Rico é aquele que sabe ter o suficiente. Lao Tze
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 90 · Março-Maio/2025
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14/03/2025 (Nº 90) ECOCICLO: UMA PROPOSTA DE JOGO PARA DISCUTIR A GESTÃO CORRETA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
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ECOCICLO: UMA PROPOSTA DE JOGO PARA DISCUTIR A GESTÃO CORRETA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Karina Ocampo Righi-Cavallaro1, Eros Gabriel Harada de Oliveira1, Priscila Eduardo Ferreira1, Juliana Campos Pinheiro1, Gabriela de Almeida Mamoré1, Lorena Pires de Souza1, Maria Eduarda Araújo da Silva1



1Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul



Resumo: O presente artigo apresenta um jogo didático de tabuleiro que aborda conceitos ambientais, pensando na preservação, conservação e na sustentabilidade. O objetivo do jogo denominado Ecociclo, é de melhorar a relação ensino-aprendizagem, além de abordar a importância do descarte ambientalmente correto dos resíduos sólidos de forma atrativa e motivadora.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Gestão Ambiental; Jogo didático; Resíduos Sólidos.

Abstract: This article presents a didactic board game that addresses environmental concepts, thinking about preservation, conservation and sustainability. The objective of the game called Ecociclo is to improve the teaching-learning relationship, in addition to addressing the importance of environmentally correct disposal of solid waste in an attractive and motivating way.

Keywords: Environmental Education; Environmental Management; Didactic game; Solid Waste.

Introdução

A crescente preocupação com questões ambientais reflete uma conscientização cada vez maior da sociedade sobre os impactos negativos da atividade humana no meio ambiente. Apesar do debate sobre sustentabilidade no mundo, a produção de resíduos sólidos tem sido uma das pautas cada vez mais problematizadas. São milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados por ano, disposição ambientalmente incorreta, contaminação do meio ambiente.

Uma das maiores e mais preocupantes problemáticas estão relacionadas ao seu destino e todas suas consequências para a população do presente e principalmente as do futuro (Lopes e Fonseca, 2013). A destinação inadequada leva ao desperdício de recursos materiais que forçam a extração de matéria prima virgem que impactam o meio ambiente e a sustentabilidade da sociedade.

O gerenciamento de resíduos sólidos habitualmente se baseia na coleta e afastamento desses resíduos. Quando este processo ocorre de maneira eficiente, uma sensação mágica de que a problemática foi solucionada é criada, levando tempo para percepção e dimensionamento da real situação (Philippi Jr., 2005; Alves & Ueno, 2015).

O questionamento sobre o futuro do ambiente natural, impulsionado pelo modelo de produção atual, desencadearam discussões sobre os problemas ambientais e a importância da Educação Ambiental.

A Educação Ambiental é uma ferramenta importante no processo de formação do indivíduo, proporcionando a construção do conhecimento, valores sociais, habilidades, atitudes e competências voltadas para a preservação do meio ambiente, visando o uso comum do povo, a qualidade de vida, bem-estar e sustentabilidade coletiva (BRASIL, 1999).

Segundo Minini (2000, apud Dias 2004), a melhoria da qualidade de vida, a eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado, se configura como resultados possíveis de serem alcançados a partir da transformação da atitude do ser humano.

A Educação Ambiental pode ser desenvolvida de várias formas. Um dos exemplos é a utilização de jogos educativos, importantes instrumentos de aprendizagem na prática pedagógica, com a função de levar o conhecimento de características do meio ambiente e os problemas que enfrenta, visando à conscientização ambiental dos jogadores (Silva & Grillo, 2008).

Prensky (2012) relata que a eficiência da aprendizagem baseada em jogos está relacionada à versatilidade de adaptação a quase todas as disciplinas e habilidades a serem desenvolvidas, além de estar em conformidade com a forma de aprendizado dos estudantes atuais e futuros. Para Silva, Bez e Rigo (2018), os jogos educativos, além de expor a um ambiente de desafios, incentiva o desenvolvimento do raciocínio lógico e a tomada de decisão para solução de problemas.

O jogo "Ecociclo" foi criado com o objetivo de incentivar práticas de engajamento em relação à corresponsabilização e ao compromisso com a destinação correta dos resíduos sólidos produzidos diariamente. A proposta do jogo está diretamente ligada à conscientização ambiental, destacando maneiras corretas do descarte dos resíduos sólidos através de uma linguagem prática e divertida.

DESENVOLVIMENTO DO JOGO ECOCICLO

O desenvolvimento do jogo ocorreu dentro da disciplina de Gestão Ambiental, na qual os alunos forma divididos em grupos e deveriam trazer ideias de materiais didáticas de forma a ensinar um conteúdo relacionada a temática da disciplina de forma mais diversificada e agregadora. Dessa forma, o aluno tem uma maior absorção do conteúdo, pesquisando múltiplas soluções a partir de uma situação-problema.

O grupo, composto por seis integrantes, realizou inúmeras ações para a criação do jogo, entre elas, reuniões para traçarem estratégias para o desenvolvimento e criação do jogo; análise dos perfis do público; processo criativo para decidir as narrativas e estéticas do jogo; confecção do modelo do jogo para testes; desenvolvimento do jogo e por fim sua aplicação e possíveis ajustes de adequação. Para o desenvolvimento dessas etapas do jogo foi necessário um semestre para concretizá-lo.

O jogo denominado Ecociclo tem como objetivo a iniciação e/ou aprimoramento na Educação Ambiental, sobretudo com relação aos conceitos de geração e destinação de resíduos, além do conceito de reciclagem.

O jogo Ecociclo é composto por dois tabuleiros distintos. O primeiro, externo, lembra o estilo do Monopoly, com casas que impõem desafios, recompensas ou perguntas aos jogadores. O segundo tabuleiro, interno, remete ao formato circular do Ludo, onde os jogadores avançam em direção ao centro para alcançar a vitória (Figura 1). O jogo também inclui 4 pinos coloridos (1 verde, 1 amarelo, 1 vermelho e 1 azul), que representam os participantes, além de um dado utilizado para determinar o número de casas avançadas no tabuleiro externo. O jogo contém 30 cartas temáticas, divididas igualmente em três temas essenciais: Meio Ambiente, Economia e Social, cada um com 10 cards específicos. Esses temas abordam questões reais para que possamos entender os fundamentos sobre o descarte adequado de resíduos, práticas de sustentabilidade e conscientização socioambiental (Figura 2). A idade recomendada é a partir de 10 anos, considerando a complexidade das perguntas e o nível de compreensão necessário para compreender os conceitos apresentados.

Figura 1 – Designer do Tabuleiro do jogo Ecociclo.

Figura 2 – Exemplos das cartas do jogo Ecociclo.

O número de jogadores é de 5, sendo 4 jogadores efetivamente irão jogar e 1 será o mestre, o qual ficará responsável por embaralhar e fazer as perguntas dos cards. Cada um dos 4 jogadores deverá escolher um pino e todos precisam se posicionar na palavra “Início”. Primeiramente, cada jogador lançará a sorte com o dado e aquele que retirar o maior número começará o jogo (em caso de empate ambos os jogadores jogam novamente o dado e aquele que obtiver o número maior iniciará o jogo). A sequência se dará no sentido horário a partir do jogador vencedor da sorte lançada. Para iniciar a partida, o jogador vencedor deverá jogar novamente o dado e movimentar o pino em direção à quantidade de casas apresentada pelo dado.

As casas do tabuleiro externo são representadas com símbolos, os quais pode ser uma um empecilho ou uma recompensa, além de perguntas, a casa retire uma carta. Ao jogarem o jogo, os jogadores que caírem nas casas representadas por esses símbolos, deverão seguir o sugerido pela casa, a saber, avançar ou retornar casas ou, ainda, ficar uma rodada sem jogar. Caso o jogador caia na casa, retire uma pergunta, deverá responder à pergunta da carta sorteada pelo mestre. Acertando a pergunta, o jogador poderá andar uma casa no tabuleiro interno. Errando a pergunta, o jogador terá que retroceder a sua posição anterior. Vence o jogo, o jogador que chegar no centro do tabuleiro interno primeiro.

Analisando a contribuição do lúdico propiciada pelo jogo Ecociclo, pelos próprios alunos da disciplina, puderam verificar os seus pontos positivos e negativos. Os pontos positivos apresentados pelo jogo é que ele atendeu todas as expectativas, se mostrando como uma excelente estratégia metodológica para o processo de ensino-aprendizagem relacionado a temática segregação e descarte correto dos resíduos sólidos. Percebeu-se que antes da aplicação do jogo seria interessante um momento relacionado à sensibilização com relação à importância da gestão correta dos resíduos sólidos. Um dos pontos negativos é que, embora o jogo incentive a educação ambiental, alguns assuntos podem ser muito complexos para crianças da faixa etária recomendada. Isso pode criar uma "limitação etária", favorecendo aqueles que já têm mais familiaridade com os assuntos. Além disso, o tempo de jogo pode se tornar um desafio. A dinâmica colaborativa dos dois tabuleiros pode alongar a partida, o que pode desestimular alguns jogadores, especialmente se as atividades começarem a parecer repetitivas. Embora o jogo venha com 30 cartas, o que pode limitar a diversidade das experiências, é importante lembrar que estamos lidando com uma versão Beta; na versão final, é possível que haja mais cartas e novas funcionalidades. Outro aspecto a considerar é a dependência do mestre do jogo. Se ele não mantiver o ritmo ou surgir com muitas dúvidas, isso pode afetar a fluidez do jogo, tornando a experiência menos dinâmica para os outros participantes.

Assim, o saldo final do jogo Ecociclo é muito positivo, confirmando que o lúdico deve ser ratificado cada vez mais, de modo a demonstrar a sua potencialidade de estímulo e auxílio no processo de produção de conhecimento.



Conclusão

O jogo EcoCiclo representa uma abordagem inovadora e educativa para temas ambientais. Utilizando o aprendizado lúdico, ele incentiva a conscientização sobre a sustentabilidade e o descarte adequado de resíduos, promovendo uma reflexão ativa entre os jogadores. Embora apresente algumas limitações, o EcoCiclo reafirma o potencial dos jogos educativos para transformar a maneira como os jovens percebem e interagem com questões ambientais, oferecendo uma experiência que é, ao mesmo tempo, instrutiva e envolvente. Através dessa interação, o jogo não só ensina, mas também inspira um compromisso real com a preservação do meio ambiente, provando que a educação ambiental pode ser divertida e impactante.

Bibliografia

ALVES M. G.; UENO, M. Identificação de fontes de geração de resíduos sólidos em uma unidade de alimentação e nutrição. Rev. Ambient. Água, v.10, n.4, 2015

BRASIL, Decreto lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, DF, 27 abr. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm Acesso: 19 Out 2024.

DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2004. 400p.

LOPES, M. L.; FONSECA, V. V. Estudo do manejo dos resíduos de um restaurante institucional da região Sul Fluminense. Interbio, v.7, n.1, 2013.

PHILIPPI Jr., A. Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005. 842 p.

PRENSKY, M. Aprendizagem baseada em jogos digitais. São Paulo, SP: SENAC, 2012. 575 p.

SILVA, D. M. C.; GRILLO, M. A utilização dos jogos educativos como instrumento de educação ambiental: o caso reserva Ecológica de Gurjaú – PE. Contrapontos - volume 8 - n.2 - p. 229-238 - Itajaí, mai/ago 2008.

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Ilustrações: Silvana Santos