Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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ELABORAÇÃO DE FOLDER DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE A SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL Daniele Sobrinho 1; Danielle Piuzana Mucida2 1 Bacharel em Humanidades, UFVJM; Discente de Geografia-Licenciatura, UFVJM, monitora voluntária do Projeto GAIA
2 Professora do curso de Geografia-Licenciatura, UFVJM, Coordenadora do Projeto GAIA-UFVJM.
Resumo: A Serra do Espinhaço, monumento rochoso em sua estrutura estratigráfica, apresenta-se com uma gama de elementos minerais, geológicos e geomorfológicos que instiga pesquisadores desde o século XVIII até os dias atuais. É importante salientar que a região foi reconhecida como Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço pela UNESCO em 2005, título que preza pela conservação da biodiversidade, desenvolvimento sustentável e conhecimento científico. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo apresentar o processo de confecção de um folder sobre a diversidade da Serra do Espinhaço Meridional voltada à sua divulgação no contexto educacional. Para tanto, realizou-se pesquisa bibliográfica sobre o tema e buscou-se, por meio do software CorelDraw X7, a confecção do folder com a preocupação de que a linguagem modificada, voltada ao público alvo escolar fundamental. Pela análise da Base Nacional Comum Curricular o conteúdo do folder alinha-se, para a Geografia, ao compartimento do 6º ano “Relações entre os componentes físicos e naturais”. O material contempla informações sobre os tipos rochas, a vegetação e o relevo da Serra do Espinhaço, inclusive elucidando a distinção de termos conceituais como Serra, Reserva da Biosfera e Supergrupo Espinhaço. Pode-se afirmar que a construção de materiais de cunho de divulgação científica, especialmente no contexto de Geociências, ainda se dá de forma tímida no Brasil e neste sentido, este trabalho pode ser complementar em práticas pedagógicas ou em espaços de divulgação científica como o projeto GAIA, no sentido de preencher lacunas educacionais sobre esta região. Palavras-chave: Recursos naturais; Materiais Didáticos; Divulgação Científica Abstract: The Espinhaço Range, a rocky monument in its stratigraphic structure, presents itself with a range of mineral, geological and geomorphological elements that instigates researchers from the 18th century to the present day. It is important to point out that the region was recognized as Espinhaço Range Biosphere Reserve by Unesco in 2005, a title that values biodiversity conservation, sustainable development and scientific knowledge. In this sense, this work aimed to present the development of primer on the diversity of Southern Espinhaço Range focused on its dissemination in the educational context. For this, a bibliographic research was done and CorelDraw X7 software was designed to create the booklet with the concern that the modified language, aimed at the fundamental academic target audience. By the analysis of the National Curricular Common Base (BNCC) the content of the booklet is aligned, for 6th grade Geography, with the compartment "Relationships between the physical and natural components". It contemplates information about the Espinhaço Range rocks, vegetation and relief, including elucidating the distinction of conceptual terms such as range, Biosphere Reserve and Supergroup that have the term Espinhaço. It can be emphasized that the construction of materials of scientific dissemination, especially in the context of Geosciences, which still occurs in a timid manner in Brazil and in this sense this material can be used as complementary in pedagogical practices or spaces of scientific dissemination like GAIA Project, fill educational gaps in this region. Keywords: Natural resources; Teaching materials; Scientific divulgation.
INTRODUÇÃO Nas ciências e saberes, a representação de imagens é uma ferramenta cada vez mais utilizada para melhorar o entendimento e compreensão do aprendizado geoespacial como um todo. Na área de Geociências, mapas e infográficos constituem artifícios que utilizam muito dessa tecnologia para que cada vez mais possa melhorar a qualidade de visualização das formações estruturais do espaço que estamos inseridos. O incentivo dado na utilização dessa ferramenta deve-se, principalmente, mas não exclusivamente, à inovação e demanda didáticas trazidas dos novos currículos acadêmicos. Essa demanda possibilita que licenciados possam desenvolver melhores conteúdos junto aos novos equipamentos tecnológicos, tornando-se um profissional qualificado e preparado para a atuação docente. Hoje é perceptível a defasagem de livros didáticos no ensino estudantil, principalmente no ensino público. Esse recurso não deve ser considerado como único, uma vez que há significativa mudança de alunos que compõem o novo cenário escolar, vinculado inesgotável fonte de informações no meio virtual (ALMEIDA, 2003). O foco nos conteúdos também não proporciona atenção e interesse, uma vez que a realidade apresentada para fenômenos geográficos ainda é exemplificada com realidades distantes de muitos estudantes do Brasil, direcionada à realidade de grandes centros e adjacências. Nesta lógica buscou-se, neste trabalho, desenvolver um material sobre a Serra do Espinhaço, que constitui um dos relevos mais significativos no território brasileiro por ser considerado como um acidente geográfico com mais de 1200km de extensão. Com direção norte-sul abrange áreas dos estados da Bahia e de Minas Gerais. Seu setor meridional situa-se totalmente em território mineiro (CORDEIRO, 2008). A terminologia “Espinhaço” foi dada pelo alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege, contratado pela Coroa Real Portuguesa e que viveu no Brasil entre 1811 e 1821. Segundo Knauer (2007), com a descoberta dos depósitos diamantíferos no início do século XVIII na Serra do Espinhaço Meridional, os estudos geológicos na região que se concentraram-se especialmente na região de Diamantina. Dada a importância desta região, este trabalho tem como viés desenvolver um estudo rompendo a segregação do conhecimento somente acadêmico e materializando a tentativa de popularização da ciência, pela utilização de recursos didáticos que viabilizem o entendimento sobre a geologia e estratigrafia desta região. Neste sentido, o objetivo desse trabalho é elaborar um material simplificado que contenha imagens, detalhes e curiosidades sobre a Serra do Espinhaço Meridional como um suporte didático para profissionais da área educacional da região do Vale Jequitinhonha.
MATERIAL E MÉTODOS Caracterização do Objeto de Estudo
A Serra do Espinhaço Meridional se estende primeiro desde as proximidades de Belo Horizonte e prolonga-se ininterruptamente até a região de Olhos D’Água em Minas Gerais. Seu prolongamento em direção norte, ainda no estado de Minas Gerais é designado Serra do Espinhaço Setentrional, e denomina-se Chapada Diamantina a continuidade da serra na porção centro-oriental da Bahia (ALMEIDA ABREU & RENGER, 2002), conforme Figura 1.
Figura 1: Localização da Serra do Espinhaço Meridional. Fonte: Carvalho (2012).
Reserva Da Biosfera
O Decreto nº 44.281 de 25 de abril de 2006, de acordo com o Diário Executivo, foi criado o Comitê Estadual Provisório da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço em Minas Gerais - CERBSE-MG, que objetiva o apoio e a coordenação da implementação da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço – RBSE (Figura 2) priorizando a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento sustentável e o conhecimento científico (MINAS GERAIS, 2006). Andrade et al. (2015) esclarecem que Reservas da Biosfera visam contribuir para o desenvolvimento sustentável. A Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE) é a mais recente, dentre as 7 reservas da biosfera em território nacional, reconhecida pela Unesco em 2005. Entre todas as reservas a RBSE é a menor de extensão, sua superfície compõe um pouco mais de 3 milhões de hectares. Além disso, a RBSE possui atributos culturais e naturais, que faz dessa região ser única no Brasil e no mundo, por ter uma história cultural e econômica, marcaram desde a descoberta para exploração de sua riqueza geológica, sobretudo de base minerária, em que se destaca a porção basal conglomerados diamantíferos, em termos de produção de diamantes (ANDRADE et al. 2015). Para ser declarada uma reserva da biosfera, foram considerados critérios como: áreas prioritárias para conservação da biodiversidade; bacias hidrográficas; comunidades tradicionais unidades de conservações; biomas – campos rupestres; municípios; empreendimentos; conhecimento tradicional e científico; participação social; desenvolvimento econômico; geologia e geomorfologia; patrimônio da humanidade; Estrada Real (ANDRADE et al. 2015). Com o reconhecimento como Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE) as pesquisas científicas tiveram um aumento significativo. De acordo com a Primeira Revisão Periódica da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (ANDRADE et al. 2015), foram contabilizadas 960 publicações, sendo 62 publicações vinculadas a pesquisadores e acadêmicos da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM. Os autores ressaltam também a importância de aliar os conhecimentos científicos aos tradicionais, como estratégica para produção e registros de saberes, como cumprimento da função de conhecimento da Reserva da Biosfera, para ser definidas em seu Plano de Ação.
Figura 2: Localização da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. Fonte: Mucida et al. (2019)
Geologia
A compreensão da geologia da Serra do Espinhaço tem um acervo considerável bibliográfico, compostos por diversos pesquisadores que levantaram conhecimentos geológicos sobre a Serra. De acordo com Almeida Abreu e Renger (2002), o alemão Eschwege, propôs a primeira divisão estratigráfica da Serra do Espinhaço e regiões próximas, subdivididas em quatro unidades: Formação primária composta por granito, gnaisse, micaxisto, basalto e sienito. Formação secundária, composta por itacolomito, formação ferrífera, xistos e itabirito. Formação de Transição, composta por ardósia, calcário e grauvaca e por último “Rotliegendes”, composto por arenitos e conglomerados. A partir dos estudos de Eschwege, vários outros pesquisadores modificaram a divisão estratigráfica, mapeando e classificando o pacote de rochas que compõem o Supergrupo Espinhaço, conforme apresentado nas figuras 3 e 4. O mapeamento geológico coordenado por Pflug (1968 apud Knauer, 2007, p.82) permitiu visualizar os conglomerados diamantíferos que estão intercaladas em rochas quartzíticas e filíticas, que representam a mesma unidade litoestratigráfica, que obteve sua denominação posterior para Sopa-Brumadinho. Portanto, o quadro sinótico proposto por Knauer (1999), define: Supergrupo Espinhaço, sendo composto por: Grupo Conselheiro Mata, Grupo Guinda (Figura 3). Unidades mais antigas, embasamento do Supergrupo Espinhaço são: Grupo Costa e Sena, Grupo Pedro Pereira e Complexo de Gouveia. Para Knauer (2007) o Supergrupo Espinhaço no setor meridional foi baseado nas propostas em outros pesquisadores que fomentaram sobre a sua estratigrafia foi reconhecido três conjuntos maiores nesse Supergrupo, que são: Grupo Guinda, Formação Galho do Miguel e Grupo Conselheiro Mata. O Grupo Guinda compõe as formações São João da Chapada e Sopa Brumadinho. Contendo espessura de até 200 metros a Formação São João da Chapada mostra marcas de discordância erosiva. A Formação Sopa-Brumadinho mostra distribuições de composições heterogêneas, sendo objeto de muitos estudos por seu potencial diamantífero importantes no contexto de ocupação de toda a região desde o século XVIII e de relevância em termos de geodiversidade (MOTTA-NETO, 2018; MUCIDA et al. 2019). Em Datas, com espessuras menores que 50 metros é composta por filitos, quartzo-filitos ou quartzitos finos e micáceos. Na parte de Caldeirões sua espessura varia em torno de 100 e 200 metros, composta com predominância de quartzitos, maioria das vezes ferruginosos, sobre o metaconglomerados, porém com arranjo heterogêneo no âmbito litológico em cada seção.
Figura 3: Modelo de coluna estratigráfica do Supergrupo Espinhaço, Minas Gerais, com escala vertical que indica que o empilhamento das camadas é superior a 4000 metros de espessura. Fonte: Santos (2015).
Em Campo Sampaio, a norte, encontra filitos, metassiltitos e quartzitos finos até corpos descontínuos de metabrechas diamantíferas de matriz filítica. Foi destacado por Knauer (2007) um excelente grau de preservação de estruturas sedimentares de pequeno porte. No Sul com predomínio de termos quartzitos finos. As rochas nas regiões de Rio Preto, Presidente Kubitschek e Conceição do Mato Dentro, são caracterizados pela alternância de pacotes decamétricos de quartzitos finos e micáceos, usualmente com conteúdos variáveis de carbonatos e apatita, com sericita xistos também com carbonatos e fosfatos. Em Conceição do Mato Dentro possui rochas metavulcânicas/subvulcânicas de filiação ácida. Características claras, com a matriz fina envolvendo fenocristais de quartzito com coloração azulada e de feldspato. A Formação Galho do Miguel caracteriza-se por quartzito puros e finos que predominam 90% da unidade, o restante está representado por quartzitos finos micáceos e por finas intercalações de metargilitos com coloração acinzentada ou esverdeada, cuja deposição ocorreu entre 1,2 a 0,9 milhões de anos (CHEMALE JR. et al. 2011)
Figura 4: Modelo de coluna estratigráfica do Supergrupo Espinhaço, Minas Gerais, apresentando algumas idades de deposição por formações. Fonte: Chemale Jr. et al. (2011).
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