Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/11/2016 (Nº 58) A CONCEPÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS E DE BIOLOGIA SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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A CONCEPÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS E DE BIOLOGIA SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Dr. Paulo César Geglio – UFPB – pgeglio@yahoo.com.br – (83) 996158181

Emanuela Suassuna de Araújo – Licenciatura em Biologia UFPB - suassuna.emanuela@gmail.com – (83) 999038677

 

RESUMO

Este trabalho apresenta uma pesquisa a respeito da concepção sobre Educação Ambiental (EA) de professores de Ciências e Biologia de duas escolas públicas estaduais, localizadas no município de Areia – PB. Para a coleta de dados utilizamos um questionário semiestruturado, aplicado para seis professores, contendo questões de múltipla escolha e de opinião. A partir dos dados coletados, percebemos que os professores apresentam um conhecimento adequado sobre conceitos básicos referentes à EA e meio ambiente, prevalecendo noções básicas a respeito do que é sustentabilidade. Contudo, os resultados obtidos indicam que a EA não se constitui como tema transversal nas discussões da dinâmica escolar dos professores. Notamos em seus registros diversas dificuldades em trabalhar a EA no cotidiano escolar, como, por exemplo, a falta de apoio das escolas e dos órgãos públicos para desenvolver projetos relacionados ao meio ambiente, a sua falta de formação para isso, a falta de tempo e a má distribuição dos conteúdos propostos pelas próprias escolas. Acredita-se que seja importante e necessário o aprofundamento em investigações que foquem, por exemplo, nos cursos de formação continuada de professores de biologia e ciências, bem como na forma como a EA é abordada nos livros didáticos, visto que se trata de um assunto importante e que deve ser inserido no âmbito escolar.

Palavras-chave: Formação de professores, meio ambiente, interdisciplinaridade.

 

SCIENCE AND BIOLOGY TEACHERS’ CONCEPTION ABOUT ENVIRONMENTAL EDUCATION

 

ABSTRACT

 

This study presents a research on the conception of Environmental Education (EE) of teachers of science and biology from two public schools located in the city of Areia - PB. For data collection it was used a semi-structured questionnaire, applied to six teachers, containing multiple choice questions and opinion ones. From the collected data, we realized that teachers have adequate knowledge about basic concepts related to EE and environment, prevailing basic notions about what is sustainability. However, the results indicate that EE does not constitute as a crosscutting theme in discussions of teachers about school dynamics. We note in their responses various difficulties in working with EE in the school routine such as the lack of support from schools and public agencies to develop projects related to the environment, their lack of training for this, the lack of time and maldistribution of the contents proposed by the schools themselves. It is believed to be important and necessary deepening investigations that focus, for example, on continuing training courses for biology and science teachers, as well as in the way EE is discussed in textbooks, since it is an important content and must be inserted in the school reality.

Keywords: teacher training, environment, interdisciplinarity.

 

INTRODUÇÃO

 

Atualmente a discussão sobre o meio ambiente e a preservação da natureza está tão presente nos meios de comunicação, instituições de ensino e de pesquisa, órgãos governamentais e empresas privadas, que se tornou senso comum ouvir e dizer que o ser humano não tem tratado de maneira adequada do planeta, nem dos seres vivos que o habitam. Isso é bom, pois se há exageros nesse alarde, é preciso mesmo que haja para que nos conscientizemos da necessidade de preservação ambiental, em um momento da história humana – denominado por alguns (LYOTARD, HABERMAS, BAUDRILLARD) de pós-modernidade – marcado por incerteza, reconstrução de paradigmas, relações de produção e consumo virtuais e uso continuo de novas tecnologias que visam ao crescimento da economia de capital produtivo. Esse é um tempo em que presenciamos a interferência e modificação do meio ambiente e do equilíbrio nos ecossistemas como nunca se imaginou que o homem pudesse operar. Por isso, a necessidade de alertar para a conscientização de que os recursos naturais são finitos (MALAFAIA; RODRIGUES, 2009).

A tomada de consciência sobre o meio ambiente ocorre por intermédio da autossensibilização, a partir do momento em que o indivíduo passa a perceber os riscos ambientais que causa e a importância da relação entre sua própria existência e a natureza. Ele passa a entender que essa relação é condição para a sua sobrevivência e qualidade de vida. A partir dessa sensibilização, os indivíduos serão capazes de agir criticamente e transformar a realidade onde vivem, ao mesmo tempo em que utilizam alternativas sustentáveis para o uso comum (TREVIZAN; MERCK, 2012).

A Educação Ambiental (EA) é uma proposta que altera profundamente a educação como a conhecemos. Trata-se de uma educação que visa não só a utilização racional dos recursos naturais, mas a participação dos cidadãos nas discussões e decisões sobre as questões relacionadas à temática ambiental, além de estimular a mudança de comportamento e a construção de novos valores, no sentido de contribuir para a formação de cidadãos com um pensamento crítico, capazes de compreender o que está acontecendo ao seu redor e perceber a realidade do nosso planeta (REIGOTA, 2007).

Nesse contexto que descrevemos, a educação se configura como prática importante, pois ela é uma forma de transformação social e não apenas um instrumento de defesa ambiental e da cidadania. Assim, a escola, ao abordar a EA, deve sensibilizar o aluno a ter clareza de que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, ao contrário, suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional, evitando o desperdício e gerando novos princípios, valores e conceitos para uma nova racionalidade (CAVALHEIRO, 2008).

O estudo da percepção ambiental deve ser tratado como um componente essencial no processo de formação e de educação permanente da sociedade, e deve ter uma abordagem direcionada para a resolução de problemas e para o planejamento de ações que promovam a sensibilização e o desenvolvimento de posturas éticas e responsáveis perante o ambiente (ROSA, 2001). Tabanez (2000) diz que conhecer o que os professores pensam a respeito das questões ambientais, tem sido apontado como uma estratégia fundamental para os direcionamentos a serem adotados para as ações e propostas de práticas ambientais nas escolas.

Segundo consta no regulamento do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), para que a EA seja promovida na escola é preciso considerar alguns aspectos como, por exemplo, capacitação de gestores e educadores, desenvolvimento de ações educativas e oferta de novos instrumentos e metodologias de ensino. Essas iniciativas visam orientar os professores e aqueles que trabalham com a educação das crianças e dos adolescentes a se empenharem na coleta de informações sobre o cotidiano de cada comunidade, aluno e professor, bem como de suas particularidades, no sentido de reconhecer como a escola pode influenciar na abordagem da EA. Isso pode facilitar sobremaneira o ensino da EA nas escolas, com o foco na conscientização para o problema ambiental.

            Para uma educação de boa qualidade, que foque no ensino da EA é preciso investimento na formação do professor. Essa é uma relação que deve estar muito clara para o poder público e para a sociedade (FERREIRA, 2010). O professor é o principal responsável pela educação dos alunos em relação ao meio ambiente e sua convivência harmônica com ele. Mas, para que isso ocorre de maneira efetiva e consistente é fundamental que o professor tenha conhecimentos sólidos sobre meio ambiente e esteja motivado para educar os alunos nessa perspectiva. Não obstante, sabemos que esse profissional não recebe de fato uma formação acadêmica para essa tarefa. O conhecimento que possui é derivado do seu próprio investimento em estudos ou naquilo que é ele percebe nos livros didáticos.

Neste trabalho apresentamos o resultado de uma pesquisa, na qual procuramos desvelar o conhecimento dos professores a respeito do meio ambiente, qual a concepção que possuem sobre isso, o que ensinam e como ensinam o assunto. Pretendemos mostrar se os professores trabalham a EA em suas aulas e se utilizam pedagogias diferenciadas que visam a despertar maior interesse dos alunos, além de revelar quais são as principais dificuldades que enfrentam no ensino dessa temática.

 

METODOLOGIA

 

A coleta de dados foi realizada com seis professores de Ciências e Biologia do ensino Fundamental II e Médio de duas escolas públicas estaduais, localizadas no município de Areia-PB. O instrumento para a coleta dos dados foi um questionário, com 12 perguntas visando identificar como os professores abordam temas ambientais nas aulas e saber quais as concepções que eles possuem com relação à Educação Ambiental. Os questionários foram entregues impressos aos professores e recolhidos nas próprias escolas em que eles atuam. Para preservar a identidade dos docentes, cada um foi identificado por um código alfanumérico, P1= Professor 1, P2 = Professor 2....

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Um dos nossos interesses foi desvelar o entendimento dos professores a respeito da EA. Sobre isso foi possível identificar concepções semelhantes umas das outras, as quais se baseiam em uma prática de educação voltada para a sustentabilidade, que se materializa nas relações humanas com o ambiente, conforme se observa nas descrições relativas aos registros que fizeram nos questionários: “É quando o indivíduo tem consciência de suas atitudes e da preservação da natureza, para não prejudicar os seres vivos” (P1); “É um processo em que há a construção do conhecimento, valores, habilidades voltadas para a conservação do meio ambiente” (P2); “É quando um grupo de cidadãos se dedica ao desenvolvimento de ações que garantam a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais” (P3).

Com base nas respostas dos professores, inferimos que a definição de EA que possuem está em conformidade com as noções básicas a respeito da compreensão sobre o que é sustentabilidade, direcionando o indivíduo para recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade vida. Sousa (2007), afirma que a EA se constitui como uma forma abrangente de educação, na qual toda a sociedade assume um papel de elemento central no processo de ensino, participando do diagnóstico de problemas ambientais, buscando as suas possíveis soluções, além de desenvolver habilidades e formação de atitudes que beneficiem o meio ambiente.

Quando indagados sobre o conceito de Meio Ambiente, todos definiram como algo formado por uma totalidade constituida por aspectos ecológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, que estão ligados à vida dos seres humanos. Entendemos que o conceito de meio ambiente deve ser globalizante e abrangente e que seja associado a todas as dimensões do ser humano e seu meio. Segundo Reigota (2009, p. 36), ele pode ser definido como:

 

Um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relação dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnologia e processos históricos e políticos de transformações da natureza e sociedade.

 

O fato dos professores ter uma visão clara e abrangente sobre meio ambiente é apontada pela literatura como fundamental, para que os mesmos possam direcionar ações e propostas em educação ambiental com o intuito de trabalhar diferentes abordagens e estratégias pedagógicas com seus alunos (BEZERRA, 2007).

Quando perguntamos aos professores se eles trabalhavam com a EA em suas aulas, 83% responderam que sim, mas com uma certa limitação, pois a maioria só aborda esse assunto quando trabalha conteúdos voltados para a ecologia, e em um determinado bimestre do ano letivo. Outros responderam que não teriam como lecionar os conteúdos de Ciências ou de Biologia sem trabalhar a EA, pois trata-se de um dos assuntos mais presentes na sociedade, devido a problemáticas ambientais, como preservação dos recursos naturais e os impactos causados pelo consumo de produtos industrializados. Outros 17% dos professores entrevistados registraram que não trabalham com a EA em suas aulas, embora seja um tema essencial e obrigatório na educação nacional, que deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades de ensino, em caráter formal e não-formal, como consta no art. 2°, da Lei n° 9.795/99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental.

Considerando que a EA é uma determinação legal, se faz necessário sua inclusão em todos os níveis de escolarização (educação básica e superior), abordada de maneira interdisciplinar e transversal ao currículo, com o objetivo de estimular os alunos ao desenvolvimento de competência para uma participação ativa na defesa do meio ambiente e convívio social harmônico.

Ao questionar os docentes sobre as dificuldades em trabalhar a EA em sala de aula, 50% deles relataram que não enfrentavam nenhum problema, a outra metade registrou alguns problemas, conforme se observa nos registros provenientes das respostas deles:

 

É difícil inserir a EA nas aulas de modo eficaz, quando se trata de ações, pois a EA deve envolver a localidade como um todo, não dá pra trabalhar EA se não tivermos uma junção/união de atitudes. Não somente dentro da escola, apenas com os professores de ciências e biologia, a comunidade também deve ser envolvida, órgãos públicos [...] não se tem uma EA de forma isolada (P3).

 

“Os conteúdos que temos que ministrar não trata sobre a EA” (P4); “Não se tem condições de infraestrutura adequada, tempo limitado, falta de cursos de capacitação para professores e falta de projetos sobre EA por parte da escola” (P6).

Com as argumentações registrados acima, os professores tentam justificar o fato de não abordarem a EA com os alunos. Esse tipo de objeção também foi percebido por Inocêncio (2012), com professores dos anos iniciais da escolarização de escolas do município de Areia-PB. Neste último caso, eles relataram dificuldades em trabalhar a EA no cotidiano das suas aulas devido a falta de apoio da escola (gestores, coordenadores) para desenvolver projetos relacionados ao meio ambiente, assim como a falta de tempo e de preparação para explorar o tema de forma adequada. É preciso ressaltar que o professor dos anos iniciais da escolarização se sentem menos preparados ainda, por ser egressos do curso de Pedagogia e também por ser cobrado socialmente e institucionalmente para ensinar os alunos a ler e escrever, independentemente desses atos estar relacionados com a EA.

Em relação aos professores que participaram da nossa pesquisa, percebemos que a maioria deles (66%) não recebeu algum tipo de formação em EA. Somente 34% afirmaram ter realizado um curso relacionado a gestão ambiental oferecido pelo Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae). Estes últimos reconheceram que ter participado dessa formação continuada foi de extrema importância para constituir uma base de atuação com os alunos.

De acordo com Santos (2011), os professores precisam se conscientizar da necessidade de promover sua formação continuada, visando melhorar suas práticas de ensino. Considerando que formação continuada é fundamental para o professor lidar com o alunado, principalmente no que se refere ao trabalho com temas ambientais. Os 34% que realizaram o curso oferecido pelo Sebrae se mostraram satisfeitos, embora reconheçam que precisam de mais informação e orientação. Para alguns a formação “foi muito interessante, porém faltou a prática” (P5); para outro “foi bastante abrangente e diversificado, consequentemente ajudou na melhoria da prática pedagógica e no sucesso do ensino de EA” (P6). A formação continuada é essencial, pois auxilia os professores a melhorar sua prática pedagógica. Nessa etapa, a consolidação do conhecimento profissional educativo mediante a prática apoia-se na análise, na reflexão e na intervenção sobre situações de ensino e aprendizagem concretas, relacionadas a um contexto educativo determinado e específico. (LIBÂNEO, 2005, apud TAVARES, 2006)

Os professores confirmaram que aprenderam sobre EA em seu processo de formação inicial e, de maneira geral, foi boa a experiência, conforme relatos deles. “Apesar de ter me formado há 19 anos, o ensino era basicamente de aulas teóricas e aprendi que o principal problema dos impactos ambientais é a falta de conscientização” (P1); “Foi muito interessante, um bom material impresso, o professor era dinâmico e sempre buscava discutir assuntos da atualidade” (P2); “As disciplinas serviram para adquirir conhecimentos sobre legislação, princípios da EA, impactos ambientais causados e algumas ações desenvolvidas por grupos de pessoas, ONG’s e grupos de pesquisa” (P3); “A disciplina de EA foi muito boa, aprendi bastante e a metodologia do professor também foi ótima” (P4); “A carga Horária deveria ter sido maior, mas o conteúdo e a metodologia foram excelentes” (P5); “A disciplina foi ótima, a professora sempre trazia metodologias didáticas para as suas aulas, como vídeos e debates sobre a EA” (P6).

Parecer haver uma contradição na afirmações dos professores da nossa pesquisa, pois embora sejam egressos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, ter recebido formação em Educação Ambiental e considerar, majoritariamente, que ela foi boa, isso não é suficiente para ensinar esse tema com seus alunos. Não obstante, quando alegam que não há uma preparação adequada, pensamos que estejam se referindo à formação continuada, contudo suas lembranças da formação inicial parecem estar muito bem presentes em suas memórias, o que seriam minimamente suficientes para ensinar aos seus alunos. Assim, consideramos importante investigar melhor como esse assunto é abordado nos cursos de formação inicial de professores de biologia e ciências.

Quando questionamos os professores se as escolas em que eles trabalham desenvolvem ou incentivam a realização de projetos/ações voltados para a EA, apenas 17% afirmaram que uma escola em que eles atuam desenvolveu um projeto no ano de 2013, que teve por finalidade criar ações pedagógicas com os alunos no sentido de reduzir, reutilizar e reciclar a lixo da própria escola. De acordo com Oliveira (2000) a maioria dos trabalhos relacionados ao contexto ambiental, tem como tema central o lixo, estes trabalhos buscam, em geral, uma separação dos materiais de acordo com sua composição química, para uma posterior reciclagem. Quando os professores passam a trabalhar com o tema lixo, eles não se dão conta das oportunidades de desenvolver atividades interdisciplinares, próprias da educação ambiental.

Em nosso caso, constatamos que 83% dos professores não desenvolvem algum tipo de projeto que envolva os alunos em ações de preservação do meio ambiente. Isso é preocupante, visto que a escola deve ter um papel precursor em EA, no qual deve sensibilizar o aluno a buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e com as demais espécies que habitam o planeta. Só assim, ele constituirá uma consciência responsável, conservando o ambiente saudável no presente e para as futuras gerações. Assim, a EA deve ser trabalhada diariamente, não apenas em datas comemorativas referentes ao meio ambiente, pois isso não é suficiente para formar ou mudar valores.

Outro questionamento que fizemos aos docentes, diz respeito a quais professores devem ensinar EA. Para eles, esse assunto deve ser desenvolvido como uma prática educativa integrada, contínua, permanente e interdisciplinar. Portanto, compreendemos que, segundo eles, todos os professores devem abordar o tema: “ Os problemas existentes na natureza afetam todos os cidadãos” (P1); “O homem como ser integrante desse meio ambiente deve estar totalmente bem informado, por isso a EA deve ser estudada de forma interdisciplinar” (P2); “ Todos devem estar envolvidos na elaboração e desempenho de ações eficazes para a preservação do meio em que estamos inseridos” (P3); “ A EA deve ser trabalhada por meio da interdisciplinaridade” (P4); “É um assunto transversal, todos os professores podem atuar em suas disciplinas” (P5) . 

Questões voltadas para o meio ambiente devem ser trabalhadas por meio da interdisciplinaridade, porém sabemos que as escolas, de modo geral, não favorecem o trabalho em conjunto, o tempo é limitado e os conteúdos são compartimentados. Com isso, cada professor, invariavelmente, trabalha os conteúdos da sua disciplina de maneira isolada das demais. A interação entre as disciplinas favorece o enriquecimento ao se abordar um tema. De acordo com Luck (2001, p.64), a interdisciplinaridade pode ser definida como:

 

Um processo que envolve a integração e o engajamento de educadores num trabalho em conjunto, de interação de disciplinas do currículo escolar entre si com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, afim de que possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de um mundo e serem capazes de enfrentar problemas complexos, amplos e globais da realidade atual.

 

Em nosso entendimento, a interdisciplinaridade se constitui em uma prática por meio da qual as ações metodológicas de informar se tornam estratégias sensibilizadoras para a participação nas atividades escolares e o exercício pleno de cidadania. Dessa forma, consideramos que seja possível chegarmos a práticas sustentáveis que assegurem a manutenção dos recursos naturais, para uma elevação da qualidade de vida das pessoas no planeta.

            Sobre a visão dos professores que participaram da nossa pesquisa, a respeito da importância da EA para os seus alunos, não há dúvida que todos são de posição favorável. E suas justificativas vão no sentido da necessidade de uma educação voltada para os problemas socioambientais atuais e urgentes, conforme se observa nas descrições: “Porque a partir do conhecimento dos princípios da EA, os alunos terão mais condições de se posicionarem e entenderem a abrangência do estudo sobre meio ambiente” (P2); “Os alunos devem conhecer leis e princípios que regem a temática, para que busquem maneiras de atuar de forma coerente, buscando a melhor forma de alcançar a sustentabilidade no ambiente em que vivem” (P3); “Muito importante, pois com isso teríamos pessoas não só conscientizadas, mas principalmente sensibilizadas em relação à EA serviria como base para a formação de cidadãos mais participativos e comprometidos com as questões ambientais” (P4).

Os professores de ambas as escolas declararam que é importante ensinar princípios de EA para seus alunos e se mostraram conscientes das problemáticas relacionadas ao meio ambiente. Não obstante, notamos em seus registros algumas contradições a esse respeito. Eles alegam que é muito importante ensinar a EA aos seus alunos, contudo nem todos os professores da pesquisa tratam desse tema em aula e, quando tratam, só abordam conteúdos de ecologia, ou seja, muito restrito e somente em um determinado bimestre do ano letivo. Quer dizer que as abordagens do tema são muito pontuais e limitadas a um determinado momento da apresentação dos conteúdos, o que sugere que mesmo eles que defendem a necessidade de que todos os professores falem sobre EA de maneira interdisciplinar não o fazem.

É evidente a importância de sensibilizar os alunos para que atuem de modo responsável e consciente, conservando, assim, o ambiente em que vivem. A EA deve ser trabalhada com os alunos não por ser uma obrigação legal, mas pelo fato de ensinar que nós, seres humanos, não somos os únicos habitantes deste planeta e que não temos o direito de destruí-lo, além de alertar para a conscientização de que os recursos naturais são finitos. Dias (1992), considera que a maioria dos problemas relacionados ao meio ambiente são relacionados há fatores socioeconômicos, políticos e culturais, e que os mesmos não podem ser resolvidos por meios tecnológicos. Daí a importância da inserção da EA no cotidiano escolar, a fim de conscientizar os alunos e ajudá-los a se tornarem cidadãos ecologicamente corretos.

No conjunto de questões que apresentamos aos professores da nossa pesquisa, perguntamos a eles sobre as fontes de informações que os alimentam em relação ao meio ambiente. Sobre isso, mídia e pesquisa via internet são os mais citados (100%), depois estão os jornais e revistas (50%), livros (50%), palestras (50%). (Gráfico 1).  A informação é um dos primeiros passos que se deve dar na formação do conhecimento, visto que na sociedade atual, umas das preocupações mais relevantes tem sido a preservação da natureza e onde o avanço tecnológico tem feito parte da vida das pessoas, um grande desafio é tentar utilizar na EA, os meios de comunicação e mídias como práticas pedagógicas, contribuindo, dessa forma, para a proteção do meio ambiente.

 

                        

Gráfico 1- Fontes de informação dos professores sobre o meio ambiente.

 

 


 

Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nos questionários.

 

 

Por fim, questionamos os professores a respeito do que eles consideram como problema ambiental. Os mais citados pelos professores das duas escolas foram desmatamento e queimadas (100%), desertificação (100%), pobreza (50%), reciclagem (50%). (Gráfico 2). Nossa compreensão é de que a percepção ambiental corrente entre eles ainda está um pouco confusa em relação a conceitos básicos sobre EA, pois alguns alegaram a reciclagem como problema ambiental. Os docentes consideraram problemas de ordem social, como ambientais.  Dessa forma, a relação entre a pobreza e falta de escolarização com as problemáticas ambientais está ligada geralmente aos níveis de renda da população, uma vez que uma renda maior sugere padrões de consumo ambientalmente mais limpos, níveis de educação mais elevados e, consequentemente, espera-se um destino adequado para seus resíduos.

 

 

Gráfico 2- Problemas que os professores consideram de caráter ambiental

 


 

                  Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nos questionários.

 

 

Assim, percebemos que embora os professores apresentem um conceito de EA e meio ambiente adequado com a perspectiva que visa orientar uma conscientização, prevalecendo noções básicas a respeito do que é sustentabilidade, notamos que existe uma incoerência entre o que eles demonstram saber a respeito do tema e suas ações em aula, na prática do ensino com os alunos. Eles consideram a importância de ensinar EA, mas efetivamente nem todos abordam o assunto e quando fazem, é uma ação limitada ao ensino de conteúdos sobre ecologia, que ministram de maneira pontual, em um determinado bimestre do ano letivo, sem estabelecer a interdisciplinaridade.

 

 

CONCLUSÃO

 

A partir dos dados coletados, percebemos que os professores apresentam um conhecimento adequado às noções básicas sobre conceitos básicos referentes à EA e meio ambiente, prevalecendo noções básicas a respeito do que é sustentabilidade. Apesar da obrigatoriedade de ensinar princípios de EA aos alunos de todos os níveis de ensino, conforme prevê a Constituição Brasileira, os professores alegam haver diversas dificuldades em trabalhar esse assunto no cotidiano escolar, como, por exemplo, a falta de apoio das escolas e dos órgãos públicos para desenvolver projetos relacionados ao meio ambiente, falta de formação do professor para explorar o tema de forma adequada, falta de tempo e a má distribuição do conteúdos propostos pelas escolas. Considerando esses fatores, pensamos que seja importante o aprofundamento em investigações que foquem, por exemplo, nos cursos de formação continuada de professores de biologia e ciências, para saber se eles recebem orientação para ensinar EA, visto que se trata de um assunto importante. Outro aspecto é a carga horária da disciplina e a quantidade de conteúdo, pois eles alegam que o tempo é limitado para abordar o conteúdo sobre EA. Cabe ao professor planejar cuidadosamente o que será ensinado em suas aulas. É ele que deve criar espaços de discussão em sala para o desenvolvimento da curiosidade intelectual dos alunos sobre questões ambientais.

Os professores da nossa pesquisa também argumentaram que os conteúdos que devem ministrar não tratam da EA. Considerando que o professor tem uma relativa autonomia para fazer o seu programa na disciplina que leciona, ele esteja se referindo ao livro didático, já que no caso das escolas em que trabalham não há uma programação pré-estabelecida. Assim, pensamos que seja importante que outros trabalhos de pesquisa investiguem a forma como a EA é abordada nos livros didáticos, pelo fato de muitas vezes esse recurso assumir o papel de guia do processo de ensino e de aprendizagem. Sobretudo se considerarmos que a escolha de um bom material pedagógico conta muito no processo de aprendizagem.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos