Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Relatos de Experiências
UMA ABORDAGEM DIFERENCIADA DA ECOLOGIA NO ENSINO MÉDIO
A DIFFERENTIATED APPROACH OF ECOLOGY IN HIGH SCHOOL
Êmila Silveira de Oliveira Licenciada em Ciências Biológicas emila-silveira@hotmail.com (55) 9133-6847
RESUMO
Este trabalho relata estratégias de ensino desenvolvidas durante uma experiência em um estágio curricular de regência de classe no ensino médio em uma escola rural do interior do Rio Grande do Sul, no período de outubro a dezembro de 2014. Em meio às dificuldades encontradas pelos professores na atualidade, há a necessidade de variar metodologias e utilizar do lúdico em sala de aula. Jogos, brincadeiras e situações diferenciadas de ensino são excelentes aliados do professor durante o processo de construção do conhecimento e considerados grandes contribuintes na efetivação da aprendizagem. Neste artigo são apresentadas sugestões de atividades diferenciadas para se trabalhar os conteúdos relacionados à Ecologia, de uma forma não sistemática e mais “atrativa”, tornando as de Biologia mais interessantes para os alunos e também para os professores.
Palavras-chave:Ensino. Biologia. Aprendizagem.
ABSTRACT
This paper describes teaching strategies developed during an experiment in a traineeship class regency in high school in a rural school in the interior of Rio Grande do Sul, in the period from October to December 2014. Amid the difficulties faced by teachers today, there is a need to vary methods and use of playfulness in the classroom. Games, games and teaching different situations are excellent allies teacher during the process of knowledge construction and are considered major contributors in the effectiveness of learning. This article makes suggestions for different activities to work the ecology-related content in a non-systematic and more "attractive" way that makes the most interesting biology classes for students and for teachers.
Key-words: Education. Biology.Learning.
Dentre as disciplinas oferecidas no currículo das escolas brasileiras a Biologia em si possui uma ampla variedade de conteúdos e saberes que podem facilmente ser relacionados ao cotidiano dos alunos, proporcionando através deste e de outros fatores uma porcentagem relativa de interesse dos estudantes pela disciplina. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM), é necessário para o estudante,
Dominar conhecimentos biológicos para compreender os debates contemporâneos e deles participar, no entanto, constitui apenas uma das finalidades do estudo dessa ciência no âmbito escolar. Há outras. As ciências biológicas reúnem algumas das respostas às indagações que vêm sendo formuladas pelo ser humano, ao longo de sua história, para compreender a origem, a reprodução, a evolução da vida e da vida humana em toda sua diversidade de organização e interação (BRASIL, 2007 p. 30).
As ciências como um todo possuem a capacidade de instigar o homem a estabelecer respostas aos vários fenômenos existentes na natureza. A Ecologia mais precisamente é um dos conteúdos da Biologia que desperta o interesse do homem desde a antiguidade, sendo formalmente descrita e caracterizada apenas em 1969, pelo biólogo Ernst Hackel. Não seria diferente que esse termo continuasse a despertar o interesse e a curiosidade humana nos dias atuais, principalmente entre os estudantes. Na visão de Anatasiou (2012), no que se refere ao processo de ensinagem, para poder despertar o interesse e instigar os alunos à pesquisa e o conhecimento, é necessário que seja utilizada diferentes estratégias de ensino que garantam um aprendizado significativo. Recursos diferenciados de ensino facilitam a aprendizagem, tornando as aulas mais interessantes, melhoram o rendimento dos alunos e contribuem com a sua permanência na escola. Fialho (2007) afirma que
A exploração do aspecto lúdico, pode se tornar uma técnica facilitadora na elaboração de conceitos, no reforço de conteúdos, na sociabilidade entre os alunos, na criatividade e no espírito de competição e cooperação, tornando esse processo transparente, ao ponto que o domínio sobre os objetivos propostos na obra seja assegurado (FIALHO, 2007, p. 16).
Ao utilizarmos recursos diferenciados de ensino, estimulados a curiosidade pelo tema que está sendo trabalhado, facilitando a sua compreensão. Um aluno que se interessa pelo o que está estudando, certamente aprenderá com mais facilidade. Além de socializar com os demais alunos e exercitar o trabalho em equipe, respeito e solidariedade. Segundo o autor Cool et al. (2009),
Quando aprendemos, nos envolvemos globalmente na aprendizagem, e o processo e seu e seu resultado também repercutem em nós de maneira global. Por isso o que se forja nas situações de ensino, como vivemos, é algo mais que a possibilidade de construir significados sobre conteúdos concretos, mesmo quando estes são considerados de forma ampla e diversificada (2009, pág. 31).
Uma das maiores dificuldades encontradas pelos professores em sala de aula, nos dias de hoje, é a dificuldade em chamar a atenção dos seus alunos e desenvolver estratégias de ensino que facilitem e estimulem o seu aprendizado. Em meio à tecnologia disponibilizada na atualidade, o professor necessita adequar suas metodologias e didáticas para atender ao objetivo da escola, o de ensinar e o de garantir o aprendizado. No processo educacional atual, há a necessidade de variar metodologias e procurar evitar o processo de ensino e aprendizagem memorizado e sem real significado, que há anos, perduram na educação brasileira. Para autores como Demo (2009, pág. 211), acontece que a didática usual “ensino/aprendizagem” volta-se para a absorção de conhecimento, permanecendo o educando como objeto receptivo e domesticado. Partindo desse pressuposto, foi desenvolvido estratégias de ensino no sentido de garantir os objetivos de “aprendizado ecológico” dos educandos. Portanto, este trabalho teve como objetivo programar e desenvolver metodologias de ensino inovadoras para trabalhar os conteúdos de Ecologia no Ensino Médio. Estas metodologias basearam-se em minha experiência no estágio curricular de regência de classe, na turma do segundo ano de uma escola municipal rural, da cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul, ocorrida no período de outubro a dezembro de 2014.
DESENVOLVIMENTO
Neste capítulo, é apresentado os conteúdos e metodologias utilizadas durante a prática pedagógica de ensino, em tópicos, possibilitando uma visão de conjunto geral das ações desenvolvidas. Destacam-se a identificação da estratégia, a descrição da dinâmica da atividade, as operações de pensamento predominante dos alunos e as avaliações do processo de ensino.
2.1 Ecologia: Conceitos Básicos
A abordagem geral dos conceitos de ecologia: biosfera; população biológica; comunidade biológica (biocenose); biótopo; hábitat; nicho ecológico e ecossistema ocorreu de forma que os alunos puderam compreender a interdependência de cada elemento na composição do todo. Além de reconhecer a teia de interação entre componentes bióticos (seres vivos) e componentes abióticos (clima e fatores químicos) nos ecossistemas, os alunos foram constantemente instigados a observar e discutir os conceitos e fatores observados.
2.1.1 Utilização de slides
Foram utilizados slides com várias imagens, vídeos e questionamentos a respeito dos conceitos básicos de ecologia (Figura 1). Por proporcionar a visualização do que esta sendo explicado pelo professor, através desse recurso audiovisual é possível facilitar a compreensão do conteúdo, por parte do aluno. Quando se visualiza o que está sendo aprendido, a apropriação do conhecimento se torna mais eficaz, sendo possível assim, aproximar a vivência do aluno ao conteúdo aprendido.
Figura 1: Slide aleatório de conceitos básicos para o estudo da ecologia (2014).
Fonte: Do autor.
2.1.2 Passeios
Para fixar os conceitos ecológicos que estavam sendo estudados os alunos foram convidados a dar uma volta ao redor da nossa escola e, em dupla, com o auxílio de binóculos, observar o ecossistema em que estavam inseridos (Figura 2). No decorrer do passeio os alunos foram questionados sobre quais são os fatores bióticos e abióticos presentes e atuando no ambiente observado. Neste mesmo momento solicitou-se que estabelecessem por meio da observação in loco a diferenciação de organismos, populações e comunidades. Os passeios dão um rumo diferente às aulas, tornam-nas mais interessantes e através delas pode-se construir novos aprendizados e situações que complementem a teoria estudada.
Figura 2: Atividade prática de reconhecimento de organismos à ecossistemas (2014).
Fonte: Do autor.
2.1.3 Atividade interativa
Para a verificação da compreensão da turma dos conceitos básicos utilizados na ecologia foram distribuídas fichas individuais que continham os conceitos e a sua descrição, separadamente e entregues de forma aleatória para os alunos (Figura 3). Um aluno por vez lia a descrição contida em sua ficha e colava-a no quadro. A turma deveria dizer que conceito era correto para aquela descrição e o aluno que estivesse com esse conceito deveria colá-lo no quadro ao lado da descrição até que todos os conceitos e descrições tivessem sido encontrados. Uma atividade diferenciada, por mais simples que seja, já acrescenta um algo a mais na aula. Assim, os alunos são instigados a se envolverem e contribuírem com a construção do conhecimento. A aula torna-se mais interativa e leve, contribuindo positivamente com o aprendizado.
Figura 3: Aluno relacionado conceitos de ecologia (2014).
Fonte: Do autor.
2.2 Níveis tróficos, Cadeia alimentar, Teia alimentar
Neste conteúdo da ecologia, os alunos necessitam estabelecer relações alimentares entre organismos de diferentes ecossistemas, tendo a noção da energia perdida a cada nível trófico e a importância de se preservar os seres vivos para o bom mantimento das cadeias alimentares. Para se trabalhar esses conteúdos da ecologia sugeriu-se que os alunos identificassem os níveis tróficos de um ecossistema e compreendessem as relações entre os organismos representados pelas teias e cadeias alimentares. Na efetivação da aprendizagem foi solicitado a construção de cadeias e teias alimentares, diferenciando ecossistemas aquáticos e terrestres e foi realizada também, a observação dos pequenos ecossistemas existentes no ambiente escolar.
2.2.1 Vídeos
Foram utilizados pequenos vídeos e montagens para exemplificar o que acontece nas diversas cadeias alimentares (Figura 4). Cada vídeo mostrava de forma detalhada o fluxo de energia entre os organismos e o problema da acumulação de metais pesados ao longo das cadeias. Vídeos, quando utilizados de forma alinhada ao conteúdo, são recursos que agem como facilitadores da aprendizagem e possibilitam uma maior visualização do conteúdo que está sendo trabalhado, auxiliando no seu entendimento.
Figura 4: Vídeo sobre cadeia alimentar.
Fonte:
2.2.2 Construção de cadeias e teias alimentares
Para essa atividade a turma foi dividida em três grupos os quais receberam recortes de diferentes animais, plantas, fungos e bactérias. Com auxílio de todos os componentes do grupo deveriam montar corretamente a sua tarefa. Um grupo realizou a construção de uma cadeia alimentar aquática, outro grupo de uma cadeia alimentar terrestre e o terceiro grupo, de uma teia alimentar (Figura 5). Após a montagem, cada grupo apresentou para o restante da turma o seu trabalho, explicando o porquê de cada ser vivo estar em determinada posição e, discutindo com o restante da turma se estava correta a sua organização.
Figura 5: Alunos construindo cadeias e teias alimentares (2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A exploração ao aspecto lúdico em sala de aula mostrou-se eficiente e gratificante, verificada pela participação ativa e motivacional dos alunos. Como a aprendizagem exige a compreensão e apreensão do conteúdo pelo estudante, durante o estágio foi procurado explorar o lúdico como estratégia essencial. Complementando as dinâmicas das aulas, foi disponibilizado uma rede de recursos audiovisuais compreendidos por jogos, brincadeiras, apresentações em slides e vídeos que representassem de forma efetiva situações e exemplos do conteúdo que estávamos estudando. Jogos e recursos didáticos são necessários para auxiliarem nas situações de ensino e aprendizagem, como instrumentos de apoio ao professor e facilitador na abordagem e apreensão dos conteúdos pelos alunos. Por mais que os recursos lúdicos sejam mais “trabalhosos” e demandem um maior tempo de dedicação para a sua produção, eles tornam as aulas mais atrativas e certamente oferecem uma maior possibilidade de apropriação do conhecimento e consequentemente, uma efetivação do aprendizado por parte dos alunos. Segundo Anastasiou (2012) as aprendizagens não se dão todas da mesma forma, dependem tanto do sujeito que apreende quanto do objeto de apreensão. Neste contexto foi necessário uma pequena adaptação a materiais didáticos na utilização da metodologia utilizada o que resultou em um ambiente de aprendizado mais prazeroso e interessante, tanto para os alunos quanto para o professor.
REFERÊNCIAS
ANASTASIOU, L. das G.C. Processos de Ensinagem na Universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 10 ed. Joinvile, SC: UNIVELLE, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. PCN – Ensino Médio. Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2015.
COOL, Cézar; et al. Construtivismo em sala de aula. São Paulo-SP; Editora Ática, 6ª ed. 2009.
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petrópolis-RJ; Editora Vozes, 15ª ed. 2009.
FIALHO, Neusa Nogueira. Jogos no Ensino de Química e Biologia. Curitiba: IBPEX, 2007.
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