Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/06/2018 (Nº 64) EVIDENCIAÇÃO DOS INDICADORES AMBIENTAIS DIVULGADOS NO BALANÇO SOCIAL DAS EMPRESAS COM CERTIFICAÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ESTADO DE MATO GROSSO
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EVIDENCIAÇÃO DOS INDICADORES AMBIENTAIS DIVULGADOS NO BALANÇO SOCIAL DAS EMPRESAS COM CERTIFICAÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ESTADO DE MATO GROSSO

Elisandra Beatriz Loffler1, Dr. Júlio Cesar Raposo de Almeida 2, Julia Janice Loffler3

1Departamento de Ciências Ambientais, Universidade de Taubaté

2 Departamento de Ciências Ambientais, Universidade de Taubaté

3 Departamento de Agronomia, Universidade do Estado de Mato Grosso

Resumo: A divulgação do Balanço Social tem sido um instrumento de evidenciação para demonstrar as relações econômicas, sociais e ambientais das empresas para com a sociedade e o meio ambiente. É um mecanismo utilizado para as empresas demonstrarem publicamente suas intenções e compromissos socioambientais, presando pela transparência de suas ações no que tange a responsabilidade social corporativa. O Balanço Social também é uma forma para a empresa expor a sociedade que não está preocupada somente na geração de lucros, mas sim na prestação de contas do seu desempenho sobre o uso e a apropriação de recursos naturais. Neste sentido o presente estudo tem por objetivo evidenciar os índices de investimentos em meio ambiente e relacioná-lo com a receita líquida, demonstrados por indicadores ambientais extraídos dos Balanços Sociais publicados pelas empresas de Mato Grosso no site da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, no período compreendido entre 2010 e 2015. A metodologia utilizada é a descritiva exploratória através da análise documental, tendo em vista que as informações foram extraídas dos Balanços Sociais divulgados no site da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso pelas empresas objeto da pesquisa. Inicialmente, foram identificados os Balanços Sociais (240 unidades) divulgados entre os anos de 2010 a 2016, posteriormente foram agrupados conforme modelo proposto pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, só então foram identificados aqueles que continham investimentos externos no meio ambiente. Para o estudo em questão foram consideradas apenas os Balanços Sociais das empresas que realizaram e divulgaram investimentos relacionados ao meio ambiente, num total de 100 Balanços Sociais. Foi feita análise dos Indicadores Econômicos – Receita Líquida e Indicadores Sociais Externos – Investimento em Meio Ambiente das empresas. A análise dos resultados demonstrou que somente as empresas de médio e grande porte efetuaram investimento na área ambiental, sendo o setor de comércio o que mais realiza investimentos em meio ambiente. Os investimentos demonstrados em Balanço Social são quase que em sua totalidade realizados para melhoramento da gestão ambiental das empresas, no entanto o que se percebe é que ainda falta uma maior preocupação no tocante a qualidade das informações divulgadas que ainda carecem de melhorias, pois a grande maioria dos Balanços Sociais não possui todas as informações necessárias para que o leitor consiga identificar e compreender as ações de responsabilidade social corporativa de maneira clara.

Palavras chaves: Ciências Ambientais; Indicadores Econômicos; Meio ambiente.

Abstract: The disclosure of the Social Balance Sheet has been a demonstration tool to demonstrate the economic, social and environmental relations of companies towards society and the environment. It is a mechanism used for the companies to publicly demonstrate their intentions and social-environmental commitments, providing for the transparency of their actions regarding corporate social responsibility. The Social Balance Sheet is also a way for the company to expose society that is not only concerned with generating profits, but with accountability for its performance over the use and appropriation of natural resources. In this sense, the objective of this study is to show the indices of investments in the environment and to relate them to net revenue, as demonstrated by environmental indicators extracted from the Social Balance sheets published by the companies of Mato Grosso on the website of the Legislative Assembly of the State of Mato Grosso, in the period between 2010 and 2015. The methodology used is descriptive exploratory through documentary analysis, considering that the information was extracted from the Social Balance Sheet published on the website of the Legislative Assembly of the State of Mato Grosso by the companies object of the research. Initially, the Social Balance Sheet (240 units) disclosed between the years 2010 to 2016 were identified, later grouped according to the model proposed by the Legislative Assembly of the State of Mato Grosso, only then were identified those that contained external investments in the environment. For the study in question, only the Social Balance sheets of the companies that made and disclosed investments related to the environment were considered, in a total of 100 Social Balance Sheets. An analysis was made of the Economic Indicators - Net Revenue and External Social Indicators - Investment in the Environment of companies. The analysis of the results showed that only the medium and large companies made investments in the environmental area, and the commercial sector is the one that most invests in the environment. The investments shown in the Social Balance Sheet are almost all carried out to improve the environmental management of companies, however what is perceived is that there is still a greater concern regarding the quality of the information disclosed that still needs to be improved, since the great most of the Social Balance sheets do not have all the necessary information so that the reader can identify and understand the actions of corporate social responsibility in a clear way.

Keywords: Environmental Sciences; Economic indicators; Environment

Introdução

O tema responsabilidade social é assunto de ampla discussão na literatura. Neste sentido, foram criados instrumentos para evidenciação da responsabilidade socioambiental das empresas. A ferramenta mais conhecida atualmente no Brasil é o Balanço Social, que é visto como um instrumento de informações da empresa para com os usuários. A sua existência se justifica porque as empresas devem provar que o seu custo benefício é positivo, ou seja, a empresa deve agregar valor à economia e a sociedade, respeitar os direitos humanos e ainda demonstrar que todo seu processo operacional é desenvolvido com a preocupação de não agredir o meio ambiente (Costa, 2012).

No Brasil, o modelo de Balanço Social mais difundido é o desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE, segundo Instituto Ethos (2011). No mundo o modelo mais conhecido e utilizado é o desenvolvido pela Global Reporting Initiative – GRI, segundo Dow Jones (2011). Tanto o modelo IBASE quanto o GRI e tantos outros modelos são utilizados pelas empresas como forma de divulgação de suas ações, sendo seu acesso permitido aos mais diferentes usuários.

Em virtude da relevância do tema, desde 2006 a Assembleia Legislativa por meio da Lei n.7.687/2002 criou o Certificado de Responsabilidade Social de Mato Grosso. Esse certificado reconhece publicamente aquelas organizações que apresentarem o Balanço Social conforme determinado em Edital específico todos os anos.

Costa (2012) afirma que cada vez mais as empresas devem tratar suas ações sociais de maneira profissional para assegurar a transparência daquilo a que ela se comprometeu, garantindo assim fortalecimento da sua imagem institucional, aumento da produtividade dos empregados e consequentemente aumento da sua participação no mercado.

Neste sentido, o presente trabalho problematiza qual a relação entre a Receita Líquida e o Indicador Externo – Meio Ambiente - publicada pelas empresas no site da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso no período de 2010 a 2015.

Metodologia

A pesquisa realizada é classificada, segundo Vergara (1998), quanto aos seus objetivos e fins como descritiva e exploratória, uma vez que ela procura descrever as características das informações divulgadas no Balanço Social das empresas em estudo, e exploratória por aprofundar as análises das informações divulgadas com maior riqueza de detalhes.

Quanto aos meios, a pesquisa é documental, tendo em vista que foram utilizados como fonte principal de dados, os Balanços Sociais disponibilizados no site da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso e como fonte adicional os próprios Websites das empresas pesquisadas. A amostra foi intencional e não probabilística e utilizou 242 Balanços Sociais no total das edições de 2012 a 2016 (tabela 2).

As edições de 2012 a 2016 contemplam os anos de 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, tendo em vista que o Balanço Social é divulgado contendo 02 anos consecutivos para que o leitor possa melhor analisar e interpretar os resultados informados, podendo fazer a comparação da evolução dos dados.

A escolha deste universo de pesquisa ocorreu devido as informações das empresas e seus respectivos Balanços Sociais já estarem disponíveis no website da Assembleia Legislativa, prezando pela transparência das organizações para avaliação da sua responsabilidade socioambiental.

Não foram efetuados contatos telefônicos ou via e-mail com as empresas objeto de estudo, com isso buscou-se a certeza que as informações divulgadas estão disponíveis e acessíveis a qualquer pessoa interessada nos dados.

De posse dos 242 Balanços Sociais, o primeiro passo foi separar as empresas em cinco grupos (ou modelos) seguindo o mesmo critério adotado pela Assembleia Legislativa:

Modelo 1. Microempresas e empresas de pequeno porte. (Microempresas - ME: Pessoas Jurídicas com receita bruta anual não superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); Empresas de Pequeno Porte - EPP: Pessoas Jurídicas com receita bruta anual não superior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

Modelo 2. Empresas de Médio e Grande Porte. (Pessoas jurídicas com receita bruta anual superior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

Modelo 3. Organizações do Terceiro Setor

Modelo 4. Instituições de Ensino e Fundações Privadas

Modelo 5. Prefeituras, Secretarias Estaduais, Autarquias e Fundações Públicas.

Modelo 6. Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista.

Após agrupar as organizações conforme os modelos descritos, foram separadas aquelas empresas que disponham de investimento Social Externo – Meio Ambiente, as demais organizações, mesmo tendo divulgado o Balanço Social foram desconsideradas por não possuírem qualquer tipo de investimento no Meio Ambiente.

Uma vez que os dados foram agrupados, separados e transferidos para uma planilha, bem como armazenados em arquivos o pesquisador já pode começar a analisá-lo, afirma Sampieri, Collado e Lucio (1991).

A partir daí foram elaboradas análises contendo informações objetivas, retiradas dos dados fornecidos pelas empresas ao público, tais como:

  • Indicadores Econômicos: Receita Líquida (Vendas Brutas menos devoluções, descontos e impostos incidentes sobre vendas. Representa, portanto, o poder de mercado da empresa);

  • Indicadores Sociais: Ambiente Externo: Interação Meio Ambiente (Incluem todos os recursos empregados pela empresa em meio ambiente), que é subdividido em: Investimentos relacionados aos processos produtivos e operacionais das empresas e Projetos Sociais e Ambientais e ou ações de educação ambiental.



Ainda, foram identificadas as ações de investimentos realizados no meio ambiente divulgados através do Balanço Social, disponíveis no site da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso como também no website das empresas em questão.

Não foi possível averiguar se os valores de investimentos no meio ambiente publicados nos Balanços Sociais foram realmente investidos nas áreas conforme publicação. Assumimos que os relatórios divulgados de 2012 a 2016 são verossímeis com as suas atitudes, comportamentos e estão de acordo com os valores apresentados no Balanço Social.

Resultados e Discussão

Caracterização das empresas

Considerando-se o modelo de classificação das empresas proposto pela Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, nas edições de 2012 a 2016, verificou-se nesses cinco (5) anos que a maior participação na divulgação foi realizada por empresas de médio e grande porte, com a participação de 120 empresas (49,5%), seguido das Entidades de Terceiro Setor com 85 participações (35%), Micro e Pequenas Empresas com 23 participações (10%), Prefeituras, Autarquias e Fundações com 8 participações (3%), Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista com 5 participações (2%) e por último as Instituições de Ensino com 1 participação (0,5%) (Tabela 2).

Pode-se observar que da amostra inicial, somente as empresas de porte médio e grande (modelo 2) apresentaram investimentos relacionados ao meio ambiente (42%), e neste seguimento constatou-se que 83% das empresas realizaram algum investimento no meio ambiente. Os demais modelos não apresentaram qualquer forma de evidenciação ambiental.

Desde o primeiro ano de divulgação do Balanço Social pela Assembleia Legislativa que ocorreu no ano de 2006 até o ano de 2016, houve um aumento expressivo na participação das empresas. No primeiro ano de implantação, somente cinco empresas divulgaram seus Balanços Sociais, este quadro foi evoluindo com o passar dos anos e no último ano de edição (2016) foram divulgados balanços social de 46 empresas, um crescimento nos últimos 10 anos de 820%.



Figura 1 – Evolução da divulgação de Balanço Social através do site Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso.

FONTE: Adaptado Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

A evolução da divulgação do Balanço Social demonstra que as empresas estão buscando melhorar seus processos, bem como demonstrar maior transparência em suas ações. Neste sentido, Borchardt (2002) explica que embora a divulgação do Balanço Social não seja obrigatória, ele expressa evidentemente a cidadania empresarial além de ser um instrumento imprescindível para a gestão de empresas.

De maneira geral, nota-se a participação de uma parcela quase irrisória de empresas que priorizam pela transparência. Segundo IBGE (2016) o Estado de Mato Grosso possuía no ano de 2015, 89.712 empresas em atividades, em comparação aquelas que divulgaram o Balanço Social no Estado no mesmo período, equivale a uma parcela de apenas 0,05%. Tornando evidente assim, a necessidade de maior divulgação e discussão acerca do assunto, ainda mais em se tratando de um Estado que possui em seu território três dos principais biomas brasileiros, o Bioma Amazônico, Cerrado e Pantanal. O Bioma Amazônia ocupa uma área de 48.099.194,6875 ha, o que representa 53% do território mato-grossense, já o Bioma Cerrado ocupa uma área de 35.984.775,4974 ha, representando 40%, enquanto o Bioma Pantanal ocupa uma área de 6.110.286,5496 ha, o que representa 7% da área total do Estado (IPAM, 2017).



Dos 100 Balanços Sociais pesquisados, 39 pertenciam ao ramo de comércio, 32 ao setor industrial e 29 ao setor de serviços (Tabela 3).

A maior participação do comércio no Estado de Mato Grosso se dá em virtude da sua economia ser voltada ao agronegócio, sendo o Estado líder na produção do País em soja, algodão e criação de gado, segundo o Governo do Estado de Mato Grosso (2015).

De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE (2016):

A participação de Mato Grosso no Produto Interno Bruto do Brasil a preços correntes alcançou 1,8% em 2014. A agropecuária participou com 21,0% do valor adicionado bruto estadual em 2014, e continua sendo um importante propulsor do crescimento econômico (10,8%), notadamente a agricultura. Em 2014, a dinâmica principal adveio do cultivo da soja (12,5%), maior produtor nacional com 26,4 milhões de toneladas e que caracterizou-se principalmente pelo incremento de áreas em 8,5% em relação a 2013, e cultivo do algodão (24,2%), onde o estado foi o maior produtor com participação de cerca de 57% da produção nacional, com 2,3 milhões de toneladas.

Existe uma grande preocupação ambiental acerca dos impactos causados pelas atividades de produção no Estado de Mato Grosso. Segundo Costa et al (2018) em pesquisa realizada no Estado de Mato Grosso, os principais impactos ambientais causados pela da agropecuária, são:

  • A eliminação ou redução da fauna e flora nativas, como consequência do desmatamento de áreas para o cultivo de pastagens;

  • O aumento da degradação e perdas de nutrientes dos solos, em especial devido ao pisoteio intensivo e à utilização do fogo;

  • A contaminação dos produtos de origem animal, devido ao uso inadequado de produtos veterinários para o tratamento de enfermidades dos animais e de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas pastagens.

Desta forma observa-se que no Estado de Mato Grosso as empresas ainda precisam de uma conscientização maior acerca de suas responsabilidades socioambientais, e que realmente assumam o compromisso da divulgação de suas ações através do Balanço Social.

Análise dos indicadores do balanço social

Os indicadores sociais apresentados no Balanço Social demonstram o quanto as empresas estão comprometidas e preocupadas com a comunidade, o meio ambiente e a sociedade em geral, porque é demonstrado todos valores investidos em cada área.

Analisando a Receita Líquida no ano de 2010 encontramos investimento em meio ambiente de 0,61% sob a receita líquida, uma média de aproximadamente 3.300 milhões por empresa anualmente (tabela 5).

No ano de 2011 apesar do aumento na participação das empresas que passou de 16 para 18, houve queda nos investimentos ambientais praticados pelas mesmas, resultando num percentual de 0,53% em relação a receita líquida e média de investimentos ambientais de aproximadamente de 3.100 milhões por empresa (tabela 4).

No ano de 2012 a participação das empresas teve pequena queda, porém o investimento ambiental apresentou média de investimentos de 4.300 milhões por empresa, resultando num percentual de 0,58% em relação a receita líquida (tabela 4).

No ano de 2013 observou-se nova queda na participação das empresas, apresentando a menor média de investimentos nos anos pesquisados, com percentual de 0,21% de investimentos em relação a receita líquida e média de aproximadamente 1.700 milhões investidos por empresa (tabela 4).

No ano de 2014 houve maior participação das empresas, de 14 (2013) para 17 (2014), tem-se a melhor média de investimentos chegando a quase 1% da receita líquida. Também foi encontrado a melhor média de investimentos por empresa, aproximadamente 6.800 milhões (tabela 4).

No ano de 2015 tem-se aumento de 1 empresa, porém diminuição nos investimentos ambientais, chegando ao percentual de 0,56% em relação a receita líquida e média de investimento de 1.300 milhões por empresa (tabela 4).

A média dos investimentos em relação a receita líquida variou de 0,21% a 0,97% entre os anos de 2010 a 2015, sendo considerado como baixo investimento, resultando num investimento de cerca de 0,89% de total a receita líquida. Porém, em relação à proporcionalidade de crescimento da receita líquida e dos investimentos em meio ambiente os percentuais não acompanham o crescimento apresentado pelas receitas dos períodos trabalhados. A partir disso, se apresenta uma disfunção ao comparar a correlação obtida pela pesquisa com as empresas de Mato Grosso para com outras pesquisas executadas, onde normalmente os investimentos ambientais realizados tendem a crescer na mesma proporção da receita líquida.

Machado e Machado (2009) efetuaram um estudo das empresas que possuíam balanços sociais disponíveis no banco de dados do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), dentro da totalidade das empresas, foram selecionadas as 500 maiores e melhores, segundo a publicação anual da Revista Exame, entre os anos de 2003 e 2007. Os autores realizaram um estudo para averiguar se a responsabilidade social causava algum impacto no desempenho financeiro das empresas e constataram que pode haver impactos positivos no desempenho financeiro da empresa no que tange a investimentos em indicadores sociais internos e externos.

Nossa et al. (2009) pesquisaram sobre a relação entre a responsabilidade social e ambiental com o desempenho financeiro. O estudo foi realizado a partir do ranking das empresas selecionadas pela Revista Exame 2007 que continham ações da BMF&BOVESPA, foram selecionados somente aquelas empresas que dispunham de informações disponíveis publicadas em Balanço Social no período de 1999 a 2006. Os resultados encontrados apontaram que o desempenho financeiro exerce influência nos indicadores sociais internos e externos das empresas.

Oro et al (2013), realizaram uma pesquisa com 16 empresas integrantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial da BMF&BOVESPA que publicaram Balanço Social nos anos de 2007 a 2010, foi encontrado uma média de investimentos ambientais de 1,1% por essas empresas, considerado pelo autor como baixo investimento em processos produtivos bem como os projetos ambientais e de educação ambiental.

Ao analisar os investimentos entre os setores, nota-se que o setor de comércio foi o que realizou maiores investimentos em meio ambiente se equiparado aos setores da indústria e serviços. Em termos percentuais o valor investido pelo setor do comércio representa 341% a mais de investimento realizado se comparado ao investimento da indústria. O setor da indústria e serviços seguem com valores de investimentos aproximados, em termos percentuais a indústria investiu 0,46% a mais que o setor de serviços (Tabela 5).

No Estado de Mato Grosso o investimento ambiental no comércio se destaca devido sua economia estar voltada ao agronegócio, segundo Governo do Estado de Mato Grosso. Ainda, afirma que deve haver mais investimentos ambientais porque a agricultura, o desmatamento e o uso do solo, são responsáveis por 24% das emissões globais.

Os Investimentos em processos produtivos e operacionais são o que ganham mais destaque porque as vantagens advém tanto para as organizações como para o meio ambiente, segundo Kraemer (2004), reduz-se os riscos ambientais da atividade da empresa, tais como emissões de efluentes, acidentes, entre outros e a adoção destas práticas originam redução de custos porque busca pela melhoria da eficiência dos processos produtivos o que resulta em redução de consumo de matéria prima, água, energia e possíveis passivos ambientais, tais como multas e indenizações.

Portanto verifica-se, de modo geral, que os investimentos no meio ambiente não crescem na mesma proporção da Receita Líquida, e que os investimentos publicados em Balanço Sociais das empresas em estudo ainda estão longe de ser ideais, este apenas são realizados na maioria das vezes em benefício próprio das empresas.

Identificação das ações de investimento ambiental

Para as empresas é tão importante agir corretamente, quanto divulgar suas ações de responsabilidade socioambiental, demonstrando o que elas têm feito para minimizar os impactos causados por suas atividades.

As ações de investimentos ambientais divulgadas no Balanço Social as edições de 2012 a 2016, de maneira geral estão voltadas para o sistema de gestão ambiental, adequação a legislação pertinente a ainda ao tratamento de resíduos e destinação correta do lixo (tabela 6).

Neste sentido, Tinoco e Kraemer (2011), afirmam que as empresas que investem em gestão ambiental, adquirem benefícios, sendo eles:

  • Economia de custos: redução do consumo de água, energia e outros insumos; reciclagem, venda e aproveitamento de resíduos e diminuição de efluentes; redução de multas e penalidades por poluição.

  • Incremento de receita: aumento da participação no mercado; linha de novos produtos para novos mercados; aumento da demanda para produtos que contribuam para a diminuição da poluição.

  • Benefícios estratégicos: melhoria na imagem institucional; aumento da produtividade; melhoria nas relações de trabalho; melhor adequação ambiental, entre outros.

Dessa forma as empresas tendem a ter redução de custos seja por meio da redução de consumo de água, energia devido a utilização de tecnologias limpas bem como evitando com que elas adquiram passivos ambientais através de multas ou na recuperação de poluição causada por sua atividade. Em consequência destas ações e investimentos as empresas em questão tendem a gerar melhoria na imagem institucional.

Além disso, os investimentos em projetos ambientais e educação ambiental realizados pelas empresas, tais como palestras com assuntos relacionados ao meio ambiente, se tornam imprescindíveis para conscientização do uso de recursos naturais, sendo estas voltadas para jovens, a comunidade em geral e os próprios funcionários das organizações (tabela 7).

O Instituto Brasileiro de Defesa a Natureza – IBDN (2017) afirma que estas ações são de suma importância, pois a educação ambiental trás o estimulo para o desenvolvimento sustentável, ou seja, se a educação ambiental estiver integrada com a educação básica, o indivíduo passa a realizar atitudes sustentáveis no seu cotidiano como a coleta seletiva, economia de energia e água, podendo ainda transmitir essas informações e conscientização a pessoas do seu bairro, cidades, estados e países.

O IBDN (2017) ainda considera como benefícios das ações de educação ambiental: construção de uma sociedade consciente, agindo como papel transformador do indivíduo; melhora a qualidade de vida e saúde criando ambientes saudáveis; contribui para o desenvolvimento de potenciais empreendedores com visão mais crítica e novas ideias de negócios; gera renda e emprego; estimula o consumo consciente, pois a população já consome 30% a mais de recursos naturais que o planeta é capaz de renovar levando em consideração que todo consumo gera impacto ambiental.

Todas essas ações evidenciadas em Balanço Social, investimentos em processos produtivos e operacionais e investimentos em Projetos ambientais e de educação ambiental, pelas empresas contribuem para afirmar seu compromisso social e demonstrar sua responsabilidade e preocupação com o meio ambiente.

Formas de divulgação de ações de investimentos ambientais

O Balanço Social é uma ferramenta de gestão e de informação que tem por objetivo evidenciar de forma transparente, informações contábeis, econômicas, ambientais e sociais, da performance das empresas, aos maios distintos usuários (TINOCO E KRAEMER, 2011).

Em virtude da não obrigatoriedade da divulgação do Balanço Social, muitas empresas deixam de fazê-lo, isso é tema de discussão, pois quem defende a obrigatoriedade entende que é mais fácil avaliar a função socioambiental das empresas em virtude da divulgação, por outro lado os que defendem a não obrigatoriedade acreditam que o mercado e a comunidade devem evoluir e amadurecer primeiro, para não consentir com um modelo de balanço social engessado, tendo em vista que o modelo padrão pode não ser o adequado a todas as atividades e setores da economia. (RIBEIRO, 2006).

Neste sentido, quando observamos as informações contidas no Balanço Social, em especial os investimentos ambientais, notamos que as empresas, na maioria das vezes, apenas divulgam valores e não as ações de investimentos. Nos Balanços Sociais analisados apenas 18% evidenciam as ações de investimentos ambientais, 32% divulgam suas ações através do website da empresa e 50% não divulgam qualquer tipo de informação de ações de investimento ambiental (tabela 8). Vale destacar que dentre todos os Balanços Sociais analisados apenas as empresas Grupo Amaggi e Fiagril, reportaram informações de ações de investimento ambiental tanto no Balanço Social quanto no website.

Cunha (2002), realizou uma pesquisa para avaliar o tipo de informações fornecidas no Balanço Social de 284 empresas que publicaram seu relatório no ano de 2003, retirado do cadastro mantido pela FIPECAFI para edição anual de melhores a maiores empresas segundo a revista Exame. O resultado encontrado foi que a informação mais frequente no Balanço Social é referente a recursos humanos e ainda apenas 1,06% das empresas prestaram informações em todos os níveis de detalhes analisados.

A forma de divulgação do Balanço Social ainda é muito discutida, pois o intuito da divulgação é demonstrar transparência em suas ações e sua postura responsável, mas o que vemos segundo Siqueira e Vidal (2002) são falhas ao mostrar aos usuários o verdadeiro impacto destas organizações na sociedade, seja este impacto positivo ou negativo.

Moraes e Souza (2002) afirmam que a falta de regras definidas para divulgação do conteúdo dos Balanços Sociais faculta as empresas a informarem somente o que desejam, ainda afirma que se este documento for muito flexível ele acaba por não cumprir seu propósito de transparência.

Neste sentido, as empresas em estudo cumprem seu papel na divulgação do balanço social, evidenciando transparência, como sugere Tinoco e Kraemer (2011) quando afirmam que as empresas têm por dever comunicar os dados, atividades e responsabilidades, de maneira exata, cabendo aos usuários avaliarem, compreenderem e se, necessário criticarem as informações apresentadas. Apesar de demonstrarem transparência divulgando o Balanço Social, este ainda precisa ser melhorado, pois não evidencia todas as informações necessárias, transmitindo, assim, relatórios com pouca qualidade.

CONCLUSÃO

As organizações devem entender que tão importante quanto agir corretamente é divulgar seus atos e ações socioambientais para a sociedade e a todos interessados. Essa divulgação é possível através do Balanço Social, todavia deve haver maior incentivo à elaboração do mesmo e um cuidado maior neste processo para que seja realizado de forma transparente e seus resultados sejam fidedignos a realidade das organizações.

Neste sentido, o Estado de Mato Grosso através da Assembleia Legislativa, incentiva as empresas a divulgarem o Balanço Social, mas percebemos que ainda é necessária a realização de campanhas de conscientização e maior divulgação acerca da sua importância, pois apenas uma parcela irrisória de empresas do Estado que o fazem de maneira espontânea.

Quando analisadas as informações descritas no Balanço Social, nota-se que o nível de qualidade destes não é satisfatório, pois as empresas não preenchem o conteúdo do Balanço Social em sua totalidade, falta padronização na estrutura do Balanço e com relação aos valores divulgados, resultando em relatórios sem qualidade.

Sugere-se então que a própria Assembleia Legislativa deveria adotar critérios mais rigorosos para publicação do Balanço Social e, assim, este se tornar ferramenta de total transparência das empresas para com a sociedade a qual está inserida.

Bibliografia

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Ilustrações: Silvana Santos