Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/11/2016 (Nº 58) EXPERIÊNCIAS DE UMA OFICINA DE RESÍDUOS SÓLIDOS
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EXPERIÊNCIAS DE UMA OFICINA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

 

Anny Kariny Feitosa¹, Júlia Elisabete Barden², Odorico Konrad², Camila Hasan², Mônica Maria Siqueira Damasceno³, Angela Maria Morais Silva³, Orjana Dias Palácio³, Francisco Auriberto Ferreira Marques Júnior³, Janderson Cabral Barbosa³, Mira Raya Paula de Lima³

 

 Instituto Federal do Ceará – IFCE – Campus Iguatu¹, Centro Universitário UNIVATES², Instituto Federal do Ceará – IFCE – Campus Juazeiro do Norte³

 

Resumo

 

Este artigo relata uma experiência de ensino desenvolvida em uma oficina de análise e classificação de resíduos sólidos domiciliares, do projeto “Análise gravimétrica de resíduos sólidos domiciliares do município de Juazeiro do Norte”, fruto de uma parceria entre uma Instituição Federal de Ensino e um Centro Universitário. A oficina foi realizada no mês de abril de 2016 e teve como público-alvo os alunos ingressantes no curso de Engenharia Ambiental. A vivência alcançou resultados tanto no campo teórico, pelos conteúdos apreendidos, como na prática, pelo resgate de memórias experienciadas pelos alunos ao longo da vida e ao confrontá-los com o problema ambiental causado pelo volume excessivo de resíduos gerados e descartados diariamente nos centros urbanos.

 

Palavras-chaves: Resíduos Sólidos; Práticas de ensino; Educação Ambiental.

 

Abstract

 

This article reports a teaching experience developed at a workshop of analysis and classification of solid waste, the project "gravimetric analysis of solid waste from Juazeiro do Norte municipality", the result of a partnership between the Federal Institute and University Center. The workshop was held in april 2016 and had the audience the students beginning of Environmental Engineering. The experience achieved results both in theory, by the apprehended content, and in practice, the rescue of experienced memories by students throughout life and to confront them with the environmental problem caused by excessive volume of waste generated and disposed of daily in urban centers.

 

Keywords: Solid Waste; teaching practices; Environmental education.

 

 

Introdução

 

 

A gestão de resíduos sólidos, incluída como área prioritária do Saneamento Básico, consolida-se hoje como uma das áreas de atuação direta do profissional de Engenharia Ambiental. Deste modo, é fundamental que durante o processo de formação acadêmica sejam oportunizadas práticas, discussões e vivências nesta área, que contribuam significativamente com o desenvolvimento de habilidades profissionais.

Neste sentido, a Educação Ambiental se apresenta como um processo pedagógico participativo, que permite inspirar no educando uma consciência crítico-reflexiva acerca da problemática ambiental, colaborando na construção de uma sociedade justa e ambientalmente saudável (SOUZA, et al., 2012).

Nas palavras de Almeida et al. (2004, p. 121), a Educação Ambiental:

 

deve fornecer instrumentos para a sociedade ampliar discussões e ações concretas em relação às questões ambientais, sobretudo no âmbito das escolas [...], de modo a ter uma população, pelo menos no futuro, consciente e educada para tais questões. Portanto, cabe à própria sociedade como um todo colocar em prática princípios educativos que permitam garantir a existência de um ambiente sadio para toda a humanidade.

 

A educação ambiental, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade de contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita (SORRENTNO et al., 2005).

Diante do exposto, este artigo teve por objetivo relatar uma experiência de ensino desenvolvida a partir do projeto “Análise gravimétrica de resíduos sólidos domiciliares do município de Juazeiro do Norte”, por meio da realização de uma oficina de análise e classificação de resíduos sólidos domiciliares, executada em uma parceria firmada entre o uma Instituição Federal de Ensino e um Centro Universitário.

 

 

Metodologia

 

 

Durante o mês de abril de 2016, foi realizada uma oficina de análise e classificação de resíduos sólidos domiciliares para os alunos ingressantes no curso de Engenharia Ambiental. Objetivou-se promover o aperfeiçoamento da relação ensino-aprendizagem e da formação acadêmico-profissional, mediante o conhecimento de práticas e experiências relacionadas à questão dos resíduos sólidos domiciliares. A referida oficina foi ministrada pela equipe de trabalho do projeto “Análise gravimétrica de resíduos sólidos domiciliares do município de Juazeiro do Norte”.

Salienta-se que a realização do projeto, bem como da oficina, somente tornou-se possível graças a uma parceria firmada entre uma Instituição Federal de Ensino, localizada na cidade de Juazeiro do Norte, CE, e um Centro Universitário, sediado em Lajeado, RS. O que motivou esta cooperação foi a pesquisa de tese de doutorado da primeira autora.

Para o desenvolvimento das atividades, o Centro Universitário enviou uma aluna intercambista, graduanda em Engenharia Ambiental, no intuito de possibilitar a integração de alunos, divulgar ações e compartilhar experiências entre as instituições de Ensino Superior.

O Projeto está composto por cinco docentes, sendo três vinculados à Instituição Federal de Ensino e dois ao Centro Universitário, além de cinco alunos voluntários do curso de Engenharia Ambiental das duas instituições de ensino. O espaço físico utilizado para o desenvolvimento das atividades foi a Instituição Federal de Ensino, em Juazeiro do Norte. A temática principal abordada no Projeto foi a Gestão de Resíduos Sólidos Domiciliares.

No âmbito da oficina, após uma apresentação pertinente acerca do projeto, foi realizada uma abordagem conceitual básica sobre os resíduos sólidos urbanos, especificamente os resíduos sólidos domiciliares.

Posteriormente, os alunos participaram do processo de verificação de massa, volume, identificação dos tipos de resíduos gerados, suas especificidades e categorizações, além de praticarem a triagem dos resíduos, separando-os de acordo com sua tipologia (FIGURA 1).

 

Figura 1 – Triagem dos resíduos

 


Fonte: Pesquisa aplicada.

 

Durante a atividade, fomentou-se a participação dos alunos na observação dos resíduos e explanação de comentários sobre suas práticas efetivas no que diz respeito à iniciativa individual e coletiva no manuseio e descarte de resíduos sólidos.

Esta atividade visou à promoção de uma reflexão sobre o volume excessivo de resíduos acumulados nos centros urbanos, a consequente degradação ambiental de áreas utilizadas no descarte inadequado destes resíduos, bem como, sobre como se poderia viabilizar um maior aproveitamento dos resíduos recicláveis.

 

 

Resultados e Discussão

 

 

Inicialmente, os participantes demonstraram uma resistência em se envolver em algumas atividades da oficina, principalmente o processo de triagem, devido ao contato direto com os resíduos, o odor forte exalado ou, ainda, dada a falta de experiência com a atuação prática em uma oficina desta natureza. Assim, a triagem foi realizada, em um primeiro momento, com um número reduzido de voluntários. Os demais alunos permaneceram por alguns minutos apenas na observação.

Porém, com o passar do tempo e à medida que contemplavam os colegas em pleno exercício de uma atividade prática, sentiram-se curiosos e incitados em participar. Este comportamento encontra fundamento nas palavras de Almeida et al. (2004, p. 129), que admitem ser primordial “desenvolver a curiosidade dos alunos”, por meio de atividades que os tornem ativos durante a oficina, “possibilitando [...] descobrir e construir o conhecimento”.

Vencidos estes obstáculos iniciais, todos os alunos tornaram-se mais integrados às atividades. Durante as práticas, ficou evidente que assimilaram os conhecimentos explanados. Além disso, demonstraram capacidade de análise crítica e formação de opinião própria sobre os assuntos abordados durante a reflexão sobre o manuseio e descarte dos resíduos.

Corroborando com este resultado, Saugo e Fernandes (2013, p. 65), em estudo relatando a didática voltada para a sustentabilidade, afirmaram haver melhora “na consciência dos estudantes e maior apropriação e aplicação dos conhecimentos de práticas direcionadas à sustentabilidade”.

A realização da oficina culminou em uma experiência significativa para os alunos, bem como para a equipe de trabalho do projeto. Neste sentido, Almeida et al. (2004, p. 122) afirmam que “a Educação Ambiental nas escolas deve sensibilizar o professor e o aluno para que construam coletivamente o conhecimento por meio de estratégias pedagógicas de mudança de mentalidade”.

Este tipo de iniciativa, vivenciada no âmbito de um projeto de resíduos sólidos, trata de uma mostra de como a educação ambiental pode alcançar resultados tanto no campo teórico, pelos conteúdos apreendidos, como na prática, pelo resgate de memórias experienciadas pelo aluno ao longo da vida e ao confrontá-lo com o problema ambiental em pauta. De acordo com Paviani e Fontana (2009, p. 77), “a articulação entre teoria e prática encontra na metodologia das oficinas pedagógicas um recurso oportuno”.

 

 

Considerações Finais

 

 

Contatou-se que as oficinas são eficientes alternativas para a prática pedagógica da Educação Ambiental, relacionada a resíduos sólidos domiciliares. Esta experiência permitiu uma reflexão sobre a problemática do volume excessivo de resíduos gerados e descartados diariamente nos centros urbanos, bem como sobre as práticas de descartes adequados, com vistas ao maior aproveitamento dos resíduos recicláveis. Deste modo, pode-se afirmar que houve uma construção coletiva e estímulo à consciência ecológica dos participantes.

Destaca-se a importância da parceria interinstitucional realizada entre a Instituição Federal de Ensino e o Centro Universitário, que oportunizou o desenvolvimento do projeto supracitado, além de contribuir para a aprendizagem de conteúdos científicos através de situações reais. “A prática reflexiva coletiva é uma tarefa que exige um investimento institucional (não pode ser uma ação isolada), recursos financeiros, tempo e, acima de tudo isso, vontade política da direção, capacidade de mobilizar o grupo, de valorizar o trabalho que os professores estão desenvolvendo e ajudá-los a avançar a partir do ponto em que estão” (ABREU; BEJARANO, 2009, p. 7).

Neste sentido, é necessário que se estimule a cooperação interinstitucional no âmbito do ensino superior, promovendo o efeito multiplicador de experiências, o conhecimento recíproco sobre a formação acadêmica nos cursos de graduação e o aperfeiçoamento nas ações conjuntas entre as instituições, que potencializem as possibilidades de desenvolvimento mútuo.

 

 

Referências

 

ABREU, L. S.; BEJARANO, N. Parcerias interinstitucionais para a melhoria do ensino de Ciências. In: Anais do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. UFSC: Florianópolis, 2009. Disponível em: <http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1341.pdf>  Acesso em 11 Jul. 2016.

 

ALMEIDA, L. F. R.; BICUDO, L. R. H.; BORGES, G. L. A. Ciência & Educação, v. 10, n. 1, p. 121-132, 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v10n1/09.pdf>  Acesso em: 11 Jul. 2016.

 

SORRENTINO, M.; TRABER, R.; MENDONÇA, P.; FERRARO JÚNIOR, A. Educação ambiental como política pública. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a10v31n2.pdf>  Acesso em 15 Jun. 2015.

 

SOUZA, G. S.; FERREIRA, D. R.; REIS, V. R; SANTOS, A. S.; MACHADO, P. B. Educação ambiental na Escola Pública Municipal Hamilton Cerqueira, Cruz das Almas - BA: um relato de experiência. Educação Ambiental em Ação, v. 11, n, 41, Nov. 2012. Disponível em: <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1268> Acesso em: 11 Jul. 2016.

 

SAUGO, A.; FERNANDES, L. C.. Ensino e extensão: relato de uma experiência didática voltada para a sustentabilidade. Revista de Arquitetura da IMED, v. 2, n.1, p. 56-66, 2013. Disponível em: <https://seer.imed.edu.br/index.php/arqimed/article/view/475/363> Acesso em: 10 Jul. 2016.

Ilustrações: Silvana Santos