Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
11/09/2016 (Nº 57) TRILHAS INTERPRETATIVAS COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA EXPERIÊNCIA NO HORTO FLORESTAL DO OLHO D’ ÁGUA DA BICA, CUITÉ, PB
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 TRILHAS INTERPRETATIVAS COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA EXPERIÊNCIA NO HORTO FLORESTAL DO OLHO D’ ÁGUA DA BICA, CUITÉ, PB

 

João Nogueira Linhares Filho> Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Campina Grande- Campus CES> email joaobiologia2013@gmail.com> Endereço Rua Bevenuto Gonçalves 156, Catolé do Rocha-Pb CEP 58884-000

Caroline ZabendzalaLinheira> Professora Orientadora

Resumo

Este trabalho trata de analisar a trilha interpretativa como uma ferramenta didático-pedagógica para aproximação e inserção de conceitos de recuperação e conservação dos ambientes naturais no domínio da Caatinga e de resgate e preservação das histórias de usos e costumes da região como desenvolvimento da educação ambiental interdisciplinar. A partir de trilhas interpretativas percorridas no Horto Florestal do Olho D’ Água da Bica, localizado no Curimataú Paraibano, município de Cuité-PB, realizamos um trabalho de pesquisa e extensão com alunos de ensino fundamental das escolas públicas da região. Este ambiente de natureza e histórica local proporcionou a construção de um espaço de aprendizagem ao ar livre, um laboratório vivo rico em experiências cognitivas interdisciplinares.  A pesquisa aqui apresentada deriva de um projeto de extensão e trabalho de conclusão de curso que analisou a experiência da trilha como uma ferramenta para a educação ambiental interdisciplinar. Este estudo relata a percepção e o envolvimento das crianças e adolescentes e suas possíveis aprendizagens. O trabalho discute os limites e possibilidades para a adoção das trilhas como ferramentas didáticas para o ensino de ciências e a educação ambiental.

 

 

Abstract

 

This work is to analyze the interpretive trail as a didactic and pedagogic tool for approximation and integration concepts of recovery and conservation of natural environments in the field of Caatinga and rescue and preserve the stories of habits and customs of the region as development of interdisciplinary environmental education . From interpretive trails covered in the Eye of the Forest Garden Of Water Bica, located in Curimataú Paraiba, municipality of Cuité-PB, we conducted a research work and extension with primary school students of public schools in the region. This historical nature and local environment provided the construction of an outdoor learning space, a rich living laboratory for interdisciplinary cognitive experiences. The research presented here is derived from an extension project and completion of course work that analyzed the track experience as a tool for interdisciplinary environmental education. This study reports the perception and the involvement of children and adolescents and their possible learning. The paper discusses the limits and possibilities for the adoption of the tracks as teaching tools for science education and environmental education.

 

Trilhas: Definição de Limites e Possibilidades para EA

As Trilhas interpretativas são caminhos através de um espaço geográfico, histórico ou cultural, repletas de informações e objetos que se constituem ambientes muito apropriados para o desenvolvimento da interpretação ambiental, através de técnicas de estimulo a condução e as vivencias na natureza, pois se configura como um instrumento comunicacional que favorece conexões intelectuais e emocionais entre o individuo e a natureza (VASCONCELLOS, 2006).

As trilhas podem ser interpretadas por um guia treinado, que acompanha os visitantes na caminhada, levando-os a observar, sentir, experimentar, questionar, descobrir os fatos relacionados ao ambiente ou podem ser interpretadas pelos próprios visitantes através de placas e/ou folhetos explicativos, promovendo uma visão não somente da transmissão de conhecimentos, bem como propiciando atividades que revelam os significados e as características do ambiente por meio do uso dos elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos, sendo assim instrumento básico de programas de educação ao ar livre (ARAÚJO; FARIAS, 2003).

 Com potencialidades para contemplar atividades recreativas, esportivas, educativas e de interpretação do ambiente, possibilitando ao visitante conhecer e valorizar os recursos naturais e culturais existentes, além de mostrar a importância da presença de espécies endêmicas e nascentes, apresentando o valor inestimável que cada localidade possui  (OLIVEIRA et al, 2009).

Cornell (1997) acredita que o aprendizado através da interpretação ambiental não é fácil, mas que quando se dispõe a realizar essas atividades de maneira seqüencial e harmônica os resultados surgem de maneira satisfatória, onde os indivíduos envolvidos têm que demonstrar o entusiasmo, concentração e tranqüilidade através das experiências diretas com o ambiente e a inspiração fornecida pela natureza para construir assim uma experiência significativa com o ambiente natural.

Contudo, as atividades de visita através de trilhas a ambientes naturais sem o devido manejo e monitoramento ambiental podem acarretar impactos negativos aos ecossistemas presentes no meio em questão. Como forma de se amenizar os impactos negativos em unidades de conservação pelas atividades de interpretação ambiental, é fundamental estabelecer técnicas de interpretação que são essenciais para garantir ao mesmo tempo a recreação e a educação ambiental aos visitantes (OLIVEIRA et al, 2009).

Por tudo isso, as trilhas devem ser bem planejadas e monitoradas. Nesse sentido, pensar a interpretação ambiental na trilha requer considerarmos as limitações de tempo e interesse do público (WWF, 2003).

             Para um bom desenvolvimento de atividades ao ar livre o respeito ao individuo, o ensinamento e o compartilha mais, a receptividade, a busca pela concentração do individuo, a sensibilidade em primeiro sentir e depois falar e o clima alegre são regras básicas para um bom aproveitamento (CORNELL, 1996).

As atividades de vivência com a natureza tem o poder de brincar com os sentimentos dos sujeitos envolvidos na ação. Despertando afeto, tocando profundamente pelos aspectos belos, ricos em diversidade, alegres além de profundos e elevados sentimentos de aprender com a simplicidade natural, do dialogo e do compartilhamento de experiências e conhecimentos (CORNELL, 2008).

 

As trilhas interpretativas têm de representar condição básica para a conservação e perpetuação da diversidade biológica, conciliando a manutenção dos modos de vida das culturas tradicionais, com a proteção da natureza (GARCIA et al, 2011).

 Atividade essa que gira em torno da educação, conscientização e capacitação, compõe a base do turismo responsável e sustentável, trabalhando conjuntamente com ações educativas e de interpretação do meio, proporcionando o contato com a natureza e estimulando a conscientização ambiental no sentido de uma maior aceitação da conservação do meio ambiente (BELLINASSI et al, 2011).

 

Quando se pensa em trilhas interpretativas como uma valiosa ferramenta educativa, ainda se encontra muita resistência e subestimação, mas se trabalhada de forma multidisciplinar se transforma em uma grande aliada na nova forma de se pensar a educação e a conservação ambiental (FOLMANN et al, 2011).

Portanto hoje tem de se pensar uma educação ambiental e trilhas interpretativas como uma junção de conhecimentos, fugindo da fragmentação dos saberes, estimulando e ligando o ensino, as partes ao todo e o todo as partes, onde as interpretações ambientais além de seu papel de fornecer o lazer e a recreação, tem que objetivar-se na verdadeira proposta da interpretação ambiental, que é a apresentação do ambiente natural demonstrando suas fragilidades e potencialidades, como também a satisfação do visitante (JESUS et al, 2008).

Didática: necessidade de inovar as ferramentas de ensino para contextualizar

A prática de novas metodologias tem como um de seus objetivos e esperanças atingir os alunos sem os confrontos e interrogações essenciais. A ambição das novas didáticas é que os discentes tenham acesso a conteúdos verdadeiros e que ao mesmo tempo, os interessem e sejam sentidos como um auxilio no seu próprio esforço para viverem e para conhecerem (LIBÂNEO, 2006).

Admitindo-se que a prática de novas metodologias contribui para que cada indivíduo seja capaz de compreender e aprofundar as explicações atualizadas de processos e de conceitos, contribuindo para que o cidadão seja capaz de usar o que aprendeu ao tomar decisões de interesse individual e coletivo (KRASILCHIK, 2008).

Busca-se com as novas metodologias e a interdisciplinaridade na abordagem da educação ambiental e ensino de ciências através das trilhas interpretativas, uma ruptura entre os velhos métodos de se abordar tais assuntos, conduzindo a um ensino onde os alunos descubram as coincidências entre o que desejam, aprender, e o resultado que alcançaram. Tendo o professor o papel de introduzir abertamente o que de novo, uma experiência que reconhecida pelos discentes conduzam a uma melhor compreensão, com maior lucidez, as novas práticas, configurando um feed-back essencial para uma nova pedagogia no ensino (LIBÂNEO, 2006).

Portanto no ensino de ciências e educação ambiental, tem que se considerar a prática na sua concretude, como caminho para ressignificar as teorias e as práticas pedagógicas, no sentido de adquirir novas formulações teórico-práticas (PIMENTA,)

 Interdisciplinaridade: possibilidade de incluir outros conhecimentos e sensações no ensino.

A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre as especialidades e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo modelo de aprendizagem essencial para um bom trabalho de educação ambiental com o auxilio das trilhas interpretativas (FAZENDA, 2002).

Buscando por meio da mesma, atitudes a ser assumidas no sentido de alterar os hábitos estabelecidos na condução da construção do conhecimento, uma mudança que implica a adoção de estratégias interdisciplinares na construção de um conhecimento de base coletiva e contextualizada (FAZENDA, 2002).

Trabalhando os aspectos de utilidade, valor, aplicabilidade, obstáculos e possibilidades que a interdisciplinaridade possibilita para o ensino (FAZENDA, 2002)

 

A Conservação Ambiental na Caatinga

 O bioma caatinga uma das maiores e mais distintas regiões brasileiras, Compreendendo 70% da região nordeste e 11% do território nacional. Em geral nas representações midiáticas a caatinga é apresentada como um ambiente pobre, seco e pouco diverso. Esta visão reflete na baixa prioridade para conservação. No entanto, estudos recentes mostram que isto está longe de ser verdade (PEREIRA 2008).

Está dividida morfoclimaticamente em agreste e sertão, sendo esta primeira caracterizada por uma vegetação do tipo arbórea a arbórea densa, com solos do tipo LatossolosEutroficos, relevo ondulado e planáltico, com o regime pluviométrico entre 500 a 1000 mm de precipitação anual. O sertão se configura com uma vegetação arbustiva- arbórea espaçada, solos rasos e pedregosos, mais suscetíveis a erosão, relevo planáltico, com áreas de ondulações leves, regime pluviométrico variando entre 250 a 750 mm de precipitação anual, com logos períodos de estiagem (LEAL, 2003).

No território paraibano esta divisão pode ser subdividia ainda em sertão paraibano, com uma vegetação de características arbustivas espaçadas em grandes áreas e arbustiva arbórea nas localizadas nos pepiplanos, com um clima semiárido,com temperaturas variando entre 20 a 30°,  regime de chuvas irregulares e mal distribuídos, solos rasos e jovens. No agreste em áreas mais elevadas se encontram um tipo de vegetação mais arbórea densa, com solos mais profundos, temperaturas mais amenas oscilando entre 20 e 28°, melhor distribuição das chuvas.  A zona da mata marca o ecótono entre Caatinga e a Mata Atlântica, com vegetação de floresta tropical, solos profundos e eutroficos, temperaturas amenas e boa distribuição das chuvas durante todo o ano (LEAL, 2003,)  

É ainda a região natural brasileira menos protegida, com apenas 2% de sua área protegida e continua passando por um extenso processo de alteração e deterioração ambiental provocado pelo uso insustentável dos seus recursos naturais, o que está levando à rápida perda de espécies únicas, à eliminação de processos ecológicos chaves e à formação de extensos núcleos de desertificação em vários setores da região (LEAL, 2005).

Sendo todos esses problemas agravados pelo pouco conhecimento de sua população com respeito aos elementos faunísticos, florísticos, problemas ambientais e principalmente por serem constituídos por uma população, que vivem a mercê de um sistema capitalista que condiciona a exploração desenfreada dos recursos naturais, como forma de garantir a subsistência (EMBRAPA, 2007).

Diante deste cenário se julga necessário a introdução de uma educação ambiental que fundamenta este trabalho no que acreditamos permitir conhecer e compreender a realidade e os problemas ambientais de forma multidisciplinar, de natureza cognitiva, objetivando a tomada de decisões mais acertadas considerando as interações complexas em contraposição a fragmentação histórica dos saberes (MORIN, 2011).

Onde o processo educativo da Educação Ambiental vivencial, considera os indivíduos em sua totalidade, priorizando o aprendizado através do corpo, dos sentidos e da percepção mais sutil de si mesmo, dos outros, do mundo e da natureza, sendo este enfoque potencializado através da inserção da interpretação ambiental conjuntamente com a educação ambiental, proporcionando uma junção de ferramentas na busca por uma reforma no pensamento a respeito da conservação dos ambientes naturais locais e globais (MENDONÇA, 2007).

Portanto esse trabalho se objetiva analisar a trilha interpretativa como uma ferramenta didático-pedagógica para aproximação e inserção de conceitos de recuperação e conservação dos ambientes naturais no domínio da caatinga e de resgate e preservação das historias de usos e costumes da região.

 

 

O Olho Dágua da Bica e as trilhas na Serra de Cuité

O Olho D’ Água da Bica que se apresenta como uma área de aproximadamente 75 ha localizada no município de Cuité-PB (Figura 1), situado na Mesorregião do Agreste paraibano e na microrregião do Curimataú Ocidental. Encontra-se a 235,1km de João Pessoa; 117 km de Campina Grande e 2.273,1km de Brasília. O clima de Cuité é quente e seco, mas devido á sua altitude a temperatura é sempre amena oscilante entre 17° e 28°(TEIXEIRA, 2003).

 

Figura 1: Vista Parcial do Horto Florestal Olhos D’ Água da Bica

Olho D' Água da Bica tem como sua constituição florística característica caatinga. Uma área encravada num vale constituído de nascentes de água perene que dá ao lugar características distintas de outros lugares. Apresenta-se também como um ambiente de grande importância ambiental, cultura, histórica e social por representar uma área ainda pouco conhecida cientificamente e por dispor de elementos culturais históricos e sociais de suma importância na identificação da população local com sua história e seus costumes.

Apresentava uma beleza intensa com uma vegetação exuberante, contrastando com as ressequidas terras a poucos metros de distância. Com sua vegetação caracterizada como caatinga apresenta-se com espécies arbustivas e arbóreas, na fauna se apresenta com representantes dos grupos dos Anfíbios, Meio Fauna, Mamíferos, Aves, Repteis, Artrópodes e representantes em perigo de extinção como a Asa Branca (Patagioenaspicazuro), presença de uma nascente (Figura 2), córregos (Figura 3), barragens (Figura 4), áreas úmidas, áreas de encostas, além de varias estruturas geomorfológicas, algumas com sítios arqueológicos onde podem ser encontradas inscrições rupestres (COSTA, 2009).

 

 

Figura 2: Nascente Principal do Horto Florestal

Figura 3: Córrego no Horto Florestal

 

Figura 4: Barragem Principal

O ambiente do Olho D' Água da Bica que já se encontra com 70% da área pressionada por tensores antrópicos, tais como: retirada de pastagem, lixo e a contaminação do solo. Dados revelam, ainda, que as interferências antrópicas estão aumentando na área principalmente pela presença de animais sendo levados para pastar na local e a retirada de pastagem levando com isso a uma perturbação constante do local (COSTA, 2009).

Diante disso as atividades de educação ambiental com as escolas da cidade se apresentam como uma necessidade imediata, tendo como ferramenta de apoio a interpretação ambiental por meio das trilhas interpretativas desenvolvidas neste local a partir de um projeto de pesquisa e extensão realizado por alunos e professores da Universidade Federal de Campina Grande campus Cuité, intitulado Educação Ambiental no Horto Florestal do Olho D’ Água da Bica: sensibilização para fauna e flora da caatinga.

 

 

A dinâmica do trabalho com os alunos

Tendo como foco o Ensino Fundamental II as atividades foram organizadas de acordo com a disponibilidade das escolas, mas seguindo alguns critérios, como o numero máximo de alunos por visita ser de 30 e que um professor da instituição acompanhe os mesmos.   

Como atividade os alunos se deslocavam até o Horto Florestal do Olho D’ Água da Bica onde eram convidados a realizar uma trilha interpretativa no mesmo, pois o ambiente do horto nos proporciona realizar a trilha interpretativa e a interpretação ambiental na sua essência, pois é composto por um ambiente natural com uma grande importância ambiental, cultural, histórica e social para a população que ali vive, mesmo com os problemas de degradação ainda desperta muito interesse de sua população, que no caso dos alunos apresenta-se com pouco conhecimento sobre o mesmo (figura 5).

Figura 5: Trilha Interpretativa no Horto Floresta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As trilhas se desenvolviam a medida que as escolas se interessavam pelo projeto e agendavam suas visitas.

Com duração de aproximadamente 1 hora a trilha tinha 6 pontos previamente definidos onde se abordava desde elementos culturais como a historia do olho d’ água da bica(A), espécies  da  flora endêmicas do bioma como representantes em ameaça de extinção(B), processos de degradação presentes no local (C), instigando a curiosidade e o senso crítico dos estudantes, ambientes ligados a reprodução de espécies, os charcos e sua importância na reprodução dos anfíbios (D), elementos históricos como a presença de castelos onde se encenava a paixão de cristo na época da páscoa (E) e o contraste entre a área inicial com tensores antrópicos mas acentuados e outra menos impactada conduzido (F) os alunos a pensarem nesses dois elementos como duas realidades contrastantes.

trilha1.jpg

Figura 6: Imagem Pública de satélite, pontos de parada pré-definidos da Trilha ilustrados

Fonte:<https://www.google.com.br/maps/preview?hl=pt-   BR#!data=!1m4!1m3!1d1747!2d-  36.1592347!3d-6.4925614!2m1!1e3&fid=7>

Usando os elementos originais do local para fins de educação ambiental, transformando o ambiente em uma sala de aula ao ar livre e um laboratório vivo de experiências cognitivas, trabalhando de forma a proporcionar que o ambiente sirva para diversão, interação e aprendizado, pois essa ferramenta nos permite usar o local de forma multidisciplinar (VASCONCELLOS, 2006).

 O caminho da volta...: Os resultados da pesquisa

A educação precisa mais do que nunca resgatar o prazer que o ensino-aprendizagem pode oferecer para quem o pratica – alunos e professores - revendo suas metodologias e aplicando estratégias que possam envolver o estudante com seu contexto e elementos do seu cotidiano levando-o a sentir experimentar se interrogar sobre as questões da sociedade e do mundo que o cerca. Pensamos que isso só pode ser feito por meio do contato direto com o mundo e seus problemas e a partir da experiência possa pensar e construir soluções considerando diferentes perspectivas do conhecimento. 

A experiência apresentada neste trabalho de pesquisa aponta o contato com a natureza através das trilhas interpretativas um espaço de infinitas possibilidades para aprendizagens cognitivas e desenvolvimentos afetivos, com vistas ao pensamento crítico e o entendimento dos problemas ambientais como desafios coletivos, como demonstrado pelos alunos nos desenhos feitos no final das atividades (figuras 7,8).

Figura 7: desenho dos alunos

 

Figura 8: Expressões em Desenho

Percebemos a necessidade de se ampliar os espaços de aprendizagens para além dos muros da escola. Conduzindo as práticas educativas a novos ambientes de aprendizagem, ambientes estes mais próximas do cotidiano do aluno. Visto isso como uma forma de se alcançar o objetivo principal da educação, a formação do cidadão critico.

Sendo a interpretação ambiental uma ótima estratégia para se implantar uma forma nova de construção do conhecimento, onde a concepção dos alunos emergem, nos mostrando a capacidade do aluno em construir seu próprio conhecimento, como demonstrado pelos mesmos nas suas falas após as atividades nas trilhas (Quadro 1)

 

Quadro 1: Fala dos alunos a respeito dos temas discutidos na trilha

6º ano

 

O nosso bioma é de maneira exuberante um ecossistema que tem uma diversidade de fauna e flora que glorifica quem mora nesse esplendoroso ambiente. Um agradecimento para os que preservam esse ecossistema”

 

Aluna do 6º ano 1 escola Julieta de Lima

 

 

 

7º ano

 

Eu acho que temos que cuidar mais do meio ambiente em que vivemos por causa quesi não cuidamos o nosso planeta vai morrer e esse povo que maltrata as arvores estão errados porque eles desmatam mais não plantam de novo”

 

Aluno do 7º ano2 da escola Julieta de Lima

 

A caatinga pra min é muita coisa por que sem elas não somos nada, sem elas não conseguimos viver”

 

Aluno do 7º ano2 da escola Julieta de Lima

 

Caatinga é seca e verde, eu queria ser caatinga e preservar no nordeste todo, caatinga é vida do nordeste”

 

Aluno do 7º ano1 escola Julieta de lima

 

Vamos ter consciência por nossos atos vamos preservar a natureza”

 

Aluno do 7ºano 2 da escola Julieta de Lima

 

 

 

8º ano

Devemos retirar arvores do solo só o suficiente e não mais do que isso, se não quando chegar certo tempo não teremos como se sustentar”

 

Aluno do 8º ano 1 da escola Vidal de Negreiros

 

A caatinga é um lugar muito bonito de se viver por que é muito maravilhoso e também é viver na natureza. As pessoas têm preservar a natureza na natureza tem muitas plantas especiais”

 

Aluno do 8º ano 2 da escola Julieta de Lima

 

 

 

9º ano

 

Eu gostei porque não é sempre que a gente tem um contato com a natureza, e cada vez ir aumentando nosso saber, vou orientar meus familiares que plantam para não fazer mais métodos como queimadas”

 

Aluno do 9º ano 1 da escola Vidal de Negreiros

 

 “O bioma caatinga desfruta de grandes belezas naturais, o necessário é a conscientização populacional da preservação”

 

Aluno do 9º ano 2 da escola Vidal de Negreiros

 

Caatinga é vida também”

 

Aluno do 9º ano 1 da escola Vidal de Negreiros

 

 

 

 

 

 

 Permitindo mais que simples ações pontuais, mas sim verdadeiras parcerias entre alunos, professores e pesquisadores na busca por novos recursos e metodologias de aprendizagem.

Pretendemos em longo prazo formar uma comunidade conscientizada que valorize o equilíbrio entre as pessoas e a natureza, que trabalhe pela recuperação das áreas degradadas especialmente do Curimataú.  Desejamos que o Horto Florestal do Olho D’Água da Bica seja o ponto de convergência deste projeto coletivo.

 

 

CONCLUSÃO

As trilhas assim como outras formas de saídas a campo, o uso de praças e parques para a educação ambiental, em nossa concepção é uma grande aliada na introdução de novas práticas pedagógica em busca de um ensino que contemple os vários significados da expressão aprendizagem significativa. Para isso, sabemos que se faz necessário uma difusão maior desta estratégia formativa e um acompanhamento mais sistemático para delimitar com maior precisão os pontos positivos e compreender os limites desta ferramenta de trabalho pedagógico.

Para que isso aconteça é necessário cativar os professores e gestores a fim de convencê-los de que as aulas na natureza não são apenas passeios, mas sim ambientes de aprendizagem.

Portanto tudo isso nos permite dizer que a interpretação ambiental se revela como uma estratégia eficaz na busca por novas metodologias para melhorar o ensino-aprendizagem, por trabalhar com o ambiente de forma contextualizada e mais próxima do cotidiano do aluno, mostrando para o mesmo como prazeroso é sua própria região, instigando com isso o poder investigativo e construindo em longo prazo uma sociedade crítica, sendo isso comprovado na forma como os alunos relatam a atividade nas trilhas.

 

Referências

 

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Ilustrações: Silvana Santos