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Eu sou o que me cerca. Se eu não preservar o que me cerca, eu não me preservo. José Ortega y Gasset
ISSN 1678-0701 · Volume XXIII, Número 92 · Setembro-Novembro/2025
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DOUTORANDO DA UNIVATES FORTALECE DEBATE SOBRE EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE COM ESTUDO QUE RESGATA A MEMÓRIA AMBIENTAL E CULTURAL DE BACABAL (MA) Por Lucas George Wendt Postado em 11/07/2025 A Universidade do Vale do Taquari – Univates tem se consolidado como um espaço de produção acadêmica comprometida com a transformação social, a sustentabilidade e a valorização da cultura popular. Um exemplo dessa atuação é a pesquisa de doutorado do professor Paulo Henrique Vieira de Macedo, natural de Bacabal (MA) e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ensino da Univates. Um trabalho derivado do doutorado, intitulado Cadê a Bacaba, foi apresentado no Colóquio de Educação e Sustentabilidade – 2025, promovido pelo Observatório de Educação e Sustentabilidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), evento que ocorreu entre 21 e 25 de junho. A pesquisa se debruça sobre a música Cadê a Bacaba, samba-enredo composto por Abel Carvalho, Zé Lopes e Paulo Campos e reconhecido oficialmente como Hino Cultural de Bacabal. A canção, gravada no início dos anos 2000 e originada no carnaval de 1988, é uma denúncia poética sobre a devastação ambiental, a perda da biodiversidade e o apagamento das raízes culturais do município maranhense. Ao escolher essa composição como objeto de estudo, Paulo Henrique propõe uma análise crítica que articula arte, memória, ecologia e educação. O ensaio tem como ponto de partida os versos da música que evocam a ausência da bacaba — fruto típico da região — e de outras espécies nativas, desaparecidas pela ação predatória da agropecuária e da expansão dos latifúndios. Com apoio técnico e científico da Univates, o pesquisador transforma um produto da cultura popular em instrumento de reflexão acadêmica e social.
O Programa de Pós-Graduação em Ensino da Univates oferece uma base para que projetos interdisciplinares, como o desenvolvido por Paulo Henrique, avancem com consistência e profundidade. A instituição tem estimulado a integração entre saberes, promovendo um ambiente fértil para investigações que transcendem as fronteiras do conhecimento formal. O estudo apresentado conta com a colaboração de duas profissionais com experiência nas áreas de educação e neuropsicopedagogia: a professora Maria Beatriz Pereira da Silva, doutora em Ciências da Educação e docente da Universidade Estadual do Maranhão (Campus Bacabal), e a professora Jeanny Gomes Quixaba, especialista em Neuropsicopedagogia e professora da rede municipal de Bacabal. A atuação conjunta reforça a dimensão coletiva e interdisciplinar da pesquisa. Um ensaio que é denúncia, memória e proposta pedagógica “Roubaram da história o passado, tiraram desse povo o que é seu”, diz um dos versos centrais da canção. Para Paulo Henrique, essa frase é emblemática da ruptura entre o passado e o presente, entre a memória coletiva e a realidade imposta pelo progresso econômico sem responsabilidade social e ambiental. A música, portanto, serve como fio condutor de uma crítica fundamentada e sensível às transformações socioambientais da região. A pesquisa propõe um modelo de ensino que reconhece o valor da cultura popular como ferramenta pedagógica. Ao incorporar o samba-enredo como objeto de estudo, o ensaio convida educadores a repensarem suas práticas, trazendo para a sala de aula temáticas que dialogam com o território dos estudantes, com suas memórias e experiências.
O samba como linguagem de resistência e pioneirismo Um aspecto importante revelado pelo estudo é o ineditismo da abordagem ecológica na composição Cadê a Bacaba. Segundo relatos resgatados por Paulo Henrique, os próprios fundadores da Escola de Samba Unidos do Bairro da Areia já percebiam o caráter crítico e inovador do enredo apresentado em 1988. A canção questionava abertamente a devastação ambiental e os efeitos das intervenções humanas no Rio Mearim, décadas antes de a pauta da sustentabilidade ganhar protagonismo nos debates públicos. Além de denunciar a destruição da flora local, a música também tece críticas ao sistema político da época, que permitiu, por exemplo, a venda de uma rua pública — conhecida como Beco da Bosta — para a construção de um empreendimento privado. A crítica, feita em tom poético e satírico, resultou na penalização da escola no carnaval daquele ano, impedindo sua vitória no desfile. Esses elementos reforçam a tese de Paulo Henrique de que a arte pode e deve ser um canal legítimo de denúncia e conscientização.
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