Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2018 (Nº 65) O CONTROLE BIOLÓGICO COMO MÉTODO ALTERNATIVO PARA DIMINUIÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS: MANEJO DE FORMIGAS EM PEQUENAS PLANTAÇÕES DE CHEIRO VERDE A PARTIR DA FOLHA DE NIM (AZADIRACHTA INDICA A. JUSS)
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O CONTROLE BIOLÓGICO COMO MÉTODO ALTERNATIVO PARA DIMINUIÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS: MANEJO DE FORMIGAS EM PEQUENAS PLANTAÇÕES DE CHEIRO VERDE A PARTIR DA FOLHA DE NIM (Azadirachta indica A. Juss)

Ingrid Nicolly Oliveira Lyra1, Mariana Nunes de Oliveira², Glauce Danielle Gonçalves dos Santos3, Adriano Nunes Pereira4, Leticia Coelho Madeira5, Eduardo Mendonça Pinheiro6, Elon Vieira Lima7

[1] Graduanda de Engenharia Ambiental, Faculdade Pitágoras de São Luís – MA, Brasil. Endereço eletrônico: nicollelyraa@gmail.com.

[2] Graduanda de Engenharia Ambiental, Faculdade Pitágoras de São Luís – MA, Brasil. Endereço eletrônico: marinunes.oli@gmail.com.

[3] Graduada em Engenharia Ambiental, Faculdade Pitágoras de São Luís – MA, Brasil. Endereço eletrônico: g.dani0370@gmail.com.

[4] Graduando de Engenharia Ambiental, Faculdade Pitágoras de São Luís – MA, Brasil. Endereço eletrônico: adrianonp01@gmail.com.

[5] Graduanda em Engenharia Ambiental, Faculdade Pitágoras de São Luís – MA, Brasil. Endereço eletrônico: leticiacoelhomadeira@gmail.com.

[6] Professor Orientador, Faculdade Pitágoras de São Luís, São Luís - MA, Brasil. Endereço eletrônico: eduardomp1979@gmail.com.

[7] Professor Orientador, Faculdade Pitágoras de São Luís, São Luís - MA, Brasil. Endereço eletrônico: prof.elon.lima@gmail.com.

Resumo: A partir dos impactos negativos causados pelo uso do agrotóxico, nota-se uma grande necessidade de métodos para combate de pragas agrícolas que, acima de tudo, não sejam nocivos ao meio ambiente e à saúde humana. Desse modo, objetivou-se analisar o potencial inseticida da planta Nim (Azadirachta indica A. Juss) relacionando dois métodos de sua utilização em pequenas plantações de cheiro-verde em uma residência situada em São José de Ribamar – MA e comparando-as com uma plantação sem a utilização da planta. Além de um maior desenvolvimento das hortas submetidas ao inseticida natural, foi possível notar que ambos os métodos analisados apresentaram uma elevada capacidade em repelir os insetos presentes nas plantações. Todavia, um dos dois métodos de utilização da planta Nim alcançou melhores resultados.

Palavras-chave: Agrotóxico, Nim, Cheiro-verde, Inseticida Natural.



Abstract: From the negative impacts caused by the use of pesticides, there is a strong need for methods to combat agricultural pests that, above all, are not harmful to the environment and human health. Therefore, the objective of this study was to analyze the insecticidal potential of the Nim plant (Azadirachta indica A. Juss), relating two methods of it’s use in small parsley plantations in a residence located in São José de Ribamar - MA and comparing them to a plantation without the use of this insecticide. In addition to offering a greater development in the plantations submitted to the natural insecticide, it was possible to notice that, both methods analyzed showed a high capacity to repel the insects present in the plantations. However, one of the two methods of using the Nim plant has achieved better results.

Key-words: Agrotoxic, Nim, Parsley, Natural Insecticide.



INTRODUÇÃO

Alternativas eficazes e não prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente para o combate de pragas na agricultura brasileira têm se tornado gradativamente objeto de estudo, o que coloca a questão agrotóxico, o principal método de controle de pragas utilizado no Brasil, cada vez mais em evidência.

A utilização demasiada de agrotóxicos acarreta inúmeros problemas à saúde humana e ao meio ambiente, logo, pensar em alternativas para diminuição do uso desses produtos químicos torna-se indispensável. Para Ribas e Matsumura (2009), a utilização do agrotóxico na agricultura sem qualquer planejamento causa efeitos que não possuem reparação, capazes de gerar transtornos à saúde humana e alterações ao meio ambiente

Dentre os diversos efeitos causados pelos agrotóxicos à saúde humana, destaca-se a que estes permanecem ao longo da vida das pessoas que entraram em contato, especialmente os agricultores, fazendo com que estes deixem as lavouras precocemente, como discutido por Levigar e Rozemberg (2004, p. 1518):

As intoxicações por agrotóxicos, manifestadas pela diminuição das defesas imunológicas, da anemia, da impotência sexual masculina, da cefaléia, da insônia, de alterações da pressão arterial, de distimias (alterações do humor) e de distúrbios do comportamento (surtos psicóticos) são descritos como frequentes entre os agricultores, determinando, por vezes, a proibição médica do trabalho na lavoura e a orientação para outro tipo de atividade profissional.

Uma das problemáticas que também envolve o agrotóxico são as alterações causadas ao meio ambiente. Para Peres e Moreira (2007), essas alterações podem ocorrer através da contaminação de comunidades de seres vivos que o compõem ou ainda através da acumulação do agrotóxico nos segmentos bióticos ou abióticos dos ecossistemas.

Em busca da diminuição do uso de agrotóxicos, visando uma agricultura sustentável, e ainda redução de impactos causados ao bem-estar humano e ao meio ambiente, alternativas como o controle biológico ganham cada vez mais espaço. Segundo Bueno et al. (2011), o controle biológico nada mais é que um fenômeno natural, onde o manejo das pragas é feito a partir de inimigos naturais, chamados de agentes bióticos de mortalidade.

O controle biológico pode ser feito através de plantas que possuem poder inseticida, e segundo Marques Paro et al. (2004), os inseticidas naturais de origem vegetal, por apresentarem fácil obtenção, baixo custo e ainda não apresentarem riscos como os produtos químicos, podem constituir-se em importantes agentes de controle.

O Nim é uma planta conhecida por suas diversas vantagens para a agricultura e segundo Das Neves et al. (2003), a planta Nim, bem como seus derivados, chegam a afetar mais de 400 espécies de insetos pertencentes à diferentes ordens: coleoptera, deptera, lepidoptera, orthoptera, e ainda alguns fungos.

Dessa forma, o objetivo é observar a atuação da folha Nim (Azadirachta indica A. Juss) como inseticida natural em duas plantações de cheiro-verde, comparando a eficácia do método utilizado em ambas, observar se a maior eficácia está no uso do extrato aquoso da planta ou em somente misturar suas folhas ao solo e ainda identificar outros possíveis insetos.



METODOLOGIA

O presente trabalho possui natureza aplicada, com caráter experimental, de cunho qualitativo e quantitativo, visando testar a capacidade da planta Nim em duas diferentes formas de utilização para o manejo de formigas.

O experimento foi realizado em um período de 4 semanas em uma residência situada em São José de Ribamar – MA. As folhas da planta Nim para utilização como inseticida natural foram coletadas na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA.

O experimento compõe-se de três hortas, intituladas como horta A: somente a plantação do cheiro-verde (testemunha); Horta B: horta com a utilização do extrato aquoso e por fim; Horta C: plantação com folhas de Nim misturadas ao solo.

Para fabricação do extrato aquoso, colocou-se 130g das folhas para secagem ao sol durante 10 dias, após o processo de secagem, as folhas foram trituradas junto aos talos no liquidificador em uma quantidade de 700 ml de água, o extrato descansou durante dois dias e por fim passou por uma peneira para que fossem separados os resíduos.

A aplicação do extrato aquoso na horta B deu-se a partir da segunda semana em que o cheiro-verde começou o seu desenvolvimento. O extrato aquoso foi aplicado três vezes durante cada semana, sempre durante a manhã com um intervalo de dois dias.

Na mistura da planta ao solo na horta C, foi utilizado 140g da folha de Nim secas ao sol.

A fim de correlacionar a quantidade de formigas em todas as hortas e medir a eficiência da planta Nim em repeli-las, a partir da segunda semana do desenvolvimento do cheiro-verde, coletou-se, todos os dias, terra de todas as três hortas durante uma semana. Ao total, coletou-se 21 amostras de terra, sendo 7 para cada horta. Ao fim de cada dia peneirou-se essa terra para verificar a quantidade de formigas e ao final da semana constatou-se a quantidade de formigas para cada horta e o total de formigas encontradas em todas as hortas.

Durante o processo de desenvolvimento do cheiro-verde analisou-se os tipos de insetos presentes a partir da utilização da coleta e peneiração da terra e ainda, qual plantio estava se desenvolvendo menos devido a questões relacionadas ao impedimento das pragas, dessa forma, analisando a viabilidade do Nim como inseticida natural. Os dados levantados foram analisados em percentuais.



RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao analisar o cheiro-verde em todas as hortas, percebeu-se que o seu desenvolvimento durante as 4 semanas aconteceu em diferentes formas. Aquelas que continham o Nim como inseticida natural (hortas B e C) apresentaram um desenvolvimento maior em relação a plantação que não continha nenhum tipo de inseticida (horta A), que pode ser justificada pela quantidade de formigas em cada horta.

O processo de coleta das formigas (Figura 1), demonstrou que a horta A apresento u um número significativamente maior de formigas em relação a horta B e C, conforme visto na Tabela 1.

Por apresentar um número maior de formigas, parte das folhas da Horta A ao final da semana 4 estavam danificadas (Figura 2). A plantação A desenvolveu-se uma certa medida, mas logo em seguida, as formigas encontradas impediram um desenvolvimento maior e saudável. Acarretando o seu desenvolvimento foi mais lento.

Figura 2: Horta A com plantio de cheiro verde (testemunha).

Fonte: Autores (2017).

A horta B (Figura 3), com a utilização do extrato aquoso como inseticida, apresentou total eficiência em repelir as formigas das folhas e no desenvolvimento saudável do cheiro-verde, fazendo com que a plantação se desenvolvesse esteticamente melhor e mais rápido em relação a horta A.

Figura 3: Horta B com plantio de cheiro verde e utilização do extrato aquoso de Nim.

Fonte: Autores (2017).

Observou-se que durante a primeira semana da aplicação do extrato aquoso, as formigas ainda se aproximavam da horta com maior facilidade, conforme o extrato era aplicado as formigas eram repelidas, fazendo com que mesmo que se aproximassem do solo não se aproximassem das folhas a ponto de danificá-las. Todas as formigas que foram coletas dessa horta, apareceram durante as 2 primeiras aplicações do extrato e ao passar das semanas, à medida que o extrato era aplicado não foi observado quantidade alguma de formiga.

A Horta C (Figura 4), com a utilização das folhas da planta misturadas ao solo também apresentou eficiência em repelir as formigas das folhas e o cheiro-verde também se desenvolveu esteticamente melhor e mais rápido em relação a horta A.

Figura 4: Horta C com plantio de cheiro e mistura de folhas de Nim no solo.

Fonte: Autores (2017).

Dada a correlação entre o número de formigas em todas as hortas (Tabela 1), além do número de formigas presentes na horta A apresentar-se consideravelmente superior ao total de formigas encontradas nas hortas B e C, percebeu-se ainda que a horta C apresentou uma quantidade superior de formigas em relação a horta B, embora tal quantidade não tenha afetado no desenvolvimento da horta, uma vez que o Nim repeliu as formigas antes que pudessem alcançar as folhas do cheiro-verde impedindo que fossem danificadas como ocorrido na horta A.

Tabela 1: Quantidade de formigas encontradas.

Hortas

Quantidade de formigas

Percentual (%)

A

B

C

72

6

11

80,9

6,7

12,3

Fonte: Autores (2017).

Dessa forma, ao comparar a quantidade de formigas que foram encontradas nos solos das hortas B e C, percebeu-se que a utilização do extrato aquoso apresentou-se como uma forma mais eficaz em repelir as formigas (Tabela 2), fazendo com que as formigas não chegassem até as folhas, embora a utilização das folhas Nim misturadas ao solo também tenham cumprido essa função, uma vez que aqui são tratadas das formigas encontradas nos solos das hortas, visto que as mesmas não se aproximaram das folhas das hortas B e C ao ponto de causar degradação das mesmas devido ao poder inseticida da planta Nim.

Tabela 2: Eficiência do método de utilização do Nim.

Método

Concentração de Nim

Eficiência (%)

Extratro Aquoso do Nim

130g

91,7

Folhas Misturadas ao solo

140 g

84,7

Fonte: Autores (2017).

Por fim, não foi observado qualquer outro tipo de inseto em todas as plantações além das formigas.

CONCLUSÕES

Considerando as formas de utilização da planta Nim em repelir formigas, verificou-se que as plantações que foram submetidas a este tipo de inseticida apresentaram um maior desenvolvimento, dessa forma, supõe-se que seja explicado devido à ausência de formigas nas folhas, contudo, a partir da observação do maior desenvolvimento da horta B em relação de crescimento e estética das folhas não foi possível somente afirmar que o mesmo ocorreu exclusivamente pela ausência das formigas, recomenda-se, para trabalhos futuros um estudo do solo para analisar os benefícios da planta em relação ao mesmo frente ao crescimento das folhas. Desse modo, concluiu-se que:

  1. O Nim apresentou-se totalmente eficaz em repelir as formigas das folhas das plantações B e C.

  2. As plantações que foram submetidas ao inseticida apresentaram um maior desenvolvimento de suas folhas.

  3. Observou-se que a utilização do extrato aquoso foi o método mais eficaz para repelir as formigas do solo.

BIBLIOGRAFIA

BUENO, A. H. P. et al. Controle biológico e manejo de pragas na agricultura sustentável. Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Lavras, 2011.

DAS NEVES, Belmiro Pereira; DE OLIVEIRA, Itamar Pereira; NOGUEIRA, J. C. M. Cultivo e utilização do nim indiano. Embrapa Arroz e Feijão-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2003.

LEVIGARD, Yvonne Elsa; ROZEMBERG, Brani. A interpretação dos profissionais de saúde acerca das queixas de "nervos" no meio rural: uma aproximação ao problema das intoxicações por agrotóxicos. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 6, p. 1515-1524, 2004.

MARQUES PARO, Renata; MONTEIRO, Antonio Carlos; PEREIRA TADEU, Gener. Crescimento, esporulação e viabilidade de fungos entomopatogênicos em meios contendo diferentes concentrações do óleo de Nim (Azadirachta indica). Ciência Rural, v. 34, n. 6, 2004.

PERES, Frederico; MOREIRA, Josino Costa. Saúde e ambiente em sua relação com o consumo de agrotóxicos em um pólo agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. Sup 4, p. S612-S621, 2007.

RIBAS, Priscila Pauly; MATSUMURA, Aida Terezinha Santos. A química dos agrotóxicos: impacto sobre impacto sobre a saúde e a saúde e a saúde e meio ambiente meio ambiente. Revista Liberato. Novo Hamburgo, v. 10, p. 149-158, 2009.



Ilustrações: Silvana Santos