Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
27/11/2016 (Nº 58) FRACKING: UM RISCO AMBIENTAL PARA OS RECURSOS HÍDRICOS E SOLOS BRASILEIROS
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=2552 
  

FRACKING: UM RISCO AMBIENTAL PARA OS RECURSOS HÍDRICOS E SOLOS BRASILEIROS

 

Andréia da Paz Schiller1, Thiago Bana Schuba2, Renan Rothmund³, Poliana Graziela Schreiner4, Cezar Franco5, Daniel Schwantes6

 

1Graduanda de Engenharia ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC PR campus Toledo. E-mail: andreia.schiller@hotmail.com

2Graduando de Engenharia ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC PR campus Toledo. E-mail: t.schuba@hotmail.com

3 Graduando de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC PR campus Toledo. E-mail: renanrothmund@hotmail.com

4 Graduanda de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC PR campus Toledo. E-mail: polianasch@hotmail.com

5 Professor orientador docente do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC PR campus Toledo. E-mail: cezar.franco@pucpr.br

6 Professor orientador docente do curso de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC PR campus Toledo. E-mail: daniel.schwantes@pucpr.br

 

 

RESUMO

Em alguns países, tais como os EUAa exploração de gás de xisto de reservas não convencionais representa boa parte da matriz energética nacional. No Brasil, as reservas não convencionais mapeadas representam grande fonte de energia, fazendo com que haja grande expectativa em relação a exploração desse gás e de óleo de xisto no país. Embora vários blocos exploratórios já tenham sido leiloados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP), a exploração gás de xistoainda não é uma realidade no Brasil. Muito se teme que a exploração possa causar danos aos recursos naturais existentes em território nacional, a exemplo de outros países tais como Argentina e EUA. Na Argentina a economia local baseada na fruticultura ao entorno de alguns poços de exploração foi desestabilizada devido a exploração de gás de xisto, as exportações foram interrompidas pelos compradores que temem as contaminações pela prática do frackingna região. No Brasil alguns blocos exploratórios se situam em áreas produtivas e ao mesmo tempo sobre aquíferos, por isso se teme que a exploração desse gás possa contaminar os solos e as reservas de águas subterrâneas e superficiais, além de desestabilizar a economia, pois algumas dessas áreas estão entre as mais produtivas do país, ao mesmo tempo que o Brasil é fortemente dependente do agronegócio.Por isso o presente estudo objetivou avaliar as possíveis consequências da extração do gás de xisto em território nacional e concluiu que essa atividade pode desestabilizar a economia nacional, pois a economia brasileira é baseada principalmente no agronegócio, atividade que depende fortemente dos solos e águas que podem ser contaminadas pela prática.

 

INTRODUÇÃO

 

A possibilidade de independência energética frente a outras naçõesvem exaltando os países que possuem reservas de gás de xisto, como o Brasil (LAGE et al. 2012), a técnica mais utilizada na extração desse gás e de óleo de Xisto em vários países é o fraturamento hidráulico, que apesar de ser uma técnica que levanta várias controvérsias ambientais continua se expandindo cada vez mais (SOUZA, 2014).

A exploração e produção desse que é considerado um gás não convencional depende principalmente das características geológicas, institucionais, ambientais, tecnológicas e de mercado, de cada país podendo por tanto provocar diferentes impactos (positivos e negativos), conforme o local de extração (LAGE et al. 2012).

Além dos impactos causados pela exploração, se deve considerar que a possibilidade de esgotamento de recursos naturais tais como os combustíveis fósseis, (petróleo e o gás natural por exemplo), são passíveis de causar fortes impactos sobre a humanidade em um período relativamente curto de tempo (Whalen, 2014). Por isso combustíveis renováveis deveriam ser preferencialmente inseridos na matriz energética, visando preservar os recursos não renováveis existentes no nosso planeta.

Para Junior e Andrade (2014), o crescimento econômico que é gerado em países que possuem abundância energética causa impactos positivos, pois acelera e aumenta o consumo, eleva os padrões de vida e melhora as condições de saúde, além de trazer novos desafios sociais e ambientais, masos autores salientam que quando o crescimento populacional leva à elevada exploração de recursos naturais,poluiecossistemas ecausa impactos negativos ao meio ambiente como um todo, por isso de acordo com os mesmos, há uma necessidade de implementar um critério mais ecológico para cálculo de desenvolvimento das sociedades.

Dessa forma não só os aspectos positivos da extração de recursos naturais, tais como o gás e o óleo de xisto, deveriam ser levados em consideração, mas também os danos causados ao meio ambiente em curto e longo prazo por essas atividades.De acordo com Whalen (2014), foram registrados recentemente em locais onde ocorrem fraturamento hidráulico para exploração desse gás, contaminação de solos e águas, fato que faz elevar um temor da realização da prática no Brasil.

Contudo este artigo foi elaborado com principal objetivo de abordar os riscos de contaminação aos solos e águas (superficiais e subterrâneas),que possam ser causados pela prática da extração de gás não convencional no Brasil. Para isso o artigo salienta os impactos causados pela prática da extração desse gás, além de abordar acontecimentos recentes ocorridos no Brasil e em outros países a cerca desse tema.

 

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Para elaboração deste trabalho foi realizado inicialmente uma busca na literatura recente, realizada entre janeiro e agosto de 2016, por meio de consultas a periódicos e artigos científicos selecionados através de busca em banco de dados, tais como SciELO e Science Direct.

Logo em seguida, buscou-se estudar e compreender os principais parâmetros, formase métodos de exploração de gás de xistoutilizados, e os impactos positivos e negativos causados por essa atividade a população e aos recursos naturais existentes aosdiferentes locais de perfuração dos poços de extração do gás de xisto. 

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

EXTRAÇÃODO DE GÁS DE XISTO

O gás natural surgiu recentemente como uma fonte de energia relativamente limpa que oferece a oportunidade para um número de regiões de todo o mundo de reduzir a sua dependência das importações de energia (VIDIC et al. 2013). O gás de xisto é o gás natural que se acumulou ao longo do tempo em rochas sedimentares, a formação do gás foi possibilitada devido à baixa intensidade de energia e alta pressão desses ambientes, essas rochas podem ser facilmente separadas em lâminas devido a sua alta taxa de fissibilidade (RIBEIRO, 2014).

A extração de gás de xisto do subsolo é possibilitada pelo fraturamento hidráulico, essa técnica que existe desde 1940 consiste na perfuração de poços até essas camadas de folhelhos (SOUZA et al. 2014), ao atingir uma determinada profundidade o poço é horizontalizado devido a fissibilidade das rochas, de forma que seccione, paralelamente, as camadas de folhelhos, após esse processo é injetada, sob altas pressões, uma solução, composta por água, areia e compostos químicos diversos (denominada solução de fraturamento). Durante estas injeções, os folhelhos que estão dentro da área de influência do poço são fraturados e estas fraturas são mantidas abertas por produtos presentes na própria solução, e isso provoca a liberação de gases e óleos presos no interior das rochas. Após, a solução residual é bombeada para fora do poço e disposta para tratamento e/ou destinação (SANBERG et al., 2014).

Como resultado do fraturamento das camadas de folhelho, há uma abrupta liberação de gases (metano, propano, nitrogênio, dióxido de carbono, entre outros) e quantidades subordinadas de óleo bruto. O alívio de pressão gerado pela própria abertura do poço, associado com a diferença de densidade do gás, faz com que o poço perfurado sirva como um canal preferencial de migração para captura do gás em superfície. Em superfície, este poço é conectado a uma usina para pré-refino e a uma linha de transmissão de gás, que conduz para uma refinaria de grande porte (SANBERG et al., 2014).

 

RISCOS AMBIENTAIS

Merrill e Schizer (2013), salientam que embora esse tipode atividade tenha criado muitos postos de trabalhoreforçando a independência energética dos EUA, se trata de uma atividade muito controversa, pois apresenta uma série de riscos ambientais. Dentre esses riscos os autores evidenciam o grande potencial dessa atividade de contaminar as águas subterrâneas pelos produtos químicos tóxicos utilizados para essa prática. Ainda de acordo com os autores podem ocorrerderrames de superfície do fluído de fraturamento, manipulação imprópria de resíduos, e a migração de gás natural para poços de água e consequente contaminação dos solos e lençóis freáticos.

De acordo com Junior e Andrade (2014), uma vez ocorrida a degradação do solo e recursos hídricos provavelmente será necessário o auxílio de tecnologias para recuperação da área atingida, pois atividades antrópicas dificultam o poder de resiliência do meio ambiente, visto principalmente a intensificação das mudanças externas sobre as áreas atingidas.

Além de riscos de contaminação de aquíferos e do solo, de acordo com Souza (2014), dentre os principais riscos causados pela prática da extração de Xistotambém se encontram o risco de explosão com a liberação de gás metano, o consumo excessivo de água para provocar o fraturamento da rocha, o uso de substâncias químicas que compõem os fluidos utilizados no método, e a preocupação de que o método possa provocar subsidências na superfície.

Embora o gás de xisto seja muitas vezes associadoa redução das emissões de carbono já que menos dióxido de carbono é emitido a partir da extração de gases naturais (incluindo o gás de xisto) do que a partir do carvão e óleo por unidade de energia térmica (HOWARTH, 2015), se deve ter cautela quanto a essa afirmação, pois, vários autores, tais comoLage et al. (2012), salientam que o processo de produção e entrega de gás natural emite gás metano para atmosfera, e evidenciam que este gás também é causador de efeito estufa, sendo inclusive mais agressivo do que o gás carbônico.

Para evitar esta influência e proteger os aquíferos mais rasos que os folhelhos, as sondagens devem ser realizadas dentro de um revestimento capaz de impermeabilizar as paredes do poço. Rompimentos neste revestimento podem acarretar em vazamentos de líquidos e gases para os aquíferos posicionados em profundidades mais rasas (SANBERG et al., 2014).

 

POSSIBILIDADE DE EXPLORAÇÃO NO BRASIL

Todos esses riscos ambientais recaem sobre o Brasil, com a possibilidade da exploração do gás de xisto no território nacional. No país, a 12° Rodada de Licitações da Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP) que ocorreu em novembro de 2013, ofertou 240 blocos exploratórios terrestres que se localizam em 7 bacias sedimentares do território nacional, das quais foram arrematados 72 blocos nas bacias: Recôncavo, Alagoas, Paraná, Parnaíba e Acre (BRASIL, 2013).

Usando como exemplo o estado do Paraná, por exemplo, 11 blocos foram leiloados,totalizando 32.365,06 Km², ou seja, cerca de 16% da área total do estado. Essa área está distribuída sobre 104 municípios do estado paranaense (BRASIL, 2013). Já em dezembro de 2015 ocorreu a segunda etapa da 13° rodada de Licitações da ANP, na qual foram arrematados mais blocos no Paraná na área de Barra Bonita (PARANÁ, 2015a).

Curiosamente, os 104 municípios atingidos no Paraná pela 12° rodada aqui mencionada, estão situados entre as áreas mais produtivas do país, sendo que em 2014 esses municípios somaram juntos mais de 26 bilhões de valor bruto na agropecuária,esse valor totaliza 37,5% da produção agropecuária do Paraná (PARANÁ, 2015b).

Alguns destes municípios, tais como o município de Toledo, tiveram 100% de sua áreadentre os blocos arrematados, nesse leilão, a exemplo de outras cidades dessa região, Toledo possui a maior parte de sua economia baseada no agronegócio, além de ter o maior PIB do estado, esse município ocupa o terceiro lugar em valor adicionado da agropecuária do Brasil (BRASIL, 2011).

Diante da a importância do agronegócio, não só para o município de Toledo, mas também para o estado paranaense e para o Brasil, há um temor de ameaça tanto aos recursos hídricos, quanto aos solos agricultáveis dessa região.

Com receio das ameaças que essa atividade pode causara economia local, a autoridade competente de Toledo(Prefeito do município), sancionou em 2014 uma Lei que impossibilita a exploração de gás de Xisto, por meio do fraturamento hidráulico, naquele município.A Lei n° 2.183/2014 impede a concessão de licenças para as empresas que queiram realizar o procedimento (TOLEDO, 2014).

No entanto, leis municipais por vezes são facilmente invalidadas pela esfera estadual e federal, a exemplo do que temnocorrido nas regiões de Vaca Muerta e Rio Negro na Argentina.Nessas localidades muitos produtores tiveram dificuldades para exportar frutas produzidas na região depois que a extração de gás de petróleo não convencional (gás de xisto), passou a ser explorado, esse é o caso do município de Allen, por exemplo, que de acordo com Lopez (2015), tentou abolir a extração de gás de suas terras por meio de uma ordenança(São espécies de leis municipais),no entanto o governo provincial de Rio Negro, onde fica localizada a cidade, demandou a inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal de Justiça de Rio Negro, por considerar que os municípios não possuem poder de legislar em matéria de hidrocarbonetos(utilizados para extrair o gás),contudo, de acordo com a autora, a extração continuou sendo realizada nos campos de produção de fruta, prejudicando as exportações das mercadorias e causando prejuízo.

            Voltando ao cenário nacional, uma outra tentativa de ‘barrar’ a prática do fracking foi a ação civil pública ambiental com pedido de tutela antecipada, movida pelo ministério público federal contra a ANP, e as empresas Petra Energia S.A, Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), Bayar Empreendimentos e Participações LTDA., que teve dentre outros objetivos o intuito de que fosse decretada a nulidade da 12ª Rodada de Licitações promovida pela ANP, em relação à disponibilização dos blocos da bacia do Paraná (PAR-T-198, PAR-T-199, PAR-T-218, PAR-T-219 e PAR-T-220)situados na região oeste do Estado de São Paulo (BRASIL, 2014).

Neste documento, o MPF expôs a preocupação com os riscos que essa atividade pode causar, como pode ser observado nos trechos a seguir:

 

(...) O oferecimento deste gás na 12ª Rodada de Leilões realizada pela ANP constituiu precipitação por demais temerária, já que essa técnica de exploração é altamente questionada no mundo inteiro e representa um potencial dano ambiental de extensão imensa e caráter irreversível, em especial em relação aos cursos de água e aquíferos que se localizam na região em que ocorrer – isto é, na Bacia do Rio Paraná, além de outros danos, consideradas as peculiaridades das áreas legalmente protegidas(...)

 

(...) Com o fracking, a região de Presidente Prudente, num futuro próximo, será um cemitério ambiental, permeado por milhares de poços sanguessugas, contaminação desenfreada dos aquíferos e cursos d’água e dano irreversível à biodiversidade, sérios problemas de saúde pública, queda no valor da propriedades e pessoas atônitas, revoltadas, buscando indenizações (...)

 

Um outro exemplo das referidas contaminações, é o caso de contaminação ambiental do solopor meio do vazamento de resíduos de poluentes e de águas residuais, que ocorreu no estado da Califórnia nos EUA, de acordo com Whalen (2014), um fazendeiro da região processou uma empresa de exploração de gás xisto,pedindo indenização pelos danos causados as suas terras, de acordo com a autora, o prejuízo sofrido pelo fazendeiro foi de bilhões de dólares.

Além disso hão de ser considerados os riscos que a atividade pode causar aos seres vivos.Um estudo de 2012,acerca dosimpactos do fracking sobre a saúde humana e dos animais concluiu que a pecuária em particular é extremamente sensível aos poluentes liberados.Pesquisadores entrevistaram os proprietários dos animais e seus veterinários em seis diferentes estados dos EUA, onde ocorrem atividades de extração do gás de xisto. Esses cientistas realizaram testes em água, solo e ar, onde dois terços dos poços de água apresentaram resíduos da atividade dofracking. Os cientistas registraram ainda, que em uma estância situada na região estudada, 17 vacas morreram rapidamente após entrarem em contato com fluídos provenientes do fracking e concluíram que a saúde de animais é extremamente afetada quando estes entram em contato com resíduos dessa atividade (WHALEN, 2014).

Quanto aos riscos à saúde humana, de acordo com uma reportagem do jornal The Guardian datada de dezembro de 2013, a população que habita ao entorno dos poços de perfuração para extração do gás de xisto sofre de forma recorrente com náuseas, dores de cabeça e hemorragias nasais além de cheiros químicos desagradáveis, barulhos provenientes da perfuração dos poços, depreciação brusca de seus imóveis, de acordo com a fonte, esse é o caso do município dePonder, no Texas (EUA), onde o método do  “fracking”, é muito praticado (THE GUARDIAN, 2013).

Vislumbrando esses exemplos, é possível inferir que, para o cenário nacional, as perdaspodem ser imensuráveis. Além de todo risco a saúde da população, a contaminação dos solos e águas poderia desestabilizar a economia nacional, visto que boa parte do PIB nacional está atrelado a atividades agropecuárias.

Quanto aos danos ambientais,esses são imensuráveis, tamanho a quantidade de recursos naturais que podem ser afetados com a prática da exploração de gás de xisto no Brasil.Países que praticam a atividade há mais tempo, como os EUA por exemplo, que são os maiores produtores mundiais de gás de xisto, possuem algumas localidades que suspenderam ou baniram a prática de exploração deste gás em virtude de danos ambientais ainda não bem mensurados, como é o caso de Ohio, Texas e Nova Iorque (ROSEBAUM, 2014; JUNIOR E ANDRADE, 2014).

A presença de grandes reservas de águas subterrâneas no Brasil faz elevar os temores de contaminação ambiental desses recursos. Os blocos exploratórios arrematados no Paraná, por exemplo, se encontram em parte sobre os aquíferos Guarani e Serra Geral, podendo assim estes, no caso de exploração de gás não convencional na região, serem contaminados por vazamentos de fluídos, assim como descritos por Merrill e Schizer (2013).

Além disso, para Ribeiro (2014), um outro ponto central a ser discutido caso haja a referida extração, é o destino desse gás, pois, o Brasil não dispõe de uma rede de distribuição adequada que permita o uso direto do gás pelos consumidores, o que elevaria sua eficiência para aquecimento água, que constitui maior uso de energia residencial no Brasil.  De acordo com o autor,o gás de folhelho,se extraído, gerará energia elétrica em usinas termelétricas para fornecer energia para o setor mineral. Ainda segundo o mesmo autor, nesse caso, ele será usado para manter o país em uma posição periférica no sistema internacional, como simples fornecedor de matéria-prima. Ele salienta ainda que o ideal para o Brasilseria propor uma nova matriz energética baseada no uso da biotecnologia e seu conhecimento associado, abundantes em nosso país (RIBEIRO, 2014).

Portanto, impactos dessa atividadeao meio ambiente e a sociedade são inevitáveis, assim como ocorre em casos de extração em grande escala de outros recursos. A principal diferença entre as extrações de gás de xisto e outros gases é o grau de conhecimento do processo, a intensidade dos impactos gerados e as formas de recuperação do sistema (meio ambiente/sociedade), pois embora previsíveis, os impactos negativos da extração de gás por fraturamento hidráulico sãodistintos, isto é, de acordo com as especificidades de cada área. (SAMBERG et al. 2014).

 

 

CONCLUSÃO

 

A extração do gás de xisto no Brasil representa um risco de contaminação dos solos e das águas superficiais e subterrâneas, podendo desestabilizar a economia nacional. Por isso, as consequências da extração desse gás devem ser avaliadas antes de inserir o método à matriz energética do Brasil. A tomada de decisão deve ser pautada sobre as consequências causadas por essa atividade, desse modo os riscos à saúde humana e os impactos negativos causados ao meio ambiente devem ser levados em consideração.

Em um momento ambiental tão delicado no cenário mundial, no qual muito se fala de escassez e economia de recursos naturais, é necessário sermos sustentáveis para que as próximas gerações não sofram com a escassez desses recursos.

Por isso é preferível que nossas fontes energéticas possuam maior participação de energias renováveis e menores de fontes energéticas consideradas não renováveis, propiciando uma maior segurança a curto prazo frente ao mercado internacional,preservando assim reservas de recursos tais como as águas subterrâneas, e os solos.

 

           

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL, 2011. Município paranaense tem o maior PIB agropecuário do estado e da região Sul. Disponível em: Acesso em: 03 ago. 2016.

 

BRASIL, 2013. 12ª Rodada de Licitações. Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP), 2013. Disponível em: <http://www.brasil-rounds.gov.br/round_12/index.asp> Acesso em: 03 fev. 2016.

 

BRASIL, 2014. Ação civil pública ambiental com pedido de tutela antecipada. Ministério Público Federal procuradoria da república em presidente prudente. Disponível em: Acesso em: 12 abr. 2016.

 

HOWARTH, R. W. Methane emissions and climatic warming risk from hydraulic fracturing and shale gas development: implications for policy. NY, USA. Energy and Emission Control Technologies 2015, n.3,p. 45-54. Disponível em: Acesso em: 02 ago. 2016.

 

JUNIOR, P. A; ANDRADE, R. C. Gás de xisto e o fraturamento hidráulico: uma energia sustentável do retrocesso? Disponível Em: Acesso em: 10 ago. 2016.

 

LAGE. E. S; PROCESSI L.D; SOUZA L. D. W; DORES,  P. B; GALOPPI, P. P. S. Gás não convencional: experiência americana e perspectivas para o mercado brasileiro. Petróleo e Gás BNDES. 2012, n.37, p. 33-88.

 

LÓPEZ, D. R. Argentina: municípios livres de fracking.  p. 53-62. Disponível em: Acesso em: 04 ago. 2016.

 

MERRILL, T. W; SCHIZER, D. M.The Shale Oil and Gas Revolution, Hydraulic Fracturing, and Water Contamination:A Regulatory Strategy. 2013. 71 p. Disponível em: Acesso em: 01 ago. 2016.

 

PARANÁ, 2015B. Bom desempenho agropecuário impulsiona o Produto Interno Bruto no Paraná. Disponível em: Acesso em: 03 fev. 2016.

 

PARANÁ, 2015a. Áreas Oferecidas - Acumulações Marginais.Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP) 2015. Disponível em:<http://www.brasil-rounds.gov.br/round_13AM/portugues_R13/setores.asp> Acesso em: 01 fev. 2016.

 

RIBEIRO, W. C. Gás “de xisto” no Brasil: uma necessidade?. Estudos avançados. 2014, v.28, n.82, p. 89 - 94. Disponível em:  Acesso em: 01 fev. 2016.

 

SANBERG, E; GOCKS, N. R. A; AUGUSTIN, S; VEDANA, L. A; SILVA, C. T. P. ASPECTOS AMBIENTAIS E LEGAIS DO MÉTODO FRATURAMENTO HIDRÁULICO NO BRASIL.IX Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental. Porto A legre - RS. Disponível em: Acesso em: 21 mar. 2016.

 

THE GUARDIAN, 2013. Fracking hell: what it's really like to live next to a shale gas well.Disponível em: Acesso em: 13 abr. 2016.

 

toledo, 2014. Prefeito Beto Lunitti sanciona a lei que impossibilita o fracking em toledo. Disponível em: Acesso em: 03 abr. 2016.

 

VIDIC, R. D; BRANTLEY, S. L; VANDENBOSSCHE, J. M; YOXTHEIMER, D; ABAD, J. D.Impact of Shale Gas Development on Regional Water Quality. Science, 2013. v. 340. Disponível em: Acesso em: 12 ago. 2016.

 

WHALEN, C. The Environmental, Social, and Economic Impacts of Hydraulic Fracturing, Horizontal Drilling, and Acidization in California (2014). CMC Senior Theses. Paper 969. Disponível em: Acesso em: 03 abr. 2016.

 

Ilustrações: Silvana Santos