Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2021 (Nº 77) EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ESCOTISMO: APLICAÇÃO DE COMPOSTAGEM
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ESCOTISMO: APLICAÇÃO DE

COMPOSTAGEM

Rafaela de Godoy1, Margareth Lumy Sekiama2

1Centro de Ciências Agrárias - CCA, Universidade Federal de São Carlos-Araras

e-mail: arafaella@hotmail.com

2Departamento de Desenvolvimento Rural - DDR, Universidade Federal de São Carlos-Araras

e-mail: margareth@ufscar.br

Resumo: Compostagem é uma forma alternativa de reciclagem de resíduos orgânicos, capaz de reduzir o impacto ambiental gerado pelo resíduo domiciliar. Como resultado desse processo, obtém-se um composto rico em nutrientes que pode ser utilizado para adubação do solo. Mesmo reconhecendo a importância desse processo, apenas uma parcela mínima dos resíduos orgânicos são compostados no Brasil (0,3%), e ainda, poucos trabalhos são realizados visando analisar a eficiência de diferentes métodos de construção de composteiras, principalmente quando levasse em conta a compostagem como ferramenta para educação ambiental. Dessa maneira, este trabalho teve por finalidade testar diferentes tratamentos com a presença ou não de minhocas no desenvolvimento de compostagem. Para isso, durante quatro meses foram medidos tempo de decomposição, umidade e pH do solo das diferentes composteiras: (1) caixa vazada com minhocas; (2) caixa vazada sem minhocas; (3) caixa fechada com minhocas; e (4) caixa fechada sem minhocas. Todo o trabalho foi realizado em conjunto com o Grupo Escoteiro Santa Cruz, UDAM e Banco de Alimentos de Rio Claro/SP, que participaram ativamente da construção do projeto. Dessa maneira, além de testar a eficiência das composteiras, através de análises laboratoriais, também foi possível envolver jovens neste trabalho e utilizar dessa ferramenta para educação ambiental. Foi possível verificar que as caixas fechadas tiveram maior acúmulo de líquido na parte inferior. Pode-se constatar também, que o tratamento com a caixa fechada e com minhocas, ocorreu um melhor processo de decomposição, tendo um pH de 7,96 e 51,56% de umidade. Além de avaliar as diferentes composteiras, esse trabalho possibilitou a sensibilização e elucidação da forma correta de reaproveitamento de resíduos aos jovens envolvidos no trabalho, de forma a viabilizar com baixo custo o processo de tratamento domiciliar. Nesta perspectiva, destaca-se a necessidade de que mais trabalhos possam ser desenvolvidos com este grupo de escoteiros, reforçando a necessidade da compostagem domiciliar como forma de redução de impactos ambientais.

Palavras-chave: reciclagem de resíduos, composteiras, compostagem domiciliar, escoteiro.

Abstract: Composting is an alternative way of recycling organic waste, capable of reducing the environmental impact generated by household waste. As a result of this process, a nutrient-rich compost is obtained that can be used for soil fertilization. Even recognizing the importance of this process, only a minimum portion of organic waste is composted in Brazil (0.3%), and still, few studies are performed to analyze the efficiency of different methods of construction of compost pans, especially when taking into account the composting as a tool for environmental education. Thus, this work aimed to test different treatments with the presence or absence of earthworms in the development of composting. For this, during four months, decomposition time, moisture and pH of the soil in different compost bins were measured: (1) empty box with worms; (2) empty box without worms; (3) closed box with worms; and (4) closed box without worms. All the work was done together with the Santa Cruz Scout Group, UDAM, and the Rio Claro/SP Food Bank, which actively participated in the construction of the project. In this way, besides testing the efficiency of the compost bins, through laboratory analysis, it was also possible to involve young people in the process and use this tool for environmental education. It was possible to verify that the closed boxes had a greater accumulation of liquid at the bottom. It can also be seen that the treatment with the closed box and with worms, there was a better decomposition process, with a pH of 7.96 and 51.56% humidity. In addition to evaluating the different compost bins, this work enabled the sensitization and elucidation of the correct form of waste reuse to the young people involved in the work, in order to enable a low-cost home treatment process. In this perspective, we highlight the need for more work to be developed with this group of scouts, reinforcing the need for home composting as a way to reduce environmental impacts.

Keywords: waste recycling, composters, home composting, scout.

Introdução

O Movimento Escoteiro (ME) foi fundado pelo General Robert Baden-Powell, em

1907, na Inglaterra. Tendo início no Brasil em 1910, um grupo de oficiais vindos da Europa, fundaram a primeira associação escoteira que se espalhou por todo território, até que em 1924, foi criada a União dos Escoteiros do Brasil. Atualmente, são mais de 100 mil escoteiros, de 671 cidades que reúnem 1.480 Grupos Escoteiros (GE); (ESCOTEIROS DO BRASIL, 2019).

O Escotismo se tornou um movimento mundial educacional e social para crianças, jovens e adultos, sem fins lucrativos. Esse movimento de educação não-formal, incentiva os escoteiros a se desenvolverem com a comunidade, contribuindo para a formação de uma significativa cidadania no Brasil. Há uma divisão conforme a faixa etária dos jovens, sendo: Ramo Lobinho (entre 6,5 e 10 anos); Ramo Escoteiro (entre 11 e 14 anos), Ramo Sênior (entre 15 e 17 anos); e Ramo Pioneiro (a partir dos 18 anos, e até os 21 anos incompletos), a partir dessa etapa, o jovem pode seguir a vida escoteira no papel de voluntário, como escotista ou dirigente. Todas as áreas de desenvolvimento (físico, intelectual, social, afetivo, espiritual e de caráter) são trabalhadas com base nas características individuais de cada uma dessas fases. O ME valoriza a participação de pessoas de todas as etnias, credos e condições sociais de acordo com seu propósito, princípios e método escoteiro (NUNES E DOMINGOS, 2012; ESCOTEIROS DO BRASIL, 2019).

Dentro do GE, os jovens são estimulados a desenvolverem atividades de preservação do meio ambiente, aprendendo a importância e responsabilidade de suas ações dentro da sociedade em que estão inseridos, e também no contexto global. (PAOLILLO E IMBERNON, 2009; NUNES E DOMINGOS, 2012; ESCOTEIROS DO BRASIL, 2019).

A Educação Ambiental (EA), segundo a Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art. 1º, configura os processos pelos quais, indivíduos e sociedade desenvolvem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências direcionadas à conservação do meio ambiente para uma melhor qualidade de vida e de sua sustentabilidade.

A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, nº 116, Seção 1, Art. 2°, pág. 70).

No Brasil, segundo dados de pesquisa Nacional de Saneamento Básico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são recolhidas cerca de 180 mil toneladas diariamente de resíduos sólidos, sendo estes, resultantes de atividades urbanas, industriais, de serviços de saúde e rurais. (TERRA, 2019). Conforme IBGE (2010), cerca de 50% dos resíduos sólidos gerados, são de materiais orgânicos, como restos de podas, alimentos, etc. De acordo com a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, somente 0,3% dos resíduos que chegam nos aterros, lixões ou unidades de triagem, é direcionado às unidades de compostagem existentes no Brasil (BRASIL, 2015).

A compostagem é um processo de decomposição de matéria orgânica realizado por microrganismos aeróbicos, na presença de condições ideais para que os microrganismos consigam se desenvolver, como aeração, umidade, temperatura, pH, relação carbono e nitrogênio, granulação e tamanho da leira, resultando na liberação de nutrientes como Nitrogênio, Potássio, Fósforo, Cálcio e Magnésio se transformando em nutrientes minerais (DE AQUINO, 2005; WANGEN, 2010). Dependendo do ambiente e de suas condições, o processo pode variar entre poucos dias a algumas semanas (OLIVEIRA et. al., 2004; BRITO, 2006).

Segundo Kiehl (1998), os materiais passam por três fases até serem decompostos, sendo elas: (1) A primeira fase, chamada de fitotóxica, é marcada pelo início da decomposição da matéria orgânica. Se caracteriza pelo desprendimento de calor, vapor d’água e CO2; (2) A segunda fase, chamada de semicura ou bioestabilização, onde há a elevação gradativa da temperatura, resultante do processo de biodegradação. Nessa fase, há uma intensa e rápida degradação da matéria orgânica, elevando assim a temperatura e fazendo com que os microrganismos patogênicos sejam eliminados; e (3) A terceira fase, denominada de maturação ou humificação, é quando o substrato orgânico foi em sua maior parte transformado. Nesta fase, a maioria das moléculas biodegradáveis foram transformadas. Corresponde ao estágio final da degradação da matéria orgânica, quando o composto propriamente dito adquire as propriedades físicas, químicas, físico-químicas e biológicas desejáveis (Figura 1).

Além das bactérias, que são encontradas em maiores quantidades durante o processo, outros microrganismos como fungos, protozoários e nematoides estão presentes. De acordo com a etapa em que se encontra a compostagem, ocorre variação no número de espécies destes microrganismos e na intensidade que os mesmos decompõem a matéria orgânica (KIEHL, 1998; BRIETZKE, 2016).

Também podem ser utilizadas minhocas no processo de compostagem, que juntamente com sua microflora intestinal, auxiliam na decomposição da matéria orgânica, originando o húmus. Esse processo é chamado de vermicompostagem e seu produto resultante é chamado de vermicomposto. Além de triturar as partículas orgânicas, as minhocas também possibilitam a aeração do meio, visto que sempre estão em movimento. Estando em condições adequadas para seu desenvolvimento, as minhocas podem decompor vários tipos de resíduos sendo estes, preferencialmente, os menos ácidos e de odor menos intenso. As espécies mais utilizadas em compostagens são exóticas no Brasil, sendo elas a Lumbricus rubellus (minhoca-vermelha), Eisenia fetida (vermelha-da-califórnia), Allolobophora caliginosa (minhoca-do-campo) e Lumbricus terrestris (minhoca-da-noite), sendo todas originarias da Europa (BARLEY, 1959; FRAGOSO et. al., 1999; JAMES et. al., 2010; CARLESSO et. al., 2012; GAMINO, 2018).

A matéria orgânica é extremamente benéfica ao solo, fornecendo-lhe macro e micronutrientes como Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Zinco e Boro, melhorando sua capacidade tampão através da correção da acidez e ajudando a reter nutrientes, que são aproveitados pelas plantas. Além disso, pode fornecer ao solo uma maior capacidade de aeração, absorção e armazenamento de água, atraindo microrganismos, diminuindo os prejuízos causados por agroquímicos e pesticidas e aumentando a transição de cátions no meio (OLIVEIRA et. al., 2004).

O processo de compostagem é flexível, podendo ser feito em pequena e larga escala. Sua construção envolve a escolha dos materiais, do local em que vai se estabelecer e da seleção do sistema de compostagem. Há 4 tipos de compostagens que podem ser feitas, são elas: (1) por leira, onde os compostos são postos no interior de uma estrutura com as laterais e a base preparadas com cobertura vegetal seca, e depois cobertas com as mesmas, sob condições ideais de temperatura e umidade, para decompor os resíduos; (2) vermicompostagem, processo que utiliza minhocas para transformar resíduos orgânicos em composto; (3) vegana, que não utiliza minhocas, o processo de transformação ocorre apenas com a presença de microrganismos; e

(4) elétrica, que se utiliza da energia elétrica para triturar, desidratar e filtrar todo o resíduo orgânico transformando-o em pó seco (TEIXEIRA, 2004; AQUINO, 2005; PENSAMENTO VERDE, 2017).

A problemática do descarte inadequado de resíduos sólidos orgânicos, pode trazer sérios prejuízos para o ambiente e a sociedade. Neste sentido esse trabalho tem sua importância social e ambiental, por ser desenvolvido junto a um grupo de escoteiros e esses se tornarem disseminadores dos aprendizados para a comunidade. Com relação à questão ambiental, a compostagem de resíduos sólidos orgânicos gerados principalmente em residências, faz com que seja possível a ciclagem natural de nutrientes, ou seja, os resíduos que seriam descartados e levados para lixões ou aterros, voltam para o solo como fonte de nutrientes para a prática de jardinagem e horticultura.

Metodologia

Foi avaliada quali-quantitativamente a eficiência do trabalha, para se obter uma compreensão mais ampla, por meio das interpretações de opiniões e percepções dos envolvidos, assim como foram feitas avaliações de dados (RAMOS, 2013; KIRSCHBAUM, 2013). A pesquisa bibliográfica foi importante, sendo utilizada como base os dados encontrados em artigos, livros e revistas científicas, e também de campo, por meio da montagem e manutenção da compostagem.

O experimento com a composteira foi realizada na União de Amigos (UDAM), localizada na cidade de Rio Claro/SP. O local funciona como uma sub-sede do GE Santa Cruz. A UDAM é uma organização da sociedade civil, beneficente, sem fins lucrativos, considerada de utilidade pública pelo município de Rio Claro”, fundada em 18/04/1964 (UDAM, 2019). Esta entidade atende crianças, jovens e adolescentes em situações de vulnerabilidade social (UDAM, 2019).

O projeto contou com parcerias, como a do instrutor social da UDAM, Guilherme Carnier, o qual fez a doação de minhocas-da-Califórnia, e do Programa Banco de Alimentos Nutricional e Sustentável, que conta com a parceria da Prefeitura de Rio Claro e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, o qual tem como um dos objetivos, o combate da fome reduzindo o desperdício de alimentos para populações amparadas por entidades sociais por meio de doações de alimentos considerados adequados para o consumo humano, porém não comercializáveis (UDAM, 2019). A Insígnia Mundial do Meio Ambiente (IMMA) do escotismo, faz parte do programa educativo que busca melhorar a consciência ambiental e compreensão do ambiente que circunda os jovens. O jovem que receber essa insígnia deve realizar uma atividade que faça com que ele possa “Explorar e Refletir” a respeito de 5 grandes temas: (1) garantir ar e água limpos para todas as espécies; (2) preservar habitats naturais e biodiversidade; (3) diminuir a emissão de substâncias perigosas no meio ambiente; (4) adotar as melhores práticas ambientais; e (5) prevenir riscos ambientais e desastres naturais (ESCOTEIROS DO BRASIL, 2011; GRUPO ESCOTEIROS UNISELVA, 2019). Desta forma, o projeto de compostagem foi realizado juntamente com a parceria da pioneira, Isabella Nunes, do GE Santa Cruz.

Primeiramente, foi feita uma introdução pela pioneira utilizando apresentação de slides sobre a IMMA às tropas escoteiras (20 indivíduos) e sênior (8 indivíduos), mostrando seu objetivo e etapas a serem cumpridas. Posteriormente, a compostagem foi apresentada para os mesmos, por meio de slides, abordando sua funcionalidade, etapas, montagem, manejo e resultados finais esperados.

Os materiais utilizados para a compostagem foram provenientes de reaproveitamento, sendo duas caixas plásticas vazadas (Figura 2) utilizadas em colheitas e transporte de verduras e duas caixas fechadas (Figura 3) utilizadas em abatedouros e laticínios. Desta forma, para montagem das composteiras o custo foi reduzido e os materiais utilizados eram de fácil acesso aos participantes do projeto.

Foram realizados dois tratamentos de forma que cada tratamento utilizou um tipo de cada caixa e a presença de 20 minhocas (Figura 4), o outro tratamento também contendo um tipo de cada caixa e sem minhocas. Para essa atividade foi solicitado que os escoteiros trouxessem materiais ricos em carbono e em nitrogênio (mencionados anteriormente), contando juntamente com a colaboração do Banco de Alimentos para o fornecimento de resíduos orgânicos.

Foi selecionada terra orgânica de boa qualidade e com procedência para referência de garantia da qualidade da terra, como o pH e umidade, sendo utilizado um saco de 10 kg em cada um dos tratamentos. Utilizou-se materiais que não causassem nenhum risco a compostagem, sendo eles: (1) Materiais ricos em carbono: materiais lenhosos como a casca de árvores, as podas dos jardins, folhas e galhos das árvores, palhas e papel; (2) Materiais ricos em nitrogênio: folhas verdes, chorume, solo, restos de vegetais hortícolas e cascas de frutas (BRITO, 2006); sendo distribuídos aproximadamente 1,25 kg em cada tratamento (Figuras 5 e 6).

Após adicionar os resíduos orgânicos nos tratamentos juntamente com a terra vegetal orgânica selecionada, foi feita uma cobertura com matéria seca (restos de folhas, madeira ou serragem natural) (Figuras 7, 8, 9 e 10), esse processo foi repetido cada vez que se adicionava resíduos orgânicos, a fim de evitar umidade em excesso realizado uma vez por semana.





O conteúdo foi revolvido com frequência durante 110 dias, para oxigenar a mistura, favorecendo a evaporação do excesso de umidade e aumentando a aeração conforme registros das atividades, apresentadas abaixo. Após esse período, não foi mais inserido resíduos orgânicos, mantendo apenas o revolvimento semanal para que houvesse a decomposição total, durante mais um período de 10 dias.

Resultados e discussão

Para a análise de pH e umidade foram coletados 30 g de cada tratamento, armazenados em frascos virgens (Figura 11), identificadas e encaminhadas para serem analisadas em um Laboratório de Análises Ambientais de Rio Claro/SP.

A análise de umidade foi realizada utilizando-se 10 g de cada amostra, a qual foi pesada (Vi) em balança de precisão. Após as amostras foram levadas a estufa por 12 horas à 150ºC e, repetiu- se a pesagem (Vf). Com os valores obtidos, calculou-se a diferença entre o valor inicial (Vi) e o valor final (Vf). Vi foi marcado com 100% de umidade, e Vf com o valor da massa de solo seco, a diferença para 100% foi o cálculo da umidade perdida.

Em relação às medidas de temperatura e pH, utilizando 20 g de cada amostra das caixas, foi feita uma homogeneização em 20 ml de água destilada. As amostras homogeneizadas foram deixadas em repouso por uma hora para que os resíduos decantassem. Após o repouso e da decantação do sólido, a temperatura e pH das amostras foram medidas com o auxílio de um PHmetro.

Com relação ao experimento de compostagem, considerou-se fundamental manter a aeração dos materiais, pois sem a presença de oxigênio, poderia haver o desaparecimento de nutrientes como o nitrogênio e o surgimento de odores ruins, ressaltando que em todo o experimento não houve aparecimento de odores desagradáveis. Outro fator que favoreceu a compostagem foi a umidade, que facilitou as trocas gasosas, mantendo alta a temperatura e facilitando a ciclagem da matéria orgânica no processo de decomposição.

Como resultado, verificou-se que o tratamento com as caixas fechadas, houve um maior acúmulo de líquido na parte interna e inferior da caixa, quando comparadas visualmente com as caixas vazadas. Como resultado visual, o tratamento com melhor compostagem foi a fechada com minhocas, pois foi uma decomposição mais rápida e efetiva dos compostos, ocorrendo de 5 a 7 dias, mantendo a umidade e aeração a níveis favoráveis. O composto da caixa fechada sem minhocas não teve uma boa aeração, com a decomposição ocorrendo entre 7-10 dias. As caixas vazadas mostraram-se ter uma rápida evaporação, resultando em baixos níveis de umidade. De acordo com a fase da compostagem, a temperatura pode variar de 40°C a 65ºC (BRITO, 2006; CHAGUEZAC, 2017). A elevação da temperatura contribui para a eliminação de microrganismos patogênicos, além de larvas de insetos (BRITO, 2006). Os níveis de pH obtidos através das análises laboratoriais, mostrou que foram menores em caixas com minhocas se comparados aos mesmos tipos de caixa sem minhocas. Para todas as amostras, os níveis de pH excederam os níveis ideais. Com relação a umidade, a caixa vazada sem minhocas foi a única que não atingiu os níveis ideais. Os compostos das caixas fechadas atingiram uma porcentagem maior de umidade (Tabela 1).

Agrupar 16



Verificou-se no decorrer do processo que o pH atingiu níveis um pouco mais elevados do que o ideal. Este resultado pode ter ocorrido decorrente da temperatura e concentração de nitrogênio, derivado da amônia (BOEIRA, 2007; TASCA, 2011), porém não houve alteração significativa no resultado do composto final.

De acordo com o resultado, somente um tratamento não atingiu a umidade ideal (caixa vazada sem minhoca), pois com o aquecimento que ocorre durante a compostagem, o material tende a perder umidade por secagem, e por ser uma caixa onde ocorre uma maior ventilação, a umidade pode ser dissipada com mais facilidade. O ideal é de que o composto tenha entre 40 e 60% de umidade e o mesmo teve como resultado 29,73%. Segundo Carvalho (2006), se a umidade apresentar um valor abaixo de 35%, pode dificultar a atividade microbiana, podendo comprometer a qualidade do composto.

Quanto ao pH o tratamento mais próximo ao ideal, que é de 5,0 a 7,0, foi a caixa vazada com minhocas, com o resultado de 7,47.

De modo geral, o tratamento com melhor resultado é o que continha minhocas, devido aos resultados mais próximos ao ideal. O indicador de resultado ideal, segundo Kiehl (1998), citado por Carlesso (2012), diz que a umidade adequada deveria estar entre 40 e 60%, sendo que 55% é considerada uma umidade ótima. Já para o pH, esse valor se dá entre 5,0 e 7,0.

Com relação à sensibilização ao tema, o mesmo foi bem aceito pelo grupo escoteiro, já que uma das vertentes do movimento é a educação e o cuidado com a natureza, cuja finalidade é a qualidade de vida e construir um mundo melhor.

Garantindo a sensibilização dos jovens, eles se tornam agentes disseminadores de informação, ou seja, toda informação compartilhada com eles, os mesmos podem transmitir essas informações para familiares e amigos, de forma a integrar a todos e também conscientizar mais pessoas sobre a deposição correta de resíduos orgânicos, e também, trabalhando a forma de compostagem doméstica (MATAREZI, 2006; GUIMARÃES, 2004).

Durante a apresentação do tema pela pioneira responsável pelo acompanhamento, houve interesse maior por alguns integrantes do grupo, pois os mesmos já conheciam o conceito e já tinham ideia inicial de como era realizada a compostagem. Um ponto negativo foi a baixa participação na etapa de trazer produtos orgânicos para compostagem. Uma das razões pela baixa participação é de que muitos não realizam diariamente todas as refeições em suas casas, e já tem como preceito a forma de evitar desperdício e economia. Outro ponto, é que também, os pais realizam ou compram refeições prontas em restaurantes.

Os resultados foram alcançados, uma vez que o objetivo inicial foi o de envolver o GE Santa Cruz nas questões ambientais, assim como sensibilizar e compartilhar o conhecimento sobre o método correto de compostagem residencial, com a realização do trabalho em equipe durante todo o processo.

O trabalho resultante com o GE foi observado e analisado sob uma perspectiva de transformação do indivíduo, onde através de práticas de educação ambiental articulada às técnicas integradoras e dialógicas, compõe a EA Crítica, contribuindo na transformação de uma sociedade mais engajada e preocupada com o meio ambiente (DIAS, 2011).

Para trabalhos futuros e continuidade quanto a educação ambiental, sugere-se ao GE a manutenção do projeto, e o incentivo para a prática da compostagem nas residências, acrescida de educação de plantio de hortas e jardinagem, por meio de vasos caseiros ou mesmo hortas verticais, com o uso da terra rica em nutrientes após a compostagem correta.

Um dos objetivos da Educação Ambiental é promover a sensibilização e conscientização das comunidades sobre o consumo e geração de resíduos, e no caso dos orgânicos, a importância do retorno para a ciclagem de nutrientes e reutilização nas atividades com uso do solo. A compostagem de resíduos orgânicos precisa ser mais divulgada e praticada, consequentemente diminuindo o volume dos resíduos gerados nas residências e outros estabelecimentos, o qual é uma das grandes problemáticas ambientais em áreas urbanas.

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Ilustrações: Silvana Santos