Rico é aquele que sabe ter o suficiente. Lao Tze
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 90 · Março-Maio/2025
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Relatos de Experiências
14/03/2025 (Nº 90) REFLEXÕES SOBRE TRILHA AMBIENTAL COM ACESSIBILIDADE AOS ALUNOS PCD: O USO DA GEOINFORMAÇÃO APLICADO AOS ESTUDOS AMBIENTAIS NO IFPA CAMPUS/BRAGANÇA-PA
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REFLEXÕES SOBRE TRILHA AMBIENTAL COM ACESSIBILIDADE AOS ALUNOS PCD: O USO DA GEOINFORMAÇÃO APLICADO AOS ESTUDOS AMBIENTAIS NO IFPA CAMPUS/BRAGANÇA-PA

Andreza Lima de Oliveira1, Átila Gizelly Bessa da Silva2, Bianca Catarine Pinho3, Nivia Maria Vieira Costa 4

1Graduanda do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, IFPA/Campus Bragança

2 Licenciada em Letras Libras e Português como Segunda Língua para Surdos, especialista em Tradução e Interpretação em Libras e Português Simultâneo, IFPA/Campus Bragança

3 Mestre em Gestão dos Recursos Naturais da Amazônia, IFPA/Campus Bragança

4 Professora Titulada e Pós doutora em Educação, IFPA/Campus Bragança



Resumo: Este trabalho tem como objetivo propor a criação de uma trilha interpretativa acessível no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA/Campus Bragança, com o intuito de promover a inclusão de pessoas com deficiência em atividades de educação ambiental. A inclusão é essencial para garantir que todos, independentemente de suas capacidades físicas, possam participar de atividades ao ar livre, como trilhas interpretativas que proporcionam aprendizado sobre fauna, flora e meio ambiente. A pesquisa utilizou um método qualitativo, aplicando questionários virtuais a estudantes de diferentes níveis e idades do IFPA, para entender suas percepções sobre acessibilidade nas trilhas e identificar desafios enfrentados por pessoas com mobilidade reduzida. Os resultados apontaram que muitos alunos encontram dificuldades, como falta de rampas, corrimãos e sinalização adequada, além de terrenos irregulares, o que evidencia a necessidade de ajustes estruturais. A criação dessa trilha acessível tem como objetivo beneficiar não só a comunidade acadêmica, mas também conscientizar a sociedade sobre a importância da inclusão em ambientes naturais. O uso de tecnologias como My Maps e QGIS foi fundamental para o mapeamento e identificação das áreas mais adequadas para a trilha, considerando aspectos como topografia e acessibilidade. Este estudo reforça a importância da inclusão social e da acessibilidade na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, incentivando novos projetos que promovam ambientes acessíveis e sustentáveis para todos

Abstract: This study aims to propose the creation of an accessible environmental trail at the Instituto Federal do Pará (IFPA), Bragança Campus, with the aim of promoting the inclusion of people with disabilities in environmental education activities. Inclusion is essential to ensure that everyone, regardless of their physical abilities, can participate in outdoor activities, such as interpretive trails, which provide learning about fauna, flora, and the environment. The research used a qualitative method, applying virtual questionnaires to students of different levels and ages at IFPA, to understand their perceptions about accessibility on trails and identify challenges faced by people with reduced mobility. The results showed that many students encounter difficulties, such as a lack of ramps, handrails, and adequate signage, in addition to uneven terrain, which highlights the need for structural adjustments. The creation of this accessible trail aims to benefit not only the academic community, but also to raise awareness in society about the importance of inclusion in natural environments. The use of technologies such as My Maps and QGIS was essential for mapping and identifying the most suitable areas for the trail, considering aspects such as topography and accessibility. This study reinforces the importance of social inclusion and accessibility in building a more just society.

Introdução

A Educação Ambiental (EA) é uma abordagem interdisciplinar que visa fornecer conhecimentos e habilidades essenciais para a conservação e preservação do meio ambiente. Nesse contexto, a Educação Ambiental Inclusiva (EAI) assume um papel relevante ao focar na construção do conhecimento de forma a facilitar o processo de ensino-aprendizagem para pessoas com deficiência, permitindo que interajam de maneira mais significativa com o ambiente ao seu redor. Os principais valores que guiam a EAI são igualdade, solidariedade e respeito às diferenças, fundamentados em práticas interativas e dialógicas (Maciel et al., 2010).

A importância da EAI é reforçada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada em Nova York em 30 de março de 2007, que estabelece a necessidade de garantir uma educação de qualidade para todas as pessoas com deficiências, conforme o Decreto 6.949/2009 (Brasil, 2009). Neste cenário, a educação ambiental inclusiva não se limita a sensibilizar a população para questões ambientais, mas busca criar espaços onde todos possam participar ativamente da proteção e conservação do meio ambiente, respeitando as necessidades e capacidades diversas da população, incluindo aqueles com deficiências físicas, mentais, sensoriais, econômicas ou sociais (Brasil, 2009).

O trabalho de Mello (2006) destaca a importância de transformar a teoria em prática na educação ambiental, utilizando recursos ecológicos, entre os quais se destacam as trilhas interpretativas. Essas trilhas, frequentemente utilizadas em projetos de educação ambiental, vão além da simples transmissão de conhecimentos; elas promovem uma análise significativa dos eventos observados e das características do ambiente (Zanin, 2006). As trilhas interpretativas são caminhos projetados para proporcionar experiências educacionais ao ar livre, abordando temas como fauna, flora e cultura local, e são complementadas por recursos informativos que contextualizam as observações realizadas.

Essas trilhas desempenham um papel crucial na promoção da educação ambiental de maneira acessível e envolvente. Ao percorrer uma trilha interpretativa, os visitantes têm a oportunidade de aprender sobre ecossistemas, espécies nativas e aspectos da história local, criando uma conexão emocional com a natureza que fomenta um senso de responsabilidade ambiental (Leung; Marion, 1999).

Para Vasconcellos (2000) e Ota (2000), as trilhas são caminhos que dialogam com o espaço histórico, geográfico e cultural, podendo ser usadas como ferramentas pedagógicas que incentivam a comunidade a reconsiderar suas percepções sobre valores ambientais. As trilhas interpretativas podem ser divididas em categorias, como interpretativas ou cênicas, e sua acessibilidade é de extrema importância (Ikemoto et al., 2008).

A criação de trilhas acessíveis é fundamental, pois permite que pessoas com mobilidade reduzida, usuários de cadeiras de rodas e idosos possam desfrutar das experiências ao ar livre. Este tipo de iniciativa não só promove a inclusão, mas também conscientiza a sociedade sobre a importância da igualdade de acesso e inclusão, contribuindo para o desenvolvimento de uma comunidade mais justa e acolhedora.

Assim, o objetivo desta pesquisa é desenvolver uma proposta de criação de uma trilha interpretativa acessível no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA/Campus Bragança, proporcionando às pessoas com deficiências a oportunidade de aprender e apreciar a natureza e a beleza do campus. Essa iniciativa pretende gerar um impacto positivo não só na comunidade local, mas também na sensibilização acerca da inclusão e preservação ambiental.

Este estudo contribui para o corpo existente de pesquisas ao enfatizar a necessidade de práticas inclusivas na educação ambiental e a importância de ambientes acessíveis. Ao integrar as diretrizes da EAI e os princípios de respeito à diversidade, a pesquisa busca enriquecer o entendimento sobre como a educação ambiental pode ser uma ferramenta poderosa no fortalecimento da inclusão e na promoção da consciência ambiental em todos os segmentos da sociedade.

Revisão Teórica

Fundamentos da Educação Ambiental Inclusiva

Os fundamentos da Educação Ambiental- EA englobam os princípios e valores que norteiam a abordagem educativa voltada para a conscientização e ação em prol do meio ambiente. Isso inclui promover a compreensão da interdependência entre os seres humanos e o ambiente, estimular atitudes sustentáveis, incentivar a participação cidadã na resolução de problemas ambientais, entre outros aspectos. A Educação Ambiental busca, essencialmente, promover a construção de uma sociedade mais consciente e responsável em relação ao meio ambiente (Padua e Tabanez, 1997).

Para Maria e Alcântara (2012, p. 10), a Educação Ambiental atua como um elemento propulsor para a melhoria da qualidade de vida no planeta em longo prazo, à medida que amplia o nível de conscientização da sociedade. Nesse contexto, é essencial que ações de curto prazo e de caráter emergencial sejam implementadas para controlar e impedir a degradação ambiental, uma vez que a conservação da biodiversidade é uma responsabilidade de toda a humanidade. A relevância da Educação Ambiental torna-se cada vez mais evidente em nossa sociedade e, para que ela tenha pleno significado, é fundamental considerar o meio próximo e o ambiente circundante do indivíduo.

A educação ambiental - EA inclui a interdisciplinaridade, a participação social, a sustentabilidade, a diversidade, a ética e a cidadania. A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999 prevê esses princípios para promover a conscientização e ações práticas para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. É essencial disseminar esses conhecimentos para construirmos um futuro mais equilibrado para as próximas gerações (Brasil, 1999).

A educação ambiental - EA se faz presente na parte da formação social do sujeito, pois contribui para a elaboração de novas ideias com a importância mediada por diálogos, interações e reinterpretação de informações. É essencial a abordagem do tema meio ambiente de forma interdisciplinar nos estabelecimentos de ensinos, evidenciando a necessidade da problematização e de que os sujeitos envolvidos participem de maneira ativa no processo, com foco na construção de uma sociedade democrática em que os indivíduos compartilhem de uma ética preocupada com os desempenhos de ações que proponham ajuda o meio ambiental (Jacobi, 2005).

A Educação Ambiental Inclusiva se refere a práticas e abordagens educativas que buscam garantir a participação de todos, independentemente de suas capacidades, na promoção da consciência ambiental e na busca por soluções sustentáveis. Isso inclui a consideração das necessidades e potencialidades de pessoas com deficiência, visando à sua plena integração e participação ativa em atividades relacionadas ao meio ambiente. A Educação Ambiental Inclusiva visa promover uma sociedade mais justa e equitativa, onde todos tenham a oportunidade de contribuir para a preservação do meio ambiente (Maciel et al., 2010).

Para Carvalho 2012, a educação ambiental inclusiva é um processo que busca superar as barreiras que impedem a participação de todos os indivíduos na educação ambiental. (Carvalho, 2012, p.123)

O acesso à educação é direito de todos, está na constituição brasileira desde 1988 e é garantida para todos os brasileiros como dever do Estado e da família. A diversidade de experiências, habilidades, contextos e capacidades entre estudantes é uma realidade que deve ser celebrada através de práticas educacionais inclusivas. Quanto mais respeitados em suas diferenças, mais os estudantes e educadores avançam, sejam eles pessoas com ou sem deficiência (Brasil, 1988).

Conforme a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - LBI - Lei nº 13.146/2015, a acessibilidade visa garantir às pessoas com deficiência condições adequadas de utilização dos espaços urbanos, dos serviços de transporte, dos meios de comunicação e informação, e do sistema educacional. Tem como objetivo eliminar barreiras e assegurar a plena inclusão social daqueles que possuem alguma condição de deficiência (Brasil, 2015).

No Art. 27º da LBI, a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. (Brasil, 2015).

No Brasil, cerca de 18,6 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência (IBGE, 2022). Por essa razão, existem leis específicas que estabelecem critérios para promover a acessibilidade.

  A LBI é também reconhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, nela define-se barreira como qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros (Brasil, 2015).

A pessoa com deficiência enfrenta varias barreiras, no Art. 3º da LBI são classificadas as barreiras em seis tipos:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;

c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;

d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia da informação;

e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas;

f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias (Brasil, 2015).

A Educação Ambiental Inclusiva tem uma relação importante com a trilha interpretativa, pois busca garantir que todas as pessoas, incluindo aquelas com deficiência, tenham a oportunidade de participar ativamente de atividades educativas e de interpretação da natureza.

Segundo Di Tullio (2005), as trilhas interpretativas são também uma ferramenta utilizada para integração entre o homem e o meio natural, estimulando melhor o conhecimento sobre o ambiente e seus aspectos naturais, culturais, geomorfológico e histórico.

Ao planejar e implementar trilhas interpretativas, é essencial considerar a acessibilidade para pessoas com diferentes habilidades físicas, sensoriais ou cognitivas. Isso pode envolver a criação de trilhas acessíveis, sinalização em Braille, recursos auditivos, materiais educativos adaptados e a formação de educadores capacitados para atender a diversidade de público (Tullio, 2005).

Para Andrade (2003), um dos objetivos de uma trilha considerada de uso público em áreas naturais é de oferecer ao visitante, além de segurança e conforto, a oportunidade de aprender algo com relação ao meio ambiente, de forma dinâmica, recreativa e prazerosa. Tal perspectiva concorda com a apresentada anteriormente por Vasconcellos (1997), dado que na integração entre a natureza e o visitante, o mesmo pode perceber que faz parte do ambiente em que está inserido.

Segundo Santos 2008, as trilhas interpretativas são instrumentos educacionais que permitem uma experiência direta e significativa com a natureza, promovendo uma maior conexão entre os visitantes e o ambiente natural. Por meio de um percurso guiado ou auto-guiado, estas trilhas oferecem informações educativas e culturais, estimulando a reflexão sobre a biodiversidade, os ecossistemas e a importância da preservação ambiental. (Santos, 2008, p. 12)

Uma das funções atribuídas às trilhas é levar ao visitante um ar de encorajamento propiciado por uma trajetória satisfatória e de execução viável. Para tal, recomenda-se evitar grandes obstáculos que aumentariam o gasto de energia desnecessário, além da manutenção de certa regularidade e continuidade de sua trajetória, levando aos visitantes uma sensação de organização e segurança no percurso. Deve-se evitar mudanças inesperadas tanto na sinalização quanto na direção, além de obstáculos na trilha, como pedras, árvores caídas e poças de lama. Desse modo,

O planejamento de trilhas deve levar em consideração fatores como variação climática, em função das estações do ano; informações técnicas (levantamentos, mapas, fotografias, etc.) disponíveis sobre a região; a probabilidade de volume de uso futuro; e as características de drenagem, solo, vegetação, hábitat, topografia, uso e exequibilidade do projeto. Características históricas e culturais devem ser pesquisadas e ressaltadas, a fim de otimizar as informações e dar dimensão educacional às trilhas (Andrade, 2003, p. 251).

Sendo assim, a Educação Ambiental Inclusiva na trilha interpretativa busca promover a sensibilização ambiental e o contato direto com a natureza para todos os públicos, contribuindo para a valorização da biodiversidade e a conscientização sobre a importância da conservação ambiental de forma igualitária e inclusiva.

Metodologia

O lócus de pesquisa foi o IFPA/Campus Bragança que está localizado na cidade de Bragança-PA, na latitude 01° 03' 13" sul e longitude 46° 45' 56" oeste, na região norte do Brasil, está situado na região geográfica bragantina, sua população estimada em 2022 era de 123.082 habitantes (IBGE, 2022).

No mapa a seguir apresenta-se a localização do IFPA/Campus Bragança, mostrando o fragmento florestal e a área de infraestrutura do Campus Bragança, os municipios de abrangência e atuação, e a localização na região norte do país. A poligonal do mapa corresponde 268.529,660 m² e perímetro em metros: 2.135,135 m2.

Figura 1 – Mapa de localização e atuação do IFPA/Campus Bragança

Fonte: Pinho, 2023

O IFPA/Campus Bragança oferece cursos nas modalidades Formação Inicial e Continua da - FIC, Ensino Médio Integrado, Subsequente, Graduação e Pós Graduação Lato Sensu. Atualmente, o Campus Bragança conta com 1.434 alunos matriculados no ano de 2024, distribuídos entre as modalidades de ensino, tais informações foram disponibilizadas pelo o Setor de Registro e Indicadores Acadêmicos do Campus Bragança, em outubro de 2024. O IFPA/ Campus Bragança está organizado 23 setores, conforme mapa que segue,

Figura 2 – Mapa dos setores do IFPA/Campus Bragança

Fonte: Pinho, 2023.

Entre os setores do IFPA/Campus Bragança destacamos o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas - NAPNE. De acordo com a Resolução CONSUP/IFPA Nº 847, de 24 de outubro de 2022, no Art. 6º, o NAPNE tem como objetivo prestar atendimento e acompanhamento a estudantes do público-alvo da Educação Especial e de necessidades educacionais específicas que estejam regularmente matriculados no IFPA. O núcleo desenvolve projetos de ensino colaborativo e/ou componentes curriculares isolados, visando complementar e suplementar os conhecimentos dos alunos durante sua formação, garantindo condições adequadas para o acesso, permanência e sucesso no percurso educativo (IFPA, 2022).

Atualmente fazem parte do NAPNE/Campus Bragança mais de 80 (oitenta alunos) que possuem deficiências diversas e estão matriculados em todas as modalidades de ensino, entre eles alunos com Deficiências Biopsicossociais, Transtorno do Espectro Autista – TEA, Deficiência Física, Intelectual, Auditiva - sendo dois alunos surdos, Visual e também alunos com necessidades específicas tais como Dislexia, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, Dislalia, Discalculia, entre outros.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI/IFPA 2014-2018, o IFPA Campus Bragança foi projetado com instalações que atendem às necessidades de pessoas com deficiência. Sua arquitetura foi planejada para garantir acessibilidade, incluindo banheiros adaptados, elevadores, rampas, corrimãos e mobiliário adequado para cadeirantes, entre outras facilidades.

Ainda de acordo com o PDI/IFPA 2014-2018, a relevância do aspecto socioambiental do IFPA está ligada à promoção de uma educação de qualidade para a comunidade local. Isso se traduz na formação de profissionais altamente capacitados, preparados para atuar na preservação e gestão ambiental. Além disso, o IFPA se dedica ao desenvolvimento de projetos e iniciativas sustentáveis que favorecem a conservação e o uso responsável dos recursos naturais da região, contribuindo assim para um futuro mais equilibrado e sustentável.

Procedimentos Metodológicos

Para a realização da pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa, configurando-se como um estudo de caso. De acordo com Denzin e Lincoln (2005), a pesquisa de campo é fundamental para a pesquisa qualitativa, destacando a relevância de métodos que promovem a interação direta com os participantes e a coleta de dados em contextos naturais. Isso permite uma compreensão mais profunda dos fenômenos sociais e culturais. Realizamos um levantamento bibliográfico para fundamentar teoricamente as discussões propostas.

Antes de iniciar a coleta de dados com o questionário virtual, foi enviado aos alunos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, que apresentou o objetivo da pesquisa, os riscos e benefícios - conforme orientação do Conselho Nacional da Saúde – CONEP- e a solicitação de autorização para o uso dos dados. Somente após a assinatura dos alunos do TCLE autorizando a participação na pesquisa, eles puderam iniciar as respostas das 13 questões, sendo quase todas de múltipla escolha. Ele foi desenvolvido e validado online utilizando o Google Forms, que possibilita o armazenamento dos dados coletados na nuvem do Google Drive (MOTA, 2019; ANDRES et al., 2020). O uso do questionário virtual permite a obtenção de um banco de dados automático, minimizando erros de digitação na transcrição das respostas (FALEIROS et al., 2016).

As perguntas presentes no questionário tratavam da Educação Ambiental, Inclusão, Acessibilidade e Trilha, foram elas: Você tem alguma deficiência? Qual?; Diga seu curso, idade e sexo; Você já participou de alguma trilha?; Você encontrou dificuldades na trilha que participou?; Você utilizou algum equipamento de segurança ou item de proteção que tenha sido essencial durante a caminhada?; A trilha que você participou tinha equipe para ajudar nos percursos mais difíceis?; Até aqui as opções de respostas foram Sim, Não ou Não participei de nenhuma trilha. Foram feitas duas perguntas abertas, foram elas: Você considera importante que tenha uma trilha com acessibilidade no IFPA/Campus Bragança. Indique um local, no IFPA/Campus Bragança, para trilha acessível.

A metodologia foi cuidadosamente planejada para explorar as percepções e experiências dos alunos do IFPA/Campus Bragança em relação a trilhas ambientais com foco na inclusão e acessibilidade. Considerando o foco da pesquisa, os alunos atendidos pelo NAPNE de todos os níveis e modalidade de ensino foram convidados a participar da pesquisa, de forma voluntária.

A análise dos dados foi conduzida utilizando a técnica de Análise de Conteúdo, conforme descrito por Bardin (2009), permitindo uma interpretação rica e detalhada das respostas dos participantes. Foram utilizadas ferramentas de geoinformação, ao demarcar o possível local da trilha acessível, como o aplicativo My Maps e o software QGIS. Essas ferramentas são empregadas para identificar e mapear áreas potenciais para a criação de trilhas acessíveis, facilitando a implementação de iniciativas que promovam inclusão e acessibilidade em atividades ao ar livre no campus.

O My Maps, ferramenta disponibilizada pelo Google, permite a criação e personalização de mapas virtuais. Suas principais funções incluem a adição de pontos, linhas e polígonos, a edição de camadas, a formatação de estilo, além da inserção de imagens ou vídeos, medição de distâncias e áreas, compartilhamento e exportação de mapas. A coleta de dados com o aplicativo My Maps e a posterior análise com o software QGIS visam mapear áreas do IFPA para a proposta de criação de uma trilha acessível, possibilitando que o IFPA/Campus Bragança seja o primeiro campus a ter uma trilha interpretativa acessível que atenda discentes e a comunidade com deficiência.

Sujeitos Participantes da Pesquisa

Participaram da pesquisa 11 (onze) alunos PcD atendidos pelo NAPNE do IFPA/Campus Bragança, na faixa etária de 15 a 50 anos.

Resultado e Discussão

Quem são os alunos PcD do IFPA/Campus Bragança que fazem trilha?

Quanto ao perfil dos sujeitos participantes levantamos informações sobre a deficiência, idade, sexo e o curso que estão matriculados no IFPA/Campus Bragança. Todos os alunos participantes da pesquisa são alunos com deficiência atendidos pelo NAPNE, suas deficiências são: Visual, Auditiva, Intelectual, Autismo, Sensibilidade nas pernas e braço, Coreoatetose, Visão Monocular e Transtorno de ansiedade.

A faixa etária dos alunos abrange desde os 15 até os 50 anos, evidenciando uma diversidade significativa em termos de experiências e necessidades, todavia destaca-se o público muito jovem que representa 72% dos alunos participantes da pesquisa, que estão entre 15 a 23 anos, sendo 28% o público adulto, na faixa etária de 26 a 50 anos.

Os alunos de faixa etária mais avançada podem enfrentar limitações de mobilidade relacionadas ao envelhecimento, como dificuldades para caminhar em terrenos irregulares ou realizar atividades que exijam maior esforço físico. Por outro lado, os mais jovens tendem a ter uma abordagem mais ativa e prática no uso das trilhas, buscando desafios físicos ou experiências recreativas que correspondam a um estilo de vida mais dinâmico.

Segundo Milton Santos (2006), a relação do ser humano com o espaço é moldada pelas suas vivências, percepções e contexto social, aspectos que influenciam diretamente a maneira como as diferentes faixas etárias interagem com o ambiente natural. Enquanto um jovem pode enxergar a trilha como uma oportunidade de aventura e exercício físico, uma pessoa mais velha pode valorizar um passeio tranquilo, que lhe permita apreciar a paisagem e conectar-se de maneira mais contemplativa com a natureza.

Essa variação etária entre os usuários reforça, portanto, a relevância de desenvolver trilhas acessíveis e inclusivas, que atendam às necessidades físicas e emocionais de pessoas em diferentes fases da vida. Garantir que as trilhas sejam projetadas de forma segura, confortável e adaptável para todos os perfis de usuários não apenas promove a inclusão, mas também assegura que o contato com a natureza seja uma experiência prazerosa e enriquecedora, independentemente da idade ou das capacidades físicas de cada indivíduo.

Quanto ao sexo 82% dos alunos participantes são mulheres e 18% são homens, evidenciando que a maioria dos participantes é do sexo feminino, e embora essa variável não tenha impacto direto na análise de acessibilidade é importante considerar que a diversidade de gênero entre os respondentes pode contribuir para a elaboração de trilhas mais inclusivas e sensíveis às necessidades de diferentes públicos.

Segundo Almeida (2018), as percepções sobre segurança e conforto em trilhas podem variar entre os gêneros, refletindo experiências e expectativas distintas. Podemos entender que, ao projetar espaços acessíveis, devemos levar em conta essas diferenças, garantindo que todos os usuários se sintam confortáveis e seguros. Além disso, a inclusão de diferentes perspectivas de gênero pode enriquecer o processo de planejamento e implementação, resultando em soluções mais eficazes e adaptadas às realidades de todos os grupos.

Sobre em que curso os alunos sujeitos da pesquisa estão matriculados no IFPA/Campus observou-se que 54,5% estão cursando o Ensino Médio Integrado, 36,3% fazem o Curso Superior e 9,0% o Curso Subsequente, conforme gráfico 1,

Gráfico 1 – Perfil dos alunos participantes da pesquisa por curso – IFPA/Campus Bragança

Fonte: Elaborado pela autora (2024)

A diversidade de cursos reflete a abrangência interdisciplinar do tema da acessibilidade. Segundo Souza (2020), essa diversidade é fundamental para promover uma educação mais inclusiva. Alunos de cursos relacionados à preservação ambiental, como biologia e geografia, podem ter um entendimento mais profundo da importância de trilhas acessíveis, especialmente em um campus voltado à sustentabilidade.

Trilhas Inclusivas no IFPA/Campus Bragança

Ao serem questionados se participaram de alguma trilha 55% dos alunos responderam que já participaram e 45% disseram não. Percebemos que parte significativa dos respondentes já participou de trilhas, principalmente dentro do campus IFPA/Campus Bragança. Essas trilhas, em sua maioria, parecem atender aos requisitos básicos de acessibilidade para o público geral, permitindo uma experiência positiva para muitos participantes.

No entanto, uma parcela relevante mencionou nunca ter participado de trilhas, e entre as razões apresentadas, destaca-se a falta de acessibilidade e suporte adequado para pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida. Essa limitação não só restringe o acesso físico aos espaços naturais, mas também compromete a vivência de um grupo significativo de estudantes que, por falta de infraestrutura apropriada, acabam excluídos das atividades ao ar livre.

Essa lacuna de participação evidencia a exclusão de um grupo significativo de estudantes das atividades ao ar livre, revelando um problema de inclusão que vai além da simples adaptação dos espaços físicos. Segundo Bacci & Silva (2017), a acessibilidade em ambientes naturais é fundamental para garantir que todos, independentemente de suas limitações físicas, possam usufruir plenamente das experiências ao ar livre, promovendo não apenas o acesso, mas também a equidade nas atividades recreativas e educativas.

Ao responderem como foi sua experiência na trilha os alunos disseram que,

Foi no IFPA de Bragança, foi muito bom e um pouco ruim”

Trilha do IFPA Bragança”

Na IFPA fui até uma parte, não cheguei a ir no final da trilha”

No IFPA, pela primeira vez participando da formação do condutor, tive um pouco de dificuldade logo na entrada da trilha, por ser uma área de subida e descida, e não ter apoio onde pôr a mão para se agarrar, mas isso no início, na segunda vez foi de boa. Fiquei encantada, com tudo que tem lá, o espaço, as árvores nativas de grande importância na sociedade, e por ser uma área que está sendo preservada, poder está dentro de uma Bragança antiga. E por mostra as pessoas a valorização, da biodiversidade, a fauna e a flora”.

No IFPA/ Campus Bragança minha experiência foi ótima”

No IFPA, foi legal.”

No relato dos alunos percebemos que os participantes enfrentaram uma série de dificuldades ao longo do percurso, sendo mais notáveis a irregularidade do terreno, a falta de sinalização adequada e a ausência de suporte físico para superar os obstáculos. Tais barreiras impactam diretamente a acessibilidade e a segurança dos usuários, especialmente daqueles com mobilidade reduzida. Segundo Sassaki (2006), a acessibilidade plena depende de adaptações físicas, atitudinais e humanas que eliminem barreiras arquitetônicas e promovam uma maior inclusão de pessoas com deficiência, garantindo que todos possam usufruir dos espaços públicos de maneira segura e independente.

Além disso, a inclusão de pessoas com deficiência em atividades recreativas é essencial para o fortalecimento da autoestima e bem-estar. Esses desafios reforçam a necessidade urgente de modificações que garantam a acessibilidade. Entre as ações, destacam-se o nivelamento dos caminhos, a instalação de passarelas seguras, equipe de apoio, corrimãos em pontos estratégicos e a implementação de sinalização visual e tátil. Tais adaptações não apenas promovem a inclusão, mas também proporcionam maior segurança e conforto a todos os usuários, independentemente de suas capacidades. (Díaz, 2009)

Pensar em trilhas acessíveis é essencial para promover uma educação ambiental que contemple a diversidade e as diferentes capacidades dos indivíduos. Quando espaços naturais são elaborados de forma inclusiva, ampliam-se as possibilidades de participação e engajamento, garantindo que todos, sem exceção, possam se conectar com a natureza e desenvolver uma consciência ambiental mais profunda. (Maciel et al., 2010). Portanto, investir em acessibilidade não é apenas uma questão de atender demandas específicas, mas de assegurar que a experiência ao ar livre seja um direito universal, capaz de fomentar o bem-estar físico, mental e social de toda a comunidade acadêmica.

Ao serem questionados se encontraram alguma dificuldade na trilha que participou, 55% disseram que não e 45% disseram que sim. Sobre quais foram as dificuldades encontradas para fazer a trilha os alunos disseram que,

O local era muito escuro, não tinha suporte para se segurar, o caminho é estreito, já cai uma vez lá.”

Não tinha interprete de libras”

As descidas eu não desci.”

Só no início da subida mesmo”.

Acessibilidade para pessoas com deficiência.”

Os dados apresentados revelam desafios estruturais e de acessibilidade nas trilhas. A falta de infraestrutura adequada e de suporte em ambientes naturais é um dos principais obstáculos enfrentados por pessoas com deficiência, comprometendo sua participação em atividades ao ar livre. Além disso, Falkoski & Farias (2021) destaca que a ausência de adaptações específicas, como sinalização e suporte físico, pode resultar em exclusão social e limitações na vivência plena da natureza.

Esses fatores apontam para a necessidade urgente de adaptações na infraestrutura e na acessibilidade, levando em consideração as diferentes capacidades físicas e necessidades dos participantes. As trilhas, como estão atualmente, não estão adequadamente preparadas para incluir pessoas com deficiência. Essas questões revelam pontos críticos que devem ser revistos a fim de garantir uma experiência mais segura e inclusiva para todos.

Sobre se utilizaram algum equipamento de segurança durante a trilha, 73% dos alunos disseram que não e 27% que sim, informaram terem usado,

Bota, protetor, repelente e boné.”

Calça comprida, camisa manga comprida e boné.”

Bota”

Os dados revelam que uma parcela significativa dos participantes não utilizou equipamentos de proteção durante as trilhas, apontando uma lacuna na conscientização e formação sobre a importância desses itens para a segurança em ambientes naturais. Além disso, Galvão e Miranda (2009) destacam que a falta de acesso a equipamentos de proteção pode ser uma barreira significativa para a prática segura de atividades em ambientes naturais, especialmente em contextos onde há uma demanda crescente por atividades ao ar livre. Desse modo, é urgente promover a conscientização e a formação sobre a importância de equipamentos adequados para garantir a segurança nas trilhas. Além disso, é necessário facilitar o acesso a esses itens, seja por meio de orientações (aulas) ou fornecimento direto, para garantir que todos os participantes estejam protegidos e que a trilha seja acessível a todos. A adoção dessas medidas pode melhorar a experiência dos usuários e aumentar a adesão às trilhas, tornando-as mais inclusivas e seguras.

Sobre se tinha equipe de apoio durante a trilha que fizeram, dos que já haviam feito trilha apenas uma pessoa disse que não, todos os demais disseram que sim, demonstrando que houve preocupação com o bem estar dos participantes da trilha. Garantir que todos possam participar com segurança, independentemente de suas limitações físicas ou sensoriais, é um aspecto crucial para a democratização das atividades ao ar livre. A inclusão de pessoas com diferentes níveis de habilidade física enriquece a experiência de todos os envolvidos e promove valores de diversidade e respeito. Portanto, investir na formação e disponibilização de equipes de apoio não é apenas uma questão de segurança, mas também de responsabilidade social e promoção da saúde coletiva.

Em resposta à pergunta "Você considera importante que o IFPA/Campus Bragança tenha uma trilha acessível?", todos os respondentes afirmaram que sim. Esse resultado reflete uma unanimidade quanto à importância de promover a acessibilidade nas trilhas do IFPA/ Campus Bragança, reforçando a necessidade de iniciativas que garantam a inclusão de pessoas com diferentes capacidades físicas e comunicacionais.

Ao se pedir a indicação de um local para a realização de uma trilha acessível, três alunos disseram não saber e os demais disseram,

No Tio Bill”

Cantinho do Tio Bill”

Do lado da sala de Biologia”

Uma parte que tenha foco natural”

Sou nova no Campus, mas seria de suma importância ter uma área para inclusão dos amigos e ter esse privilégio de ter uma trilha com a acessibilidade. Seria um prazer fazer parte da equipe também”

As florestas têm muitas descidas durante o percurso, fica difícil para pessoas com deficiência”

Na mata, atrás da quadra”

As respostas indicam a existência de sugestões viáveis para a criação de uma trilha acessível, com destaque para áreas como "Tio Bill" e regiões próximas à sala do Curso de Biologia e a Mata. No entanto, o fato de alguns participantes demonstrarem pouco conhecimento sobre o campus sugere que a escolha do local ideal deve ir além das sugestões iniciais e incluir uma análise detalhada do terreno. Esse estudo deve considerar as necessidades específicas de acessibilidade, as condições do solo e as características naturais da área, para garantir que o projeto seja inclusivo e seguro para todos.

A preocupação com terrenos irregulares ressalta a importância de adaptações que atendam às pessoas com deficiência, de forma a minimizar obstáculos e proporcionar uma experiência segura e acessível. Segundo Sassaki (2006), a criação de ambientes adaptados deve levar em conta não apenas a acessibilidade física, mas também a inclusão social, promovendo um ambiente que permita a participação plena de indivíduos com diferentes níveis de mobilidade. Dessa forma, um planejamento cuidadoso e orientado por diretrizes de acessibilidade é essencial para assegurar que a trilha ofereça condições apropriadas para todos os usuários, independentemente de suas capacidades físicas.

Proposta de Trilha Interpretativa Inclusiva no IFPA/Campus Bragança

Considerando a sugestão da área "Tio Bill" para a implementação de trilhas inclusivas, recomenda-se a elaboração de um mapa detalhado que se deve incluir a topografia, pontos de interesse e áreas críticas para acessibilidade. Esse mapa pode servir como uma ferramenta essencial para o planejamento de intervenções, como a instalação de trilhas adaptadas e a identificação de locais que necessitam de ajustes para melhorar a segurança e a inclusão.

A origem do nome do espaço "Tio Bill" remonta a 2015, quando os alunos da turma de Agroecologia de 2013 se reuniram para uma aula ministrada pelo professor Josinaldo Reis, carinhosamente conhecido como Tio Bill. Em uma conversa, ele compartilhou como surgiu o espaço:

Na turma de Agroecologia de 2013, em 2015 eu fui dar uma disciplina para eles e, curiosamente, faltou energia no campus. Então, decidimos nos acomodar sob as árvores e organizamos alguns tijolos para formar um círculo. Logo depois, os alunos decidiram que queriam criar um espaço. Fomos coletar madeira na antiga escola agrícola e, com isso, construímos bancos. Assim, surgiu o espaço, que foi batizado de 'Tio Bill' em homenagem a mim” (Josinaldo Reis, 2024).

Dessa forma, o espaço "Tio Bill" não apenas reflete a criatividade dos alunos, mas também o amor e a dedicação do professor por sua turma.

A seguir, a imagem do Espaço Tio Bill no IFPA/Campus Bragança.

Figura 3 – Mapa de localização do Espaço Tio Bill, no IFPA/Campus Bragança

Fonte: Elaborado pela autora (2024)

A análise do mapa atual sugere que a área apresenta diferentes pontos de acesso, como a "Entrada do Tio Bill", o "Centro do Tio Bill" e duas saídas. Isso oferece uma oportunidade para a criação de trilhas com diferentes níveis de dificuldade, atendendo tanto a pessoas com mobilidade reduzida quanto a usuários em busca de maior desafio físico. O detalhamento da vegetação e dos elementos naturais também será fundamental para orientar as obras de adaptação e para preservar o ecossistema local.

Portanto, a criação de um mapa mais abrangente, complementado por estudos específicos de acessibilidade e inclusão, contribuirá significativamente para o desenvolvimento de trilhas seguras e acessíveis a todos os visitantes, garantindo uma experiência inclusiva e sustentável.

Conclusão

Este estudo ressalta a importância de criar trilhas acessíveis no IFPA/Campus Bragança, destacando seu impacto significativo para a inclusão social e educacional. A inclusão de pessoas com deficiência em atividades ao ar livre, como trilhas interpretativas, vai além de garantir o acesso físico, é um compromisso com a justiça social e a equidade, conforme defendido por Maciel et al. (2010), que reforça a necessidade de práticas inclusivas na educação ambiental para promover a participação ativa de todos.

Do ponto de vista social, a criação de trilhas acessíveis é um avanço necessário para promover uma convivência mais justa e inclusiva. A acessibilidade nesses espaços permite que pessoas com deficiência participem plenamente das atividades educativas e recreativas, contribuindo para uma sociedade mais consciente e responsável com relação à inclusão. Este estudo reforça a necessidade de adaptar os espaços naturais de forma a atender às diversas necessidades da população. Garantindo que todos, independentemente de suas capacidades físicas, possam usufruir das riquezas ambientais do campus. (SASSAKI, 2006).

Na esfera acadêmica, o trabalho contribui para a discussão sobre a importância da educação ambiental inclusiva. Ao propor trilhas interpretativas acessíveis, este estudo serve como base de como a academia pode integrar os princípios de inclusão em seus projetos educativos, sensibilizando estudantes e educadores para a importância de garantir o acesso igualitário aos espaços de ensino e aprendizado. Além disso, este trabalho representa uma oportunidade para o desenvolvimento de novas pesquisas interdisciplinares, envolvendo áreas como geografia, biologia e educação ambiental, que podem colaborar para o aprimoramento das práticas pedagógicas inclusivas.

Enfim, este estudo não só abre caminho para futuras pesquisas sobre acessibilidade em ambientes naturais, mas também incentiva a implementação de práticas que promovam a inclusão em outras instituições e projetos. Ao destacar a relevância de trilhas acessíveis, o trabalho oferece uma contribuição valiosa para o campo da educação ambiental e serve como um modelo a ser seguido por outras iniciativas que buscam integrar inclusão e sustentabilidade em seus objetivos.

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Ilustrações: Silvana Santos