Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/09/2016 (Nº 57) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE CIÊNCIAS EM ESPAÇOS FORMAIS DE ENSINO: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O ENSINO DE CIÊNCIAS EM ESPAÇOS FORMAIS DE ENSINO: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES

 

Sandra Lucia de Souza Pinto Cribb

Professora do Centro Universitário Augusto Motta

 

 

Resumo

Atualmente muito se tem debatido sobre o meio ambiente e as questões que o atingem. O tema presente principalmente na área educacional tem contribuído para demonstrar a necessidade de se encontrar soluções para minimizar os impactos das ações humanas sobre o meio ambiente. A Educação Ambiental é condição primordial, sobretudo, no Ensino formal para contribuir com a mudança de postura e compreensão sobre as demandas e necessidades do mundo atual, já que, principalmente, a Educação Ambiental Transformadora, enfatiza a educação como um processo permanente, cotidiano e coletivo através do qual é possível agir e refletir, e com isso transformar a realidade da vida.

Nas escolas a prática docente em Educação Ambiental deve estar associada ao Ensino de Ciências para que as atividades, os projetos tenham caráter interdisciplinar, socioeducacional e socioambiental; que incorporem e se incorporem às comunidades acadêmica e escolar. Nesse sentido, os teóricos das temáticas Educação Ambiental e Ensino de Ciências podem contribuir fortemente para a construção de projetos e atividades reflexivas, sensibilizadoras, democráticas, participantes e conscientizadoras.

 

 

Palavras-chave: educação ambiental; espaços formais de ensino; ensino de ciências

 

 

 

 

Desenvolvimento

 

Atualmente muito se tem debatido sobre o meio ambiente e as questões que o atingem. O tema está presente em todas as áreas do conhecimento, principalmente na área educacional, incluindo, os filmes, a mídia, em empresas e até nos espaços religiosos. Toda esta perspectiva demonstra a necessidade de se encontrar soluções para minimizar os impactos das ações humanas sobre o meio ambiente.

A ação antrópica na natureza é antiga, principalmente, após a concretização do modelo capitalista, que vem se apropriando cada vez mais dos recursos naturais, degradando a natureza, aprofundando as desigualdades sociais e acelerando os impactos ambientais. Nesse sentido, o homem precisa reestabelecer uma conexão com a natureza pois sempre se coloca fora dela.

A Educação pode contribuir para transformações consideráveis na sociedade ao apresentar a realidade vivida, dando significado a ela, propondo rupturas e buscando soluções para os problemas que atingem e preocupam a vida atual.

A Educação Ambiental é condição primordial, sobretudo, no Ensino formal para contribuir com a mudança de postura e compreensão sobre as demandas e necessidades do mundo atual, já que, sobretudo, a Educação Ambiental Transformadora, enfatiza a educação como um processo permanente, cotidiano e coletivo através do qual é possível agir e refletir, e com isso transformar a realidade da vida.

 

Baseia-se no princípio de que as certezas são relativas; na crítica e autocrítica constante e na ação política como forma de se estabelecer movimentos emancipatórios e de transformação social que possibilitem o estabelecimento de novos patamares de relações na natureza (LOUREIRO, 2004, p. 81).

 

A Educação Ambiental propõe o questionamento da Educação existente bem como das possíveis escolhas e com isso torna a Educação criativa, transformadora, crítica, apoiada em valores éticos. Deste modo, provoca intervenções sociais na questão ambiental, possibilitando o desenvolvimento de um pensamento reflexivo, crítico, participativo e transformador, pois permite que os sujeitos sociais tenham mais voz e autonomia (GUIMARÃES, 2004).

As Instituições de ensino vêm gradativamente se comprometendo com vários problemas, dentre eles, os ambientais em suas várias dimensões e com os conhecimentos produzidos no ensino, na pesquisa e na extensão. Tal aspecto contribui para uma melhor compreensão das relações que se estabelecem entre o ensino e o ambiente. Assim, vários temas discutidos na sociedade constituem novas linhas de pesquisa, dentre as quais destacamos, educação ambiental, desenvolvimento e sustentabilidade, natureza e ambiente, justiça socioambiental, divulgação científica e ambiente (Loureiro, 2004, 2007, 2013; Guimarães, 2004, 2007) Reigota (2004); Sorrentino (2005); Carvalho 2004; Layragues (2004); Jacobi (2003,2013); Krasilchike Marandino(2004);Ruscheinski(2002), são alguns autores importantes na temática ambiental que abordam os assuntos mencionados acima, através de concepções de Educação Ambiental Crítica, dialética, transformadora, interdisciplinar e democrática no sentido de tornar possível educar para a cidadania através do desenvolvimento do processo de formação de uma consciência cidadã. Nesse sentido, Jacobi prepondera:

E como se relaciona educação ambiental com a cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens.

A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária (JACOBI, 2003, p.198).

 

O pensamento acima encontra sua complementação na visão de Loureiro, ao comentar que,

 

Entendo a adjetivação ‘transformadora’ (…) estritamente na condição de uma nuance inserida no campo libertário da educação ambiental no qual se inscrevem abordagens similares (emancipatória, crítica, popular, ecopedagógica, entre outras), que se aproximam na compreensão da educação e da inserção de nossa espécie em sociedade. Esse grande bloco tem o mérito de estimular o diálogo democrático, qualificado e respeitoso entre todos os educadores ambientais ao promover o questionamento às abordagenscomportamentalistas, reducionistas ou dualistas no entendimento da relação cultura-natureza. (LOUREIRO, 2004, p. 65).

 

Complementando esta visão, destaca-se ainda teóricos como Khun, Capra, Morin, Leff, Sachs, Guttari, Maturana, entre outros, que enfatizam o conflito da ciência moderna, analisando os paradigmas da ciência da modernidade. Estes teóricos apontam para a perspectiva de intervenção socioambiental baseados numa visão crítica ao reducionismo científico que, grosso modo, entendeque todos os fenômenos podem ser reduzidos a explicações científicas.

Nas escolas a prática docente em Educação Ambiental deve estar associada ao Ensino de Ciências para que as atividades, os projetos tenham caráter interdisciplinar, socioeducacional e socioambiental; que incorporem e se incorporem às comunidades acadêmica e escolar. Nesse sentido, os teóricos das temáticas Educação Ambiental e Ensino de Ciências podem contribuir fortemente para a construção de projetos e atividades reflexivas, sensibilizadoras, democráticas, participantes e conscientizadoras. Esta característica leva ao diálogo de novas idéias e propostas que surgem e são desenvolvidas para conferir mais aprimoramento do saber aos sujeitos envolvidos.

 

a racionalidade ambiental conjuga uma nova ética e novos princípios produtivos com o pensamento da complexidade (…) requer um programa de educação ambiental compreensivo e complexo, aberto a um amplo espectro de atividades e atores (LEFF, 1999, p. 126).

 

Assim, os projetos de ensino, pesquisa e extensão nas áreas ambiental e educacional devem provocar uma nova dinâmica nas comunidades acadêmica e escolar buscando levar ao melhor desempenho socioeducacional e à percepção de que é preciso intervir nas questões ambientais.

A integração entre o Ensino de Ciências e a Educação Ambiental contribui muito para a formação do cidadão quanto aos aspectos sociais, educacionais e políticos, sobretudo no que se refere a Educação Ambiental Crítica, que, ao instigar ou revelar a realidade, trazem outras e novas possibilidades de construção de um mundo melhor, conferindo um novo rumo à humanidade através da formaçãode um ser humano mais crítico e mais solidário. Sobre este aspecto Guimarães (2006, p.26), aponta que a Educação Ambiental Crítica,

 

é uma proposta voltada para um processo educativo desvelador e desconstrutor dos paradigmas da sociedade moderna com suas “armadilhas” e engajado no processo de transformações da realidade socioambiental, construtor de novos paradigmas constituintes de e constituídos por uma nova sociedade ambientalmente sustentável e seus sujeitos.

 

O mesmo autor também aponta para a seguinte idéia:

 

a ação que me parece prevalecer ainda nos ambientes educativos restringe-se apenas à difusão da percepção sobre a gravidade dos problemas ambientais e suas consequências para o meio ambiente. Essa perspectiva não é suficiente para uma educação ambiental que se pretenda crítica, capaz de intervir no processo de transformações socioambientais em prol da superação da crise ambiental da atualidade. (GUIMARÃES, 2006, p. 15-16).

 

Esta abordagem de Guimarães (idem) indica o distanciamento das escolas quanto a Educação Ambiental e sua relação com a realidade tanto das escolas como dos sujeitos que as frequentam, pois delas é retirado o seu papel como espaço de reflexão, de formação de novas ideias e de construção de conhecimento concreto. E é fundamental que nos espaços formais de ensino se trabalhe com diversos temas, sistematizando-os, contextualizando-os. É importante também capacitar os que atuam na educação para que possam desempenhar melhor as atividades da práxis educativa, desenvolver a pesquisa e a mediação socioeducacional, através de princípios que contribuam para a melhora dos problemas ambientais.

Nesse sentido, concordamos com Leff (1999, p.115) para quem “a Educação Ambiental requer uma visão interdisciplinar através da problematização dos paradigmas dominantes, da formação dos docentes e da incorporação do saber ambiental emergente em novos programas curriculares”.

A perspectiva interdisciplinar permite um trabalho de integração dos conhecimentos produzidos no Ensino de Ciências e na Educação Ambiental possibilitando, com isso, a completa formação do cidadão.

Outro aspecto que merece destaque é que o Ensino de Ciências com foco na Educação Ambiental requer uma nova perspectiva, um novo modelo de ciência, que procure romper com o pensamento fragmentado, e com isso, venha a fortalecer as pesquisas no Ensino de Ciências. Isto significa que a prática dos professores de ciências com ênfase em meio ambiente, deve envolver mais a prática da Educação Ambiental.

O conhecimento na área ambiental deve estar presente nas atividades acadêmicas provocando a criação de uma cultura de intervenção que busque a formação de outros e novos espaços escolares e até universitários onde se estabeleçam relações interdisciplinares e dialógicas. Esta articulação certamente proporcionará melhor formação dos cidadãos, não só àqueles inseridos nas Instituições de ensino como para toda a sociedade. Afinal, tais instituições, enquanto espaços formais de ensino, se constituem em locais excelentes para se estabelecer discussões não só no âmbito cognitivo, como nos âmbitos social, cultural e ambiental. Com isso podem contribuir para a construção de uma sociedade mais ética, mais justa, igualitária, mais democrática e assim, contribuir para uma melhor qualidade de vida da sociedade pois ao respeitar a cultura local e as dimensões da vida de cada indivíduo, acaba conferindo mudanças capazes de devolver a dignidade tanto individual como coletiva, além do controle do seu próprio destino com responsabilidade, solidariedade e respeito ao seu próximo.

Concordamos com (Brandão, 1996, p.33) para quem consciência e conhecimento se constroem, se estruturam e se enriquecem em cima de um processo de ação e de reflexão empreendido pelos protagonistas de uma prática social vinculada a seus interesses concretos e imediatos. Para o autor, dar motivação e instrumentar grupos populares para que assumam sua experiência de vida e de trabalho como fonte de conhecimento e de ação transformadora, deve ser o objetivo da pesquisa social e da ação educativa numa perspectiva libertadora.

 

Esta visão é reforçada pelas palavras de Freire, ao preponderar que,

se (...) a minha opção é libertadora, se a realidade se dá a mim não como algo parado, imobilizado, posto, aí, mas na relação dinâmica entre objetividade e subjetividade, não posso reduzir os grupos populares a meros objetos da minha pesquisa. Simplesmente, não posso conhecer a realidade de que participam a não ser com eles como sujeitos também deste conhecimento que, sendo para eles, um conhecimento do conhecimento anterior (o que se dá ao nível da sua experiência quotidiana) se torna um novo conhecimento. Se me interessa conhecer os modos de pensar e os níveis de percepção do real dos grupos populares estes grupos não podem ser meras incidências de meu estudo. Dizer que a participação direta, a ingerência dos grupos populares no processo da pesquisa altera a “pureza” dos resultados implica na defesa da redução daqueles grupos a puros objetos da ação pesquisadora de que, em consequência, os únicos sujeitos são os pesquisadores profissionais. Na perspectiva libertadora em que me situo, pelo contrário, a pesquisa, como ato de conhecimento, tem como sujeitos cognoscentes, de um lado, os pesquisadores profissionais; de outro, os grupos populares e, como objeto a ser desvelado, a realidade concreta. Quanto mais, em uma tal forma de conceber e praticar a pesquisa, os grupos populares vão aprofundando, como sujeitos, o ato de conhecimento de si em suas relações com a realidade, tanto mais vão podendo superar ou vão superando o conhecimento anterior em seus aspectos mais ingênuos. Deste modo, fazendo pesquisa, educo e estou me educando com os grupos populares. Voltando à área para pôr em prática os resultados da pesquisa não estou somente educando ou sendo educado: estou pesquisando outra vez. No sentido aqui descrito pesquisar e educar se identificam em um permanente e dinâmico movimento (FREIRE, 1986, p. 35-36).

 

 

Considerações finais

 

As questões de ordem ambiental, social, educacional, científica e tecnológica são primordiais e devem fazer parteda vivência acadêmica e das escolas. As ações desenvolvidas nestes espaços precisam ser planejadas para e comprometidas com a comunidade em que se insere buscando a transformação social.

A associação entre a Educação Ambiental e o Ensino de Ciências se constitui em um ótimo tema gerador nas Academias e nas escolas. Sem deixar o foco na função social do conhecimento, guiado, evidentemente, por uma proposta curricular e apoiado por um Projeto Político Pedagógico.

Esta perspectiva contribui para a geração e consolidação de novos conhecimentos, bem como para a melhora do conhecimento já estabelecido criando ou concedendo à comunidade uma apropriação do saber. Nesse sentido, os projetos de pesquisa ou extensão que tenham este caráter da Educação Ambiental junto com o Ensino de Ciências, contribuem na formação de indivíduos, tornando-os capazes de reconhecer os problemas atuais, a refletirem criticamente sobre as transformações pelas quais o mundo tem passado e possibilita novas formas de pensar e de agir frente as questões socioambientais.

 

 

Referências bibliográficas


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SORRENTINO, Marcos. Desenvolvimento Sustentável e Participação, In: LOUREIRO,

 

Ilustrações: Silvana Santos