Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo. José Ortega y Gasset
ISSN 1678-0701 · Volume XXIII, Número 92 · Setembro-Novembro/2025
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Reflexão
12/09/2025 (Nº 92) FAZER O BEM
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FAZER O BEM

Caminhava aos domingos pela mesma estrada. Subida íngreme antes da capela mortuária. Alcancei um homem empurrando uma bicicleta pesada, cheia de sacolas de compras penduradas no guidão. Cumprimentei e passei por ele, alcançando o topo um pouco antes.

Depois, ele passou por mim a toda, na descida, parou perto do muro do cemitério e encostou a bicicleta. De longe, pude vê-lo indo até um túmulo, fazer o sinal da cruz e ficar lá, prostrado em silêncio.

Passei pela bicicleta encostada e deu para ver, pela transparência do plástico, que havia bastante carne, pão francês, vegetais e dois litros de refrigerante. Ingredientes propícios para um almoço de domingo.

Continuei minha caminhada pensando no homem prostrado no túmulo. Poderia ser a esposa que faleceu repentinamente, ficando ele e os filhos para continuarem a jornada do estar vivo. Poderia também ser o pai ou a mãe, e o sentimento de família pesava porque, agora, seguiria adiante sem a pessoa por quem tanto carinho e amor nutria.

Enfim, já mais longe do cemitério, comecei a ouvir um barulho diferente. Sabe aquele som de plástico quando o vento passa com força? Olhei para trás e lá vinha ele. Tinha um sorriso estampado no rosto, pedalava com enorme força e, passando por mim, disse: “Bom domingo para o senhor”. Retribuí, e ele seguiu adiante pela mesma estrada.

Fiquei rememorando a parada dele no cemitério e a alegria que tinha, agora, para chegar logo em casa, preparar o almoço e servi-lo a todos.

Quem partiu levou parte dele, mas ele também tem parte de quem partiu, e isso deu-lhe ânimo para viver.

Se fosse a esposa, talvez sempre juntos, preparando tudo para a família, na alegria de um domingo, com todos reunidos. Poderia também ser o pai ou a mãe, e aquele almoço gostoso de domingo na casa dos pais. Lembranças que o animaram a continuar.

Segui minha caminhada retornando por outra estrada, por onde não costumava passar. Fiquei pensando em o porquê de eu ter mudado de direção. Às vezes, o desânimo é muito pesado, pode até fazer desistir. Talvez, como o homem prostrado no cemitério, eu tenha resolvido não desistir.

Sei que é preciso aproveitar a dificuldade, fazer uso da razão, viver de acordo com a natureza (um dia todos morreremos) e decidir dar mais um passo, pedalar forte e viver.

Quero viver fazendo o bem a todos e a mim, porém, agora, o melhor é continuar a caminhar e voltar para casa.



Cláudio Loes



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Cláudio Loes, catarinense, residindo em Francisco Beltrão/PR, é Associado da União Brasileira de Trovadores – Nacional, Associado do Centro de Letras do Paraná; Associado Correspondente da Academia Paranaense da Poesia; Membro do Centro de Letras de Francisco Beltrão; editor da coluna Hemera no Jornal Opinião; colunista da Via Poiesis no Jornal Folha do Sudoeste; articulista na Revista Educação Ambiental em Ação.



Ilustrações: Silvana Santos