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HORTAS
COMUNITÁRIAS COMO MECANISMO DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E GERAÇÃO DE RENDA Maria
Izabel Merino de Medeiros Pesquisadora
Científica, APTA Centro Leste Avenida
Bandeirantes, 2419 - Vila Virgínia. Ribeirão
Preto – SP. Tel.: 3637-1849 Ramal 222 e-mail:
belvt@uol.com.br Giovana
Furquim Agente
de Desenvolvimento do Programa SAI, módulo de Botucatu SP. Rua
Ranimiro Lotufo, 202, Vila Sônia, 18.607-050 Botucatu, SP. Fone:
14-3814.2588; email: giovana_sai@hotmail.com José
Matheus Yalenti Perosa Professor do Departamento de
Gestão e Tecnologia Agroindustrial. Grupo de Pesquisa CEPEAGRO -
CNPq Fone: 14–3882.7164;
e‑mail: dede@fca.unesp.br Antonio
Carlos Stein Analista
e Gestor Programa SAI Botucatu módulo Avaré SAI
– Sistema Agroindustrial Integrado – Sebrae/SP Rua
Doutor Cardoso de Almeida, 2015, Lavapés, 18.602-130 - Botucatu/SP. Fone:
14-3815. 9020; e-mail: antonios@sebraesp.com.br
Resumo Projetos
de Geração de Renda, como o presente estudo de implantação de Hortas Comunitárias,
tem por objetivos promover ações para a inserção das pessoas no mercado de
trabalho, o aumento da produção e da produtividade, respeitando o meio
ambiente e as potencialidades individuais dos segmentos a serem beneficiados.
Para alcançar os objetivos propostos, técnicos do Programa SAI - Sistema
Agroindustrial Integrado - Módulo de Botucatu, do Sebrae-SP, desenvolveram ações
de associativismo, capacitação tecnológica e inserção em segmentos de
mercado regional. Principais
resultados observados são no processo de capacitação contínuo, rendas
mensais, produtos olerícolas para o consumo próprio e de familiares,
aprendizado da profissão de olericultor. Os
resultados obtidos na implantação de hortas comunitárias mostraram retornos
econômicos e de inserção social, importantes na organização social e na
conquista da cidadania das pessoas envolvidas. Palavras-chave:
Organização
Social, Geração de Renda, Horta Comunitária.
Introdução
Pobreza,
desigualdade e desemprego.
O
espaço urbano se apresenta em um ritmo que tendeu a acelerar-se durante todo o
decorrer do século XX, com especial ênfase nas décadas 50/60; este último
intervalo corresponde aos esforços de redesenho das sociedades e coletividades
destruídas por duas Grandes Guerras Mundiais. Alguns espaços (físicos e geográficos)
permaneceram à sombra dos investimentos tecnificantes / tecnologizantes, e do
ponto de vista social passaram a caracterizar um “resíduo de ruralidade”,
considerado até recentemente como “falha no processo de desenvolvimento”,
atraso a ser superado. Quando colocado em perspectiva sob a ótica da urbanização,
os espaços rurais também foram algumas vezes considerados “complementares”
aos espaços urbanos, como intervalo para uma vida em ritmo lento, em contraste
com a aceleração exigida pela atividade industrial: espaço exótico,
pitoresco, disponível para o desfrute de alguns poucos privilegiados.
(Froehlich et al, 2002). No
Brasil, após a abertura comercial, iniciada em princípios dos anos noventa, as
regiões mais industrializadas foram as que mais sofreram com o desemprego.
Notadamente, observa-se uma taxa maior de desemprego em São Paulo do que no
resto do País. (Corseuil et al, 1999). A
pobreza nos municípios gera um movimento entre a população que mais sofre com
a desigualdade e o desemprego. Tal situação cria um ambiente propício para
pessoas com o mesmo perfil sócio-econômico se associarem com um objetivo
comum. Esse objetivo comum faz surgir projetos de desenvolvimento e geração de
renda, alimentados pelo desejo de mudança no padrão e situação atual na
vida. Sustentabilidade
social e ambiental
A
partir da década de oitenta, o termo sustentabilidade começa a aparecer com
muita freqüência, tornando-se tema importante no debate social (Deponti et.
al., 2002). O
conceito de desenvolvimento, de acordo com Denardi (et. al. 2000), possui longa
história de construção, sendo ainda tema de debates e controvérsias. Mais
recentemente, percebeu-se que as bases ambientais de qualquer progresso futuro
poderiam estar sendo comprometidas por um crescimento econômico predatório de
recursos naturais e altamente poluidoras (Denardi et. al.,2004). O
desenvolvimento não é somente a satisfação das necessidades das pessoas, mas
está ligado às suas capacidades. Neste sentido, ele “está nas pessoas, não
nos objetos” (Denardi et al., 2004). Várias
entidades internacionais escolhem o desenvolvimento sustentável para indicar a
nova filosofia do desenvolvimento que combina eficiência econômica com justiça
social e prudência ecológica (Brüseke, 2004). O desenvolvimento sustentável
também é entendido como processo em constante mudança quanto à dinâmica dos
investimentos, inovações (que devem cumprir demandas atuais e futuras) e
exploração dos recursos (Sachs, 2004). De
acordo com Cavalcanti (2004) sustentabilidade significa a “possibilidade de se
obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de
pessoas e seus sucessores em dado ecossistema”. Ehlers
(2004) afirma que “a erradicação da pobreza e da miséria deve ser um
objetivo primordial de toda a humanidade” e que a prática sustentável
envolve aspectos sociais, econômicos e ambientais que devem ser entendidos
conjuntamente. A técnica é meio necessária à condução do desenvolvimento
sustentável. A
olericultura no processo de geração de renda em comunidades carentes
A
característica mais geral e marcante da olericultura é o fato de ser uma
atividade altamente intensiva, em seus mais variados aspectos, em contraste com
outras atividades agrícolas, extensivas, como a produção de grãos.
(Filgueira, 2000). Projetos como o de horta comunitária não foge à regra
quanto à intensiva atividade de trabalhadores no programa. É
notória a utilização intensiva de mão-de-obra rural, certamente acarretando
significativos benefícios do ponto de vista social, o que contribui para
diminuir o desemprego – uma das pragas da economia globalizada de nosso tempo.
(Filgueira, 2000). A
importância ambiental de hortas comunitárias
Philippi
(1999), ressalta que “...a educação e a conscientização são
indubitavelmente associados a qualquer programa que se queira conduzir e para
que ele se sustente e se enraíze na sociedade”. A busca da cidadania
ambiental faz parte de uma dinâmica participativa e solidária, que pode
transformar profundamente os lugares e as comunidades em que se implanta. O
uso do processo educativo aplicado às questões ambientais fundamenta-se na idéia
de que as relações do homem com a natureza começam na esfera do indivíduo.
Portanto, se o comportamento do indivíduo com a natureza puder ser alterado,
passando-se das ações agressivas em relação a esta para ações de integração,
estar-se-á dando um importante passo rumo ao uso adequado da natureza pelo
homem, portanto, rumo ao desenvolvimento sustentado. Há
necessidade de desenvolver estratégias para mitigar o impacto negativo das
atividades humanas sobre o meio ambiente e o impacto negativo das mudanças
ambientais sobre as populações humanas. Nas
estruturas municipais existentes, há experiências positivas de criação do
que se tem denominado cidadania ambiental, e é esse um dos interesses da
implantação da horta comunitária: o de formar centros de difusão de técnicas
agro-ecológicas e cidadania. Tais programas dependem de correta articulação
entre os agentes envolvidos; integração com os demais colaboradores; espírito
de cooperação comunitária e pessoal; equipe competente e coesa, envolvendo e
construindo parcerias comprometidas com avanços comunitários voltados à
melhoria das condições ambientais e de vida da comunidade. Esse
tipo de projeto lança os alicerces para a mudança de comportamento que leva ao
real engajamento da comunidade na melhoria da qualidade de vida e do meio
ambiente em que vivem. Obtendo assim geração de renda e cidadania. Geração
de renda nas hortas comunitárias
Devido
ao baixo nível de escolaridade e à falta de qualificação profissional,
grande parte da população mais pobre não é alcançada pelos programas
convencionais existentes, seja de capacitação profissional seja de crédito,
apesar dos esforços que vêm sendo desenvolvidos pelos vários níveis de
governo para a sua inserção no mercado de trabalho. Diante do exposto, a
implantação do Programa de Geração de Renda em áreas de pobreza é uma
decisão política importante no contexto das políticas públicas de combate à
pobreza. Os
Projetos de Geração de Renda objetivam promover ações que possibilitem a
inserção das pessoas no mercado de trabalho, o aumento da produção e da
produtividade, a ampliação dos trabalhos executados por cooperativas comunitárias
e outros sistemas associativistas, abrindo novas frentes de trabalho compatíveis
com a vocação econômica local e regional, respeitando o meio ambiente e as
potencialidades individuais dos segmentos a serem beneficiados. Neste
contexto a geração de renda será o foco de informação no presente artigo
apresentando de forma empírica o trabalho de desenvolvimento do sistema
produtivo de Hortas Comunitárias no Estado de São Paulo, através da Equipe de
técnicos do Programa SAI - Sistema Agroindustrial Integrado - Módulo de
Botucatu, do Sebrae – SP. Objetivo
O
objetivo geral do presente trabalho é analisar a implantação de hortas
comunitárias como mecanismo importante de organização social e de geração
de renda. Objetivos
específicos
·
Estudar e organizar as demandas nos municípios trabalhados e
planejar estrategicamente ações. ·
Sensibilizar grupos de trabalho para o desafio na geração de
renda. ·
Busca de alternativas de renda, com uma produção comunitária de
olerícolas. ·
Contribuir para a organização social em comunidades carentes de
municípios trabalhados. Metodologia
de IMPLANTAÇÃO
Para
análise da implantação de hortas comunitárias como mecanismo importante de
organização social e de geração de renda, foram trabalhados três municípios
do Módulo Botucatu, dentre eles, o município de Areiópolis, Itatinga e
Botucatu nos anos de 2004 e 2005. As hortas comunitárias são compostas por
mulheres selecionadas pela assistência social de cada município já citado.
Com regime de trabalho semanal, organizados de acordo com demanda de trabalho de
cada grupo. Procedimentos
de implantação: ·
Analise da demanda do município; ·
Estabelecimentos de parcerias com instituições públicas e
privadas, reduzindo assim os custos de produção para o grupo; ·
Implantação de planejamento estratégico participativo - Oficina
“Agentes de Desenvolvimento de Grupos”, realizada pelo Sebrae junto aos técnicos
do SAI - Sistema Agroindustrial Integrado. ·
Capacitação dos grupos de forma associativista. ·
Capacitação dos grupos por meio de treinamentos, cursos,
palestras, missões (viagens e visitas a locais que colaboram na exemplificação
e melhoria da atividade) e oficinas SebraeTec Oficinas Técnicas do Sebrae com o
objetivo específico de capacitar para a produção, qualidade e comercialização. ·
Ação de sensibilização de compradores do produto social,
atingindo o objetivo específico de agregar valor ao produto e realizar a venda
conjunta. RESULTADOS
Foram
implantadas três hortas comunitárias nos municípios citados, trabalhando
semanalmente na produção de olerícolas. Estão envolvidas cerca de 90
pessoas, entre mulheres, homens e crianças. O
processo de capacitação é contínuo, seja do ponto de vista tecnológico como
de conscientização e motivação no desenvolvimento do sistema. Geram
renda mensalmente para suas famílias. Estimativas feitas nas hortas implantadas
apontam para uma receita aproximada de R$150,00/mês/pessoa. Outro
ponto a ser destacado é fato dos participantes levarem para suas casas produtos
olerícolas para o consumo próprio e de familiares, caracterizando além de um
ganho não monetário, a perspectiva de se alimentarem com produtos saudáveis,
com reflexos na conscientização comunitária sobre a qualidade dos mesmos. Por
fim, resultado observado e valorizado pelos integrantes dos grupos e pelos
agentes envolvidos no processo de implantação das hortas, é o aprendizado de
uma profissão, a de olericultor, importante no exercício da cidadania. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A
implantação de hortas comunitárias nos municípios de Areiópolis, Itatinga e
Botucatu nos anos de 2004 e 2005 apresentou resultados positivos como mecanismo
de organização social e de geração de renda, tendo se mostrado importante
para comunidades carentes. Os
resultados econômicos, se não expressivos, constituíram para muitos dos
envolvidos, a única fonte de renda monetária. A organização social
decorrente da implantação das hortas, além de colaborar no processo de produção,
tem se constituído em exemplo na comunidade onde estão inseridas e de conduta
para suas famílias. A satisfação pessoal dos trabalhadores, verificada no
desenvolvimento das ações coletivas e nos resultados obtidos, tem contribuído
para a continuidade do sistema, além do aperfeiçoamento do mesmo. Outro
fator observado é que programas como esses têm contribuído em promover motivação
de diversos agentes sociais nos municípios, para a capacitação pessoal e
grupal, além da qualidade de vida dos trabalhadores. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRÜSEKE,
Franz Josef. “O problema do desenvolvimento sustentável”, in:
GOMES, Ivair. Sustentabilidade social e
ambiental na agricultura familiar. Revista de Biologia e ciências da Terra,
v.5, nº 1, 2004. CAVALCANTI,
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econômica”, in: GOMES, Ivair. Sustentabilidade
social e ambiental na agricultura familiar. Revista de Biologia e ciências
da Terra, v.5, nº 1, 2004. CORSEUIL,
Carlos Henrique et. al: Desemprego
Regional no Brasil. Economia Aplicada, São Paulo, v.3, n°3, p.408,
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social e ambiental na agricultura familiar. Revista de Biologia e ciências
da Terra, v.5, nº 1, 2004. DEPONTI,
Cidonea Machado et. al: Estratégia para construção de indicadores para avaliação da
sustentabilidade e monitoramento de sistemas. Agroecol. e Desenvol. Rur.
Sustent. Porto Alegre, v.3, nº4, out/dez 2002. EHLERS,
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paradigma”, in: GOMES, Ivair. Sustentabilidade
social e ambiental na agricultura familiar. Revista de Biologia e ciências
da Terra, v.5, nº 1, 2004. FILGUEIRA,
Fernando Antonio Reis. Novo Manual de
Olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de
hortaliças. Viçosa: Ed.UFV, 2000.p.16-17. FROEHLICH, José Marcos
et. al.: Reconstrução social do espaço
rural no contexto de transição para a sustentabilidade. I Encontro Associação
Nacional de Pós Graduação e pesquisa em Ambiente e sociedade, Indaiatuba,
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JR., Arlindo. Municípios e Meio Ambiente: perspectivas para a municipalização da
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nuevas configuraciones rural-urbanas”, in:
GOMES, Ivair. Sustentabilidade
social e ambiental na agricultura familiar. Revista de Biologia e ciências
da Terra, v.5, nº 1, 2004. |