Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
11/09/2016 (Nº 57) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS: UMA EXPERIÊNCIA EM CONTEXTOS COMUNITÁRIOS DA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB.
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS: UMA EXPERIÊNCIA EM CONTEXTOS COMUNITÁRIOS DE JOÃO PESSOA.

 

Viviane dos Santos Sousa1;

 Moisés Horus Andrade Sousa2

 

1 Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente-Prodema/UFPB; Gestora Ambiental; Especialista em Sociologia; Coordenadora do Departamento de Educação, Cultura e Meio Ambiente da Ong Movimento de Ajuda Mútua/email: vivisousa23@hotmail.com

2Discente do curso de Licenciatura em Química do IFPB e de Licenciatura em Educação Física/Unipê; Coordenador do Departamento de Educação, Cultura e Meio Ambiente da Ong Movimento de Ajuda Mútua/ email: moises_gaara@hotmail.com

 

Resumo

O presente trabalho é resultado de um Projeto desenvolvido pela Fundação Cultural de João Pessoa-Funjope em parceria com Prefeitura Municipal da cidade de João Pessoa. O objetivo deste artigo é fazer uma relato das práticas de educação ambiental informal em comunidades de João Pessoa, através do desenvolvimento de práticas sustentáveis. A educação ambiental atua como catalisador no processo de sensibilização da sociedade frente aos problemas ambientais, pois busca desenvolver em seus atores, hábitos, comportamentos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, transformando-os em cidadãos conscientes e comprometidos com o futuro do país (JACOBI, 2003). A metodologia adotada foi uma pesquisa-ação, sendo realizadas várias etapas metodológicas como: rodadas dialogadas, entrevistas, rodas de leituras e oficinas. Os públicos participantes foram duas comunidades da cidade de João Pessoa: São José e Vale das Palmeiras, contando com um número de 30 participantes. Como resultado pode-se observar uma percepção diferenciada nas participantes, muitas começaram a confeccionar os seus próprios materiais de limpeza na busca da economia doméstica, outras desenvolveram artesanatos sustentáveis que foram ensinados, como uma fonte de renda extra familiar. 

Palavras chaves: Educação Ambiental, Práticas Sustentáveis, Comunidades.

 

Introdução

 

Diante da intensa busca por matéria prima na natureza, uma forte pressão vem sendo causada sobre os recursos naturais e o meio ambiente.  Decorrente disso, muitos são os problemas socioambientais encontrados, como por exemplo: analfabetismo, pobreza, gestão inadequada de resíduos sólidos, poluição dos recursos hídricos, queimadas, entre outros que ocorrem sobretudo nas comunidades urbanas e rurais. Uma estratégia de sensibilização destas comunidades em busca da superação e enfrentamento das questões socioambientais, é a realização de Oficinas de Educação Ambiental voltadas para práticas sustentáveis. O presente trabalho é resultado de um Projeto desenvolvido pela Fundação Cultural de João Pessoa-Funjope em parceria com Prefeitura Municipal da cidade de João Pessoa. O objetivo deste artigo é demonstrar práticas de educação ambiental informal em comunidades de João Pessoa, através do desenvolvimento de práticas sustentáveis. Dentre as comunidades de João Pessoa, destacamos a comunidade São José e Vale das Palmeiras,a qual perpassam por problemas relacionados à qualidade ambiental. Ressaltando que estas comunidades foram selecionadas pela prefeitura, apartir de uma demanda gerada pelos próprios moradores destas comunidades.

Desenvolver a educação ambiental não é tarefa fácil e requer criatividade, convicção e persistência para consecução de seus objetivos, pois a educação ambiental traz implícita uma mudança de hábitos e atitudes em relação a posturas de degradação do ambiente, almejando soluções individuais e coletivas para os problemas, presentes e futuros da humanidade (DIAS, 1993). A educação ambiental se constitui numa forma abrangente de educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

É possível perceber a urgência que se tem em procurar resolver problemas ligados ao meio ambiente. O homem ao invés de se sentir parte integrante da natureza, tem feito dela um objeto de uso voltado a exploração e ao consumo. Ele transforma o ambiente e nessa transformação causa danos, na maioria dos casos irreparáveis, a natureza. É preciso mudança nos hábitos do cotidiano tanto do indivíduo quanto da comunidade na qual ele está inserido.

Na Constituição Federal brasileira, promulgada em 1988, no artigo 225, no capítulo VI do Meio Ambiente o termo Educação Ambiental foi assumido como obrigação nacional onde “todos têmdireito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum ao povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade, o dever de defendê-lo epreservá-lo para as presentes e as futuras gerações” (BRASIL, 1988).

O artigo 2º da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, traz no princípio X “a educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade” (BRASIL, 1999). Ainda de acordo com essa lei, no Art 3º entende-se por meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

A Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, instituída pela lei nº 9.795 de 1999, e regulamentada pelo decreto nº 4.281 de 2002, representou grandes avanços legais para o campo da Educação Ambientaltrazendo em seu bojo princípios que definem que a educação ambiental deve ser permanente e continuada, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, dentro e fora da escola.

A Educação Ambiental é dimensão da educação, é atividade intencional da prática social que imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, com objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-a mais plena de prática social e de ética ambiental (Tozoni-Reis,2004).

A Educação ambiental faz parte do movimento ecológico e surge da preocupação da sociedade com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e futuras gerações (CARVALHO, 2008). Com essa visão de educação ambiental, abre-se um caminho alternativo de relacionamento entre os grupos sociais e o meio ambiente. Ainda nessa perspectiva a Educação ambiental, orientada pelo tratado de Educação Ambiental para as sociedades sustentáveis, onde em a educação ambiental deve promover e apoiar a capacitação de recursos humanos para preservar conservar e gerenciar o ambiente.

De acordo com Silva e Martim (2001), a Educação Ambiental é um instrumento poderoso do qual a sociedade dispõe no momento para resgatar valores capazes de induzir as pessoas sejam elas crianças, jovens e idosos a perceberem a natureza como um bem comum, a ser compartilhado com base no sentimento de solidariedade e responsabilidade.

As organizações e os movimentos sociais são espaços onde a cidadania deve acontecer, como também a melhoria da qualidade de vida e do ambiente dever ser uma busca constante. Para isso existe a necessidade de levar em consideração a realidade local, como também aspectos culturais e sociais. O meio ambiente é considerado em sua totalidade.

A Política Nacional de Educação Ambiental (1999), trata na seção III da educação ambiental não formal, onde as ações e prática educativas devem ser voltadas a sensibilização da coletividade no que diz respeito as questões ambientais e à sua organização e participação na qualidade do meio ambiente, buscando uma ampla participação de diversos atores, não excluindo a participação de escolas, universidades, e de organizações não governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas a educação ambiental não-formal. Com isso é possível notar a importância da educação ambiental em contexto comunitários, onde a comunidade se empodera e todos se tornam atores ativos em busca de um objetivo comum na transformação da realidade local.

           

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

 

Na atualidade, devido ao aumento do processo produtivo, e com avanço do modelo capitalista existe uma busca intensa por matéria prima na natureza tornando-se inevitável os problemas ambientais.  Esse intenso processo de produção causa uma forte pressão sobre os recursos naturais e o meio ambiente, acarretando vários tipos de degradações, nas quais o ser humano é o principal responsável. É de fundamental importância mudar o comportamento desses habitantes, principalmente em relação à compreensão do espaço natural que vive, de maneira que possam atuar de forma sustentável, e que assegure uma gestão coletiva e responsável dos recursos naturais como solo, água, fauna e flora local, garantindo para as gerações futuras.

Esse pensamento surge do conceito de desenvolvimento sustentável que é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Esse conceito traz duas reflexões, primeira “necessidades” sobretudo as necessidades essenciais dos pobres no mundo, que devem receber a máxima prioridade; e a segunda- a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

Em seu sentido mais amplo, a estratégia de desenvolvimento sustentável visa a promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza. Porém esse conceito vem sendo camuflado e tem apresentado várias facetas que passam longe do real desenvolvimento que se espera, o mesmo vem sendo usado como crença, mito ou manipulação ideológica. Ressaltando que para alguns grupos de interesse tem sido a justificativa para um crescimento econômico voltado para a sustentabilidade, quando na realidade o desenvolvimento sustentável tem como eixo principal o desenvolvimento humano (social, ambiental, cultural, político e econômico).

Além disso, é importante salientar que essa visão de desenvolvimento sustentávelsó pode ser aplicada se for embasada na vertente da educação ambiental prática, preconizada em processos cognitivo(envolve fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que fazem parte do desenvolvimento intelectual) e sócio afetivosdaquelas práticas que se volta à conservação da natureza. É fundamental desenvolver em comunidades, escolas, associações uma educação popular voltada para a promoção do outro, onde se valorize o diálogo e o saber local, somente assim poderá iniciar um processo em busca de um desenvolvimento sustentável

Portanto, desenvolver práticas sustentáveis apartir de uma produção alternativa que venha contribuir com o meio ambiente e com a economia doméstica dessas famílias que residem em torno das margens do rio Jaguaribe contribui para a conservação do mesmo. Visto querio Jaguaribeé o principal da cidade de João Pessoa, que perpassa por vários bairros da cidade e está presente na memória afetiva de várias famílias que habitam na beira deste rio, mas hoje se encontram em um estágio de poluição avançado.

As práticas sustentáveis a serem desenvolvidas devem ter como foco a reutilização de materiais que iriam ser descartados (garrafas, papéis, caixas, plásticos) e confecção de produtos de limpeza biodegradáveis.  A idéia central é que essas práticas gerem agentes multiplicadores, que poderão subsidiaros processos educativos na sua comunidade.  As alternativas de produção irá   atua como catalisador no processo de sensibilização da sociedade, dos problemas ambientais, pois busca desenvolver em seus atores, hábitos, comportamentos e atitudes sadios de conservação ambiental e respeito à natureza, transformando-os em cidadãos conscientes e comprometidos com a sustentabilidade.

 

 

Métodos

 

Área de Estudo

 

Esse trabalho foi desenvolvido no município de João Pessoa, no Estado da Paraíba, em duas comunidades: São José e Vale das Palmeiras (Cristo). Na comunidade São José as oficinas de Educação Ambiental ocorreram na Associação Mulheres de Mãos Dadas, formadas por mulheres da comunidade que já desenvolvem atividades de produção de sabão, artesanatos e ações de cidadania para a comunidade.

A comunidade Vale das Palmeiras, fica localizada no bairro do Cristo, conhecida como condomínio Vale das Palmeiras, foi resultado do Programa de Aceleração do Crescimento que resultou na construção de 852 unidades habitacionais, os moradores da comunidade são egressos de outras áreas, onde se encontravam em vulnerabilidade socioambiental. Nesta comunidade as oficinas foram realizadas na Associação de Mãos dadas pela Vida das Mulheres, Crianças e Adolescente (Potiron), uma associação de mulheres costureiras, que já desenvolvem atividades a cerca de seis anos desde conserto de roupas, confecção e artesanato de reciclagem. Nas imagens 1 e 2 a seguir pode-se observar a sede das associações:

 

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As duas comunidades apresentam aspectos ambientais semelhantes, o rio Jaguaribe percorre as duas comunidades e encontram-se na mesma situação de degradação ambiental, com grande geração de resíduos sólidos, enchentes, instalação de esgotos clandestinos entre outras. As duas comunidades estão entre os bairros com um número expressivo de violência e tráfico de drogas, sendo visto pela sociedade com áreas de marginalização. A maioria da população tem como ocupação: empregadas domésticas, porteiros, vigilantes, serviços gerais e pedreiros. São poucos na comunidade que apresentam um nível de escolaridade superior ao ensino médio, ressalta-se um número expressivo de analfabetos, mas destaca-se também alguns projetos e políticas que tentam mudar está realidade.

 

Metodologia

 

A metodologia utilizada foi através da pesquisa-ação. É um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo e participativo (THIOLENT, 1998).

Segundo BARBIER e EL ANDALOUSSI (2004) afirmam que a finalidade da pesquisa-ação é auxiliar transformações sociais. Dentro desse contexto a pesquisa-ação foi selecionada para a investigação que objetiva a conservação dos recursos hídricos, a formação de uma consciência crítica e cidadã que auxilie os participantes a atuar no meio no qual estão inseridos e o enraizamento da educação ambiental no contexto comunitário.

O caminho metodológico percorrido foi: investigação na comunidade para observar os problemas socioambientais, rodas de diálogos com os participantes e as oficinas de educação ambiental, com a confecção dos produtos. Durante os encontros foram utilizadas as etapas descritas na figura 1:

 


 

Figura 1 - etapas de metodológicas das oficinas:

 

 

Os pressupostos foram voltados a uma perspectiva construtivista, tendo a comunidade como sujeito do processo de aprendizagem, assumindo um perfil de pesquisa-ação, e que as propostas pedagógicas da educação popular criada por Paulo Freire foram norteadoras neste processo. Outro aspecto definido é que a concepção de Educação Ambiental será sistêmica, onde a relação sociedade-natureza se processa de forma dialética e contextual, fugindo de um foco meramente ecológico e tecnicista.

 

Resultados e Discussões

 

As oficinas foram realizadas durante o ano de 2012 entre os meses de julho à dezembro em duas associações compostas por mulheres. Em cada uma das associações foram realizadas dezenove encontros, cada um com 90 minutos de duração. As intervenções tiveram o objetivo de integrar educação ambiental prática com enfoque na temática dos problemas socioambientais da comunidade.

 

 

Oficinas na Associação de Mulheres de Mãos Dadas –São José

 

A associação de Mulheres de Mãos Dadas é composta por mulheres do bairro São José, conta com cerca de 30 associadas– algumas mulheres empregadas domésticas trabalhadoras sindicalizadas, catadoras de materiais recicláveis, outras donas de casa). A associação proporciona na sua sede atividades de: cidadania, biblioteca comunitária, oferece cursos para a comunidade, palestras e a produção de sabão ecológico. A associação se mantém financeiramente da doação das associadas e colaboradores externos, e com a venda comunitária do sabão ecológico.

O bairro onde a associação está inserida, surgiu como um assentamento espontâneo informal desordenado de migrantes de baixo poder aquisitivo que ocuparam sem licença todo o vale às margens do rio Jaguaribe (consideradas Área de Preservação Permanente, APP), e próximo a encostas, acarretando graves prejuízos sociais e ambientais, levando a uma baixa qualidade de vida para os moradores e sérias agressões ao meio ambiente. Lima (2006) confirma tal realidade ao afirmar que o bairro São José, é um bairro com características de favela, ocupação desordenada e em áreas de risco ambiental, precariedade das moradias, insalubridade, sem espaços de sociabilidade, alta densidade construtiva e má condições de habitabilidade.

Devido a estes conflitos a associação sente a necessidade de atividades de sensibilização no tocante as práticas de educação ambiental, o que fez com que o projeto fosse inserido nesta comunidade. As oficinas ocorreram no espaço da Associação e contou com um público participante de 20 pessoas. No primeiro momento foram realizadas rodadas de diálogos para a compreensão da realidade local, nestes encontros foram levantados alguns problemas ambientais identificados pelos participantes. Os principais problemas são: disposição inadequada dos resíduos sólidos, contaminação do rio Jaguaribe, esgoto à céu aberto, habitação inadequada, entre outros. Apartir dessa rodada de diálogo foi elaborado o material a ser utilizado em consonância com as práticas.

No total foram realizados 19 oficinas dividas em: momento de diálogo e reflexão, prática e dinâmica de grupo. Nos momento de diálogos foram tratados temas como resíduos sólidos, água, vegetação, processo de urbanização, entre outros numa perspectiva da realidade local dos participantes.

No tocante as práticas de Educação Ambiental, a proposta de oficinas de confecção de produtos ecológicos e artesanatos sustentáveis, se torna uma estratégia de atrair a comunidade, pois além de conhecer algo novo, posteriormente podem gerar uma renda extra, obtendo também uma economia doméstica. Ressaltando ainda que a confecção desses produtos   como a reciclagem do óleo usado para produzir o sabão, odetergente biodegradável, amaciantes caseiros entre outras, além de oferecerem uma fonte alternativa para produtos de limpeza convencionais, são economicamente viáveis e não agridem tão intensamente o meio ambiente. A prática do sabão ecológico é essencial para essas comunidades do entorno do rio Jaguaribe, pois o óleo de cozinha é altamente prejudicial ao meio ambiente e quando jogado na pia, e geralmente, vai direto para a rede de esgoto,os locais onde a rede deesgoto é deficiente, invariavelmente, esse óleo acaba indo parar nos cursos dágua (rios, córregos, lagos etc.)  que cortam as cidades, causando danos à fauna e flora aquática. Quando esse óleo é jogado diretamente no solo causa impermeabilização, contribuindo para enchentes, ou entra em decomposição, soltando gás metano durante esse processo, causando mau cheiro, além de agravar o efeito estufa.

As participantes confeccionaram em torno de 19 produtos: sabão ecológico, sabão em pasta, amaciante, detergentes biodegradáveis, desinfetantes, puff de garrafas pet, carteira de caixa de leite, sabonetes líquidos, sabonetes em barra caseiro, aromatizantes, entre outros. No decorrer das oficinas foi possível observar mudanças no discurso e atitudes das participantes com relação a temática de resíduos sólidos e água. Através das rodas de diálogos, as mesmas foram se sensibilizando e muitas já realizam a coleta seletiva, utilizam a água de forma racional.


 

 

Nas imagens 3, 4, 5 e 6 é possível observar as participantes nas oficinas de educação ambiental:

 

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Oficinas na Associação de Mãos dadas pela Vida das Mulheres, Crianças e Adolescente (Potiron), – Vale das Palmeiras

 

A associação de Mãos dadas pela Vida das Mulheres, Crianças e Adolescentes-Potiron, é um espaço de mulheres costureiras que utilizam técnicas de trabalhos manuais, produzidas a partir de materiais reciclados, com o objetivo de oportunizar às mulheres o desenvolvimento de trabalhos em grupos e o empreendedorismo. Nesta comunidade também existem problemas socioambientais como: esgoto a céu aberto em determinadas áreas, disposição e destinação inadequada de resíduos sólidos, e apresenta características rurbanas, ou seja, mesmo sendo uma área urbana, os moradores apresentam aspectos da área rural como criação de vacas, porcos, cavalos, galinhas. É muito comum observar nestas áreas vacarias e pocilgas.

Apesar das mulheres já desenvolverem algumas atividades de reciclagem, as mesmas demandaram uma oficina de educação ambiental com foco em práticas sustentáveis, para aperfeiçoar os conhecimentos.

Na associação foram realizados 19 encontros para a confecção dos produtos, a metodologia se tornou um pouco diferenciada da comunidade São José, porque poucas mulheres eram alfabetizadas, neste sentido as discussões sobre os problemas socioambientais surgia apartir das experiências e observações de imagens sobre a realidade local das participantes. Sendo utilizados recursos didáticos como: fotos em cartazes, vídeos e músicas. Neste sentido as trocas de conhecimento foi fundamental para introspecção da sensibilização ambiental e mudança de comportamento.

Nas oficinas as participantes confeccionaram: sabão ecológico, desinfetante, detergentes biodegradáveis, sabonetes, artesanatos de garrafa pet, jornal, vidro, entre outras. É possível observar nas imagens 7, 8, 9 e 10 as participantes nas oficinas:

 

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Considerações finais

 

As oficinas de Educação Ambiental através de práticas sustentáveis, obteve resultados de impacto positivo nas comunidades, os participantes se mostraram interessados e muitos hoje estão utilizando as práticas ensinadas como economia doméstica e geração de renda. Desta formaa realização dessas atividades (oficinas, exibições de vídeos educativose roda de diálogos), dentro destas comunidades normalmente estereotipadas pela sociedade como territórios de marginalização e criminalização, demonstrou que apesar dos conflitos socioambientais existentes, as comunidades mostraram-se envolvidas e interessadas durante aexecução das atividades. Assim como foi possível observar alguns grupos dentro das associações altamente organizados e politizados, o que contribui para o processo de educação crítica e emancipatória.

Com isso, conseguimos atingir com êxito um dos principais objetivos, senão o principal, da Educação Ambiental, que é sensibilizar e conscientizar a população sobre suas atitudes para com o meio ambiente, e assim, minimizar os impactos ambientais causados em nosso dia a dia, proporcionando uma melhor qualidade de vida para a população.

 

 

 

 

Agradecimentos:

 

À Associação Mulheres de Mãos Dadas do bairro São José e a Associação Potiron do Vale das Palmeiras. À Prefeitura Municipal de João Pessoa e a Fundação Cultural de João Pessoa. À todas as participantes e colaboradores pela troca de conhecimentos.

 

 

 

Referências:

 

BARBIER, R.  A pesquisa ação. Tradução de LucieDidio. Brasília: Líber Livro Editora,2004.

BRASIL, Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a política nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9795.htm

_________. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998.

CARVALHO, I.C.M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 4º Ed São Paulo: Cortez.2008.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 1993.

EL ANDALOUSSI, K. Pesquisas-ações: ciências, desenvolvimento,

democracia. São Carlos: EdUFSCAR, 2004

Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Caderno de pesquisas, n.118, mar. 2003, p.189-206. Disponível em: . Acesso em: 16 de outubro de 2015.

OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 2ª edição. Petrópolis: Vozes, 2002.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1988.

Veiga, José Eli da, Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond,2010.

Ilustrações: Silvana Santos