Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PROBLEMATIZANDO PRÁTICAS NA SOCIEDADE
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No presente trabalho, contamos com um grupo interdisciplinar composto por duas professoras das Ciências Biológicas, dois alunos dos cursos de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado), um aluno da Engenharia Geológica e dois representantes da Coor

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PROBLEMATIZANDO PRÁTICAS NA SOCIEDADE

1Leandro Encarnação Garcia; 2Camila Alvez Islas; 3Samuel Molina Schnorr; 4Matheus Farias Grecco; 5Vanessa Bezerra Dias; 6Adriana Lourenço da Silva; 7Giovana Duzzo Gamaro.

 

 

1 Doutorando em Ciência Animal pelo PPG em Ciência Animal, Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, SP-UNESP, leandrogarcia20504@gmail.com

2 Doutoranda em Ecologia pelo PPG em Ecologia da Universidade Estadual de Campinas-SP; camilaai@hotmail.com

3 Doutorando em Educação  pelo PPG em Educação da Universidade de São Paulo; schnorr_m@yahoo.com.br  

4 Mestrando no PPG em Manejo e Conservação do Solo e da Água na Universidade Federal de Pelotas; grecco.eg@hotmail.com

5 Graduação em Ciências Biológicas UFPEL, vanessabd.dias@gmail.com

6 Professora Dra. adjunta no departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFPel; adrilourenco@gmail.com

7 Professora Dra. adjunta do departamento de Bioquimica da UFPEL, giovanagamaro@hotmail.com

 

 

Resumo

Esta pesquisa objetiva investigar os benefícios de uma abordagem de Educação Ambiental (EA) que se propôs a unir o conhecimento gerado pela universidade, a capacitação e a mão de obra disponíveis nos cursos de graduação em uma escola de ensino fundamental. Buscou-se, com estas atividades, promover o reconhecimento do ambiente escolar como um local fértil para a EA, onde os alunos podem expressar-se, por meio de discussões, realização de práticas e experimentação. Este estudo foi desenvolvido em dez turmas de 3ª, 4ª ou 5ª série, totalizando150 alunos com faixa etária entre 9 a 15 anos. A ação foi realizada na Escola Municipal Ferreira Viana localizada na cidade de Pelotas, RS. Os dados obtidos foram analisados por meio de estatística descritiva e discutidos entre o grupo multidisciplinar. A partir dos resultados obtidos, concluiu-se que os seguintes temas da EA deveriam ser trabalhados, principalmente com os alunos: utilização consciente da água e energia, destinação do lixo e cuidados com o solo. O presente trabalho demonstrou a importância da discussão de temas relacionados à EA, não apenas expondo ideias, mas proporcionando um ambiente para discussão, aprendizado, experimentação e construção do próprio conhecimento. Destaca-se, ainda, a relevância de abordar a educação ambiental por meio de várias atividades, já que cada sujeito é único e sensibiliza-se pelas questões ambientais de formas diferentes.

Palavras-chave: Educação Ambiental, Ensino Fundamental, Interdisciplinaridade.

 

 

 

 

 

ENVIRONMENTAL EDUCATION ON A ELEMENTARY SCHOOL: QUESTIONING DISCUSSIONS, LEARNING AND PRACTICES IN SOCIETY

 

Abstract

This research aims to investigate the benefits of environmental education approach (EA) that proposed to unite the knowledge generated by the university, training and manpower available in undergraduate courses in a primary school. Is sought with these activities, promote the recognition of the school environment as a breeding place for EA, where students can express themselves through discussions, conducting practices and experimentation. This study was developed in a public elementary school in the city of Pelotas, Brazil. Altogether they attended ten classes this school, totaling 150 students from 3rd, 4th or 5th grade, aged between 9-15 years. Data were analyzed using descriptive statistics and discussed by the multidisciplinary group. From the results, it was concluded that the following issues of the EA should be worked out, especially with students: conscious use of water and energy, waste disposal and care of the soil. Research shows the importance of discussing issues related to EA, not only exposing ideas but providing an environment for discussion, learning, experimentation and construction of knowledge itself. Also emphasize the importance of considering environmental education through various activities, since each individual is unique and sensitizes the environmental issues in different ways.

Keywords: Environmental Education, Elementary Education, Interdisciplinarity.

 

Introdução

A contemporaneidade, marcada pela degradação dos ecossistemas e pelo uso indiscriminado dos recursos naturais, clama pela reflexão sobre as práticas sociais, econômicas e ambientais, bem como por efetivas mudanças nesses campos. Entende-se que não é possível resolver os crescentes e complexos problemas ambientais sem produzir mudanças profundas nos nossos sistemas de conhecimento, bem como nos valores e comportamentos provenientes do atual sistema econômico e da sociedade contemporânea (LEFF, 2001; LOUREIRO, 2005).

A crise ambiental resulta muito mais de uma crise política, social e cultural do que ambiental propriamente dita. Com efeito, é preciso que os indivíduos possuam, cada vez mais, uma reflexão não linear sobre as problemáticas ambientais (JACOBI, 2003). Além disso, é necessário promover a re-apropriação da natureza pelo indivíduo, por meio da inter-relação dos saberes, da afirmação das identidades e valores comuns, e pelas ações solidárias (TAMAIO, 2002).

A Educação Ambiental (EA) crítica tem sido utilizada como um instrumento de informação, sensibilização e transformação (LOUREIRO, 2003). Por meio da EA, busca-se promover uma reflexão sobre o modo como a sociedade percebe, usa e se relaciona com o ambiente. Desta forma a utilização da EA em sua forma crítica propõe a discussão sobre o conhecimento consolidado na sociedade, principalmente referente as ciências naturais e humanas, favorecendo a aprendizagem holística do sujeito sobre sua realidade (LOUREIRO, 2003). Busca-se, assim, uma nova consciência coletiva sobre o valor da natureza onde a interdisciplinaridade e os princípios da complexidade são alguns dos alicerces mais importantes da EA (JACOBI, 2003; PRONEA, 2005).

Um dos locais onde a EA pode ser experimentada e aplicada em sua totalidade é a escola (LOUREIRO, 2006). Pois na escola existe um espaço fértil de aprendizado, o qual agrega diversos grupos da sociedade, possíveis multiplicadores das ideias da EA (LOUREIRO, 2003). Os estudantes, jovens e adultos, são os principais sujeitos da EA formal, que alcança, também, os professores, as famílias dos estudantes, e a comunidade do entorno. Para que os conceitos e valores da EA sejam desenvolvidos neste ambiente é preciso que a EA esteja inserida no projeto educativo de forma permanente e contínua e incluída na prática dos professores desde as primeiras séries (TARDIF, 2002; LOUREIRO, 2006).

No entanto, esta é raramente a realidade das escolas brasileiras. Muitas atividades são pontuais e desarticuladas dos conteúdos ensinados e da realidade local. Em sua maioria as práticas ambientais realizadas nas escolas também não buscam o envolvimento dos pais ou comunidade, sendo estes um dos principais desafios atuais para tornar efetiva a prática de EA formal (LOUREIRO, 2003; 2006; PEINADO; RECENA, 2011).

É importante ressaltar que para conseguirmos a reversão da degradação do meio ambiente causada pela sociedade moderna urbano-industrial não basta apenas a ação de educadores para conscientização. Guimarães (2004), reforça que é preciso que as atividades realizadas no âmbito escolar se proponham a transformar a escola juntamente com a sociedade para que as atitudes humanas sejam mais sustentáveis. Assim, a dimensão ambiental envolve um conjunto de atores do universo educativo e necessita que haja um engajamento dos sistemas de conhecimento, bem como a capacitação dos profissionais e da comunidade numa perspectiva interdisciplinar (TEIXEIRA; VALE 2003; PRONEA, 2005).  Nesse contexto encontra-se a Universidade que possui esse papel, de promover o desenvolvimento das comunidades das quais faz parte, principalmente formando e qualificando educadores, através de formações sólidas e continuadas (GUIMARÃES, 2004). Além disso, estas instituições podem criar e fornecer materiais teórico e tecnológicos para as escolas, auxiliando na construção dos currículos e mecanismos para avaliar diferentes competências (PRONEA, 2005).

O caminho da EA é, em sua maioria, lento, árduo e local. Por isso, este estudo teve como objetivo investigar os benefícios de uma abordagem de Educação Ambiental que se propôs a unir o conhecimento produzido pela Universidade, a capacitação e a mão de obra disponíveis nos cursos de graduação e uma escola de ensino fundamental localizada nos arredores de um dos Campus da UFPel. Buscou-se, com estas atividades, promover o reconhecimento do ambiente escolar como um local fértil para a EA, onde os alunos podem expressar-se, por meio de discussões, realização de práticas e experimentação. Ainda, buscou-se salientar a necessidade de valorização do sujeito como indivíduo atuante na sociedade e no meio ambiente, bem como, instigar os alunos a reflexão por meio de avaliação de seus hábitos e costumes em direção a uma vida humana mais sustentável.

O principal objetivo das atividades a serem apresentadas seria promover uma transformação reflexiva e, então, prática, dos alunos, atuantes nas ações pedagógicas e, principalmente, que eles desenvolvessem estratégias de ensino para a EA na escola.

 

 

 

Metodologia

Este estudo foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental localizada na cidade de Pelotas, RS. Ao todo, participaram dez turmas totalizando 150 alunos de 3ª, 4ª ou 5ª série (4, 5 e 6 anos), com faixa etária entre 9 a 15 anos.

Um grupo multidisciplinar de três alunos, duas professoras e dois representantes da Coordenadoria de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas juntamente com duas professoras da escola elaboraram e participaram da pesquisa. Os acadêmicos da UFPeL eram provenientes dos cursos de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) e Engenharia Geológica.  A estratégia de ação ocorreu por meio de reuniões entre o grupo multidisciplinar do projeto juntamente com os professores e coordenadores pedagógicos da escola, os quais utilizaram como referência os conteúdos abordados no “Manual Ambiental para Instituições de Ensino Fundamental e Médio”, elaborado pela Coordenadoria de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas (MARTINS et al., 2009).

A primeira fase do estudo foi de diagnóstico com objetivo de identificar as percepções dos alunos em relação ao ambiente em que estão inseridos e outras questões básicas pertinentes à EA, para, então, possuir subsídios para realizar as outras atividades. Aplicou-se, então, um questionário semiestruturado para as dez turmas participantes da pesquisa com as seguintes questões:

 

1) Você já estudou ou realizou algum trabalho sobre o meio ambiente na Escola?

2) O que você acha que é “meio ambiente”?

4) O que faz parte do meio ambiente?

3) Você acha que faz parte do meio ambiente?

5) Qual seu papel em relação ao meio ambiente?

 

Os dados obtidos foram analisados, por meio de estatística descritiva, e discutidos entre o grupo multidisciplinar. A partir da análise dos mesmos foram elaboradas as estratégias de intervenção relacionadas aos diferentes temas da EA para aplicação nas turmas participantes do estudo. Após discussão e aprovação com os professores da escola, com intuito de verificar a aplicabilidade e aceitação das tarefas junto a seus alunos, foram escolhidos três temas da EA para abordar. As temáticas de trabalho foram: utilização consciente da água e energia, destinação do lixo e cuidados com o solo.

A segunda etapa foi constituída pela intervenção dos acadêmicos, junto aos alunos da escola. Nas atividades, conteúdos básicos como o conceito de meio ambiente e os fatores bióticos e abióticos que o compõe foram abordados. Esta atividade contou com a orientação das professoras coordenadoras do projeto.

Posteriormente, algumas estratégias, como o uso de imagens relacionadas às temáticas (preferencialmente às que retratassem o entorno da escola e da cidade) foram utilizadas para causar reflexão dos sujeitos sobre a origem, o uso e a destinação dos recursos naturais (em especial água, energia e solo) e dos resíduos produzidos pelos seres humanos. Durante todas as atividades foi incentivado aos alunos sua participação, por meio de questionamentos. Nesse momento os alunos eram estimulados a emitir suas opiniões sobre os conteúdos, questionando o que estava sendo exibido e buscou-se promover a discussão crítica constantemente. Todas as atividades foram guiadas pelo conteúdo presente no “Manual Ambiental para Instituições de Ensino Fundamental e Médio”.

Como apoio ao projeto, a direção da escola sugeriu que o grupo multidisciplinar, juntamente com os professores, organizasse uma Mostra de Ciências como terceira etapa de intervenção. Incentivou, ainda, que os melhores trabalhos fossem selecionados para participarem da Feira Científica Municipal de Pelotas, a ser realizado no município da escola. Foi proposto, então, que os alunos produzissem trabalhos manuais, como maquetes, cartazes e experimentos científicos relacionados ao que foi discutido nas atividades anteriores. Os alunos foram orientados para que os trabalhos fossem feitos preferencialmente com materiais recicláveis.

Dois dias foram delimitados exclusivamente para os alunos apresentarem seus trabalhos para o grupo multidisciplinar de professores e alunos da universidade. Toda a comunidade escolar foi convidada a participar do evento para problematizar e discutir sobre os assuntos tratados em sala de aula. Os alunos foram ouvidos e questionados sobre seus projetos e sua relação com os temas trabalhados em sala de aula. Três trabalhos das séries iniciais (3ª e 4º) e três trabalhos das séries finais (5ª e 6ª) para participarem da feira regional de ciências.

Uma quarta etapa de intervenção foi realizada com os professores da escola, na qual realizarem-se encontros com todos os docentes desta escola para apresentar os resultados das atividades desenvolvidas. Este espaço foi aberto aos professores para que discutissem suas percepções e dificuldades em trabalhar a temática na sala de aula. Além disso, foram apresentadas atividades realizadas em uma cooperativa do município de Pelotas, denominada: Associação dos Moradores do Loteamento Ceval, para incentivar os professores a continuarem as atividades.

Por fim, foi realizada uma quinta etapa de intervenção, na qual os alunos foram levados em excursão para visitar dois espaços de aprendizado: o Núcleo de Reabilitação de Animais Silvestres (NURFS), no campus da Universidade Federal de Pelotas no município de Capão do Leão, e o Museu de História Natural Carlos Ritter, no centro da cidade de Pelotas. O ônibus foi cedido pela Universidade como apoio ao projeto. Ambas visitas foram propostas para que os espaços públicos de aprendizagem pudessem contribuir sobre os assuntos de EA tratados em sala de aula. Em especial, buscou-se apresentar aos alunos outros seres vivos que dividem o planeta com eles e que dependem do bom uso dos recursos naturais e da destinação correta dos resíduos humanos. Nas visitas ao museu e ao NURFS, os alunos puderam conhecer diversos espécimes de animais da região como insetos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, bem como fósseis de animais que viveram na região, mas acabaram extintos. Ainda, no NURFS, os alunos puderam se deparar com a realidade dos animais silvestres apreendidos pelo tráfico de animais e ampliar sua compreensão do tema.

Após a excursão, foi sugerido aos professores que, como próximos passos, realizassem atividades envolvendo os animais vistos nas visitas, de forma a continuar refletindo sobre assuntos realizados a EA e, quem sabe, transformar a relação desta nova geração de sujeitos na sociedade em desenvolvimento com os animais silvestres e o meio ambiente.

 

 

 

Resultados da pesquisa realizada na Escola

 

O questionário aplicado na primeira etapa foi respondido por 59 alunos, sendo 13 da 3ª série, 20 da 4ª série e 26 da 5ª série. Para a primeira pergunta: “Você já estudou ou realizou algum trabalho sobre o meio ambiente na Escola?”, 66,1% (n=39) responderam que já haviam realizado trabalhos ou ter estudado sobre o Meio Ambiente, enquanto 33,9% (n=20) responderam que nunca trabalharam com o tema. A resposta dos alunos à segunda pergunta: “O que você acha que é meio ambiente?”, podem ser vistas na tabela 1. A maior parte dos alunos relacionou o meio ambiente à poluição (26%, n=15) ou a um conjunto de “palavras-chave” (25,4%, n=15), como natureza, poluição e desastres naturais. Das respostas restantes, 20,3% (n=12) caracterizaram o meio ambiente como sendo os “seres vivos”, como as plantas e os animais, e 11,7% (n=7) como sendo a natureza, as florestas, as matas e os campos. Ainda, 1,7% (n=1) caracterizou o meio ambiente como sendo o meio urbano ou desastres naturais, 1,7% (n=1) e 13,3% (n=8) não responderam à questão.

 

 

Tabela 1. Resultado da segunda pergunta do questionário aplicado.

Pergunta II

Poluição

Meio Urbano

Natureza

Seres Vivos

Desastres naturais

Mescla de anteriores

Sem resposta

Alunos=59

26%

1,7%

11,7%

20,3%

1,7%

25,4%

13,3%

 

 

Diante da terceira questão: “O que faz parte do meio ambiente?”, os componentes mais citados pelos alunos foram a água (citada por 88,1% dos alunos, n=52), os vegetais (71,1%, n=42) e os animais (61%, n=36) (Tabela 2). Quando questionados se “Você acha que faz parte do meio ambiente?”, 84,7% (n=49) dos alunos disseram que acreditam ser parte do meio ambiente, enquanto 16,9% (n=10) responderam que não são parte do meio ambiente. Com relação à última questão: “Qual seu papel em relação ao meio ambiente”, 44% (n=26) afirmaram que seu papel é cuidar do meio ambiente, 17% (n=10) entendem que seu papel é reciclar e 8,5% (n=5) que não devem poluir. Dezoito alunos (30,5%) não tem certeza sobre qual o seu papel com relação ao meio ambiente.

 

 

 

 

Tabela 2. Resultado da terceira pergunta do questionário aplicado.

Pergunta III

Energia

Lixo

Solo

Água

Poluição

Animais

Vegetais

Casas e Escolas

Alunos=59*

40,6%

7,2%

0,3%

88,1%

25,4%

61%

71,1%

42,3%

* Cada aluno mencionou mais do que um componente.

 

 

 

A maior parte dos trabalhos apresentados na feira da escola tratavam-se de maquetes, nas quais os alunos questionavam questões relacionadas ao meio ambiente e da necessidade de respeitar à natureza e o próximo, em geral baseados em princípios da EA. Uma parte considerável dos trabalhos retratava cenas e locais cotidianos na vida dos alunos que estavam poluídos e, então, os mesmos locais sem poluição, como uma perspectiva de como os locais deveriam ficar.

Ainda neste contexto, outros trabalhos que também foram realizados pelos alunos problematizaram questões como i) o mal-uso da água pelas famílias, pela escola, pelos moradores da cidade e pela prefeitura; ii) a necessidade de reutilizar água e possíveis formas de fazer isso em casa; iii) formas de tratamento de água; iv) o consumo excessivo de produtos industrializados pelas famílias e a destinação das embalagens; v) diferentes formas de destinação dos resíduos produzidos em casa e como destiná-los corretamente; iv) importância do solo para o ser humano e outros seres vivos e como evitar erosão e outros danos; vii) diversos experimentos que buscavam produzir energia elétrica e maquetes que imitavam o processo de produção dos principais modos de produção de energia utilizados no Brasil; viii) formas de consumir menos energia elétrica em casa.

No dia da feira, a Coordenadoria de Gestão Ambiental da UFPel doou à escola lixeiras de coleta seletiva para que esta realizasse a separação dos resíduos produzidos. Um experimento, em particular, obteve destaque em detrimento de sua simplicidade, visto que o aluno fez uma escala com a quantidade de água salgada e potável disponível no planeta. Para isso, ele comparou uma garrafa pet de 2 litros preenchida com água salgada, que representava 98% da água disponível, e a tampinha da garrafa preenchida com água doce, que representava 2% da água disponível. Na feira de ciências do município de Pelotas, um dos grupos escolhidos na feira da escola, ganhou o prêmio de terceiro lugar, com o trabalho intitulado “Ação Humana sobre o Meio Ambiente”.

As visitas guiadas aos espaços de aprendizado aproximaram os alunos de conhecimento relacionados à natureza e também ao tráfico de animais silvestres. Proporcionaram, assim, trazer os conceitos trabalhados em sala de aula para a realidade dos alunos. Os alunos se mostraram dispostos a aprender, interessados e preocupados com os destinos dos animais, alguns inclusive relataram situações de familiares e amigos, afirmando a importância da realização das atividades.

 

Análise e discussão dos resultados encontrados

 

De acordo com as respostas analisadas nos questionários, pode-se perceber que ainda existe uma parte considerável (n=20) de alunos que não tiveram contato com trabalhos relacionados ao meio ambiente. Esta constatação preocupa, pois temáticas ambientais permeiam essencialmente a vida de qualquer cidadão, configurando-se as informações e reflexões referentes ao ambiente como um dos direitos mais básicos dos indivíduos (LOUREIRO, 2003). Nesse sentido, Jacobi (2003) destaca a necessidade de fornecer à população acesso à informação, a conteúdos educativos e a EA como caminho para modificar o atual cenário de degradação ambiental.

A Educação Ambiental crítica entende que o aluno só se torna capaz de refletir sobre e modificar a realidade imposta quando enfrenta, durante o seu desenvolvimento, situações onde lhe é dada oportunidade de acessar o conhecimento e de utilizá-lo para questionar e debater (TAMAIO, 2002; LOUREIRO, 2003; LOUREIRO, 2006). Assim, questiona-se como é possível que as novas gerações se desenvolvam para questionarem e transformarem paradigmas como os da sociedade atual repleto de consumismo e efemeridades, se quer, se deparam com assuntos ambientais na escola. A introdução de conteúdos que tratem dos ambientes naturais, seres vivos e a relação entre eles, e que problematizem a presença e os efeitos antropogênicos na natureza mostram-se imprescindíveis como primeiro passo para uma EA crítica (LOUREIRO, 2003).

Quando os alunos foram questionados sobre o que é o meio ambiente, não foram identificadas respostas elaboradas sobre o tema. A maior parte dos alunos associa o meio ambiente a palavras avulsas de denotação negativa, de forma que não são capazes de formular caracterizações ou conceituações robustas, ainda que básicas, sobre o meio ambiente. Provavelmente este fato seja fruto da forma com que os alunos se deparam com informações e conhecimentos referentes ao meio ambiente.

Em geral, conjuntos de informações são dispostos frequentemente, porém superficialmente, aos alunos por meio de veículos como a mídia e por grupos sociais, seja pela família ou pela escola (LOUREIRO, 2003). Devido a forma acrítica com que os conteúdos são oferecidos aos alunos, estes recordam-se apenas de palavras ou sentenças e não são capazes de dar sentido próprio ao conteúdo. Por exemplo, percebe-se que palavras como natureza e seres vivos são diretamente associados ao meio ambiente, emergindo um princípio de discurso naturalista da fala dos alunos. Neste tipo de discurso o ser humano é um invasor do meio ambiente e não um ser vivo que nasce de e vive no ambiente (Crespo, 1998).

No caso das palavras poluição e desastre natural, corrobora-se o discurso naturalista, pois o ser humano é causador de prejuízos, não sendo capaz de interações positivas com o meio. Ambas visões são frequentemente lançadas por campanhas que se apoiam no discurso da EA e da sustentabilidade, porém carecem de teoria e reflexão crítica, ou mesmo de proposta modificadora, buscando normatizar o “ecologicamente correto” (LOUREIRO, 2004). Destaca-se que um aluno caracterizou o meio ambiente como sendo o meio urbano. Esta perspectiva reconhece o ser humano como parte da natureza enquanto modificador da mesma, visão que possui maior potencial de ampliar a visão de mundo e fazer problematizar as relações sujeito-natureza (LOUREIRO, 2007).

Em contraponto às respostas fornecidas à questão anterior, os alunos parecem possuir mais clareza sobre quais são os elementos que compõe o meio ambiente. É verdade que elementos como energia, lixo, solo e água também são caracterizados por palavras bastante difundidas no discurso da EA e da sustentabilidade e utilizados, muitas vezes, com pouco critério. No entanto, em geral, os alunos mencionaram um conjunto de elementos que caracterizam uma visão abrangente do meio ambiente, que vai além da natureza e dos seres vivos e considera também os elementos abióticos, o fluxo de energia e construções humanas.

Frente as respostas da questão anterior, surpreende que 42,3% (n=25) dos alunos tenham mencionado a casa e a escola como parte do meio ambiente. Ainda, que na questão seguinte “Você acha que faz parte do meio ambiente?”, 84,7% (n=49) dos alunos tenham afirmado que se percebem parte do ambiente. Percebe-se, portanto, que há uma confusão entre os sujeitos sobre as informações e conhecimentos obtidos referentes ao meio ambiente. Enquanto os alunos compreendem que o meio ambiente é a natureza, apenas afetada pelos efeitos antropogênicos, entendem que a casa e a escola (estruturas humanas) compõem esse ambiente, ainda que os seres humanos não sejam mencionados.

Quando questionados diretamente, então, colocam-se como integrantes do meio ambiente. Provavelmente esta confusão entre as respostas dos alunos seja produto da carência de discussões e de vivências que tragam o conceito e as problematizações teóricas para o campo do concreto, no dia a dia dos estudantes (LOUREIRO, 2007). Esta constatação fez com que fosse acrescentado ao projeto as visitas guiadas ao museu e ao NURFS, para que alguns dos conceitos tratados com os alunos pudessem ser, ao menos, visualizados e experenciados.

Com relação à última pergunta, “Qual seu papel em relação ao meio ambiente”, percebe-se que, novamente, os alunos apresentam um discurso raso. Enquanto menos da metade dos alunos entende que o seu papel é cuidar do meio ambiente, o que se apresenta como um discurso “ingênuo”[1] (LOUREIRO, 2004), 30,5% (n=18) não arriscam o palpite e 17% (n=10) entendem que devem reciclar, outro discurso ingênuo. Muitos dos alunos percebem o meio ambiente como a natureza longe das cidades, como algo que não deve ser tocado, que deve ser cuidado e não poluído, o que só corrobora as visões anteriores. Segundo Jacobi (2003), há uma demanda atual para que a sociedade, além de questionar criticamente, assuma um papel mais propositivo frente aos desafios ambientais. Para isso é preciso conhecer e sentir-se “dono” ou parte desse meio ambiente. Ao perceber o meio ambiente como algo a ser protegido da sua própria interferência, o sujeito distancia-se e perde o interesse, quando, na verdade, proteger é colocar a mão na massa.

A segunda etapa do projeto foi avaliada por meio da terceira etapa, onde o envolvimento e a aprendizagem dos alunos nas atividades educativas podem ser avaliadas indiretamente pelos projetos apresentados na feira. Pode-se perceber que os alunos desenvolveram os conceitos ligado às questões ambientais, bem como sua capacidade de articular ideias sobre a temática. O contato com os assuntos trabalhados e a necessidade de desenvolver o projeto proporcionaram espaço para que os alunos pudessem receber as informações e, então, processá-las ao longo do tempo, construindo seu próprio conhecimento (GUIMARÃES, 2004).

Não só a apresentação do conteúdo, mas o incentivo à discussão na sala de aula, potencializaram a capacidade intrínseca de cada aluno de compreender e refletir sobre diversas questões relacionadas ao meio ambiente. Anteriormente às atividades realizadas na sala de aula, os alunos não possuíam clareza sobre as questões dos questionários, enquanto que após as atividades, na apresentação dos projetos, os alunos já mostravam desenvolvimento das ideias e um discurso crítico e problematizador sobre o papel do ser humano no ambiente. Além disso, sentiam-se motivados a dispersar o conhecimento adquirido, de forma a “conscientizar” seus amigos e sua família. Foi visível, também, a desenvoltura dos alunos com atividades artísticas. Os alunos transformaram matéria prima, como brinquedos quebrados, utensílios de cozinha e garrafas plásticas, em maquetes, cartazes e experimentos elaborados.

Por fim, a visita aos espaços de aprendizagem se mostrou fundamental ao produzir, em cada sujeito, um conhecimento sólido e único, por meio da conexão entre teoria e prática (LOUREIRO, 2003). Em especial, destaca-se a capacidade de sensibilização de atividades que apresentam determinada realidade para os sujeitos. Atividades teóricas, como aula expositivas, possuem capacidade de sensibilização limitada. Ainda que os sujeitos possuam a informação sobre como uma ação humana afeta a fauna, a flora ou o ambiente, é difícil sentir empatia pela situação do outro que se vê por meio de uma tela ou de fotografias. O contato direto com aquele que sofre modifica a percepção dos sujeitos mais intensamente do que contatos indiretos, assim como tem mais força para causar uma ruptura do pensamento estabelecidos e provocar mudanças de atitudes (LOUREIRO, 2003), isso foi percebido nas visitas realizadas.

Até então, anteriormente à visita, muitos alunos mostravam-se ainda pensativos e questionadores sobre os impactos das ações humanas sobre o ambiente devido as atividades realizadas até então, enquanto outros já se distraíam com outras questões do dia a dia. Após a visita, não havia um único aluno que não se mostrasse, ao menos, perplexo com a realidade dos animais silvestres provenientes do tráfico e com a diversidade de espécies que existem apenas no Rio Grande do Sul. É claro que as visitas aos espaços de aprendizagem não dão qualquer garantia de que os alunos terão determinada atitude para com o meio ambiente a partir de então, porém, caracterizam-se como vivencias que alguns não irão esquecer e que poderão ser capazes de potencializar grandes transformações no futuro. O papel do educador neste contexto é fundamental. Trata-se de mediar a construção de referenciais ambientais, de modo que os sujeitos sejam capazes de usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de práticas sociais centradas no conceito da sustentabilidade (TAMAIO, 2002; JACOBI, 2003).

 

Discussões finais

 

Ao realizar projetos e atividades de educação ambiental nas escolas, que busquem envolver os professores e alunos do ensino fundamental é possível fomentar o acesso ao conhecimento voltado para o tema ambiental e, assim, construir junto aos sujeitos novas formas de colaborar e se posicionar de forma ativa frente a futuras discussões e decisões políticas e sociais que envolvam o ambiente e os recursos naturais.

A pesquisa mostra a importância de se discutir temas relacionados à EA, não apenas expondo ideias, mas proporcionando um ambiente para discussão, aprendizado, experimentação e construção do próprio conhecimento. Destaca-se, ainda, a relevância de abordar a educação ambiental por meio de várias atividades, já que cada sujeito é único e sensibiliza-se pelas questões ambientais de formas diferentes.

A partir da inserção da temática na escola pode-se notar o envolvimento dos alunos e suas famílias, dos professores e da comunidade, principalmente na realização da feira de ciências na escola. Desta forma, a escola capacita-se, ainda mais, a tornar-se um centro multiplicador de conscientização e potencializador de atitudes mais benéficas ao ambiente e ao uso de recursos naturais. Para tanto, aponta-se, mais uma vez, a necessidade da inserção ativa e constante da Educação Ambiental na escola. A EA proporciona a formação de indivíduos e comunidade capazes de lidar com os problemas ambientais contemporâneos e é um dos caminhos mais consistentes para uma sociedade sustentável.

 

Referências

CRESPO, S. Educar para a sustentabilidade: a educação ambiental no programa da agenda 21. NOAL, F. O; REIGOTA, M.; BARCELOS, V.H.L. (Orgs.). Tendências da educação ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998. p. 211-225.

 

GUIMARÃES, Mauro. A formação de educadores ambientais. 1.ed. Campinas: Papirus, v.1, 2004. 174p.

 

JACOBI, P. (2003). Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, 118(3), 189-205.

 

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.

 

LOUREIRO, C. F. Premissas teóricas para uma educação ambiental transformadora. Ambiente e Educação, Rio Grande, v. 8, n. 1, p. 37-54. 2003.

 

LOUREIRO, C. F. B. Educação Ambiental Transformadora. In: Layrargues, P. P. (org.).

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[1] Discurso vazio de sentido, desprovido de avaliação crítica.

Ilustrações: Silvana Santos