Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) O LIXO QUE NÃO É LIXO, É FONTE DE RENDA SUSTENTÁVEL
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O LIXO QUE NÃO É LIXO É FONTE DE RENDA SUSTENTÁVEL

 

 

Zilmar Timoteo Soares*

Heliclene da Silva Lima1

Maria Gonçalves de Oliveira2

Benjamim Soares de Farias Barroso3

 

RESUMO

O presente artigo propõe a redução e o tratamento do lixo como questões imprescindíveis à preservação do meio ambiente. Nesse sentido, dedicou-se à necessidade de implantar uma cooperativa que venha atender direta e indiretamente aos catadores e à população carente no município de Ourilândia do Norte, objetivando a reciclagem de resíduos como fonte de renda.

 

Palavras chave: lixo, meio ambiente, sustentabilidade, cooperativa.

 

__________________________

*Professor orientador do trabalho. Dr. Em Educação e convidado para o programa de Mestrado em Ciências da Educação da WEU/USA.

1-Professora da rede municipal e estadual de ensino de Ourilândia do Norte. Mestranda em Ciências da Educação pela World Einstein University. Pós – Graduada em Matemática pela Faculdade Tecnológica Equipe Darwin. Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Naturais com Habilitação em Física pela Universidade Estadual do Pará.

2- Maria Gonçalves de Oliveira. Professora da rede municipal de ensino de Ourilândia do Norte. Mestranda em Ciências da Educação pela World Einstein University. Pós – Graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade Tecnológica Equipe Darwin. Graduada em Letras pela Universidade da Amazônia.

3-Benjamim Soares de Farias Barroso.

Professor da rede municipal de ensino de Ourilândia do Norte e Tucumã. Mestrando em Ciências da Educação pela World Einstein University. Graduado em Língua Portuguesa e Inglesa.

 

 

1.    INTRODUÇÃO

 

Diante do desafio de se construir mecanismos diversificados para a causa do meio ambiente, apresenta-se como uma alternativa viável e ao mesmo tempo indispensável, o tratamento do lixo acumulado pelos cidadãos. O tema da preservação ambiental tornou-se pauta em praticamente todas as organizações governamentais, intergovernamentais e as não governamentais, além de ser assunto que sempre está presente no planejamento das metas dos aglomerados empresariais. Cabendo ou não criticas ao marketing do desenvolvimento sustentável, entre as instituições econômicas e sociais da sociedade, é evidente que os impactos da poluição ao meio ambiente e sua possível atenuação se tornou a “causa da vez”. As diversas formas de poluição e suas ações devastadoras aos seres vivos e à natureza ganharam notoriedade nesse começo do século XXI.

A capacidade de produção de bens de consumo cresceu intensamente ao entrarmos no que chama-se de Terceira Revolução Industrial, ou revolução tecno-científica; à quase totalidade dos países do globo modernizaram-se, ao passo que as relações econômicas se tornaram mais dinâmicas e o mercado capitalista alcançou enorme desenvolvimento produtivo. A abertura das relações comercias entre as nações facilitou a ação das grandes industrias multinacionais  em todo mundo, fazendo com que, consequentemente, os bens materiais ficassem mais acessíveis às pessoas e o consumo exacerbado passasse a ser um hábito digno de status social. Com isso, o nítido consumismo contemporâneo deflagrado mundialmente, transformou-se no principal motivo da alta produção de lixo atualmente. Assim, verifica-se a redução e o tratamento do lixo como questões imprescindíveis à preservação do meio ambiente.

Com base na urgência da abordagem da temática do lixo, e dos modos alternativos de lidar com esta questão, o presente estudo é resultado do projeto de pesquisa “Lixo que não é lixo, é fonte de renda sustentável, no município de Ourilândia do Norte (PA), desenvolvido pela disciplina de Educação Ambiental do curso de Mestrado em Ciências da Educação, cujo objetivo central dedicou-se à necessidade de implantar uma cooperativa que venha atender direta e indiretamente aos catadores e à população carente. Desse modo, desenvolveram-se, ainda, como procedimentos metodológicos, a pesquisa de natureza bibliográfica, a documental e a de campo. Tendo como foco a cidade de Ourilândia do Norte, verificou-se como se dá o trabalho dos catadores e a situação em que se encontra o local de depósito do lixo da cidade.

 

2.    O DESTINO DO LIXO

 

Os resíduos sólidos considerados inúteis ou indesejáveis formam o que chamamos de lixo. No Brasil, ainda são comuns os lixões4a céu aberto, onde a matéria orgânica em decomposição atrai insetos como baratas, mosquitos, moscas, ratos, dentre outros animais e organismos transmissores de doenças (vírus, bactérias, protozoários). Além disso, esses animais encontram nos lixões o ambiente ideal para se reproduzir.

De acordo com pesquisas,coleta-se no Brasil diariamente cerda de 125,281 mil toneladas de resíduos domiciliares. Geralmente, o lixo produzido nos munícipios brasileiros é destinado, na maioria das vezes, como mencionado, a lixões a céu aberto e aterros sanitários, pois grande parte das cidades não possuem formas alternativas de coleta do lixo produzido pelos moradores. Não obstante, é importantíssimo frisar que a metade do lixo acumulado no Brasil não é coletado, tendo como principal destino lagos, rios, e mares. Isso provoca, portanto, poluição generalizada das águas e inutilização em qualquer aspecto deste recurso; além disso, fica improvável a sobrevivência de determinadas espécies de peixes por causa do grande acumulo de resíduos poluidores. O Brasil é o país que tem a maior reserva de água doce do mundo, e esse é um dos motivos que podemos apontar para que o país continue com uma atitude passiva quanto ao depósito de lixo nas águas. 

Tendo em vista o munícipio de Ourilândia do Norte, em que este estudo foi realizado, viu-se que o lixo da cidade é coletado pelo poder público, através do trabalho realizado pelos garis, e depositado em um lixão controlado(ver figura 4), em que é feito um “aterro intermediário5”, a fim de não deixar uma grande quantidade de lixo exposto a céu aberto. O lixão fica localizado na zona rural, a uma distância em média de quatro quilômetros do município. Ressalta-se, entretanto, como acontece em muitos municípios brasileiros, em Ourilândia do Norte, também joga-se lixo nas águas; o pequeno rio Boa Esperança que percorre quase toda a cidade, não sobreviveu à ação poluente dos moradores, à medida que a população da cidade foi amentando, a ação de se jogar lixo no rio tornou-se cada vez mais intensa, causando a poluição irreversível do pequeno rio que, outrora, pescava-se e banhava-se sem problemas.

                                                    

2.1 A RECICLAGEM

 

Faz-se necessário a prática bem elaborada da reciclagem do lixo nas cidades. De fato, a reciclagem é efetuada de forma arbitrária por catadores nos lixões do Brasil; embora a prática tenha aumentado nos últimos tempos, é preciso uma organização e um maior suporte para sua efetiva colaboração.

Umas das preocupações dos países hoje é o aumento do lixo eletrônico, sobretudo nos países subdesenvolvidos, que, geralmente, servem de depósitos do lixo eletrônico dos países desenvolvidos. A contaminação ambiental provocada por esse tipo de lixo possui impactos bastante relevantes, uma vez que, a maioria dos produtos eletrônicos, são portadores de metais altamente tóxicos e nocivos à saúde. Diante dessa questão, reforça-se a importância da reciclagem desse lixo.

Em alguns municípios o lixo coletado de residências e áreas comerciais é levado para as usinas de tratamento, onde se separa a parte orgânica que resultará no composto, da parte que será reciclada nas indústrias.  Nem todos os tipos de materiais podem ser reciclados, esses materiais devem ser encaminhados para os aterros sanitários.

 

2.2 COMPOSTAGEM

 

Em média 40% do lixo que produzimos em casa é orgânico, esse percentual varia de família para família.

O presente estudo descreve o desenvolvimento de adubos sustentáveis, o chamado processo de compostagem e incineração do lixo orgânico de forma artesanal.

Compostagem nada mais é do que a transformação do lixo derivado de alimentos em adubos orgânicos. A relação humana com os resíduos por ela produzidos é um grave problema ambiental. Reaproveitar o lixo orgânico como adubo com a compostagem doméstica é uma solução eficaz para reciclagem do lixo orgânico. Essa prática tem inúmeros benefícios, a começar pelo impacto positivo ao meio ambiente, reduzindo até 75% do volume dos resíduos orgânicos depositados nos aterros sanitários. Possibilita, em segundo lugar, a fabricação de fertilizantes nutritivos para usar em hortas, vasos e jardins a custo zero.

Quase todo resto de alimento pode ser transformado em composta: cascas de frutas, verduras, ovos, borras de café, saquinhos de chá, sobras de alimentos cozidos, estragados, restos de arroz e ração para cachorro. A qualidade final do produto vai depender do tipo de resíduos depositado na composteira.

Como fazer?

Diferente do que se imagina, é simples criar uma mini estação de tratamento de lixo em casa.

Primeiro passo: implantar uma composteira que será o recipiente no qual você vai armazenar seu lixo orgânico, podendo ser feita diretamente no solo, sem qualquer proteção, ou em caixotes de madeira, caixas plásticas, baldes, ou qualquer outro material reaproveitável com tampa. O recomendável é instalá-la no quintal ou outro local de fácil acesso e, que esteja bem tampado, evitando a proliferação de inseto e mau cheiro. As bactérias fazem o trabalho, transformando o resíduo em adubo, um rico composto para as plantas. Onatural é que esse ciclo fique pronto em três semanas a quatro meses dependendo do composto, depois é só distribuir em vasos ou jardim.

 

2.3 INCINERAÇÃO

 

Outra prática bem antiga para a eliminação do lixo, principalmente em áreas rurais, é a incineração do lixo. A incineração reduz aproximadamente 70% do volume do lixo. Essa redução traz um grande bem a diminuição de espaços para aterros sanitários. A incineração controlada é feita em equipamentos denominados incineradores, nos quais esse material é queimado numa temperatura acima de 900 ºC, utilizando uma quantidade apropriada de oxigênio para se conseguir uma combustão apropriada do lixo.

No modo artesanal ou doméstico, pode ser feito em casa em pequenas quantidades. Esse mesmo material orgânico pode ser queimado a uma temperatura que varia de 260 ºC a 500 ºC dependendo do forno usado, controlando então somente o tempo de incineração. Lembrando que nesse processo alguns sais podem sofrer redução ou volarização nesse aquecimento. Para manter o teor de minerais, a forma mais apropriada de aquecimento é com vapor. Ao colocar o recipiente com restos orgânicos no forno, coloca-se também um recipiente com um pouco de água dentro, para manter as propriedades do alimento no adubo produzido. Lembrando que devido à quantidade de água e cinzas produzidos no processo até a secagem total, a matéria orgânica transforma-se em dióxido de carbono.

A quantidade de nutrientes no seu fertilizante orgânico, também dependerá da qualidade dos alimentos nele composto.

Vegetais possuem enxofre e ferro, que não são indicados para qualquer solo, apenas solos com deficiência dos mesmos. Penas e ossos de aves são ricos em nitrogênio, e jornais, guardanapos, palitos e seus derivados são fontes de carbono.

 

3     COOPERATIVA NO MUNICIPIO DE OURILÂNDIA DO NORTE

 

A cidade de Ourilândia do Norte localiza-se no sudeste do estado do Pará e teve a sua ocupação intensificada a partir de10 de maio de 1988, em virtude da exploração do garimpo e aquisição de terras no Projeto de Colonização, da empresa Andrade Gutierrez em Tucumã, na época o território era pertencente ao município de São Félix do Xingu.

Assim, antes de ser oficialmente Ourilândia do Norte, era denominada de Guarita I e Guarita II,pequena colônia criada as margens da Rodovia PA – 279 em uma picada que dava acesso ao tão sonhado projeto tucumã, por homens que não podiam entrar no projeto devido não possuir condições financeiras para aquisição de terras. (Fonte: IBGE)

Atualmente, Ourilândia do Norte conta com uma população de 28 551 habitantes (IBGE 2012). Com o aumento desordenado da população por busca de oportunidades de trabalho aumentou o numero de desempregados do município, multiplicando o número de necessitados e pedintes.

Segundos dados extraídos da proprietária da área onde se encontra o atual lixão e da secretaria de saneamento básico, existem em média 15 famílias permanentes cuja fonte de renda é exclusiva do lixo, e estas vivem e trabalham com condições precárias.

No decorrer da pesquisa de campo, a cada visita ao lixão, nos deparamos com moradores que retiravam alimentos somente para o sustento de criações de animais; são trabalhadores locais que não dependem do lixo para sua sobrevivência, mas apoiam a implantação de uma cooperativa na cidade.

 

Assim, todo material descartado vai diretamente para o lixão, sem que haja uma coleta seletiva, a separação desses resíduos para a reciclagem é feita pelos próprios catadores, e, somente os materiais oriundos de hospitais e postos de saúdes são encaminhados à outra cidade para ser incinerado. (SEC. MEIO AMBIENTE).Além disso, de acordo com o secretário Sidney Brito (afastado por candidatura para as eleições de 2016),em parceria com a mineradora Vale, está previsto um local para implantação de um aterro sanitário, distante a 30 km do município.

As cooperativas de catadores de lixo reciclável observa-se como excelente alternativa para o problema do volume excessivo de lixo gerado pelo consumismo da sociedade moderna.

Por está em bastante evidencia, o cooperativismo tem se tornado cada vez mais o mecanismo de crescimento e combate a exclusão social, por ser uma associação de pessoas que cooperam umas com as outras em busca de um ideal em comum. Existente desde século XIX, essa ideia tomou forma com o advento da revolução industrial quando homens foram substituídos por maquinas, gerando assim uma grande massa de desempregados.

 

 

4     CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente pelo descarte inadequado desses resíduos, haja vista a necessidade de disciplinar o descarte e o gerenciamento ambientalmente adequado, ou seja, a coleta, a reutilização, a reciclagem, o tratamento ou até mesmo a disposição final. Conclui-se que, a implantação de uma cooperativa contribuirá para o desenvolvimento sócio – ambiental de Ourilândia do Norte e servirá como uma alternativa de fonte de renda para os catadores e população carente. É importante ressaltar, que é necessária uma política de gestão por parte do poder público e privado. Ademais, cabe a conscientização da população, através do setor educacional, sobre os efeitos da poluição e da destruição do meio ambiente.

 

 

REFERÊNCIAS

 

Métodos químicos e físicos para análise de alimentos, 3 ed., São Paulo, IMESP, 1985.

 

Normas analíticas, vol. 01, Instituto Adolf Lutz.

 

OURILANDIA DO NORTE. Secretaria de Meio Ambiente. Relatório de Gestão. Ourilândia do Norte, 2016.

 

______. Secretaria de Promoção Social. Relatório de Gestão. Ourilândia do Norte, 2016.

 

______. Secretaria de Saneamento Básico. Relatório de Gestão. Ourilândia do Norte, 2016.

 

 

TEIXEIRA, Murilo e MALHEIROS, Telma Maria Marques. Cooperativas de catadores de lixo – um processo de inclusão social.

 

TRINDADE J. A. e OLIVEIRA W. F. A reciclagem e sua importância como alternativa de renda para os catadores de lixo de Aracaju. Acesso em: 15.06.2016

 

www.lixo.com.br

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos