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EDUCAÇÃO AMBIENTAL
DO REAL
AO IDEAL
“ Somos mais sensíveis
ao que é feito contra os costumes do que contra a Natureza.”
(Plutarco,
100 d. C.) Assim como o homem não é o centro do Universo, a Educação por si só
não deve ser a única responsável pela salvação do Planeta. Somente com a
formação integral do ser humano é que podemos proporcionar melhores condições
de uma vida duradoura e salutar para todos os habitantes da nossa Casa Maior. Este cidadão deverá cultivar bons hábitos
de vida: desde o ato de gostar de
si mesmo, e de desejar ao seu
semelhante um “bom dia”, uma “boa tarde” ou um “muito obrigado” até
as tarefas mais complexas desempenhas durante a sua vida como agente do
desenvolvimento social, político, econômico do mundo. Isto significa que
nossas ações devem ser sempre pautadas pelo cuidado, respeito e
afeto quando interferirmos no ambiente onde vivemos. E, para a conquista
desta nova forma de comportamento, a Educação Ambiental se diz presente e
proporcionará importantes instrumentos para este desafio. E, objetivando diagnosticar o nível de conhecimento e interesse e também
determinar o grau de aceitação da Educação Ambiental como parte integrante
do cotidiano dos professores, alunos e pais da comunidade, conduzimos uma
pesquisa por amostragem, em Fevereiro de 2002, em uma escola particular do município
de Cariacica-E.S. Esta instituição conta com 40 professores e 800 alunos,
divididos em três turnos e está situada em uma comunidade de classe média
baixa. A amostra pesquisada foi a seguinte: 20 pais residentes na comunidade, 15 professores e 40 alunos de duas
oitavas séries escolhidos intencionalmente, pois o objetivo era de trabalhar
com os alunos residentes próximos à escola. Por acharmos que os alunos já possuíam relativo conhecimento sobre
temas ambientais, o questionário foi aplicado por um professor das oitavas séries.
Portanto sem orientação. Quanto aos professores, entregamos o questionário
para cada um e solicitamos que o trouxesse no dia seguinte. Entretanto para os
pais, preferimos aplicá-los pessoalmente, tendo em vista que para a grande
maioria dos mesmos os temas
ambientais ainda eram desconhecidos. Por esta razão, deveriam ser acompanhados
durante o preenchimento e, esclarecendo, quando necessário, algumas dúvidas e
melhorando a compreensão dos enunciados. Esta fato, contudo, não interferiu
nas respostas e, conseqüentemente, nos resultados apresentados. A seguir, apresentaremos o resultado da pesquisa através de algumas
respostas mais significativas do instrumento aplicado aos professores, que
continha 12 perguntas. A primeira pergunta do questionário foi: “Há quanto tempo atua no
magistério?”. A maioria (53,5%) respondeu que militava no magistério “há
mais de dez anos.” Isto demonstra que grande parte já tem uma larga experiência
no processo docente-educativo. Quanto à segunda pergunta formulada para definir “Meio Ambiente.”,
além das alternativas apresentadas, poderiam ser inseridas outras, caso não
encontrasse a mais completa. Dentre várias respostas, a mais votada foi a opção
“é tudo que está a nossa volta.”, com 26,5% e logo a seguir a opção “é
tudo isto”, com 20%, significando que todas as alternativas presentes contribuíram
de forma individual ou associada às demais opções para a conceituação de
Meio Ambiente. Como parâmetro estabelecemos
a conceituação de Meio Ambiente como sendo “tudo que está a nossa volta.” Entretanto, dois professores (13,5%) acrescentaram as alternativas “é
vida” para definir Meio Ambiente. A resposta é muito interessante porque
enseja reflexão mais profunda sobre o assunto. Entendemos que o Meio Ambiente
pode ser vida más também morte. No reino animal e vegetal a morte de um
elemento de uma espécie se transforma em oportunidade para o nascimento de
outro elemento da mesma espécie ou espécie diferente. Entretanto, se
continuarmos a poluir o ar, contaminando a água e envenenando os alimentos
podemos interferir negativamente no Meio Ambiente e alterar profundamente esta
relação de vida-morte-vida. Neste caso, viver em um ambiente com estas
características é sinal apenas de morte para alguns elementos
ou algumas espécies. Nas demais respostas (40%), observamos que aparecem aquelas conotações fragamentárias, atomizadas e
reducionistas. A visão restrita dos demais professores sobre questões ambientais
enseja uma falta de conhecimento, reflexão e de consciência para com o seu
entorno. Podemos sugerir que estes fatos estejam ligados à falta de interesse
e/ou dificuldades de se obter informações. Outrossim, para alguns professores
participantes da pesquisa, este tema não tem nada que ver com suas disciplinas,
não percebendo assim, que a questão ambiental é um problema que deve ter
conotação multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Ou seja, é
uma postura, um comportamento, uma forma de atuar, etc. Portanto, esta questão
não é de responsabilidade de uma disciplina ou deste ou daquele professor,
aluno, funcionário da instituição, dos pais, desta ou daquela escola: todos
somos responsáveis! Nem os excluídos por
qualquer forma de discriminação estão a salvo do compromisso para com o meio
ambiente. Para a 3a pergunta cujo enunciado era “Você acha que tem
uma educação ambiental desenvolvida?”, não houve grande desvio entre uma
resposta e outra, ou seja, entre o grau “Muito desenvolvida” e “Pouco
desenvolvida”. Más, na média os professores demonstraram um bom nível de
conhecimento e consciência quanto aos problemas ambientais. Era de se esperar:
afinal eles são os formadores de opinião, são os dirigentes, os guias do
processo de ensino-aprendizagem, pois é na escola e da escola que se espera ações
organizadas para o processo de desenvolvimento e de formação de
cidadãos em condições de transformar (para melhor) o mundo. Na pergunta 6, “Acha que pode incluir Educação Ambiental em todas as
disciplinas?”, a resposta afirmativa corrobora o fato de que reconhecem, desta
forma, que os temas sobre o Meio Ambiente podem transitar livremente por todas
as disciplinas, além da sala de aula e da escola. No desdobramento desta
pergunta, aparece outra “Por que?”, solicitando
uma justificativa para qualquer resposta, seja ela positiva ou negativa. Nas justificativas variadas para a pergunta “Por que?”, três
professores responderam positivamente. O primeiro respondeu “é um assunto
interdisciplinar”. O segundo disse que “ é um assunto que vivenciamos todos
os dias.” “É uma postura do
educador”, respondeu o terceiro. Contudo, dois professores fizeram menções negativas. Um
disse que “é complicado em Ciências Exatas.” O outro disse: “iria fugir
do assunto.” Quanto à primeira justificativa, podemos afirmar que quando
fazemos os mais simples cálculos, como por
exemplo, a quantidade de chuva que cai num determinado lugar ou quanto de lixo a
escola produz, já se está aplicando um conhecimento matemático elementar, más
muito importante dentro do contexto ambiental. Por sua parte, a segunda
justificativa “iria fugir do
assunto”, parece que a intenção é transferir
a responsabilidade para outra(s) disciplina(s), por exemplo, Biologia, Geografia,
etc., ou podemos deduzir que o professor tem uma visão distorcida ou limitada
do Meio Ambiente, Ou mesmo plagiando Pilatos! Para a pergunta número 9 “Na rua, quando você está com um pedaço de
papel de bala, salgado, etc. nas mãos, você?”, as respostas obtidas não
surpreenderam muito, para o tipo de comportamento exigido. Ou seja, 73% dos
entrevistados disseram que “ jogam o papel na lixeira” enquanto que 27%
afirmaram que “levam para casa ou até a uma lixeira.” Pelo que pudemos
perceber ninguém joga lixo nas ruas ou nos
passeios. Um resultado semelhante foi encontrado também nas respostas da
pesquisa aplicada aos alunos e pais. Entretanto, o que se constata é bastante
lixo nas vias públicas e também em menor quantidade nas dependências da
escola e adjacências. Isto leva a crer que boa parte dos entrevistados tem
atitudes inconscientes: ao mesmo tempo que dizem defender o meio ambiente, jogam
lixo nas ruas e passeios. Na teoria, fala-se muito e na prática pouco se faz
efetivamente para melhorar o ambiente. Quando estamos entrevistando face-to-face
uma pessoa é uma coisa, quando a observamos de longe
é possível captar ações que
contrariam o seu discurso. Este fato mostra que é importante a alternância/variância dos métodos
científicos (entrevista-observação) que devem ser empregados durante uma
pesquisa científica. A pergunta número 10 que trata dos “três problemas ambientais mais
importantes no Brasil, apresentou respostas
refletindo as linhas gerais dos meios de comunicação de massa quando da
abordagem dos principais problemas ambientais veiculados nos telejornais ou
programas de grande audiência. Como estes temas provocam grande impacto nos
cidadãos, são eles que se destacam mais. Ao mesmo tempo, os temas ou problemas
mais localizados, tendem a permanecer em segundo plano. Ações simples do
dia-a-dia podem provocar o mesmo
impacto, entretanto de maneira mais lenta e profunda. Nestes casos, os
efeitos viriam a médio e longo prazos. As resposta foram as seguintes: “ Poluição” recebeu 60% dos votos
dos professores. O “Lixo”, em segundo lugar, juntamente com o
“Desmatamento” receberam 46,5%. Quanto ao lixo, as nossas ações diárias
podem fazer a diferença, se reciclarmos os resíduos que produzimos, através
de ações integradas com os órgãos públicos e outras instituições. “Em que medida você colabora com o meio ambiente?” foi a pergunta de
número 13 e as respostas foram “Muito Alta” com 40% e “Alta”, também com 40%. Regular apareceu com 20%.
Estas respostas estão fundamentadas nas
condutas mais simples referentes ao Meio Ambiente no nosso cotidiano. Para os
entrevistados, ações básicas como a coleta de lixo, o acondicionamento em
sacos plásticos e o depósito em local adequado são consideradas ações
importantes para melhorar os condições ambientais locais. Certamente, existem
dezenas e centenas de outras ações (simples ou complexas) que são de
fundamental importância para um ambiente sadio. Pouco adianta criticar aqueles
que destroem as florestas, contaminam o ar e os mares, e assassinam as baleias
no Pacífico, se no mesmo instante, a pessoa que está criticando joga a ponta
de cigarro na calçada, atira papel no chão, buzina sem necessidade e desperdiça
alimentos. A minha ação local faz a diferença global! Quanto à última pergunta “Tem recebido capacitação em Educação
Ambiental?”. “Pouca” foi a
resposta de 40%. “Nenhuma”, 33% e “Muita”, 27%. Apesar de considerarmos
a Educação Ambiental ainda jovem,
as escolas, de maneira geral, ainda não se prepararam para vivenciar esta prática
e muito menos para capacitar e /ou reciclar os profissionais que serão os
agentes de orientação e transmissão dos conhecimentos e valores dentro do âmbito
escolar. Portanto, mesmo os professores na sua grande maioria, têm uma visão
fragmentada ou estreita do que seja a verdadeira vida ambiental. Prof. Zenobio Eloy Fardin Rua Cinco de Maio, 01 – apto.302 29l44-210 – Campo Grande –ES. Telefax: (027) 3336-3418 E-mail: zenobiofardin@bol.com.br
Graduado em Geografia Pós-Graduado em EPB Mestrando em Educação (enfoque em Educação Ambiental) |