem, só sabem me julgar. Vocês não gostam de mim pelo meu cheiro forte? Muitos me olham com desprezo, inclusive as crianças. Imediatamente Pedrinho, o mais afoito da turma, contestou: - Mas o senhor é vilão, destrói nossa cidade com esse cheiro horrível. Em seguida, o pequeno Carlinhos disse: - Você polui nosso solo, nossa água e traz doença para a população, pessoas morrem por sua culpa, sabia? A professora, surpresa com a discussão, interferiu: - Calma crianças! O objetivo da aula de hoje é conhecer o lixão, deixa o Senhor Lixão se apresentar. E ele Lixão respondeu: - Sou o Lixão de Oiapoque, sou muito grande, percebem? Vejo muitas pessoas diariamente aqui, umas para catar restos e outras para depositar lixo, eu recebo por dia cerca de 46 a 48 toneladas de lixo doméstico, fora as toneladas de entulhos, de carcaça de boi e de peixe, por isso o meu cheiro é insuportável. Vocês me deixam todos os dias cheio de lixo e por causa disso as pessoas acham que sou mal, mas apenas recebo o lixo de vocês, não sou eu o vilão! O Senhor Lixão, chateado com as ofensas das crianças, solicitou que se retirassem do recinto, e todos foram embora. Na manhã seguinte, no horário de aula, todos estavam pensativos com a resposta do Senhor Lixão. Observando como a turma estava inquieta, a professora teve uma ideia: - Então, turminha! Hoje iremos fazer uma roda de conversa para tratar do tema Lixo e Meio Ambiente. Faço a seguinte pergunta: vocês acham que a culpa de tanto mau odor na cidade é de quem? Pedrinho falou: – Professora, é do Senhor Lixão, é de lá que sai o mau cheiro, se ele não estivesse lá não sentiríamos um cheiro tão desagradável. Rosinha, discordando da fala de Pedrinho, disse: - Claro que não! Certo dia minha mãe falou que cada pessoa é responsável pelo seu lixo. A professora parabenizou Rosinha e acrescentou: - Os seres humanos geram diversas toneladas de lixo por dia em todo o planeta, e infelizmente o lixo não está apenas no lixão ou na lixeira de casa esperando os coletores chegarem, ele está em todo lugar. Amanhã daremos uma volta no bairro da escola para observar como está nossa cidade em relação ao lixo. No dia posterior, animados com mais uma aula de campo, foram até o centro da cidade de Oiapoque e, para surpresa de todos, encontraram muito lixo espalhado pelo chão. Gustavo, de longe, observou um espaço com bastante lixo e disse à professora: – Olha, professora, um filhote de lixão, são muitos deles e estão por toda parte. - Não, respondeu a professora, esse lixo foi criado aqui, as pessoas, com sua irresponsabilidade, acabam criando diversos pontos, como se fosse um lixão, dentro da cidade. Esse tipo de lugar com lixo acumulado nós chamamos de lixeira viciada. Rosinha falou: - Eu estou tão triste, pois agora sei que o que a mamãe dizia era verdade, vocês sabiam que ao chover esse lixo se espalha? Quando isso acontece, parte do lixo vai parar no rio e no mar, os animais confundem esse lixo com comida e acabam morrendo. E as latas com água parada podem servir de casa para o mosquito da dengue. Maria, comovida, disse: - Além dos ratos e baratas, que provocam doenças levando muitos à morte. Em seguida, Rafael fez a seguinte pergunta: - Mas se tudo isso pode acontecer com a gente, por que o ser humano continua poluindo o meio ambiente? A professora, com o semblante caído, falou: - Ah, Rafael! As pessoas não têm consciência do problema que ocorre com o meio ambiente quando jogam lixo no chão, não entendem que quando destroem a natureza destroem a si mesmos, se o mundo continuar assim, as futuras gerações não existirão. Bianca, ao ouvir a professora, disse: - Precisamos fazer algo, nossa cidade não pode ficar assim. Ana complementou: - Tem tantas coisas que podemos fazer, um exemplo é reciclar, minha mãe sempre recicla garrafa pet e quando ela vai ao supermercado leva sua própria sacola para não ter que usar sacos plásticos. Antônio respondeu: - Lá em casa tem uma horta que meu pai fez com material orgânico, todo o resto de comida a gente coloca dentro de uma caixa chamada de composteira, que serve para fazer adubo. E o melhor é que comemos verduras fresquinhas do nosso próprio quintal. Rosinha disse: - Tudo isso é importante, mas a gente tem que falar sobre meio ambiente e sustentabilidade em todo lugar para todos ouvirem. A professora, animada, respondeu: - Excelente ideia, Rosinha, podemos falar do meio ambiente nas rádios e na nossa escola, assim mostraremos a importância da natureza para os seres vivos e ainda despertaremos a consciência pela preservação. Aquela semana foi corrida para a turma do quinto ano, pois todos queriam ajudar a natureza de alguma forma. Assim, construíram cartazes de incentivo, fizeram oficinas de educação ambiental na escola e foram na rádio para falar sobre preservação e reciclagem. No último dia de evento, as crianças fizeram questão de mostrar para a escola que o vilão não era o Senhor Lixão e sim o ser humano. Nesse momento, Rosinha subiu no palco e discursou: - Sou uma criança, mas muito tenho aprendido sobre a natureza e sobre nós, seres humanos. Nós somos os únicos responsáveis por preservar o meio ambiente e não o destruir com agrotóxicos no solo, com esgoto e lixo nos rios e mares, com queimadas e derrubadas de árvores. Tem tanta coisa que podemos fazer para ajudar o meio ambiente: andar de bicicleta, plantar uma árvore, reciclar, reutilizar, não jogar lixo no chão etc. A natureza depende de nós. Por isso é importante cuidarmos para que amanhã não possamos culpar ninguém pela falta de recursos naturais no planeta.
Considerações Finais Este estudo nos proporcionou reflexões a partir da consciência ambiental, centrando-se na narrativa infantil elaborada com base na realidade de nosso município. Além disso, a história infantil oferece uma reflexão sobre o lixão e a condição humana. As crianças, em sua pureza, imitavam as falas equivocadas de adultos sobre o meio ambiente e viam o lixão como o principal responsável pelos problemas ambientais. No entanto, a verdade é que os verdadeiros culpados na questão ambiental são as ações humanas. Conforme Morin (1995) destaca, a natureza humana é extremamente complexa e, ao abordar as questões ambientais, essa complexidade se intensifica. Portanto, é importante reconhecer a necessidade de cultivar uma consciência ambiental para promovermos o cuidado com o ambiente em que vivemos. Nesse contexto, as instituições públicas e privadas, especialmente as secretarias de meio ambiente e outros órgãos relacionados, devem manter um diálogo ético e moral sobre o incentivo à preservação do planeta, em particular do meio ambiente em que vivemos. Para isso, é fundamental começar essa conversa com as crianças. No entanto, discutir a consciência ambiental com as crianças é um processo que se estende até os adolescentes, jovens e adultos. É fundamental que haja uma conexão entre a educação infantil e o ensino superior, promovendo uma cultura de cuidado e responsabilidade em relação às futuras gerações. A narrativa apresentada às crianças levou-as a refletir sobre o ambiente em que vivem, promovendo um senso crítico construtivo. Além disso, houve diálogo entre elas, reconhecendo que o lixão é prejudicial e que o principal responsável pela poluição, por desmatamentos e queimadas é o ser humano, causando danos a toda a sociedade. É fundamental considerar uma ação imediata para que as crianças comecem a se comunicar, seja por meio de contos, revistas infantis, quadrinhos ou gibis. É importante que nossos pequenos desenvolvam uma consciência ambiental ainda mais forte do que a dos adultos, já que são os próprios adultos que causam grandes prejuízos à natureza. De acordo com Tiriba (2017), a criança possui uma conexão direta com a natureza, uma compreensão que, muitas vezes, os adultos não conseguem captar. Mesmo sendo parte desse ambiente natural, o ser humano frequentemente nega sua relação com ele e acaba destruindo-o ou distanciando-se dele. No entanto, essa história nos trouxe reflexões valiosas, novas ideias e experiências que enriquecem o diálogo das crianças. É possível perceber que a criança desempenha um papel fundamental em uma sociedade, mesmo quando essa sociedade prioriza o pensamento egocêntrico, o desmatamento, a poluição e as queimadas. A criança, com sua sabedoria, sempre busca cuidar do seu ambiente. Freire (1997) propõe uma transformação nas atitudes das pessoas para fomentar o diálogo e a paz. É evidente que o lixão é apenas um dos vários problemas que afetam o meio ambiente. Precisamos abordar outras questões, como o tratamento de resíduos, a disponibilidade de água potável, o saneamento básico e as queimadas frequentes. É fundamental que os órgãos públicos tenham uma atenção especial para essas questões que impactam nosso município. É importante prestar atenção a essas e outras questões que estão presentes no município de Oiapoque e que frequentemente são negligenciadas, não compreendidas ou percebidas. A violência, a poluição, as queimadas recorrentes, o desgaste ambiental e a contaminação dos rios têm afetado de maneira significativa a sociedade oiapoquense. Assim, é essencial desenvolvermos uma consciência ambiental.
Referências Bíblia Sagrada. Trad. do Centro Bíblico Católico. 90. ed. São Paulo: Ave Maria, 1993. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 17. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o município educador sustentável. 2. ed. Brasília: MMA, Programa Nacional de Educação Ambiental, 2005. FREIRE, Paulo. (1979). Educação e Mudança. 31ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. 6ª ed. São Paulo: Peiropólis, 2009 MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Col. Epistemologia e Sociedade. Lisboa: Astória, 1995. SILVA, Luiz Eduardo Paulino da. Dialogando sobre educação ambiental e ecopedagogia com docentes da e. M. E. F. Alice de Melo Viana (Belém, PB, Brasil). Monografia, Curso de Educação Ambiental. Santa Maria, RS, Brasil 2015 TIRIBA, Léa. Educação infantil como direito e alegria. Universidade Federal de São Carlos, Brasil, Laplage em Revista, vol. 3, núm. 1, 2017. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=552756521008. Acessado em 11/09/2024
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