Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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27/11/2016 (Nº 58) CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO COM GRADUANDOS DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS COM HABILITAÇÃO EM FÍSICA
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CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM ESTUDO DE CASO COM GRADUANDOS DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS COM HABILITAÇÃO EM FÍSICA

Gabriel de Lima Nunes1

Sinaida Maria Vasconcelos2

 

1Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade do estado do Pará, Uepa, Brasil gnuneswolf@yahoo.com.br

2Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil adianis41@hotmail.com

 

RESUMO

O presente estudo procurou investigar as concepções e perspectivas acerca da Educação Ambiental de graduandos do Curso de Licenciatura em Ciências Naturais com Habilitação em Física, utilizando como ferramenta questionário composto por dez questões abertas, sendo posteriormente analisadas e discutidas. Nota-se que embora presente a temática ambiental ainda precisa ser melhor desenvolvida na educação superior.

 

INTRODUÇÂO

 

Em um cenário de crise ambiental e paradigmática, caracterizada por uma relação desarmônica do homem com a natureza e a busca por um diálogo entre os dois, nota-se que parece haver ainda carência de uma consciência ambiental para o homem.

É nesse sentido que a Educação Ambiental(EA) tem um papel importante dentro de nossa sociedade no intuito de promover e subsidiar transformações na relação do homem com a natureza, tendo como alguns de seus pressupostosa busca por alternativas para o desenvolvimento sustentável e uma relação mais harmônica com o meio ambiente

Diante de tais preocupações e buscando formas de contribuir na formação de indivíduos críticos através da Educação Ambiental bem como na própria pratica dos profissionais atuantes nessa área, é que o presente trabalho foi idealizado e desenvolvido, que tem como objetivo o estudo das concepções e perspectivas sobre Educação Ambiental de estudantes em processo de formação profissional para se tornarem professores.

Foi selecionado para a pesquisa os discentes do Curso de Ciências Naturais com Habilitação em Física do Campus XX, da Universidade do Estado do Pará (UEPA),no município de Castanhal-PA, a fim de determinar como caminha o processo de construção do conhecimento na área de EA, e se este processo aparenta estar em consonância com o trabalho de outros autores na perspectiva da temática da Educação Ambiental.

A pesquisa teve como objetivo geral conhecer as concepções e perspectivas dos discentes do Curso de Ciências Naturais com Habilitação em Física, da Universidade do Estado do Pará, Campus XX.

Espera-se com esse estudo poder contribuir para um olhar mais atento sobre a importância da introdução de uma Educação Ambiental Crítica no currículo acadêmico, como forma demudarsuas próprias concepções e percepções acerca do mundo e da realidade, substituindo uma visão fragmentada de saberes por uma visão holística e integra.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Na primeira etapa do estudo foi realizado uma pesquisa bibliográfica sobre o tema a fim de se obter uma visão geral do tema na atualidade contribuindo na estruturação e fundamentação teórica do trabalho aqui desenvolvido.

O método do presente estudo se caracteriza por uma abordagem qualitativa, valorizando a subjetividade nos processos que são vivenciados na relação dos sujeitos pesquisados, sendo portando mais adequado para a descrição de fenômenos sociais (SEVERINO, 2007), por compreender e interpretar o fenômeno em seu contexto natural (OLIVEIRA, 2008).

Os sujeitos que compuseram a pesquisa foram os graduandos do curso regular de Licenciatura Plena em Ciências Naturais com habilitação em Física, da Universidade do Estado do Pará (UEPA), Campus XX, localizado no município de Castanhal-PA. Os discentes que participaram do estudo se encontravam cursando o segundo e o terceiro ano na modalidade regular.

O curso tem como objetivo principal formar professores aptos para atuarem na Educação Básica, tanto no ensino médio quanto fundamental nas disciplinas de Física e Ciências.

A pesquisa foi aplicada ao final do segundo semestre do ano de 2014, no Campus XX, onde estão matriculados no curso um total de 51, optando para esse estudo por uma amostra entre 20% e 40% dessa população, resultando ao final na participação de 14 (27,45%) graduandos que concordaram em responder e chegaram a de fato devolver o questionário efetivamente.

Quanto ao método de estudo para coleta de dados, foram utilizados questionários como principal instrumento de pesquisa, seguindo as orientações de Oliveira (2008), segundo a qual, as questões devem ser pertinentes ao objeto estudado e desenvolvidas de maneira clara, facilitando o entendimento pelos sujeitos da pesquisa.

Cada questionário constava de 10 questões abertas referentes a Educação Ambiental, temas relacionados ao assunto, sobre sua formação acadêmica e perspectivas quanto a trabalhar com EA, tendo a revisão bibliográfica realizada contribuindo muito na confecção dos mesmos. Omodelo do questionário aplicado na pesquisa está contido no Apêndice A.

Um dos motivos que levaram a escolha por questões abertas é por permitir que os entrevistados exponham seus motivos ou esclareçam algum ponto importante para ele, enriquecendo a pesquisa, embora tenha como consequência gerar dificuldades quanto a seu agrupamento, procurando ser o mais preciso possível na pergunta para evitar ambiguidade ou dificuldades de interpretação (OLIVEIRA, 2008). Sendo assim, explora-se a subjetividade dos indivíduos, procurando expor suas experiências e visão de mundo.

Juntamente com o questionário foi entregue aos entrevistados o termo de esclarecimento e de consentimento baseado nas Diretrizes e Normas Regulamentadas de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, em atenção à Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério de Saúde, Brasília, DF.

Oconteúdo das respostas foram analisados, passando por um processo de interpretação.Devido serem questões abertas e subjetivas, as quantificações muitas vezes se tornaram difíceis sendo necessário em algumas questões a criação de categorias onde as respostas com ideias centrais comuns pudessem ser agrupadas.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Todas as 10 questões que compuseram o questionário foram analisadas, interpretadas e organizadas, sendo posteriormente transcritas e quantificadas, sendo muitas delas expressas através de gráficos variados, escolhidos de acordo com a melhor forma de representatividade de cada questão.

A primeira pergunta do questionário foi “O que é Educação Ambiental (EA) para você?”, a fim de verificar o conceito formulado pelo graduando e delinear parte de sua concepção acerca da EA. As respostas de cada participante, apresentadas no quadro 1, foram transcritas fielmente aos textos originais descritos no questionário.

 

Quadro 1 – Concepções dos participantes da pesquisa sobre EA

Participante (P)

Concepção de EA

P1

“É um meio no qual fazemos uso do ensino-aprendizagem, enfocando questões ambientais”.

P2

“Se trata de informar a sociedade de coisas boas para o meio ambiente, e coisas que podem ser ruins”.

P3

“Para mim educação ambiental é as pessoas saberem preservar o ambiente natural que vive, como florestas, e o próprio ambiente”.

P4

“São temas abordados sobre o nosso habitat”.

P5

“Educação Ambiental é respeitar o meio ambiente”.

P6

“É a conscientização de relacionar-se de forma ética com o meio ambiente”.

P7

“É uma forma de instruir e conscientizar as gerações futuras sobre os recursos que a natureza nos proporciona, seu uso de forma consciente e sustentável”.

P8

“Ter consciência em não jogar lixo em lugares inapropriados e que a degradação vai ter consequência”.

P9

“É ensinar a utilizar os recursos de forma sustentável”.

P10

“São os valores adquiridos pelo individuo em consciência do tratamento do tema natureza. Que envolve princípios, compartilhamento, respeito, etc.”

P11

“Educação Ambiental, é termos consciência do impacto que estamos causando e saber como evitarmos”.

P12

“É o estudo sistemático dos sujeitos e objetos relativo a tais questões, com implicações relevantes a aquisição dos conhecimentos de conteúdos sobre meio ambiente”.

P13

“É seguir princípios onde suas ações não prejudiquem o meio ambiente, ou pelo menos evitar a degradação dele por completo”.

P14

“É o ato de respeitar os limites da natureza, bem como suas leis para se ter um mundo melhor para todos”.

Fonte: Do Autor, 2014.

 

Analisando o quadro 1 podemos observar que as respostas dos graduandos apresentam certa variação entre si. Extraindo as ideias centrais e as formas de abordagem do tema, podemos ver que, por exemplo, seis das respostas apresentaram um caráter de ensino tradicional, sendo mais voltado para informação ou aquisição de conteúdo. Outros cinco apresentaram como parte de suas concepções “conscientizar”, no entanto, em nenhum momento foi falado, pelo menos diretamente, da consciência crítica, podendo em alguns casos assumir o caráter apenas como aquisição de conhecimento, ou ainda como meras ações mecânicas, como o ato de ter consciência de não jogar o lixo no chão por isso ser errado, sem se questionar o porquê é errado? Quais as consequências disto? Que fatores estão interligados nessa dinâmica de consequência? Quais medidas cabíveis podem ser tomadas? Seriam elas realmente eficazes? São estes questionamentos e informações que o pensamento crítico nos leva a ter, que faz repensar e reestruturar nossos conhecimentos, saindo do determinismo e do mecanicismo que outrora imperava dominante no pensamento científico.

Se notou também que apenas duas respostas abordaram diretamente a questão da sustentabilidade vinculada a Educação Ambiental, embora haja algumas ideias que nos levam concepção de desenvolvimento sustentável possam ser subentendidas em alguns trechos como por exemplo “respeitar os limites da natureza” (P.14).

Além do foco sustentável propriamente dito, houveram quatro respostas que focaram no ambiente natural e sua degradação, bem como possíveis impactos provenientes dessa gradação, sendo necessário a preservação. Para Belim e Carvalho (2008) na maioria das vezes a Educação Ambiental acontece numa perspectiva conservadora definida pela concepção de meio ambiente, a qual dá suporte à concepção de educação ambiental, que determina à práxis do educador.

Apenas uma resposta citou diretamente ética, embora ética pareça ser uma palavra pouco usada no discurso ambiental, era ainda é elemento importante na formação de ecocidadãos. O preceito da Ética como um dos ramos da filosofia referente aos assuntos morais é inerente ao caráter do indivíduo, o levando para reflexão sobre o que é o certo e o errado, sendo imprescindível na formação de sujeitos críticos, e também indo de encontro ao pensamento de Araújo e Magalhães (2010) sobre a crise ambiental onde é preciso é preciso haver a medida entre aquilo que é tecnicamente possível é tecnicamente aceitável.

Vale lembrar que a EA está intimamente ligada a uma proposta complexa de mudança social, onde estão envolvidas as diferentes instâncias da sociedade, tanta política, como econômicas, sociais e ambientais, no qual seu processo educacional é o principal protagonista (FERREIRA, 2010).

Na questão 02 foi perguntado aos participantes se eles recebiam ou procuravam capacitação para aprimorar seus conhecimentos e práticas em EA e no caso de resposta afirmativa, foi pedido ao participante de quais formas isso se dava.

Nove dos graduandos responderam afirmativamente superando em quase o dobro do número de participantes que responderam essa questão negativamente. No entanto, embora tenham respondido afirmativamente, apenas um participante afirmou receber capacitação em diversas disciplinas, os demais procuravam por conta própria, ou seja, embora muitos procurem, a maioria parece não receber de fato essa capacitação durante a educação formal em seu processo de formação profissional.

Quanto as formas de busca por capacitação para se aperfeiçoar os principais meios citados pelos discentes está descrito no gráfico 1.

 

Gráfico 1 – Formas de busca por capacitação e aperfeiçoamento

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Do Autor, 2014

 

No caso da mudança comportamental, o discente se referia a adoções de comportamentos ecologicamente corretos, como por exemplo não jogar lixo em lugar inadequado, dentre outros.

As pesquisas eram referidas pelos discentes foi dada a entender como por conta própria, enquanto no predominante como meios de comunicações (televisão, jornais, reportagens e internet), artigos e livros mostra que boa parte da aquisição desses saberes parece vir de fontes de conhecimentos informais no cotidiano dos estudantes, em parte graças a globalização e as novas tecnologias que permitem uma grande circulação de informações.

Segundo Marion (2013) com o atual avanço da globalização o mundo se encontra interligado seja através de mídias convencionais ou inovadoras, quanto por redes de conhecimento onde o contexto ambiental é fato cotidiano frequentemente tratado nas discussões da contemporaneidade, que como ponto positivo pode ser destacado a difusão e a facilidade do acesso dessas informações.

  Na questão 03 do questionário foi solicitado aos graduandos que citassem 03 temas que eles abordariam para pratica de EA. As repostas foram lidas e organizadas de acordo com o eixo temático central tendo como resultado os seguintes temas: 1) Sustentabilidade; 2) Lixo; 3) Reciclagem; 4) Alimentos; 5) Urbanização Desordenada 6) Recursos Energéticos; 7) Água; 8) Atmosfera; 9) Mudança Climática; 10) Preservação; 11) Educação Ecológica; 12) Cidadania; 13) Tratamento de esgoto; 14) Exploração e Degradação dos Recursos Naturais; 15) Higiene; e 16) Queimada.

Os temas foram então quantificados e analisados. O resultado está expresso no gráfico 2.

 

 

 

Gráfico 2 – Temas abordados em EA pelos participantes

Fonte: Do Autor, 2014

 

Como se pode constatar no gráfico 2, 50% do total de participantes, ou seja, metade dos participantes (7 no total), escolheram dentro de suas três opções abordar o tema lixo, seguido pela temática Exploração e Degradação dos Recursos Naturais (com6 participantes), reciclagem (com5 participantes) e Sustentabilidade (com4 participantes).

O lixo (ou resíduos sólidos e rejeitos) é uma questão presente em nosso cotidiano e sempre muito discutida. Dentre os inúmeros problemas gerados pelos padrões de produção e consumo desenfreado adotados de forma dominante por nossa sociedade, a questão relacionada à gestão dos resíduos sólidos talvez seja uma das que melhor represente a ligação direta da problemática ambiental com o nosso estilo de vida, e não sendo a toa é considerada uma das principais questões do saneamento urbano, e justamente por isso tem recebido cada vez mais atenção de especialistas. Provavelmente o destaque do tema e a aproximação dele da nossa realidade do dia a dia contribuiu de forma significativa para sua escolha entre tantos participantes bem como no caso do tema reciclagem.

O tema Exploração e Degradação dos Recursos Naturais, o segundo mais escolhido, assim como os temas água (com 3 participantes), preservação (com3 participantes) educação ecológica (com 2 participantes), atmosfera (com 2 participantes), mudanças climáticas e queimadas (estes dois últimos citados apenas por um participante cada) podem ter tido como influencia para sua forte escolha a concepção mais naturalista da Educação Ambiental que se mostra bem forte, não sendo portanto uma surpresa uma forte escolha bem como diversificação de temas voltadas para o ambiente natural.

A temática sustentabilidade também teve certa representatividade sendo citado por quatro participantes como escolha de tema para trabalhar. Embora a ideia de desenvolvimento sustentável vá de encontro com a Educação ambiental e tenha sua importância acrescida como oposição as ideias de desenvolvimento econômico pautado na produção e consumo desenfreado, ainda carece de divulgação e iniciativas, sendo um tema importante dentro da EA por poder contemplar além de aspectos naturais, também os aspectos econômicos, políticos e sociais inerentes a questões ambientais.

Outros temas menos citados, porém não menos importantes, como Recursos Energéticos, que foi escolhido por dois participantes, e Alimentos, Higiene, Urbanização Desordenada, Cidadania e Tratamento de esgoto, que foram citados por apenas um participante cada, talvez não tenham sido tão citados, por raramente serem associados como sendo problemas ambientais, mas que ainda assim estão interligados.

Pode se notar uma grande diversidade de temas citados pelos graduandos e que podem ser trabalhados dentro da EA, o que reforça seu caráter transversal, interdisciplinar e integrador, o que exige dos profissionais um olhar holístico para consegui ver essas conexões.

Em uma visão newtoniana-cartesiana possivelmente não haveria muito sentido de se trabalhar questões como higiene e alimentos na área de meio ambiente e educação ambiental, um dos motivos pelo qual é tão importante mudar essa visão dos futuros profissionais, sobretudo os de educações devido seu papel crucial como formador.

Além dos temas citados na pesquisa pelos participantes, muitos outros temas poderiam ser trabalhados, como por exemplo desigualdade e conflitos sociais ligadas ao meio ambiente.

Para Pinto e Zacarias (2009):

 

Essas colocações sobre as diferenças entre problemas ambientais e conflitos ambientais são fundamentais, pois, numa perspectiva crítica de EA, os conflitos ambientais podem ser o fio condutor, os “temas geradores” de um trabalho educativo. Para que isso aconteça, é fundamental que o professor, ou o educador ambiental, tenha uma formação consistente que o possibilite compreender as causas políticas, sociais, econômicas e naturais do conflito, e, principalmente, o papel dos sujeitos envolvidos na organização social e participação popular (PINTO E ZACARIAS, 2009, p.51)..

 

A quarta pergunta era referente a fonte em que eles haviam aprendido sobre os temas citados anteriormente. As repostas dos participantes estão descritas no gráfico 3.

 

 

Gráfico 3 –Fonte de aprendizado dos temas escolhidos

Fonte: Do Autor, 2014

 

Como se pode observar no gráfico quatro, a escolha dos temas parece ter como uma de suas principais influências a Educação Básica, seguido pela Universidade. E como esperado os meios de comunicação continuam presentes, o que volta a evidenciar sua importância na disseminação de informação pertinente ao assunto.

Segundo Leff (2010) os campos da Educação, em particular a superior, são também interpelados pela crise cultural e ambiental, sendo o problema da degradação ambiental provocada pelos padrões de desenvolvimento insustentáveis um desafio às universidades devido seu papel estratégico em produzir conhecimentos e gerar quadros orientados à compreensão e a solução do desafio.

Esse resultado é sobretudo preocupante, uma vez que o principal ponto de referência a essas temáticas ainda é Educação Básica e não a Educação Superior, o que pode indicar uma falta de abordagem mais aprofundada sobre o assunto.

A questão seguinte, de número cinco, tratava de alguns aspectos metodológicos, onde os graduandos eram perguntados como eles gostariam de trabalhar com seus alunos. As repostas nessa questão foram organizadas em quatro categorias, são elas: 1) Visitas Técnicas; 2) Aula Prática e Experimental; 3) Relacionando o Assunto ao Cotidiano; e 4) Discutindo a temática. O resultado do método escolhido pelos participantes pode ser observado no Gráfico 5.

 

Gráfico 4 –Metodologia para EA

Fonte: Do Autor, 2014

 

Nota se a escolha predominante, com um total de cinco participantes, pelas Aulas Práticas e Experimentação, como método para se trabalhar EA, o que de certo modo já era um pouco esperado, pois segundo Giordan (1999) não é incomum que docentes de ciências afirmem que a experimentação eleva a capacidade de aprendizado, já que esta pode funcionar como meio de envolver o aluno nos temas em pauta. Para o autor a experimentação acaba por assumir o papel de dispositivo-técnico-cognitivo nos processos de formação do pensamento cientifico.

Esse método pode contribuir para um aprendizado significativo, no entanto, corroboro com Giani (2010) em que as aulas experimentais não podem adquirir caráter apenas ilustrativo como nos livros didáticos, pois as possibilidades da experimentação como recurso pedagógico vão muito além.

A categoria “Visita Técnica”, optada por quatro graduandos, também teve boa representatividade entre os pesquisados. Essa é uma forma importante de se trabalhar EA, por permitir aproximar melhor o discente da realidade muitas vezes discutidas ou citadas na temática ambiental. Além disso, retira o aluno da sala de aula podendo tornar a aula mais interessante e instigante.

Na Categoria “Relacionando Assuntos ao Cotidiano” (3 participantes) é um método interessante por trazer a temática ambiental ao dia a dia do aluno, fazendo uso inclusive, como citado pelos participantes da pesquisa, das mídias de comunicação e dos temas que estão em destaque. Sendo a categoria menos escolhida pelos graduandos a “Discutindo a Temática”, com apenas dois participantes a citando como método.

O tipo de métodos escolhidos pela grande maioria dos participantes revela a busca de grande parte deles por tentarem variar da aula puramente expositiva, ou, onde o professor apenas fala e o aluno absorve mecanicamente, o que é um fato importante na quebra do paradigma tradicional dentro da educação. Para Pinto e Zacarias (2009) as visões que estruturam o debate da crise ambiental refletem por extensão nas práticas educativas que tem como tema a questão ambiental.

No entanto, embora alguns métodos adotados possam ser ditos inovadores, ou fugir ao cotidiano da sala de aula, é preciso ter atenção para que ao final ele não passe de uma mera mudança de ambiente para o aluno, ou um método diferente, mas que, no entanto, não seja significativo para o discente, ou não contribua para formação de uma consciência crítica.

Isso pode ser notado pela descrição dada por alguns pesquisados que lembra muito um método que tem ao final a função apenas de informar. Como dito por Freire (2002) ensinar não pode ser entendido como a mera transferência de conhecimento.

Para Leff (2010) a aprendizagem ambiental é entendida como um tipo de saber pedagógico fundamentado numa visão crítica e transformadora sobre a educação em si e os seus sujeitos

 Na questão seis foi perguntado aos participantes quais os resultados esperados com a Educação Ambiental para eles.

 

Gráfico 5– Resultados esperados com a EA

Fonte: Do Autor, 2014

 

O gráfico 6 que mostra a distribuição do número de participantes por resultados esperados pelos mesmo aponta como principal resultado esperado o desenvolvimento de uma Consciência Ambiental, que é um resultado importante, mas que, no entanto, como se pode observar pelas resposta que esta não se trata necessariamente de uma consciência crítica como muitos defensores das práticas de EA almejam, mais uma consciência voltada a apenas proceder de forma correta de maneira quase que mecânica, como o ato de jogar o lixo no lixo, que embora ecologicamente correto não requer precisamente de uma consciência crítica guiando essa atitude.

Quatro participantes esperam com esse tipo de prática a mudança comportamental, que embora também importante, também não implica necessariamente na construção de uma consciência crítica.

Outros quatro participantes escolheram como resultado a mitigação dos impactos ambientais, mais ligadas a vertente naturalista da EA e apenas um graduando espera como resultado o desenvolvimento de conhecimentos, o que lembra uma visão mais tradicionalista com foco no acumulo de informações, mas que não necessariamente acarretem em transformações do indivíduo seja do comportamento ou percepção do indivíduo, ou socioambientais.

Na sétima questão foi perguntado quais as principais dificuldades que eles esperam encontrar no desenvolvimento desse tipo de trabalho. Essa questão busca ver a percepção e perspectiva da introdução de EA em atividades educativas para qual estão se preparando.

Um dos participantes citou mais de um problema, o que gerou uma contagem de 15. O resultado está descrito no Gráfico 6, logo a baixo.

 

Gráfico 6 – Principais dificuldades

Fonte: Do Autor, 2014

 

Como descrito no gráfico sete, as principais dificuldades apontadas por eles na implementação desse tipo de trabalho educativo são a Dificuldade e resistência do aluno pôr em pratica o que aprendeu (apontada 5 vezes). Despertar a Consciência Ambiental (apontada 4 vezes), Falta de apoio (apontada 2 vezes), Locomoção dos alunos e Burocracia (estes dois últimos apontados apenas uma vez cada).

Houve um participante que respondeu que não há dificuldade, segundo ele ao agirmos com responsabilidade não existem dificuldades. O que arremete a ideia de que os problemas podem ser superados, contanto que se adote uma postura correta para seu enfrentamento.

A oitava questão procurava saber se os graduandos já chegaram a trabalhar com professores ou profissionais de outra área, sendo ou não em EA, e no caso de resposta afirmativa, saber em que tipos de ocasiões. Apenas quatro graduandos responderam positivamente a esta questão.

Com essa pergunta foi procurado analisar um aspecto muito importante dentro não só da EA, mas das questões ambientais como um todo, que são a trans e interdisciplinaridade. Para Ferreira (2010) A prática da Educação Ambiental de forma interdisciplinar configura-se um desafio para muitos professores sendo apontado como algumas de suas justificavas para isso a falta de domínio da temática e até mesmo a falta de conexão da temática com as disciplinas.

A interdisciplinaridade não é algo intrínseco apenas nas questões ambientais, mais de todas as áreas do conhecimento, como uma das tendências estabelecidas por paradigmas vigentes, sendo essencial para a quebra do paradigma tradicional.Segundo Ferreira (2010) este é um problema observado em todos os níveis e modalidades de ensino, inclusive no nível superior.

Quanto as ocasiões em que foram oportunizadas essas experiências dois citaram uma visita técnica ao lixão através da Secretaria municipal de meio ambiente de Castanhal, o terceiro foi com um professor quando trabalharam sobre a temática de tratamento da água, e o quarto caso em projetos cuja a pratica era compatível.

Na questão nove, foi perguntado em caso de resposta afirmativa a questão anterior como havia se dado essa relação mutua de profissionais de diferentes áreas.

Um dos participantes que citou como ocasião a visita técnica ao lixão considerou como “boa” a experiência. No entanto o outro participante que também realizou a visita como “não muito boa”, uma vez que o outro profissional envolvido não demostrou muito interesse.

No caso do tratamento de água o participante considerou a relação como integrada e harmoniosa no sentido de troca e transmissão do conhecimento.

E no último caso, dos projetos, ele considerou como positivamente, pois o objetivo maior era justamente proporcionar o trabalho em grupo interdisciplinar, o que resultou em tudo saindo como o esperado.

Para Jacobi (2003):

 

[...] A dimensão ambiental configura-se crescentemente como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar (JACOBI, 2003, p.190).

 

A última questão, de número dez, era relativa a frequência em que era trabalhada a temática ambiental dentro do seu currículo acadêmico. As respostas foram agrupadas de acordo com sua similaridade. Cinco responderam que frequentemente; quatro responderam com baixa frequência; e cinco que raramente.

Nota-se que há uma distribuição quase que uniforme nesse gráfico, indo de frequente a raramente com pouquíssima variação, o que parece dizer que esse não é um processo igualitário para uma maioria, havendo uma distribuição entre os próprios alunos.

Vale ressaltar que um dos participantes comentou em sua resposta a essa questão que a temática ambiental era tratada frequentemente em disciplinas pedagógicas da grade curricular do curso, o que pode representar uma ponte importante de saberes em sua formação.

A reflexão dentro da Universidade e instituições superior é importante, pois embora gozem de autonomia formal, suas atividades acadêmicas ainda são afetadas pelos valores dominantes da sociedade na qual estão inscritas (LEFF, 2011).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A pesquisa mostra que a temática ambiental acompanha a Formação de muitos dos Discentes do curso de Licenciatura Plena em Ciências Naturais com Habilitação em Física. No entanto esse acompanhamento parece ocorrer de forma diversificada entre os graduandos, expressando a subjetividade do processo de construção dos saberes.

Além do mais, o estudo mostra que a concepção dos participantes está mais ligada a vertente puramente naturalista da Educação Ambiente, esquecendo de tratar de questões importantes como a ideia de sustentabilidade, deixando de associar as esferas políticas, econômicas e sociais ao discurso de Educação Ambiental, sobretudo ao seu papel transformador, devendo se tomar cuidado para não definir as práticas de EA, através de uma visão reducionista fragmentada.

Também se notou traços muito ligados ao paradigma tradicional em suas concepções, onde a pratica educativa consiste na transmissão de informações, indo ao encontro do ensino mecanicista característico do paradigma newtoniano e cartesiano. Para que a pratica de EA seja eficiente é preciso evitar se prender a essa maneira de ensinar.

Esse rompimento já começa a ser notado, como pode se observar nos métodos escolhidos para trabalhar EA, onde muitos optaram por trabalhar levando seus alunos para fora da sala de aula, para que a realidade fosse confrontada com seus próprios olhos.

O conflito de paradigmas, a busca por novos métodos de ensino, as dificuldades para um processo educativo significativo são muitos dos desafios a ser confrontado por futuros profissionais da educação, uma vez que o processo de construção do conhecimento é constante e continuo, não sendo um processo acabado ao termino da graduação.

Nas respostas observasse em grande parte a adoção de mudanças comportamentais, mas não se fala, por exemplo, em mudanças sociais, embora o foco muitas vezes esteja direcionado na crise ambiental, não parece estar se preocupando tanto com o caráter transformador. Um exemplo que pode ser citado, é que embora se tenha falada em conscientizar, apenas um participante mencionou em algumas de suas repostas sobre a formação de um senso crítico.

A preocupação em conseguir despertar a consciência do aluno também se revelou bastante presente, sendo imprescindível ao professor e futuro profissional refletir sempre sobre a sua práxis.

Logo, apesar do crescente destaque que a Educação Ambiental vem ganhando nos últimos anos, sendo citada em muitos discursos envolvendo meio ambiente, era ainda carece de atenção dentro do currículo acadêmico do curso de Ciências Naturais com Habilitação em Física, refletindo até mesmo sobre a própria forma como se dá a formação desses profissionais atualmente.

 

Referencias

 

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FERREIRA, C. F. B. Formação de Professores: Concepções e praticas transformadoras de Educação Ambiental. 2010. 82f. Dissertação (Mestrado Ensino de Ciências) - Instituto Federal de Educação, Ciência eTecnologia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

 

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 2002. Disponível em: . Acesso 28 de nov. de 2013.

 

GIORDAN, M. O Papel da Experimentação no Ensino de Ciências. Química Nova na Escola, v. 10, p. 43-49, 1999.

 

JACOBI, P. Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n.118, p.189-205, 2003.

 

LEFF, E. (Coord.). A complexidade ambiental. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2010. 342p.

 

____. Saber ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 8.ed. Petrópolis: Vozes, 2011. 409p.

 

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OLIVEIRA, V. R. Desmistificando a pesquisa científica. Belém: EDUFPA, 2008. 167p.

 

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Ilustrações: Silvana Santos