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O ESPAÇO DA PARTICIPAÇÃO COLETIVA NA GESTÃO
DOS RESÍDUOS NA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR: potencializando a
interdisciplinaridade e diálogos de saberes entre os sujeitos Luciara
Bilhalva Corrêa[1] Como
buscar a transformação dos sujeitos para uma intervenção comprometida e
responsável, sem considerar sua participação, suas vozes, seus desejos, suas
vivências, seus conhecimentos, suas percepções e seus valores, na construção
de políticas para a gestão dos resíduos na instituição de ensino superior? Entendendo
que os problemas ambientais relacionados à questão dos resíduos são
complexos, portanto, necessariamente seu processo de gestão é um espaço que
precisa se constituir também numa perspectiva complexa e sistêmica, torna-se
fundamental a participação dos diferentes sujeitos envolvidos no contexto
(GUIMARAES, 2003). No entanto, a participação não se dá de forma espontânea,
ela precisa ser aprendida. O desafio que se coloca para a educação ambiental
é o de criar condições e espaços que potencialize e propicie a participação
coletiva para o diálogo ente os sujeitos. Cabe destacar que uma das tarefas
fundamentais à prática da educação ambiental no processo de gestão dos resíduos
está direcionado para a compreensão e busca de superação das causas
estruturais dos problemas ambientais por meio da ação coletiva e organizada
(QUINTAS, 2004). Um
dos princípios preconizado pela Política Nacional de Educação Ambiental é
preparar os indivíduos para uma efetiva participação, possibilitando uma
interferência positiva na gestão dos resíduos, constituindo-se um fator
determinante na escolha de prioridades e na tomada de decisões. Essa participação
que é um direito social deve ter um caráter transversal, processual, coletivo
e ser transformador, gerar uma intervenção consciente, feita por cidadãos críticos,
sobre situações que lhe dizem respeito e dizem respeito à comunidade de que
fazem parte e representam (BRASIL, 1999; BUTZKE, 2001; QUINTAS, 2007). Cabe
destacar que a participação representa e possibilita a ação interativa entre
os diferentes sujeitos que se complementam e se contrapõem numa realidade vista
como totalidade. A não participação, de qualquer que seja o sujeito,
principalmente os mais antagonizados pelos problemas ambientais relacionados aos
resíduos, decompõe a realidade reduzindo-a e simplificando-a, não dando conta
da compreensão de sua complexidade e somente possibilitando intervenções
parcializadas. Sendo assim, só se efetiva a gestão ambiental para a superação
dos problemas ambientais, se a participação de todos os sujeitos envolvidos,
que compõem a realidade enfocada, for possível (GUIMARÃES, 2003, p.187) Ainda, Pires e Ribes (2005, p.37) enfatizam que, o
trabalho coletivo pode se transformar em um espaço privilegiado de formação
para todos os sujeitos envolvidos. É a melhor maneira de atualizar e refletir a
ação educativa, pois o debate sempre traz idéias novas e informações, dúvidas
e incoerências que levam a organizar o pensamento, reafirmando ou modificando
posições. Trabalhando coletivamente, o sujeito sente-se fortalecido com o
grupo, porque sabe que conta com o apoio de outros que estão lutando pelo o
mesmo ideal, com quem pode partilhar e discutir dificuldades e preocupações.
Ao se trabalhar em equipe, todos os integrantes crescem devido às trocas de
experiências. No entanto, esse espaço precisa ser democrático, que significa essencialmente participar, discutir e debater sobre a questão ambiental relacionada aos resíduos. Nesse processo os sujeitos não podem ser somente ativos ou passivos e sim interativos, pois participarão e influenciarão em todo o processo, nos atos de elaborar, pensar, repensar, trocar idéias, enfim estar comprometido com toda a execução do processo de gestão no qual está engajado (PIRES e RIBES, 2005). Também, Castro e Junior (2007, p.401), enfatizam que participar não significa apenas o quanto se toma parte, mas como se toma parte de uma intervenção consciente, crítica e reflexiva, baseada nas decisões de cada um sobre situações que não só lhe dizem respeito, como também dizem respeito à comunidade em que se está inserido. Na participação, contudo, a potencialidade individual deve estar a serviços de um processo coletivo, transformador, em que o sujeito, no exercício do seu direito, conquistará sua autonomia por uma de uma presença ativa e decisória. Assim, a importância da participação de forma efetiva se torna premente para que todas as ações sejam pensadas, repensadas e refletidas a fim de atingir as propostas dos envolvidos. Essa participação precisa se dar de forma comprometida, na qual todos possam ser sujeitos do processo, atuando como autores no momento de sua elaboração. Para tanto, essa participação precisa ser dialógica, na qual o sujeito se sinta convidado a participar expondo suas idéias, dúvidas, críticas, falando de sua vivência e contribuindo para a tomada de decisões. Não somente esse indivíduo vai expor suas idéias e posições, mas também aprenderá a ouvir, a criticar, a elogiar, a interagir junto com o outro numa construção coletiva de conhecimento. O diálogo dessa forma se tornará crítico, pois era falar de sua vivência, suas experiências, elegendo também sua pergunta como atos de conhecer o outro e tornar-se conhecido também. Tal processo transformará em sujeitos capazes de interagir na realidade onde estão inseridos. Para Freire (1987, p.79), o diálogo
é uma exigência existencial. Ele é o encontro em que se solidarizam o
refletir e o agir de seus sujeitos endereçados a realidade a ser transformado.
Somente o diálogo, implica um pensar crítico, sem ele não há comunicação
entre os sujeitos, e sem esta não há a verdadeira educação. No pensar de Raymundo e Oliveira (2007), as práticas pedagógicas precisam ser construídas de forma coletiva de modo que os sujeitos sintam-se pertencentes ao processo, ou seja, seus próprios conhecimentos e vivencias são validados e valorizados. Os autores Júnior e Nunes (2007, p.62) enfatizam que a convivência dialógica no espaço coletivo permite o nascer de propostas que os transformam em ações em função do comprometimento dos sujeitos entre si e com a realidade onde estão inseridas. Viezzer (2007, p.39) complementa dizendo que trabalhar
com o coletivo, possibilita o diálogo, estabelecendo a atuação conjunta em
relação às questões do meio ambiente, no entanto, esse processo não se dá
naturalmente, ele precisa ser apreendido constantemente de forma permanente.
Assim, o coletivo é colocado em sinergia de interesses pela qualidade do
ambiente e da vida, podendo aprender e ensinar uns aos outros. Nesse sentido Freire (1996, p.18) destaca, que mais do que um ser mundo, o ser humano se tornou presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que se pensa a si mesma, que sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz, mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe. Portanto, é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade ética e se impõe a responsabilidade. O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem não tem nada a ver com ele. Afinal a presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. Na medida em que o processo educativo oportuniza o envolvimento dos diferentes sujeitos na construção de políticas para a gestão dos resíduos, estes têm a possibilidade de conhecer e passar a perceber o problema ambiental e social produzido no ambiente institucional, refletir sobre suas ações, produzir conhecimentos e juntos discutirem e decidirem metas para a solução dessa questão. Quintas (2007, p.141) considera que qualquer ação de educação ambiental para o processo de gestão precisa ser estruturada no sentido do conhecer para agir. Assim, o coletivo que está participando da prática educativa, estará produzindo conhecimento sobre o problema, delineando um caso de ação, objetivando contribuir para a sua superação. Para Loureiro (2007, p.160) a finalidade da educação ambiental ou de qualquer processo que possa se firmar como educativo, é
assumir a emancipação para a transformação dos sujeitos, o que significa a
construção de sua autonomia e liberdade. Autonomia significa estabelecer condições
de escolhas, ou seja, em que os sujeitos – individual e coletivo – não
sejam dependentes para conhecer e agir, posto que para uma mudança efetiva de
uma dada realidade, somente aqueles que fazem parte de tal situação, podem ser
os portadores da transformação. Autonomia é uma condição incompatível com
a coerção, mas exige organização coletiva para que se viabilize. E a
liberdade está nas relações que mantemos conosco e com o outro, pois pressupõe
a certeza de que somos seres que nos formamos coletivamente. Temos
responsabilidades para com os demais, nos constituímos na relação
“eu-outro” (nós) e compartilhamos o mesmo planeta. Um processo educativo
que se afirme como emancipatório, as relações se pautam por igualdade, pelo
respeito à diversidade, pela participação e autogestão. A prática emancipatória
se define pela ação e construção dialógica com o outro, em que este outro
se coloca e, de fato, está em condições igualitárias de conhecer, falar, se
posicionar, decidir, desejar.
Freire (1996, p.93) considera que o sujeito que exercita sua liberdade,
eticamente vai assumindo a responsabilidade pelas suas ações. O que é preciso
fundamentalmente assumir-se ética e responsavelmente, sua decisão, fundantes
de sua autonomia. Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A
autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões,
que vão sendo tomadas. É nesse sentido que uma prática educativa que busque a
autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da
responsabilidade, através da liberdade.
Para Bracagioli (2007, p. 231) que o processo de construção de
participação de caráter emancipatório considera que as identidades estão em
permanente reconstrução havendo assim um diálogo de saberes e a necessidade
de uma pedagogia para cada ação participativa desenvolvida. Um
processo de construção de políticas para a gestão dos resíduos que busca a
formação dos sujeitos um espaço democrático e solidário, para tanto Freire
(1996, p.113) sugere que não é falando aos outros, de cima para baixo,
sobretudo, como se fossemos os portadores da verdade a ser transmitida aos
demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com
eles. Somente quem escuta paciente e criticamente, fala com ele e vice e versa,
estabelecendo assim, uma comunicação dialógica. O
sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como um ser
inconcluso em permanente movimento. Como formar os sujeitos sem estar aberto ao
seu contexto? (FREIRE, 1996, p.136) Guimarães
(1995, p.28) afirma que a educação ambiental é participativa, comunicativa,
crítica e valoriza a ação. É uma educação crítica da realidade
vivenciada, formadora da cidadania. É transformadora de valores e atitudes
através da construção de novos hábito s e conhecimentos, criadora de uma
nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas
ser humano/sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local e global, como
forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida. REFERÊNCIAS BRACAGIOLI,
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