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Entrevista
com LUCIANO RODRIGUES, para a 32ª Edição da Educação Ambiental em Ação
(www.revistaea. org)
Apresentação:
O entrevistado desta edição é Luciano Rodrigues, professor formado em
Biologia, que há sete anos desenvolve atividades de Educação Ambiental com
crianças e jovens através de fazendas escolas do município de Viamão/RS.
Luciano é autor do programa Turminha do Verde, desenvolvido há dois anos em
escolas de educação infantil do município. É possível conhecer um pouco
mais do seu trabalho pelo blog http://turminhadove Revista
Educação Ambiental em Ação (REAEA) - O que despertou seu interesse pela
Educação Ambiental (EA)? Conte-nos um pouco de como começou sua caminhada
na EA. Luciano
(L) – Bem,
iniciou-se no ano de 2004, quando ainda estava na graduação de biologia. Ano
em que eu iniciei como monitor em uma fazenda escola do município de Viamão
– RS, onde recebia turmas de alunos de escolas públicas e privadas, da
educação infantil até do nível superior. O objetivo
principal era possibilitar que os alunos pudessem visualizar na prática o
conteúdo passado pelo professor em sala de aula, e dessa forma, possibilitar
que o mesmo realizasse uma associação entre a teoria de sala de aula com a
pratica que estava observando, despertando a curiosidade e contribuindo para a
construção do conhecimento. Todo este trabalho era realizado na prática,
através de trilhas ecológicas, onde eram trabalhados os exemplos práticos
dos conteúdos vistos pelos alunos em sala de aula. Como o objetivo não era
ficar limitado ao conteúdo curricular e o local era propício, associava-se
um trabalho de Educação Ambiental enriquecida de explicações e visualizações
praticas. Além das trilhas ecológicas a fazenda possui um espaço físico
destinado ao trabalho com répteis, onde se encontra uma pequena coleção didática,
sendo este ambiente destinado a aulas sobre ecologia deste grupo de animais. A
fazenda também é considerada como um criadouro conservacionista do Ibama,
possuindo assim, uma grande quantidade de animais representantes da fauna
brasileira, o que nos possibilita a realização de um trabalho sobre a
ecologia destes animais, estudando desde sua alimentação, habitat, situação
de ameaça, comportamento, contrabando de animais silvestres, entre outros. Ao
longo desses anos, trabalhando nesse local, pude observar o quanto as crianças
da educação infantil ficam encantadas com tudo o que observam, e ao mesmo
tempo, pude verificar o quanto elas são “carentes” de informações
relacionadas a questões ambientais. Quando elas se deparavam com os animais
era visível o olhar de “novo”, de surpresa e ao mesmo tempo era evidente
a curiosidade que eles transpareciam. Toda essa carência e, principalmente, a
curiosidade que despertavam me serviram de incentivos que me levaram a cogitar
e, mais tarde, a por em prática a Educação Ambiental nas escolas de educação
infantil.
L
– Muda
muito... Principalmente a questão da linguagem a ser usada. Você tem que
levar em conta que crianças nesta faixa etária, de quatro a seis anos,
não conseguem compreender muito bem o abstrato. Portanto, se você
trabalhar somente desta forma, em poucos segundos perderá toda a atenção de
seus alunos. Há pesquisas que apontam que para cada ano de vida ganho por uma
pessoa, aumenta em um minuto a sua capacidade de concentração como ouvinte
em um determinado assunto. Seguindo por esse princípio, podemos então dizer
que o aluno que tem quatro anos de idade ficará concentrado no professor por
aproximadamente quatro minutos, após isso, a tendência é ele cansar e começar
a se dispersar. Na prática, isso parece ser verdade. Em função disso, as
aulas com crianças devem ter muita ludicidade e devem ser práticas. O
professor tem que trazer os seus alunos para a sua aula, fazendo-lhes
questionamentos, despertando suas curiosidades, escutando seus depoimentos e
realizando suas explicações de forma a contribuir para a construção de uma
consciência ecológica. Já o trabalho com jovens pode ser usado uma
linguagem mais aberta, afinal eles possuem maior compreensão
do abstrato. Mas não deve-se esquecer do lúdico. Apesar de eles serem
maiores, é importante a ludicidade de acordo com as faixas etárias, isso fará
com que seu trabalho não se torne monótono e faça com que toda a sua
programação vá pelo “ralo”.
L
– A
curiosidade que elas despertam pelas coisas é algo fascinante. Assim como o
quanto elas incorporam os assuntos trabalhados, de forma que se tornam
fiscalizadoras no seu ambiente de convívio, sendo questionadores e realizando
cobranças aos pais e familiares. Com muita frequência recebo relatos de
pais, onde os filhos os repreenderam dizendo que aquilo que eles estão
fazendo não está certo, e que lá na escola ele aprendeu que tem que ser de
tal forma. Isso mostra que os objetivos estão sendo alcançados e que muitos
alunos estão, desde então, construindo uma consciência ecológica, o que me
deixa muito feliz e realizado. REAEA
- Das atividades que você desenvolve qual é a que desperta maior curiosidade
nas crianças? L
– As aulas com
animais! Geralmente levo animais em meio líquido, onde o objetivo é
trabalhar a morfologia, mostrando-lhes as partes do corpo, o comportamento, o
habitat, a ameaça que ele vem sofrendo, como podemos ajudar a preservar, etc.
Sempre levo animais que apresentam, de uma forma geral, uma certa rejeição
pelas pessoas, e o objetivo é desmistificar essa ideia, de
forma mostrar-lhes a importância daquele animal para nós e para o meio
ambiente.
L
– Montar as
atividades! Você tem que ter todo um cuidado para que sua atividade chame
atenção, seja lúdica, seja prática, não seja difícil ou cansativa para não
desestimular os alunos. Se isso acontecer você terá que ajudar cada um dos
alunos e enquanto você faz isso o restante da turma estará completamente
disperso, o que dificultará o trabalho. REAEA
- Quando você planeja suas atividades de EA, onde busca inspiração e subsídios
para suas práticas?
REAEA
- De uma forma geral, por sua experiência em várias escolas ao longo destes
anos, você acha que os professores trabalham a EA de forma interdisciplinar? L
- Se
considerarmos a totalidade de professores, podemos, infelizmente, dizer que
poucos trabalham de forma interdisciplinar. Em função disso, de uma forma
geral, a EA acaba muitas vezes sendo responsabilidade de professores de ciências
ou de geografia. Como muitas escolas são conteudistas, voltadas extremamente
ao currículo, a EA acaba sendo enfatizada somente em datas comemorativas ao
longo do ano. REAEA
- Qual é, para você, o grande desafio da EA? L
– Chegar a
todas as escolas públicas e poder realmente ser trabalhada de uma forma
interdisciplinar por todos os professores, em todos os níveis.
L
– Realizado!!! REAEA
- Por falar em resultados, você acha que já estão ocorrendo mudanças
significativas na sociedade, a partir de ações educativas de EA? L
– Claro. É
muito importante que nós continuemos essa caminhada, assim como outros
colegas venham fazer parte dela. REAEA
- Fale-nos um pouco sobre seus projetos futuros, e deixe uma frase, ou um
pensamento, para os leitores e leitoras da nossa revista... L
– Bem, o
objetivo é atingir mais escolas de educação infantil com o programa “Turminha
do Verde”, de forma a contribuir para que um número maior de alunos
desenvolva uma consciência ecológica auxiliar na construção de um futuro
cidadão com responsabilidades ambientais. “Peço a todos os colegas de EA
que sempre ajudem-se uns aos outros nessa árdua, mas muito gratificante
caminhada da EA.” Frente a isso gostaria de colocar à disposição dos
colegas o meu e-mail lucianobiolog@ REAEA
– Luciano, nós agradecemos pela sua participação nesta edição da
revista e desejamos cada vez mais sucesso em suas práticas, que são exemplo
de EA e certamente servirão de inspiração para muitos professores,
principalmente dos que trabalham com crianças pequenas. Muito obrigada! |