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Para a ganância, toda a natureza é insuficiente. Sêneca
ISSN 1678-0701 · Volume XXIII, Número 91 · Junho-Agosto/2025
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CORPO, CIDADE E NATUREZA: A TRAVESSIA DAS CASCAS
Ana Luíza Nogueira de Quadrosi Jamila Lima Macedoii Wesley Padilha Blankeiii Cláudia Mariza Mattos Brandãoiv
Resumo: O texto analisa três obras de arte apresentadas na exposição coletiva “Cascas” (Pelotas/RS, 08/2024). Isso, para refletirmos juntas/os sobre a potência da arte como produtora de discursos problematizadores da vida em sociedade. A referida exposição resultou de processos criativos diretamente afetados pelas enchentes que assolaram o RGS, suas implicações simbólicas e reais.
A indagação/tema que orienta o conteúdo desta edição da revista, parece particularmente interessante: Por que precisamos ter tantas coisas? Principalmente, pelas memórias que ela despertou em nós. Refletir sobre uma questão tão fulcral para sociedades sob permanente ameaça dos efeitos da emergência climática contemporânea é fundamental. Porém, para nós, gaúchos e gaúchas, significa também reviver um trauma. Há um ano, uma parte significativa do Rio Grande do Sul submergia nas águas das enchentes. E isso afetou sobremaneira a vida cotidiana, inclusive, a universitária. Neste artigo analisamos três das treze obras apresentadas na coletiva “Cascas”, entre 13 e 23 de agosto de 2024, no Centro de Artes, da Universidade Federal de Pelotas, refletindo sobre a potência da produção artística contemporânea para a promoção de discursos sobre questões que afetam indiscriminadamente todas as pessoas. É importante destacar que os processos criativos dessas produções foram diretamente afetados pela situação então vivenciada, as enchentes no RGS. Integrar um programa de pós-graduação em Artes, como é o caso de todas as mãos que elaboraram este artigo, permite conviver com uma infinidade de pensares e estares. Todos/as nós compartilharmos o mesmo planeta e suas “fissuras”. Além disso, podemos compartilhar tarefas e, até mesmo, as mesmas câmeras a fim de registrar os mesmos cotidianos. Entretanto, nossos olhares ímpares dão a ver, através delas, como cada um traduz visualmente a sua experiência. Susan Sontag (2008, p. 128) reflete sobre o ato fotográfico e a mediação tecnológica do olhar, considerando que “a câmera define para nós o que permitimos que seja ‘real’ – e empurra continuamente para adiante as fronteiras do real". A partir disso "os fotógrafos são especialmente admirados se revelam verdades ocultas sobre si mesmos ou conflitos sociais que não foram plenamente cobertos pela imprensa, em sociedades ao mesmo tempo próximas e distantes de onde vivem os espectadores” (Sontag, 2008, p. 138), podendo potencializar as "realidades" reais e ficcionais. Nutrida também pelas ideias de Sontag, entre abril e agosto de 2024, desenrolou-se a disciplina "Fotografia e Imaginário: Poéticas em Pesquisa", do Programa de Pós-Graduação em Artes (Centro de Artes/UFPel), sob a orientação da Prof. Cláudia Mariza Brandão. No decorrer das aulas foram propostas leituras e produções imagéticas, incitando reflexões, discussões e escritas. Dentre as atividades pedagógicas, uma foi desenvolvida ao longo de toda disciplina. Trata-se de um exercício poético e reflexivo com base na prática da linguagem fotográfica, inspirado no livro Cascas, de Georges Didi-Huberman (2017). Com o objetivo de estimular um pensar crítico sobre si, o entorno vivencial e o contexto social e histórico, cada um deveria responder a seguinte questão com uma fotografia autoral: Quando eu levanto a casca do Mundo/da Cidade/da Casa/do Corpo, que ferida exponho? Para cada situação proposta foram escolhidos objetos, lugares ou situações representativas do sentimento despertado pela indagação. E assim, no final do semestre cada um/a tinha um conjunto de quatro imagens para com elas compor uma obra final, apresentada na coletiva “Cascas” (Figura 1). Participaram da exposição: Alêxander Christopher, Ana Lee, Bianca De-Zotti, Dayanna Perez, Dheivison Araújo, Jamila Macedo, Kelvin Marum, Lorena Goulart Zanetti, Pedro Tavares Filho, Roger Dutra, Sabrina Souza e Wesley Blanke. E assim, através de fotografias, puras e/ou híbridas, foram revelados fragmentos e rachaduras resultantes do que cada um/a carrega consigo, fissuras dos caminhos percorridos pelo mundo, pela cidade, pela casa e pelo corpo, transfiguradas em obras de arte. Figura 1: Wesley Blanke, Cartaz da exposição “CASCAS”, 2024.
Fonte: Acervo da disciplina. De modo inesperado, todas as experiências que resultaram na exposição foram atravessadas pelas enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul, considerada a maior catástrofe climática da história do estado. Enfrentamos chuvas intensas que somaram entre 300 e 700 milímetros em diversas regiões, volumes que representam até um terço da precipitação anual média. O desastre causou mais de 180 mortes confirmadas e deixou mais de 500 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas (Agora RS, 2024). Em Porto Alegre, o nível do lago Guaíba atingiu 5,37 metros, superando o recorde histórico do ano de 1941. Em Pelotas, cerca de 100 mil moradores, quase um terço da população, estiveram em áreas de risco devido às enchentes que afetaram diversos bairros da cidade. No município de Rio Grande, as enchentes afetaram aproximadamente 70 mil pessoas, causando interrupções nos serviços essenciais, como energia elétrica, abastecimento de água e telefonia (Defesa Civil, 2024). Naturalmente, esses eventos afetaram drasticamente os moradores do estado e não poderia ser diferente com a turma da disciplina "Fotografia e Imaginário: Poéticas em Pesquisa", composta majoritariamente por moradores de Pelotas e Rio Grande. O grupo precisou se adaptar à realidade e as aulas online foram implementadas durante os períodos mais intensos das enchentes. Além disso, experienciar uma enchente impactou sobremaneira a elaboração das imagens das “Cascas”. Figura 2: Wesley Blanke, Santuário-Casca, obra-objeto, 2024.
Fonte: Acervo do artista. Wesley Blanke apresentou a obra-objeto Santuário-Casca, mesclando suas fotos-respostas e muitas outras imagens a uma bíblia antiga, com perguntas disparadoras dispostas nas páginas. A bíblia foi colocada sobre a imagem de um olho (Figura 2). O artista buscou refletir sobre como a nossa casa é formada por objetos, alguns considerados sagrados, os quais não necessariamente refletem algo específico sobre as pessoas que ali habitam. O livro aberto na estante da sua casa nunca é lido, nos armários ele encontrou lembranças de cidades que nunca foram visitadas, tudo isso mesclado a recordações e costumes. Sobre a obra, Wesley declara: Muitas vezes os objetos não são nossos. Mas nos pertencem de alguma forma. Nossas cascas expõem tudo que está envolto nessas fissuras. Todos os sonhos, as lembranças, os desejos, os medos e solidões que nos compõe, seja de um ponto de vista físico, psicológico ou, até mesmo, geradas a partir do nosso imaginário. Utilizei a bíblia para chamar a atenção para itens temidos e considerados intocáveis, brincando com a ideia de que este santuário não deva ser, de fato, explorado. Conserva-se a capa, mas censura-se a carne do texto. Há um silêncio ensurdecedor envolto nos versículos presentes ali, muitas vezes utilizados como armas. Somos pura “capa”. Falar sobre a realização de uma exposição coletiva com pessoas as quais convivemos, temos admiração e respeito pela pesquisa e trabalho, além da nutrição de uma amizade e companheirismo desde o início de nossas jornadas no Programa de Pós-Graduação em Artes é sempre bonito, mesmo quando os contextos não o são. As trocas entre pessoas de diferentes áreas de formação e linhas de pesquisa enriquecem as nossas trocas, nos abrem os olhos para direcionarmos os olhares para outros campos da pesquisa, do ensino e da prática artística. Esta soma nos faz assumir um posicionamento de coletividade, qualidade tão necessária para que possamos criar redes de colaboração dentro e fora do campo da pesquisa acadêmica. A primeira casca do semestre, na verdade três, foram as de Didi-Huberman. Com elas dispostas sobre um papel branco, ele narra uma história dolorosa explicando de onde elas foram arrancadas, com as próprias unhas, e sobre seu pensamento a respeito do que elas significarão no futuro, quando seu filho as encontrar, além do seu próprio pensamento no momento da escrita: Vemos aqui três lascas arrancadas de uma árvore, há algumas semanas, na Polônia. Três lascas de tempo. Meu próprio tempo em lascas: um pedaço de memória, essa coisa não escrita que tento ler; um pedaço de presente, aqui, sob meus olhos, sobre a branca página; um pedaço de desejo, a carta a ser escrita, mas para quem? (Didi-Huberman, 2017, p. 10). Em seus escritos, a imagem assumiu forma e significado, e nós fomos convidados a falar sobre as nossas próprias cascas, não só através de palavras, mas também de imagens. Falar a imagem e dar imagem às palavras. Quais eram as feridas que ficavam à mostra quando levantávamos as cascas do mundo, da cidade, da casa e do corpo? Outra obra que compôs a exposição foi “Feridas da Imposição” (Figura 3), da artista Ana Lee (Ana Luiza de Quadros). A fotografia retrata a contracapa de uma bíblia aberta na qual se lê "A palavra de nosso senhor". Ao pensar a bíblia e a inscrição nela, ela refletiu sobre a casca de discursos religiosos, que “protege” majoritariamente homens. Historicamente, aqueles que controlam e violentam corpos femininos. Trata-se de uma casca que, ao ser arrancada, deixa à mostra mentalidades que pautam as vidas das mulheres através dos séculos, legitimando e justificando as violências, sobretudo, contra mulheres e meninas negras e pobres. Entretanto, a obra também reflete um incômodo pessoal da artista, pois enquanto enfrentávamos um estado de calamidade climática no sul do país, no Congresso Nacional tramitava o PL 1904/2024, que criminaliza o aborto mesmo em casos de estupro, com nota de apoio da CNBBv. Tudo isso tornou a obra ainda mais urgente. Figura
3:
Ana
Lee,
Feridas
da Imposição,
composição com objeto e fotografia, 57 x 73 cm, 2024. Fonte: Acervo da artista. A escolha de montar a fotografia presa a um cabide de metal, emoldurando o conjunto, também é uma forma de denúncia. Quase um jogo no qual se “retrata” uma imagem de uma casca simbólica e estética, mas que ao ser arrancada, revela outra realidade brutal: a escolha por abortos clandestinos, a opção que resta para as mulheres pobres. Nesse sentido, a escolha do cabide não é aleatória, ele se transforma em símbolo de um dos métodos mais precários e perigosos utilizados por mulheres pobres nos procedimentos clandestinos. Além disso, o cabide se tornou um símbolo de denúncia da violência patriarcal utilizado pelas feministas argentinas, como uma forma de expressar que a criminalização do aborto não impede sua prática, apenas a torna mais letal para quem não tem acesso a ele de maneira legal e segura. Como falar de educação ambiental sem falar de escolhas políticas, das lutas sociais e do cansaço que enfrentamos enquanto sociedade num sistema pautado no machismo, no capitalismo e na brutalidade com as pessoas à margem dele? É aqui que a necessidade da coletividade se faz presente e necessária, em muitos sentidos. Não nos desenvolveremos como entes sociais sem pensar criticamente sobre o que afeta a nós e às demais pessoas. Enquanto pesquisadores, artistas, educadores e historiadores de arte, devemos buscar nela o suporte para ensinar e aprender sobre o mundo em sua complexidade, sobre as desigualdades, as violências, as memórias e as possibilidades de futuro. Outra artista expositora, Jamila Macedo, se propôs a retirar as cascas sociais da cidade dos vivos e da dos mortos, arrancadas a partir de uma ferida exposta. As cascas observadas são pontos urbanos ocupados por pessoas em situação de rua que são vistos através de um véu, sutil e sombrio ao mesmo tempo, o véu da morte social que ignora, exclui e perpetua o silêncio. Pensar nos indivíduos que são vistos como seres à margem da sociedade é um exercício sobre o memórias subterrâneas, marginalizadas, além do esquecimento (Pollak, 1989). Figura 4: Jamila Macedo, Invisíveis, impressão sobre papel vegetal e transparecia sobre folhas coloridas, 21 X 29,7 cm, 2024.
Fonte: Acervo da artista. As imagens foram impressas em dois suportes distintos, sendo um em folha vegetal, para representar o véu do esquecimento, outra em transparência, referenciando a visão clara de alguns sujeitos sobre a percepção da condição do outro (Figura 4). As impressões fotográficas foram dispostas no plano bidimensional, sobre uma mesa coberta com uma toalha branca, para que fosse possível criar um contraste entre o fundo neutro e as 11 folhas coloridas de modo aleatório. Nesse sentido, se trata de um jogo interativo proposto para o espectador, através do qual se revela, esconde, ilumina, escurece, sendo o preto e branco justaposto ao colorido das folhas. Trata-se de um “jogo” sobre questões relacionadas às políticas públicas, ao acesso digno à moradia e ao acolhimento de cidadãos que vivem à margem da sociedade, principalmente, após a enchente que devastou o estado do Rio Grande do Sul, evidenciando os acontecimentos durante e após a enchente na cidade de Pelotas e Rio Grande. As imagens retratam camas de moradores de rua, inclusive por efeito direto das enchentes, pessoas invisíveis que perambulam pela via pública, em diferentes lugares, em situações climáticas opostas, dia ensolarado (em uma) e chuvoso (na outra). Ambas contrastam com uma cama feita sobre uma sepultura localizada no quadro de chão, também conhecido como cemitério dos pobres, no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, de Pelotas. Essa imagem retoma uma discussão sobre os usos dos espaços de sepultamento É possível dizer que existe vida nas necrópoles, pois algumas pessoas em situação de vulnerabilidade social muitas vezes escolhem esse lugar para residir. Entendemos necessário, com urgência, repensar nossos hábitos e fazeres cotidianos e, diante disso, salientamos o fato de estarmos inevitavelmente vinculados às questões que, não somente nos cercam, mas compõem a natureza na qual vivemos e da qual dependemos. É possível notar que as questões ambientais estão sendo cada vez mais pautadas, porém, será que ainda temos tempo? Estamos diante da destruição do meio ambiente, de cenários resultantes do fim de recursos não renováveis do planeta, sem falar de estimativas mais recorrentes acerca de catástrofes climáticas mundiais. Nesse sentido, É evidente que uma responsabilidade e uma gestão mais coletivas se impõem para orientar as ciências e as técnicas em direção a finalidades mais humanas. Não podemos nos deixar guiar cegamente pelos tecnocratas dos aparelhos de Estado para controlar as evoluções e conjurar os riscos nesses domínios, regidos no essencial pelos princípios da economia de lucro. (Guattari, 2001, p. 24). O corpo afetado pelas catástrofes torna-se uma superfície sensível no qual o território ferido e a natureza em colapso se mostram de forma brutal. As marcas que nos atravessam não são meras "fisicalidades", são lesões no afeto, na memória, no gesto. O cotidiano se inunda de ruínas. Não buscamos consolo na arte. Por si só, as obras de arte não propõem soluções. Mais do que isso, elas instigam escutas sensíveis. E é no processo da escuta, na relação artista/espectador mediada pela obra, que entendemos as possibilidades de recomeços. Retornamos à questão/tema: Por que precisamos ter tantas coisas? E a ampliamos: Por que utilizamos mercadorias para preencher as feridas que as cascas escondem?
Referências: CHEIA do Guaíba atingiu 5,37 metros no Centro de Porto Alegre. Agora RS, 2024. Disponível em: https://agorars.com/agora-no-tempo/enchente-de-maio-atingiu-537-metros-em-porto-alegre-aponta-levantamento. Acesso em: 21 mai. 2025. DEFESA Civil atualiza balanço das enchentes no RS - 24/5, 18h. Defesa Civil do RS, 2024. Disponível em: https://www.defesacivil.rs.gov.br/defesa-civil-atualiza-balanco-das-enchentes-no-rs-24-5-18h. Acesso em: 21 mai. 2025. DIDI-HUBERMAN, Georges. Cascas. São Paulo: Editora 34, 2017. GUAÍBA volta a superar 5 metros e pode atingir novo recorde. DW Brasil, 2024. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/gua%C3%ADba-volta-a-superar-5-metros-e-pode-atingir-novo-recorde/a-69070493. Acesso em: 21 mai. 2025. GUATTARI, Félix. As Três Ecologias. Tradução Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas: Papirus, 1990. POLLAK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, [s. l.], v. 2, n. 3, p. 3–15, 1989. SONTAG, Susan. Ao mesmo Tempo: ensaios e discursos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
iTambém conhecida como Ana Lee, Ana Luíza Nogueira de Quadros é bonequeira, artista visual, professora de Artes, pesquisadora e bolsista CNPq vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPel. ananogdequadros@gmail.com iiMestranda em Artes pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal de Pelotas (PPGArtes/UFPel). Cemiterióloga, Bacharela em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis pela Universidade Federal de Pelotas (2022) e licenciada em Artes Visuais (2010), pela mesma instituição de ensino superior. jamila.lapidarium@gmail, iii Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGArtes), do Centro de Artes (UFPel, 2023), bolsista CNPq, graduado em Artes Visuais - Licenciatura. Pesquisador do PhotoGraphein - Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação (UFPel/CNPq). wesblanke@gmail.com iv Artista/Professora/Pesquisadora. Doutora em Educação, com Pós-Doutorado em Criação Artística Contemporânea (UA, PT), é Mestre em Educação Ambiental. Professora associada da Universidade Federal de Pelotas, lotada no Centro de Artes, atuando no curso Artes Visuais – Licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Artes. Líder fundadora do PhotoGraphein - Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação (UFPel/CNPq). claummattos@gmail.com v CNBB é a sigla para Conferência Nacional de Bispos do Brasil. Ver mais detalhes em https://www.cnbb.org.br/nota-cnbb-pl-1904-2024-debate-aborto/. |