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DESMISTIFICAÇÃO E IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA COMO SUBSÍDIOS PARA CONSERVAÇÃO DE MORCEGOS Ma. Ana Elisa Teixeira da Silva1, Vinicius Theotonio Baptista de Almeida2, Leonardo dos Santos Lima³ e Danilo Estevam dos Santos4 1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, e-mail: anaelisabiologia@outlook.com 2 e 4 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
³ Graduando em Ciências Biológicas na Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais
Resumo: Por séculos, o imaginário popular retratou os morcegos como ratos velhos, aves noturnas e até mesmo indícios de maus presságios. A etimologia da palavra morcego, do latim “muris” rato, e “coecus” cego, tem sua própria construção baseada no mito de que tais animais fossem de certa forma aparentados ou estariam relacionados a esses roedores. No entanto, os morcegos são os únicos mamíferos de vôo verdadeiro, pertencem à ordem Chiroptera, apresentam entre os mamíferos a maior diversidade de hábitos alimentares, podendo consumir frutos, insetos, peixes, pólen, néctar, serem onívoros, alimentarem-se de outros vertebrados e sangue, hábito alimentar esse, que pode ter contribuído com a associação a pensamentos supersticiosos e bruxarias, tê-los tornado indesejados, apesar de proverem mais benefícios que incômodos. Isto posto, este trabalho objetivou desmistificar os morcegos, apresentar suas características biológicas, dietas e importância ecológica, com a finalidade de sensibilizar estudantes do 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal “Professor Próspero Grisi”, em Pirassununga – SP, com o intuito de investigar a percepção dos mesmos em relação aos morcegos, promover a desmistificação e conservação desses animais. A pesquisa envolveu a aplicação de um questionário semi-estruturado, sem identificação, seguido de um trabalho educativo, pautado também em elementos lúdicos como o sexto-sentido (ecolocalização), a origem de um dos mais conhecidos super-heróis (Batman), etc, por meio de palestra, associada a esclarecimentos e diálogos, com o propósito de sensibilizá-los. Os resultados foram analisados por meio de estatística descritiva, a maioria dos 39 estudantes participantes, tinha 11 anos (48,7%), afirmou já ter visto um morcego (64%), em casas, ruas, sítios, etc (59%), não os temer (64,1%). Acreditar que os morcegos sejam mamíferos (72%), que não se originem de ratos velhos (56%), mas que sejam cegos (51%). Não sejam todos iguais (46%) e que ajudaria um morcego (90%). Uma vez que, esses animais ajudam a manter a saúde da natureza (74%). Respostas que ao mesmo tempo, confirmam alguns mitos e demonstram conhecimento sobre a Biologia desses animais. É válido ressaltar que apesar da persistência de qualquer pré-conceito, mito ou lenda, os quirópteros provêm inúmeros benefícios ecológicos que sustentam a vida humana, como a dispersão de sementes e polinização de flores, bem como o controle de pragas agrícolas e vetores de doenças como a Dengue, o que acentua a necessidade de desmistificá-los e transmitir informações verídicas sobre os quirópteros, a fim de superar antigos pensamentos relativos a estes fascinantes mamíferos. Palavras-chave: Morcegos, Desmistificação, Sensibilização e Conservação. Abstract: For centuries, popular imagination depicted bats as old mice, nocturnal birds and signs of bad omens. The etymology of the word bat, from the Latin “muris” meaning rat, and “coecus” blind, has its own construction based on the myth that such animals were in some way related to these rodents. However, bats are the only mammals with true flight, they belong to the order Chiroptera, they show unmatche diversity in diet among mammals, including food sources like fruits, insects, fish, pollen, nectar, being omnivores, feeding on other vertebrates and blood, a dietary habit that may have contributed to the association with superstitious thoughts and witchcraft, representing them like something undesirable, despite providing more benefits than inconveniences. For this reason, this work aimed to demystify bats, to present their biological characteristics, diets and ecological importance, with the purpose of raising awareness among students in the 5th year of Elementary School at the Municipal School “Professor Próspero Grisi”, in Pirassununga – SP, to investigate their perception in relation to bats, promote the demystification and conservation of these animals. The research involved the application of a semi-structured questionnaire, administered anonymously, followed by talking and presentation, also based on playful elements such as the sixth sense (echolocation), the origin of one of the best-known superheroes (like Batman), etc., through a lecture, associated with clarifications and dialogues. The results were analyzed using Descriptive Statistics, the majority of the 39 participating students were 11 years old (48.7%), they had already seen a bat (64%), in houses, streets, places, etc. (59%), not fear bats (64.1%). They believe bats are mammals (72%), do not originate from old mice (56%), but are blind (51%). That bats are not all the same (46%) and that could help a bat (90%). Because these animals help maintain the health of nature (74%). Answers that, at the same time, confirm some myths and demonstrate knowledge about the Biology of these animals. It is worth to highlight that despite the persistence of any preconception, myth or legend, chiropterans provide innumerous ecological benefits that sustain human life such as seed dispersal and flower pollination, as well as the control of agricultural pests and disease vectors, such as Dengue, which emphasizes the need to demystify them and promote accurate and true information about chiropterans, in order to overcome old thoughts about this fascinating mammals. Keywords: Bats, Desmystification, Awareness and Bat Conservation.
Introdução O nome morcego originou-se do latim “muris” rato, e “coecus” cego (REIS et al., 2007). Trata-se dos únicos mamíferos de vôo verdadeiro (NOWAK, 1991), devido ao desenvolvimento por processos evolutivos, de finas membranas elásticas entre seus dedos, que se prolongaram até suas pernas, o que permitiu-lhes realizar manobras e os tornou excelentes voadores (REIS et al., 2007). Os morcegos pertencem à ordem Chiroptera (“cheir” mão, e “pteron” asa) que apresenta 18 famílias, 202 gêneros e mais de 1.400 espécies (Wilson & Mittermeier 2019). São classificados em duas subordens, a Megachiroptera restrita aos trópicos do Velho Mundo, que possuem as maiores espécies de morcegos, como as raposas-voadoras, e a Microchiroptera, que detém as menores espécies de morcegos, distribuídas por quase todo o mundo (SIGRIST, 2012), inclusive no Brasil, onde são conhecidas 9 famílias, 68 gêneros e 186 espécies (Garbino et al., 2024). Dentre os mamíferos, apresentam a maior diversidade de hábitos alimentares (MELLO, 2002), podendo consumir frutos, insetos, peixes, pólen, néctar, serem onívoros, alimentarem-se de outros vertebrados e sangue (REIS et al., 2007). Todavia, a maioria das espécies de morcegos são insetívoras, ou seja, alimentam-se de insetos como mariposas, mosquitos e besouros (BIANCONI & MIKICH, 2011). De modo que, de todas as espécies conhecidas no mundo, apenas três alimentam-se de sangue (MELLO, 2002) e apenas uma delas pode casualmente se alimentar do sangue de humanos (VAUGHAN; RYAN & CZAPLEWSKI, 2011, p. 285). Faz-se necessário ressaltar que, apesar da presença do vírus da raiva em morcegos que se alimentam de sangue ou não, estes animais trazem mais benefícios que incômodos (REIS; LIMA & PERACCHI, 2002). Benefícios esses que desencadeiam a necessidade de desconstruir antigos conceitos associados aos morcegos. Já que poucos animais são tão indesejados quanto eles (BERNARD, 2005), por estarem associados, conforme Reis (1982) a pensamentos supersticiosos, bruxarias e significado diabólico, o que desperta a necessidade do desenvolvimento da conservação sem preconceitos, dependente de uma sociedade consciente que não envolva apenas animais agradáveis ao homem. Já que os morcegos são ameaçados por inseticidas, desmatamentos e lendas, fatores que lamentavelmente não os garantem um futuro promissor, por se tratar de vertebrados terrestres deveras interessantes (REIS, 1982). Nesta linha de reflexão, a sensibilização sobre os quirópteros e sua desmistificação são importantíssimos. Pois conforme Bianconi & Mikich (2011), os morcegos favorecem a manutenção e regeneração de florestas tropicais, por serem ecologicamente eficazes e hábeis ferramentas para a ciência da restauração. E muitos outros benefícios. Assim, este trabalho objetivou desmistificar os morcegos, apresentar suas características biológicas, dietas e importância ecológica, com a finalidade de sensibilizar os estudantes do 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal “Professor Próspero Grisi”, em Pirassununga – SP, com o intuito de investigar a concepção dos estudantes sobre os morcegos e promover a conservação desses animais.
Material e Métodos Local de Pesquisa A pesquisa ocorreu no Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais (CEPTA – ICMBio) localizado no município de Pirassununga – São Paulo, à latitude 21º 56', longitude 47º 22'. Procedimentos Metodológicos A pesquisa ocorreu em setembro de 2015 no município de Pirassununga – São Paulo, portanto em um contexto pré-pandemia. Teve como público alvo os alunos do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Próspero Grisi, do mesmo município. E envolveu uma amostra composta por 39 alunos, com idades entre 10 e 13 anos, e a aplicação de um questionário semi-estruturado (MARCONI & LAKATOS, 2008), composto por 12 questões não obrigatórias, que apresentavam opções de “verdadeiro ou falso”, “ajudaria ou não ajudaria, por quê?”, entre outras (ANEXO I). O questionário foi respondido individualmente e sem identificação, a fim de fornecer maior liberdade aos participantes e, então, recolhido. Após a aplicação do questionário para investigação da percepção dos estudantes sobre os morcegos, desenvolveu-se um trabalho educativo por meio de palestra, que contou com a utilização de apresentação em “Power Point”, trabalho educativo pautado também em elementos lúdicos como o sexto-sentido (ecolocalização) como super poder, a origem de um dos mais conhecidos super-heróis (Batman), etc, diálogos constantes com os estudantes, com o propósito de sensibilizá-los, apresentando-lhes algumas das principais características biológicas (FIGURA 1), dietas e importância ecológica desses mamíferos. Para análise dos resultados, utilizou-se estatística descritiva (Ranucci; Janke; Aguiar; Ortêncio-Filho & Magalhães-Jr, 2014). Figura 1 – Apresentação de algumas características biológicas dos morcegos, realizada no CEPTA/ICMBio junto aos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. A Próspero Grisi, Pirassununga – SP (Foto: Rogério Garcia).
Resultados e Discussão Os 39 estudantes que responderam o questionário e participaram da palestra apresentavam idade entre 11 e 13 anos, sendo a maior porcentagem referente aos estudantes que tinham 11 anos (48,7%), seguidos pelos de 10 anos (43,6%), 13 anos (5,1%) e 12 anos (2,6%), conforme o Gráfico 1. Gráfico 1 – Porcentagem relativa à idade dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. No Gráfico 2, 64% dos estudantes assinalaram a opção “verdadeiro”, sobre já terem avistado um morcego, enquanto 36% assinalaram “falso”. Gráfico 2 – Você já avistou um morcego? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. Sobre a questão onde os estudantes viram os morcegos, 33,3% apontaram que os viram perto de casa (própria casa, dos avós, da tia, em seu quarto, etc), 10,3% afirmaram tê-los visto em um sítio, 10,3% afirmaram tê-los visto em “diversos lugares”, 5,1% na rua, 35,9% afirmaram não ter avistado esses animais e 5,1% optaram por não responder (NR), como representado no Gráfico 3. Gráfico 3 – Onde você os viu? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. Deste modo, baseando-se nos Gráficos 2 e 3, a maioria dos estudantes já avistou estes mamíferos por ocorrerem em todo o território nacional, em áreas naturais e até mesmo urbanas (REIS, et al., 2007). De acordo com o Gráfico 4, 64,1% dos estudantes afirmaram não ter medo dos morcegos, 30,8% afirmaram temê-los, e 5,1% preferiram não responder (NR). Medo que, segundo Nogueira (2011) pode se dar devido à fama destes animais não ser das melhores, apesar de serem imprescindíveis para a natureza. Gráfico 4 – Você tem medo dos morcegos? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. O Gráfico 5 trata do item sobre a qual classe de animais os morcegos pertencem. Nesta linha de reflexão, 72% dos estudantes apontaram que são mamíferos, enquanto 26% que são aves, e 2% optaram por não responder (NR). O mito de que os morcegos sejam aves é histórico, sendo tratados como “aves noturnas” desde o Brasil colonial (SANTOS, FERREIRA & CARREIRA, 2007). Gráfico 5 – Os morcegos pertencem a qual classe de animais? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. A questão que relaciona a transformação de ratos velhos em morcegos, tratado no Gráfico 6, mostra que 56% dos estudantes consideraram falsa esta informação, ao passo que 13% consideraram-na verdadeira, e 31% optaram por não responder (NR). Pensamento este, sustentado pelo imaginário europeu devido à crença de que ratos velhos possam desenvolver asas e se transformarem em morcegos, provavelmente devido ao nome morcego associar-se a ratos em diversos idiomas (Oliveira & Boccardo, 2015). Todavia, um rato vive cerca de 2 anos, ao passo que algumas espécies de morcegos podem alcançar os 30 (Nogueira, 2011). Gráfico 6 – Os morcegos são ratos velhos? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. O Gráfico 7, apresenta dados sobre o pensamento de que os morcegos sejam cegos, informação considerada como verdadeira para 51% dos estudantes, falsa para 18% e 31% preferiram não responder (NR). Mito este, discutido por Mello (2002), que afirma que os morcegos não são cegos, pelo contrário, muitas espécies enxergam bem e até em cores, além de contarem também com a ecolocalização, sonar que os permite evitar obstáculos no escuro. Gráfico 7 – Os morcegos são cegos? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. O Gráfico 8 indica que os morcegos não foram considerados todos iguais por 46% dos estudantes, ao mesmo tempo que 33% os consideraram iguais, e 21% não responderam (NR). Contudo, os morcegos são bem diferentes em formato e comportamento, o que faz com que diferentes espécies alimentem-se de diversos recursos, como frutos, néctar de flores, insetos e outros animais (Nogueira, 2011), invertebrados e/ou vertebrados. Gráfico 8 – Os morcegos são todos iguais? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. Surpreendentemente, 90% dos estudantes responderam que ajudariam um morcego se o encontrasse caído no chão, ao passo que apenas 10% afirmaram não ajudar, como mostra o Gráfico 9, que possui estreita relação com a Figura 2, e esta relaciona-se com o motivo dos estudantes ajudarem/não ajudarem um morcego caído no chão. Gráfico 9 – Se encontrasse um morcego no chão, você o ajudaria? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. Figura 2 – Representação em porcentagem das respostas dissertativas dadas pelos estudantes à questão: “Se você encontrasse um morcego caído no chão, você o ajudaria? Por quê?”.
Fonte: Autora deste estudo. Acerca do Gráfico 9 e da Figura 2, a maioria dos estudantes afirmou ajudar um morcego principalmente por se tratarem de seres vivos/animais (20,51%), por ajudarem/integrarem a natureza (20,51%), 17,97% confirmaram ajudar devido ao “bicho poder estar indefeso, machucado, sofrendo ou morrer”, 10,26% afirmaram “gostar de ajudar os/cuidar dos animais”, 5,13% responderam que se “fosse conosco, eles nos ajudariam”; outros 5,13% responderam “porque sim, não deixaria”, 2,56% disse gostar dos morcegos; outros 2,56% cogitou que se ajudasse o animal, talvez o mesmo não o “picaria”. Por outro lado, 10,26% afirmaram não os ajudar por serem considerados “nojentos, por fazerem mal”, ou devido ao simples fato de terem medo. Crenças incorretas que para Nogueira (2011) compõem a extensa lista de mitos sobre os morcegos. Ao passo que no Gráfico 10, 74% dos estudantes declararam ser verdadeiro o fato de os quirópteros “ajudarem a manter a saúde da natureza”, 13% consideraram tal fato como falso, enquanto 13% preferiram não responder (NR). Ainda sobre, a Figura 3 representa as respostas fornecidas pelos estudantes à questão dissertativa: “Os morcegos ajudam a manter a saúde da natureza? Por quê?”. Gráfico 10 – Os morcegos ajudam a manter a saúde da natureza? Respostas dos estudantes do 5º ano da E.M.E.F Prof. Próspero Grisi, Pirassununga-SP.
Fonte: Autora deste estudo. Figura 3 – Representação em porcentagem das respostas dissertativas dadas pelos estudantes à questão: “Os morcegos ajudam a manter a saúde da natureza? Por quê?”.
Fonte: Autora deste estudo. Apesar da negativa ideia de que os morcegos “alimentem-se de sangue” apontada por 12,8% dos estudantes, a maior parte das espécies de morcegos é insetívora, ou seja, alimenta-se de insetos como mariposas, mosquitos e besouros, seguidas pelas espécies que consomem frutos (BIANCONI & MIKICH, 2011), podendo então serem compreendidas como “ajudantes da natureza”. Dentre as benfeitorias ecológicas ocasionadas pelos morcegos estão: a regeneração de áreas degradadas por iniciarem a sucessão ecológica (Mello, 2002); a polinização e a dispersão de sementes, mutualismos essenciais (Mello, 2010) que permitem a recuperação destas áreas. Para Mello (2010) tais mutualismos resultam em serviços ambientais, como os prestados por morcegos e abelhas que “trabalham” para garantir a reprodução vegetal e a polinização de plantações gratuitamente, o que favorece os seres humanos. E o controle de pragas urbanas e agrícolas, pelos morcegos que se alimentam de insetos (Reis et al., 2011). Tal como o controle de insetos que possam transmitir enfermidades como a dengue (Reis et al., 2007). Além de benefícios na área médica, como por exemplo, o estudo da draculina, glicoproteína anticoagulante encontrada na saliva de morcegos hematófagos, descrita em 1999, que poderá inibir coágulos sanguíneos e ser utilizada no tratamento de acidentes vasculares cerebrais (FENTON & SIMMONS, 2014).
Considerações Finais Mitos como os de os morcegos serem cegos, ainda são sustentados. Entretanto, acima de qualquer pré-conceito, mito ou lenda, os quirópteros provêm inúmeros benefícios ecológicos que sustentam a vida humana, como a produção de frutos, o controle de pragas urbanas e agrícolas, e até mesmo, o controle de vetores de doenças, como o mosquito da dengue. O que acentua a necessidade de transmitir informações verídicas acerca da biologia, ecologia, serviços ambientais prestados e outros aspectos relacionados a estes animais, como ocorreu no presente estudo, cujo saldo pode ser dado como positivo, devido à interação (diálogo) que houve durante sua execução, às diversas curiosidades levantadas pelos estudantes e participação dos mesmos. Assim, para que a preservação destes animais ocorra, sua desmistificação torna-se importante ferramenta para quebrar antigos costumes e pensamentos associados a estes fascinantes mamíferos. A fim de lapidar conhecimentos e superar pensamentos supersticiosos, uma vez que, o conhecimento pode iluminar as trevas seculares associadas aos morcegos, de modo que é de suma importância conhecer para conservar. Por fim, é preciso ressaltar a necessidade da execução de mais estudos que envolvam a desmistificação e promovam a conservação de quirópteros, principalmente devido à carência deste estudo não abranger o contexto pós-pandêmico.
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Anexo 1 Questionário
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