Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início
Cadastre-se!
Procurar
Área de autores
Contato
Apresentação(4)
Normas de Publicação(1)
Podcast(1)
Dicas e Curiosidades(5)
Reflexão(6)
Para Sensibilizar(1)
Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11)
Dúvidas(1)
Entrevistas(2)
Divulgação de Eventos(1)
Sugestões bibliográficas(3)
Educação(1)
Você sabia que...(2)
Reportagem(2)
Soluções e Inovações(3)
Educação e temas emergentes(6)
Ações e projetos inspiradores(24)
Cidadania Ambiental(1)
O Eco das Vozes(1)
Do Linear ao Complexo(1)
A Natureza Inspira(1)
Relatos de Experiências(1)
Notícias(26)
| Números
|
Artigos
DA TEORIA À AÇÃO: MATERIAIS DIDÁTICOS EM PERCEPÇÃO AMBIENTAL Prof. Dr. Renato Luiz Grisi Macedo, Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Lavras, 37200-000, Lavras, MG, (35) 3829-1432, e-mail: rlgrisi@ufla.br Prof. Dr. Eric Batista Ferreira, Departamento de Ciências Exatas, Universidade Federal de Alfenas, 37130-000, Alfenas, MG, e-mail: eric@unifal-mg.edu.br Lic. Gislaine Natalina Rocha Buscarioli, Faculdades Integradas ASMEC, 37570-000, Ouro Fino, MG, e-mail: renan_buscarioli@hotmailcom
1. Introdução
A humanidade atravessa um momento de crise ambiental, em que os recursos naturais do planeta são utilizados de forma inadequada, gerando degradação ambiental e conseqüências negativas para a própria humanidade. Em muitos casos, as pessoas desenvolvem ações degradantes sem ter a consciência dos impactos de seus atos, ou mesmo desconhecem a capacidade de resiliência e suporte do ambiente. A conscientização ambiental é uma alternativa eficaz para se alcançar a minimização da crise. A educação ambiental formal ou informal se apresenta como um espaço em que a conscientização pode ser construída, através da união entre teoria e reflexão sobre a realidade. Porém, identificar e entender como as pessoas pré-concebem o ambiente antes de se iniciar uma temática ambiental é pressuposto para que os conteúdos sejam construídos de forma coerente e significativa para a realidade de quem a constrói. Nesse contexto, os estudos de percepção ambiental se configuram como ferramenta metodológica capaz de investigar as concepções ambientais existentes nos alunos. Freitas (2009) apresenta com sucesso o desenvolvimento de estudos de percepção ambiental por meio da sustentação teórica de um tripé que conjuga teorias ambientais capazes de examinar e entender as concepções ambientais dos entrevistados e a natureza de suas ações. O referido tripé é composto pela teoria da representação social (REIGOTA, 2007), da complexidade ambiental (LEFF, 2003) e da categorização das ações ambientais (ABREU et al., 2008). Vale ressaltar que os conteúdos de educação ambiental devem ser desenvolvidos a partir do compromisso de que eles estão adaptados às especificidades da realidade de quem os constroem. A partir dessa perspectiva, a construção de materiais didáticos pelo educador ou orientador se torna uma necessidade (FREITAS, 2003). O objetivo deste estudo é propor a confecção de materiais didáticos em percepção ambiental, conjugando as teorias da representação social (REIGOTA, 2007), da complexidade ambiental (LEFF, 2003) e da categorização das ações ambientais (ABREU et al., 2008) para a educação ambiental formal.
2. Tripé Teórico
A proposta de um tripé teórico para o desenvolvimento de estudos de percepção ambiental surgiu da necessidade de se conferir cientificidade e rigor teórico para realizar estudos de percepção ambiental que contemplem as etapas de coleta, análise e interpretação dos dados referentes à percepção ambiental e, por conseguinte, às ações desempenhadas pelo indivíduo no ambiente.
2.1. A teoria da representação social Identificar as percepções que as pessoas apresentam sobre o ambiente é uma tarefa que precisa ser muito bem orientada teoricamente. A teoria das representações sociais ampara a coleta e a futura interpretação dos dados através da orientação metodológica de que os conceitos científicos, quando internalizados pela sociedade, fundem-se a saberes do senso comum e aparecem nas coletas de dados como representações sociais (REIGOTA, 1999). Entender como as pessoas se sensibilizam, ou percebem o ambiente, e identificar as representações sociais que as mesmas apresentam sobre o tema, é o primeiro passo para se proporem discussões pertinentes sobre a questão ambiental. Analisar as representações pressupõe entender o porquê das mesmas terem sido construídas como tal, para se proporem caminhos para desconstruir representações sociais equivocadas e intensificar as representações coerentes, e então propiciar a construção de conceitos que conduzam ao pensamento da complexidade e conservação ambiental.
2.2. A teoria da complexidade ambiental Uma revisão sobre a teoria da complexidade ambiental foi apresentada previamente (FREITAS et al., 2009), então, somente uma breve apresentação será dada aqui. Frente aos problemas ambientais atuais, o ambiente requer uma metodologia de análise que favoreça o raciocínio de interação entre seus elementos, processos e fenômenos. O pensamento reducionista, de grande destaque na ciência atual, se caracteriza por estudar fenômenos ou elementos isolados. Dessa forma, as intervenções humanas, mesmo que guiadas pelo raciocínio científico, tendem a causar degradação ambiental e impactos indesejados para o ambiente. Com a busca da verdade racional cartesiana, a ciência passou cada vez mais a compartimentar seu conhecimento, valorizando as especializações (BUARQUE, 1994), abandonando a visão filosófica do estudo do todo, do global, do planetário. Dessa forma, o método científico passou a reduzir, ou mesmo simplificar, a realidade, que é complexa (LEFF, 2003: pp.15-64). Através da compartimentalização do conhecimento científico, as diferentes áreas do conhecimento passaram a desenvolver estudos isolados, que deram suporte à realização de um mosaico de intervenções no ambiente, desvinculados do comprometimento de pensar sobre o todo planetário e sua capacidade de carga, resiliência ou sustentabilidade. Estudos com essa característica simplificadora e reducionista foram valorizados pelo mercado capitalista, que prioriza o pensamento individualista e resultados no curto prazo. A complexidade ambiental se apresenta como uma alternativa metodológica de raciocínio, que visa a restaurar a visão do todo, evitando as simplificações científicas cartesianas, analisando o ambiente frente ao cruzamento da maior quantidade possível de componentes, fenômenos e processos (LEFF, 2003: pp.15-64).
2.3. A categorização das ações ambientais O terceiro componente do tripé teórico consiste numa categorização que busca classificar os tipos de ações em benefício do ambiente e identificar seus traços conservacionistas. Partindo do princípio de que as ações humanas são intencionais e raciocinadas, tem-se que essas ações são orientadas de maneira consciente ou não por teorias, que são apropriadas pelas pessoas no convívio social, pelo contato direto ou indireto com esses referenciais teóricos. Nessa perspectiva, para se construir a categorização das ações ambientais, partiu-se dos objetivos teóricos da educação ambiental. Esses objetivos foram definidos por Smyth (1995), descritos por Sato (1997, 2002) e apresentados por Abreu et al. (2008), e são: Sensibilização Ambiental: processo de alerta, considerado como primeiro objetivo para alcançar o pensamento sistêmico da educação ambiental; Compreensão Ambiental: conhecimento dos componentes e dos mecanismos que regem o sistema natural; Responsabilidade Ambiental: reconhecimento do ser humano como principal protagonista para determinar e garantir a manutenção do planeta; Competência Ambiental: capacidade de avaliar e agir efetivamente no sistema ambiental; Cidadania Ambiental: capacidade de participar ativamente, resgatando os direitos e promovendo uma ética capaz de conciliar a natureza e sociedade. Abreu et al. (2008) aplicaram com sucesso os referidos objetivos numa categorização para propostas de educação ambiental. As categorias utilizadas foram: “Sensibilização”, “Compreensão”, “Responsabilidade” e “Competência e Cidadania”.
3. Aplicações: construção de materiais didáticos em percepção ambiental
Este estudo entende que o material didático deve servir para o educador como um roteiro ou inspiração, para que ele possa sondar os conhecimentos prévios de seus alunos sobre a temática; possa desenvolver conteúdos de forma que o raciocínio seja construído com clareza e embasamento teórico; ou mesmo possa servir como uma ferramenta para avaliar a estruturação do conhecimento construído pelo aluno ou para avaliar a proposta de construção de conhecimento desenvolvida pelo educador. Dessa forma, o educador deve ser livre e criativo para propor materiais que atendam às suas necessidades específicas, tanto referentes aos conteúdos, quanto ao público alvo. Assim, é imprescindível que o educador tenha o perfil de pesquisador, pois este estará atento à leitura das especificidades da sua realidade e, como pesquisador, tende a apresentar uma postura de busca de alternativas metodológicas para melhorar e enriquecer a construção do conhecimento (FREITAS, 2003). Em se tratando de materiais didáticos em percepção ambiental, é pré-requisito que os mesmos sejam criteriosamente embasados em teorias ambientais, pois, com esta postura, o educador tende a não se influenciar por concepções do senso comum e reduz consideravelmente a possibilidade de indução de resultados. A literatura apresenta inúmeros métodos para a coleta e análise dos dados referentes à percepção ambiental. Por meio de uma revisão, foi possível elencá-los. Como principais métodos de coleta de dados estão os questionários semi-estruturados, estruturados e mistos. De acordo com Alencar (2004), o primeiro tipo de questionário se caracteriza por apresentar questões semi-estruturadas, ou abertas, que são aquelas em que o pesquisador padroniza as questões, que são elaboradas frente ao seu objetivo de pesquisa, mas a resposta fica a critério do respondente; o segundo tipo apresenta questões estruturadas ou fechadas, ou seja, questões e respostas padronizadas e elaboradas objetivamente a partir das variáveis a serem pesquisadas, em que todos os entrevistados têm a mesma opção de pergunta e resposta. O questionário misto se caracteriza por apresentar questões estruturadas e semi-estruturadas. As pesquisas em percepção ambiental que enfatizam a análise qualitativa dos dados tendem a utilizar o questionário semi-estruturado ou misto para realizar a coleta de dados (MACHADO, 1993, 1994, 1999; DEL RIO, 1999; FREITAS, 2009; FREITAS et al., 2009), enquanto nas pesquisas cuja análise dos dados tende a ser preponderantemente quantitativa, os questionários estruturados e mistos são mais aplicados (ANDRETTA, 2008; FREITAS, 2009). As entrevistas orientadas ou não por roteiros, que seguem o nível de estruturação definidas pelo pesquisador (ALENCAR, 2004) representam um método muito eficaz para se coletarem dados em percepção ambiental (LUCHIARI, 1997). O mapa mental se apresenta como um interessante método para se coletarem dados espacializados de percepção ambiental, por meio de desenhos elaborados por uma população amostral. Esses dados refletem uma organização mental sobre a realidade percebida através de esquemas perceptivos e imagens mentais carregadas de expectativas específicas e individuais. Porém, com o objetivo de burlar a dificuldade de conseguir coletar desenhos de alguns grupos amostrais, existe a técnica de elaboração do mapa mental indireto, ou seja, ao invés de desenhos, os dados primários são obtidos através de um questionário; assim, por meio da escrita, captam-se as percepções e é o pesquisador quem transforma os dados em desenho, espacializando-os (DEL RIO, 1999). Um método peculiar para se coletar a percepção ambiental pela ótica do objeto de estudo é a abordagem fotográfica (FERRARA, 1999), no qual as pessoas a serem pesquisadas recebem do pesquisador máquinas fotográficas para registrar suas imagens e percepções do real. A partir de então, o pesquisador coleta um material que lhe permite analisar as imagens por meio da visão que os objetos de estudo apresentam da realidade. A observação participante ou não-participante (ALENCAR, 2004) é um método em que o pesquisador acompanha seu objeto de estudo, realizando as observações, guiado por seus objetivos de pesquisa. A participante é aquela em que o pesquisador se junta ao grupo que está sendo estudado como se fosse membro dele, enquanto a não-participante (SOUSA, 2003) é aquela em que o pesquisador permanece onde os indivíduos estão, mas não se faz passar por nenhum deles. A observação pode ser revelada ou não revelada, porém, o pesquisador precisa respeitar os preceitos éticos para a sua realização. Em percepção ambiental esse método de coleta de dados é utilizado, principalmente em pesquisas de análise preponderantemente qualitativas. A abordagem iconográfica se caracteriza por apresentar ao público alvo imagens e solicitar sua percepção e, por conseguinte, sua interpretação. Reigota (2007) utilizou esse método conjugado com o diálogo, com o objetivo de identificação e desconstrução de representações sociais. Para se realizar a coleta das percepções ambientais, esse método pode ser associado ao questionário semi-estruturado ou misto, entrevista ou observação. Durante a etapa da análise e interpretação dos dados, a interpretação das imagens deve ser respaldada por um sólido referencial teórico ambiental, capaz de evitar induções e garantir cientificidade aos resultados. Quanto aos principais métodos de análise de dados, a estatística descritiva e o método da análise de conteúdo destacam-se em pesquisas de percepção ambiental (FREITAS, 2009; FREITAS et al., 2009). Enquanto a Estatística Descritiva se apresenta como um conjunto de métodos que auxilia na organização, sumarização e apresentação dos dados para a análise teórica, a análise de conteúdo é útil na categorização de textos. Pode-se entender Estatística Descritiva como o conjunto de dispositivosgráficos e contas que se fazem com os dados amostrais para transformar números em informação, ou seja, organizá-los e resumi-los em poucos números que contenham a parte mais importante da informação contida na amostra inteira (FERREIRA & OLIVEIRA, 2008). Por exemplo, gráficos de colunas, de barras, setogramas (gráficos de pizza) e histogramas (Figura 1) são muito comuns quando se deseja apresentar, resumidamente, o que a amostra quer “dizer”.
Figura 1 Dispositivos gráficos comuns à Estatística Descritiva. (a) Gráfico de colunas; (b) gráfico de barras; (c) setograma; e (d) histograma.
Entretanto, independente do tipo de questionário adotado, sempre é possível e freqüente a estimação de proporções (FERREIRA, 2005), por exemplo, a proporção de pessoas que definem ambiente como sendo natureza antropizada e a proporção que enxerga ambiente como natureza natural. A estimação de proporções pode ser feita de forma pontual , em que é o estimador pontual da proporção; é o número de sucessos que se observa em elementos amostrais; Ou intervalar, por exemplo, pela aproximação Normal dada pela expressão: , em que o intervalo com de confiança para a proporção () é dado pelo estimador pontual mais ou menos um erro, que é função de um quantil da distribuição Normal padrão (), do tamanho amostral () e do própria estimador pontual ()^. Em se tratando de percepção ambiental, a maior parte dos dados coletados por meio dos métodos expostos é apresentada na forma de textos. A análise de textos em pesquisa científica tem sido conduzida, principalmente, mediante o método denominado “análise de conteúdo”. Esse método de análise dos dados busca classificar palavras, frases, ou mesmo parágrafos em categorias de conteúdo (CAPELLE et al., 2003). A partir dessa metodologia, primeiramente, a unidade de análise é definida. Na seqüência, a partir da leitura exaustiva das unidades de análise, são elaboradas as categorias, que organizam os dados para a interpretação. Essa análise pode seguir uma tendência qualitativa ou quantitativa. Segundo Capelle et al. (2003), os enfoques qualitativos voltam sua atenção para a presença ou a ausência de uma característica, ou um conjunto de características nas mensagens analisadas, na busca de ultrapassar o alcance meramente descritivo das técnicas quantitativas para atingir interpretações mais profundas com base na inferência. As análises quantitativas preocupam-se com a frequência com que surgem determinados elementos nas comunicações, preocupando-se mais com o desenvolvimento de novas formas de procedimento para mensurar as significações identificadas (BARDIN, 1979; MINAYO, 2000). Essa abordagem da análise de conteúdo utiliza desde técnicas simples até outras mais complexas, que se apoiam em métodos estatísticos, como, por exemplo, a análise fatorial, a regressão múltipla, a análise discriminante, entre outras. Existem softwares no mercado que auxiliam a análise textual, seja identificando palavras-chave e sua freqüência no texto, seja identificando o contexto em que cada palavra aparece. No entanto, esses programas não substituem o trabalho intelectual do pesquisador de conceituação, codificação e interpretação do texto. Os procedimentos da análise de conteúdo criam indicadores quantitativos. Cabe ao pesquisador interpretar e explicar os resultados a partir de seu referencial teórico. Cabe ao educador pesquisador optar pela escolha dos métodos que melhor colete e organize os dados para sua análise e interpretação. Para conferir cientificidade à pesquisa em percepção ambiental, é imprescindível que a etapa da definição dos objetivos da pesquisa e, por conseguinte, da definição dos métodos de coleta de dados e a etapa da análise e interpretação dos dados seja fundamentada por teorias ambientais. Os resultados da aplicação de um material didático referente à percepção ambiental, permitem ao educador a visibilidade sobre os aspectos referentes à questão ambiental que deverão ser priorizados durante o desenvolvimento das temáticas ambientais. Portanto, os materiais didáticos propostos neste trabalho se portam como elementos fundamentais para o processo de planejamento de temáticas de educação ambiental.
3.1. Propostas de materiais didáticos em percepção ambiental O educador, ciente de seu papel pedagógico, deve gozar de autonomia para realizar os recortes necessários, a fim de adequar os materiais didáticos a seus objetivos e especificidade de público alvo, e também para adequar os mesmos para a aplicação em diferentes momentos da aula. São propostas três atividades que apresentam objetivo, sugestões de métodos para coleta, análise de dados e de fechamento para a atividade, além de um exemplo de aplicação da mesma. Optou-se por padronizar as três atividades como sendo do tipo sondagem de conhecimentos prévios. Porém, o educador pode adaptar sua aplicação para outros momentos da aula.
3.1.1. Proposta de atividade referente à definição de ambiente Sugestão do tipo de atividade: sondagem de conhecimentos prévios. Objetivo: identificar a definição de ambiente que o indivíduo apresenta e sua respectiva representação social. Sugestão de métodos para coleta dos dados: questionário semi-estruturado; questionário misto; abordagem fotográfica; abordagem iconográfica; entrevista. Sugestão de métodos para análise dos dados: análise de conteúdo, interpretação de imagens e estatística descritiva. Sugestão de fechamento teórico da atividade: a partir dos resultados, o educador poderá apresentar os resultados ao público alvo e promover uma discussão para avaliar, à luz do referencial teórico, as definições para ambiente identificadas e suas respectivas representações sociais. Exemplo de aplicação: Freitas (2009) realizou um estudo de caso em que aplicou um questionário misto contendo a seguinte questão semi-estruturada: “Pensando em meio ambiente, descreva qual a primeira imagem que vem à sua mente”. Como resultado, obteve 33 questionários que, submetidos à análise de conteúdo, geraram as seguintes categorias: “natureza natural” (52% dos respondentes); “natureza antropizada” (33% dos respondentes) e “não definiu” (15% dos respondentes).
3.1.2. Proposta de atividade referente à teoria da complexidade ambiental Sugestão do tipo de atividade: sondagem de conhecimentos prévios. Objetivo: identificar a concepção de ambiente a partir da teoria da complexidade ambiental. Sugestão de métodos para coleta dos dados: questionário semi-estruturado; questionário misto; abordagem iconográfica; entrevista. Sugestão de métodos para análise dos dados: análise de conteúdo, interpretação de imagens e estatística descritiva. Sugestão de fechamento teórico da atividade: a partir dos resultados, o educador poderá expor os resultados ao público alvo e promover uma discussão para apresentar a teoria da complexidade ambiental e as categorias utilizadas para análise, que podem ser: “concepção reducionista” e “concepção complexa”. O educador poderá incentivar a formação da concepção de complexidade ambiental, elucidando a importância da referida concepção para a conservação dos recursos do planeta. Exemplo de aplicação: Freitas (2009) realizou um estudo de caso em que aplicou um questionário semi-estruturado contendo a seguinte questão: “Para você, o que é meio ambiente?”. Como resultado, obteve 31 questionários que, submetidos à análise de conteúdo, geraram as seguintes categorias: “Interação” (29% dos respondentes); “Meio” (23% dos respondentes); “Lugar” (16% dos respondentes); “Sistema” (13% dos respondentes); “Entorno” (10% dos respondentes); “Espaço” (3% dos respondentes); “Vida” (3% dos respondentes) e “Não respondeu” (3% dos respondentes). A partir do aprofundamento da análise teórica, constatou-se que o termo “sistema” é a melhor definição para se conceber o conceito de ambiente dentro da concepção de complexidade ambiental.
3.1.3. Proposta de atividade referente à identificação da natureza das ações ambientais Sugestão do tipo de atividade: sondagem de conhecimentos prévios. Objetivo: identificar se o indivíduo já desempenhou alguma ação ambiental e identificar sua respectiva natureza. Sugestão de métodos para coleta dos dados: questionário semi-estruturado; questionário misto; entrevista. Sugestão de métodos para análise dos dados: análise de conteúdo e estatística descritiva. Sugestão de fechamento teórico da atividade: categorizar em qual tipo de ação as declarações se enquadram. Analisar a natureza das ações declaradas desenvolvidas e explicitar quais as expectativas para ações que reforcem a conservação ambiental. Exemplo de aplicação: Freitas (2009) realizou um survey em que aplicou um questionário misto contendo a seguinte questão semi-estruturada: “Você praticou alguma ação a favor da conservação nos dois anos passados? Qual (Quais)?”. Como resultado obteve 548 questionários que, submetidos à análise de conteúdo, geraram as seguintes categorias de ações: “Técnicas de conservação dos recursos naturais” (4% dos respondentes); “Participação em projetos ambientais” (16% dos respondentes); “Elaboração de projetos ambientais” (13% dos respondentes); “Ensino de educação ambiental” (19% dos respondentes); “Fiscalização ambiental” (10% dos respondentes); “Conscientização ambiental” (4% dos respondentes); “Práticas conservacionistas pessoais” (12% dos respondentes); “Separação de lixo para reciclagem” (9% dos respondentes) e “Não praticou nenhuma ação” (11% dos respondentes). Dentro da classe sensibilização, foram agrupadas as categorias “elaboração de projetos ambientais” e “fiscalização ambiental”, que totalizaram 18% das ações declaradas; a classe compreensão compreende a categoria “ensino de educação ambiental”, que totalizou 22% das ações declaradas; na classe responsabilidade, foram agrupadas as categorias “técnicas de conservação dos recursos naturais”, “participação em projetos ambientais”, “práticas conservacionistas pessoais” e “separação do lixo para reciclagem”, que totalizaram 46% das ações declaradas; a classe competência e cidadania corresponde à categoria “conscientização ambiental”, que totalizou 14% das ações declaradas. A partir dessa classificação, pode-se afirmar que a maior parte das ações declaradas como desenvolvidas foi referente à classe responsabilidade (46%). Isso indica que esses profissionais declararam desenvolver ações que resultaram em consequências práticas para a melhoria ambiental. Assim, suas ações tendem a servir como exemplo para contribuir com a conservação ambiental. Porém, concluiu-se que a classe da competência e cidadania, que contou com apenas 14% das ações desenvolvidas pelos respondentes, é a classe que vincula o traço mais forte de conservacionismo ambiental, pois é através da ação de conscientização ambiental que a sociedade tende a se transformar em sustentável.
4. Conclusões Este estudo atingiu seu objetivo ao se configurar como um estímulo à conscientização e conservação ambiental, pois propôs três materiais didáticos em percepção ambiental, que conjugaram as teorias da representação social, da complexidade ambiental e a categorização das ações ambientais. Por realizar uma revisão literária sobre métodos de coleta e análise de dados em percepção ambiental, os materiais propostos apresentam a flexibilidade necessária para que educadores possam realizar os recortes didáticos necessários para adequá-los à sua realidade.
Referências Bibliográficas ABREU, D. G.; CAMPOS, M. L. A. M.; AGUILAR, M. B. R. “Educação ambiental nas escolas da região de Ribeirão Preto (SP): concepções orientadoras da prática docente e reflexões sobre a formação inicial de professores de química”, Química Nova, São Paulo, n. 3, v. 31, 2008, p. 688-693. ALENCAR, E. Metodologia científica e elaboração de monografia. Lavras: UFLA/FAEPE, 2004. ANDRETTA, V. Percepção ambiental dos alunos do curso de especialização em ecoturismo da Universidade Federal de Lavras. Lavras: Universidade Federal de Lavras. (Dissertação), 2008. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. BUARQUE, C. “O pensamento em um mundo Terceiro Mundo”. In: BURSZTYN. M. (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1994. CAPELLE, M. C. A.; MELO, M. C. O. L.; GONÇALVES, C. A. “Análise de conteúdo e análise de discurso nas ciências sociais”, Organizações rurais e agroindustriais, Lavras, n. 1, v. 5, jan./jun./2003, p. 69-85. DEL RIO, V. “Cidade da mente, cidade real: percepção ambiental e revitalização na área portuária do RJ”. In: RIO, V. del; OLIVEIRA, L. (Org.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Nobel, 1999. FERRARA, L. D. “AS CIDADES ILEGÍVEIS: PERCEPÇÃO AMBIENTAL E CIDADANIA”. In: DEL RIO, V.; OLIVEIRA, L. (Org.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Nobel, 1999.
FERREIRA, E. B.; OLIVEIRA, M. S. Introdução à Estatística Básica com R. Lavras: Editora UFLA/FAEPE, 2008.
FERREIRA, D. F. Estatística Básica. Lavras: Editora UFLA, 2005. FREITAS, M. R.; GARCIA, L.B.R. “Educação cidadã: propostas de materiais didáticos que unem os conceitos de tempo e espaço em sala de aula”, Revista Geografia, Rio Claro, n.2, v.28, 2003, p. 261-277. FREITAS, M. R. Conservação e percepção ambiental por meio da triangulação de métodos de pesquisa. Lavras: Universidade Federal de Lavras. (Dissertação), 2009. FREITAS, M. R.; MACEDO, R. L. G.; FERREIRA, E. B. “Percepção e complexidade ambiental: um somatório teórico para se atingir a conscientização ambiental”, Revista Educação Ambiental em Ação, n. 27, ano VIII, Março/Maio/2009. LEFF, E. “Pensar a complexidade ambiental”. In: LEFF, E. (Org.). A complexidade ambiental. São Paulo: Cortez, 2003. LUCHIARI, M. T. D. P. “Turismo, natureza e cultura caiçara, um novo colonialismo?” In: SERRANO, C. M. T.; BRUHNS, H. T. Viagens à natureza (turismo, cultura e ambiente). Campinas: Papirus, 1997. MACHADO, L. M. C. P. “A Praça da Liberdade na percepção do usuário”, Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, n. 1,v. 5, jun./1993, p. 18-33. MACHADO, L. M. C. P. “Percepção do meio ambiente por estudantes universitários”, Caderno de Geografia, Belo Horizonte, n. 6, v. 5, jan./jun./1994, p. 27-40. MACHADO, L. M. C. P. “Paisagem valorizada: a serra do mar como espaço e como lugar”. In: RIO, V. del. ; OLIVEIRA, L. (Org.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Nobel, 1999. MINAYO, M. C. S. O Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2000. REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 2007. SATO, M. Educação para o ambiente amazônico. 1997. 245 p. Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. SATO, M. Educação ambiental. São Carlos: Rima, 2002. SMYTH, J. C. “Environment and education: a view of a changing scene”, Environmental Education Research, Abington, n. 1, v. 1, Feb./1995, p. 3-20.
Agradecimentos À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida (à M.R.F.).
|