Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Relatos de Experiências
08/06/2020 (Nº 71) NARRATIVAS EM STOP MOTION COM MATERIAL RECICLADO
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NARRATIVAS EM STOP MOTION COM MATERIAL RECICLADO



Raphaella E. da Silva Araújo

Pedagoga, Mestra em Educação Profissional e Tecnológica

araujoraphaella@gmail.com







RESUMO



A experiência a seguir consiste em proposta pedagógica em Educação Ambiental por meio da utilização de recursos tecnológicos e mídias digitais. A atividade segue uma sequência com diagnóstico realizado através de um game, conversas sobre temas ambientais, pesquisas e aplicação de questionários, exibição de vídeo e construção de personagens com material reciclado. Com os personagens, foram produzidos curtas-metragens com a técnica stop motion de animação, a partir de roteiros elaborados pelos estudantes.

Relato de Experiência



O meio ambiente está em pauta na educação há décadas e a necessidade de tematizar o ambiente parte, grosso modo, da preocupação de educadores e ambientalistas com o poder destrutivo da humanidade. A velocidade com que a sociedade vem se desenvolvendo e a exploração muitas vezes incontrolável dos recursos naturais são acontecimentos que chama a atenção das novas gerações, as quais têm em mãos o acesso rápido às informações.

De acordo com Tozzoni-Reis (2008) a preocupação com o ambiente se acentuou quando a humanidade se viu ameaçada pelo poder de destruição total do ambiente, que tem como marco histórico as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki no final da segunda guerra mundial, expressão do poder político e econômico de um país sobre o mundo social e natural.

Oficializada pela Lei 9.795/99 (que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA), a Educação Ambiental é descrita como processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Conforme a PNEA, a construção desses elementos essenciais à sustentabilidade demanda uma educação ambiental articulada em todos os níveis e modalidades do processo educativo, respeitando-se as particularidades regionais e locais. Para tanto, pressupõe-se uma prática educativa integrada, contínua e permanente, sobretudo em cursos de formação e especialização técnico-profissional, a fim de que se trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas (BRASIL, 1999).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) reconhecem a Educação Ambiental como uma temática a ser inserida no currículo de modo diferenciado, não se configurando uma nova disciplina, mas, um tema transversal.

Qual seria então o papel dos educadores de todas as áreas do conhecimento e em todos os níveis de ensino? As informações estão por toda parte, contudo, nem toda manchete é de interesse do. Nos horários livres é preferível acessar conteúdos leves, bem-humorados e até fúteis, pois já existe uma série de obrigações enfadonhas para este público, que, por sinal, está cada vez mais desamparado pelas ações governamentais. Com isso, ratifica-se o importante papel da escola e dos educadores em mediar a busca e o olhar atento para determinados conteúdos, já que, como afirma o professor Cortella, “vivemos a era da curadoria”, portanto, é dever dos educadores desta era mostrar os caminhos, polemizar, provocar as dúvidas e estimular pensamentos.

Assim, o futuro da humanidade pode ser definido por dois grupos: um pequeno grupo com grande poder monetário e destrutivo, que prioriza a lógica da acumulação de capital em detrimento da preservação dos recursos naturais, do bem-estar, justiça e equidade social, ou por um grande grupo que esteja disposto a impedir que essa destruição aconteça. A população aparenta estar alheia, distraída, apática, mas isso pode ser apenas aparência. Loureiro (2012, p. 80), ressalta que o cerne da educação ambiental é a problematização da realidade, de valores, atitudes e comportamentos em práticas dialógicas.

Se importar ou não com as questões ambientais, a exemplo do aquecimento global, exploração ilimitada da Amazônia, as toneladas de plástico nos oceanos, escassez de água potável, dentre outros temas relevantes, depende de como estamos tratando dessas questões, de quais perguntas estamos fazendo. Exemplos: quais dessas atitudes contribuem para economia de água? Demorar menos no banho ou desligar a torneira ao escovar os dentes? São perguntas que acabam nelas mesmas, não há convite ao pensamento crítico, não há um espanto. Em contrapartida podemos questionar: qual a quantidade de água potável está disponível para uso no planeta? De toda a água consumida, quanto é gasto na agroindústria e quanto é gasto no uso doméstico? Descobrir as respostas causam espanto e indignação, como veremos no relato de experiência a seguir.

Para tanto, realizamos a oficina intitulada “Narrativas em Stop Motion com material reciclado” com 36 estudantes da rede pública estadual e municipal, do 8º ao 1º ano do EM.



Diagnóstico com game



No turno da manhã contamos com a participação de 20 estudantes da rede pública estadual. A oficina teve início na sala de informática, com o uso de um computador por pessoa, além de projetor conectado a um dos computadores e acesso à internet sem restrição de conteúdos. A primeira atividade realizada foi um breve diagnóstico com auxílio do game Kahoot!, a fim de identificar se xs jovens participantes estão inteiradxs de questões importantes sobre a água, provocar uma reflexão com as informações levantadas e estimular a pesquisa.

Seguem perguntas e quantitativos de respostas:



Durante o jogo, a turma demonstrou espanto ao se deparar com as respostas corretas e teceram comentários a respeito do desconhecimento sobre o assunto.

Após o resultado final do game, realizamos uma conversa relacionando cada pergunta ao contexto atual e local.

Ao tratarmos da questão da poluição das águas por parte da população e indústrias, solicitamos que a turma digitasse no site de buscas o termo “lixão no mar”, dinâmica replicada em quatro turmas diferentes, obtendo reações semelhantes. A princípio alguns minutos de silêncio, estarrecidos diante da tela do computador, com semblante de preocupação começou a surgir comentários resumidos em expressões de espanto. “E os animais morrem né? ”, finaliza um jovem observando a foto de uma tartaruga marinha engolindo uma sacola plástica, ou seria a sacola engolindo a tartaruga?



Exibição de vídeo



Precisamos falar sobre Greta Thumberg, foi o título do vídeo apresentado aos estudantes na sequência. Produzido por uma youtuber brasileira, o vídeo mostra porque a estudante Sueca de apenas 16 anos foi indicada ao Nobel da Paz, apresenta de forma leve e objetiva como começou a preocupação de Greta com a mudança climática, a atitude individual de protestar na porta do parlamento Sueco e faltar aula todas as sextas-feiras chamando a atenção dos políticos para que pautem as questões ambientais e cumpram o acordo de Paris.

A atitude da jovem estudante foi veiculada na mídia internacional e já mobiliza milhares de pessoas no mundo todo, no movimento Fridays for future, idealizado e inspirado na atitude de Greta Thumberg, o que demonstra o poder transformador da juventude.

À vista disso, por conta própria¸ alguns estudantes pesquisaram na internet notícias e outras informações a partir do tema do vídeo. Em virtude da disposição da sala, não houve um debate aprofundado sobre o conteúdo apresentado, seguindo então para a próxima provocação.



Pesquisas e questionário



Ainda aproveitando os recursos tecnológicos para pesquisas, disponibilizamos um questionário criado no google forms. Neste caso, a internet pôde ser utilizada para auxiliar os estudantes nas questões que apresentasse alguma dúvida, desconhecimento ou dificuldade. Exibiremos a seguir as perguntas e respostas. Os números entre parêntese indica a quantidade de respostas idênticas ou semelhantes.



  1. PARA ONDE VAI O LIXO QUE PRODUZIMOS?

Para o lixão (7)


Pro mar (6)


Para o lixão ou mar (2)


Para o lixão ou rios (2)


Vai para os rios, oceanos, mares e para o esgoto


Para grandes lixões ambientais


Eles vão para o meio ambiente, causando poluição ao meio ambiente


Polui os rios, as florestas, prejudica nosso ar respiratório e várias outras coisas que prejudica o planeta terra


Para o aterro sanitário (11)


São encaminhadas para o aterro sanitário do Consórcio Intermunicipal do Contestado


10% vai para os lixões controlados, 9% vai para os aterros sanitários e, 2% é reciclado


Vai para o um determinado lugar onde eles veem se pode reciclar algo e o que não pode ele leva para o aterro



  1. QUAIS AS PRINCIPAIS CAUSAS DO AQUECIMENTO GLOBAL?

Lixo

As indústrias

Desmatamento / Queimadas (8)

As queimadas da floresta amazônica

Gases poluentes e poluição do ar (3)

A poluição e o desmatamento (3)

O aumento das temperaturas

Os principais fatores que causam o aquecimento global, gases poluentes e poluição do ar, causas naturais e humanas. Queimadas de matas e florestas - além de reduzir a quantidade de árvores, que servem como reguladoras da temperatura, as queimadas jogam gases poluentes na atmosfera


Poluição (4)

A intensificação do efeito estufa, um fenômeno natural responsável pela manutenção do calor na superfície terrestre


Causas naturais e humanas

O gás que o boi solta que é chamado gás metano


Não lembro (2)

Gases dos automóveis (2)



DE ONDE VEM A ÁGUA QUE CONSUMIMOS?

Dos rios (9)

Rio São Francisco (8)

Dos rios de água doce (4)

Do rio São Francisco de Propriá

Dos rios de água doce e poços (2)

Açudes represas ou poço

De rios ou poços

Aqui em Sergipe vem do rio São Francisco (2)



COMO PODEMOS AGIR CONTRA O DESPERDÍCIO DE ÁGUA?


Economizando água (6)

Não desperdiçar (4)

Não deixar torneira ligada (6)

Economizando e reutilizando (3)

Primeiramente começa dentro de casa evitando várias coisas, depois repassa para população e assim vai

Utilizando corretamente

Deixar a as torneiras desligadas enquanto estamos escovando os dentes, etc.

Sempre pensar que um dia podemos não tê-la

Podemos agir com a informação de que isso faz mal para os seres vivos


Não consumindo carnes e laticínios, fazendo protestos pacíficos, etc.

Em meio de manifestações e entre outros (2)

Economizando e valorizando mais a água

Não comprando laticínios



QUAL LEI AMBIENTAL VOCÊ CRIARIA PARA PRESERVAR OS RECURSOS NATURAIS?


Quem causasse queimadas na floresta iria pagar uma multa e pegar de 3 a 5 anos de prisão


Para economizar água

Para as indústrias parar de consumir mais (3)


Que as pessoas economizassem as águas e não jogassem lixos no chão


Uma lei que se jogasse lixo seria preso

A proibição do descarte de lixo em locais não apropriados (2)


Se o sujeito for pego cometendo o ato seria condenado a prisão perpetua seria autuado em uma multa que iria de 2,500 a 32.000 reais

N sei explicar (2)

Primeiramente que a sociedade pare de comer carne bovina, depois pensamos para outras coisas

De pelo menos um dia na semana toda a população fazer uma mutirão de limpeza nos rios e florestas

Se jogar lixo na rua pagará uma taxa (2)

Multar pessoas que jogarem lixo ao chão sendo crianças pais ou responsáveis pagariam

A proibição do desmatamento e a proibição de jogar plásticos nos lugares inadequados



Reciclagem e criação de personagens



A finalização da oficina se deu com uma atividade prática, a construção de personagens com material reciclado. Recipientes vazios de plástico, tinta guache, pincel, papel, cola, lã e muita criatividade foram os principais recursos usados para a confecção dos brinquedos. O objetivo da reciclagem e criação de personagens seria a produção de um vídeo com a técnica Stop Motion, a partir de um roteiro elaborado coletivamente, que tratasse de uma temática ambiental em evidência na comunidade local. Entretanto, não houve tempo hábil para desenvolvimento de todo o processo até se chegar ao produto final.

Então, decidimos que os personagens confeccionados seriam disponibilizados para a turma seguinte, do turno da tarde, que realizaria o vídeo.



A turma do turno da tarde realizou todas as atividades anteriores e, como economizaram tempo recebendo os personagens prontos, seguiram para a produção do vídeo, após uma breve explanação dos princípios do Stop Motion.

A natureza ao redor do parque tecnológico serviu de cenário para a sequência de cenas decididas pelo grupo no decorrer da experimentação, que consistiu em caminhar, proteger a árvore, descer as escadas e limpar a calçada, no final, inspirados no movimento Fridays for future, cada personagem segura um cartaz com alusões a proteção ambiental.







Diagnóstico final



Após todas as pesquisas, conversas, questionamentos, reflexões e troca de experiências, retomamos o game Kahoot para realizar um comparativo com as respostas do início da oficina e obtivemos os seguintes resultados.





Exibição



A sequência de fotografias foi editada em aplicativo no próprio celular, com inserção de uma trilha sonora instrumental. Ao todo, a produção audiovisual teve 21 segundos de duração e o resultado foi exibido ao final da oficina, com uma breve conversa sobre o processo de construção do vídeo bem como da finalização.





REFERÊNCIAS



BRASIL. Agência Nacional de Águas. Relatório de conjuntura dos recursos hídricos no Brasil– Informe 2011. Disponível em < http://conjuntura.ana.gov.br/conjuntura/ > Acesso em jan. 2019.

__________. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018.

__________. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, Institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras Providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm. Acesso em mar. 2019.

LOUREIRO, Carlos Frederico B. Sustentabilidade e educação, um olhar da ecologia política. São Paulo: Cortez Editora, 2012.

TOZONI-REIS, M. F. C. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas: Autores Associados, 2008.



Ilustrações: Silvana Santos