IMAGENS DO TEMPO PRESENTE, METÁFORAS DO DEVIRⁱ

Cláudia Mariza Mattos Brandãoⁱⁱ

Charles William Santos Guerraⁱⁱⁱ

Resumo: O texto apresenta um ensaio visual visando estimular reflexões acerca das paisagens contemporâneas mediadas pela fotografia, com base nas ideias de Fritjop Capra e Anna Lowenhaupt Tsing.

As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida – a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escalas e premência sem precedentes em toda a história da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta. (Capra, 1982, p. 19).

Com essas palavras, Fritjof Capra inicia a sua problematização acerca das inter-relações entre ciência, sociedade e cultura, no livro “O Ponto de Mutação”, publicado em 1981. Ao retomar a leitura desse clássico, o que nos surpreende (e entristece) é a atualidade da discussão. Passados quase 50 anos dos estudos de Capra, parece que quase nada mudou. Seus alertas seguem válidos, só que agora frente a um panorama ainda mais degradado e gravoso.

Neste ensaio visual^iv nós propomos aos leitores uma pausa reflexiva, um olhar demorado sobre os detalhes que as paisagens contemporâneas apresentam às/aos passantes atentas/os. Deslocamos as câmeras da amplitude e beleza das paisagens, para os detalhes indicativos dos comportamentos humanos. Identificamos que eles ainda estão balizados por mentalidades que visam extrair do planeta tudo o que sacie a nossa infinita sede de consumo. Não se trata de sobrevivência; sim, de exercer um falso poder, que desconsidera a espécie humana como mais uma a compor a complexa teia da vida.

Para nós, a paisagem é, por si só, um sistema cultural e político. Nela, a síntese estética é importante e “histórias políticas desempenham um papel. A peça-chave sobre uma paisagem, no entanto, é que ela é uma unidade que pode ser contrastada com outras paisagens conformadas sob diferentes princípios” (Tsing, 2023, p. 79). Assim entendendo, aproximamos o distante do próximo, a composição geral do detalhe, o registro da metáfora.

Não intencionamos somente reverberar visualmente os impactos da destruição sistemática promovida pela nossa espécie. Mais do que isso, gostaríamos de propor uma reflexão: O que o pote escondido no final do arco-íris abriga?

Esperamos que nele repouse a consciência crítica, a transformação de mentalidades e comportamentos, em prol da preservação dos inúmeros ecossistemas que compõem os nossos vínculos vitais com Gaia.

Referências:

CAPRA, Fritjop. O Ponto de Mutação. São Paulo, SP: Círculo do Livro S.A./Editora Cultrix S.A., 1982.

TSING, Anna Lowenhaupt. Viver nas Ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília, DF: Mil Folhas, 2023.