Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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15/12/2021 (Nº 77) PERCEPÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR SOBRE O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS
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PERCEPÇÕES DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR SOBRE O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS



Diego da Motta1, Suelen Bomfim Nobre2





1Acadêmico do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Feevale, Novo Hamburgo/RS – e-mail diegodamotta08@gmail.com

2 Licenciada e Bacharel em Biologia, Mestre e Doutora em Ensino de Ciências e Matemática, Professora da Universidade Feevale, Novo Hamburgo/RS – e-mail suelennobre@feevale.br



Resumo: O docente tem o papel de promover a Educação Ambiental (EA), seja com uma simples atitude de separar os resíduos. Isso leva a pensar numa educação voltada à conscientização, com vários implementos que vão atuar neste contexto de ensino, tais como a interdisciplinaridade, a vivência local do aluno e o que está acontecendo no mundo, visto através das mídias. O estudo realizado visa conhecer as percepções dos universitários concluintes do Curso de Ciências Biológicas relacionadas com os processos envolvidos no gerenciamento de resíduos sólidos e os possíveis impactos ambientais decorrentes. Foi adotado o método qualitativo, com exploração de uma pesquisa de campo, aplicando um questionário semiestruturado, tendo como método para avaliação dos dados a análise de conteúdo. Os resultados obtidos demonstram compreensão dos acadêmicos em relação às questões abordadas, evidenciando entendimento sobre os processos que envolvem o gerenciamento de resíduos sólidos e os impactos ambientais associados com a destinação incorreta.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Licenciatura. Gestão de resíduos. Impactos Ambientais.



Abstract: The teacher has the role of promoting Environmental Education (EA), either with a simple attitude of separating waste. This attitude leads to thinking of an education focused on awareness, with several implements that will act in this teaching context, such as interdisciplinarity, student local experience and the world events showed through media. The study aimed to know the perceptions of the university students completing the Biological Sciences Course related to the processes involved in the management of solid waste and the possible environmental impacts arising from it. It as adopted the qualitative method, with a field research exploration. A semi-structured questionnaire was applyed and the content analysis was the evaluating data method. The obtained results demonstrate the academics understanding related to the addressed issues. It was evident the understanding about processes involving solid waste managment and the environmental impacts associated to the incorrect disposal.

Keywords: Environmental Education. Graduation. Waste Management. Environmental Impacts.



Introdução

O descarte incorreto de resíduos sólidos tem um alto custo para a sociedade e para o ambiente. Há necessidade de modificar a maneira que vivemos, visando minimizar os impactos no meio ambiente, principalmente devido ao alto consumismo da população, em geral, e à expressiva geração de resíduos sólidos em pequenos e grandes centros urbanos. Segundo Guimarães (2013), o homem intervém bruscamente no meio ambiente, prejudicando a capacidade de regeneração, tendo tido início na Revolução Industrial e, com o avanço tecnológico, na atualidade, passa a ter, internamente, convicções antropocêntricas, consumistas de relevância destrutiva ambientalmente. Através dessa relação, homem e tecnologia veem consigo os danos e impactos ambientais.

A educação é um tema bastante discutido, atualmente, em especial quando se trata de EA. Vários autores (REIGOTA, 1996; TALAMONI e SAMPAIO, 2008; GUIMARÃES, 2013) argumentam questões socioambientais no âmbito nacional. A legislação brasileira tem vários tópicos que abordam essa temática, como a lei nº 9.795 de 27 de abril 1999, a qual instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, na qual, no art. 2º, é referido que a EA deve ser um componente “essencial e permanente”, ressaltando que deve estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, tanto nos âmbitos formal e informal (BRASIL, 1999). O documento referido menciona que a dimensão ambiental deve fazer parte dos currículos de formação docente e para professores em atividades seja oferecida formação complementar.

Nesse contexto, outro documento importante da área de educação ambiental é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 2010), a qual foi instituída e associada com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), (Lei nº 9.795, de 1999). Assim, a EA encontra-se evidenciada entre os documentos destinados a estimular a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem dos resíduos sólidos. (BRASIL, 2012).

Neste cenário, faz-se necessário analisar a formação inicial docente, mais especificamente de acadêmicos concluintes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Buscou-se com este estudo averiguar as percepções ambientais dos licenciandos da Universidade Feevale, localizada no município de Novo Hamburgo/RS, relacionadas aos processos envolvidos no gerenciamento de resíduos sólidos e os possíveis impactos ambientais decorrentes. Assim, essa pesquisa vai ao encontro dos requisitos expressos no parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) número dois, publicado no ano de 2015, destinado à organização curricular de cursos de formação inicial e continuada de professores. De acordo com o documento mencionado, nos currículos dos cursos licenciaturas deve haver a promoção da temática sustentabilidade socioambiental durante todo período da graduação.

Metodologia

Esta investigação contempla o método qualitativo, com exploração de uma pesquisa de campo. Para Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa qualitativa visa uma relação do momento atual com o sujeito, onde os dados referentes da pesquisa não são expressos por números, estatística, mas descritivos. Apresentando informações do presente, no contexto estudado, buscam-se respostas, ou seja, tende-se a investigar as informações obtidas indutivamente.

Já a pesquisa qualitativa-exploratória ou pesquisa de campo, visa buscar respostas para os problemas em questão, comprovando a sua veracidade ou, ainda, esclarecendo novos acontecimentos. Nesse sentido, considerando características que se acredita serem importantes, conforme Prodanov e Freitas (2013).

A coleta de dados foi realizada a partir da aplicação de questionário semiestruturado com questões abertas e fechadas, com coleta intermediada pela plataforma Google Formulários, no mês de agosto de 2019. O público alvo foram nove acadêmicos concluintes no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. O critério adotado para escolha do público participante foi o nível de semestralidade do graduando, tendo sido escolhidos entre aqueles cursando entre o 6º ao 8º semestre de curricularização.

Quanto à avaliação dos dados, foi subsidiada pela aplicação da análise de conteúdo, segundo Bardin (2011),

[...] a análise de conteúdo consiste em: um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2011, p.47).

Para tanto, foram analisados os aspectos do grupo estudado, ou seja, realizou-se um levantamento de dados. Para Prodanov e Freitas (2013), esse modelo de pesquisa surge quando há interrogação direta dos respectivos entrevistados, em que se deseja compreender o seu comportamento através de questionários. Assim, procede-se a requisição de referências do grupo estudado, assimilando o problema em questão. Para manter o anonimato dos participantes desta pesquisa, os acadêmicos foram distinguidos por: L1, L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.

Estudos sobre resíduos sólidos em comunidades escolares e no âmbito universitário

Quando se realiza uma atividade em aula, como de conscientização, os alunos sempre acabam levando algum ensinamento consigo e para seus familiares, com isso está se plantando uma semente, que aos poucos começará a dar frutos. Ao observar os locais por onde se passa, ver-se-á que os resíduos estão por toda parte, espalhados pelo chão, em árvores, córregos, entre outros. Esse contexto faz parte da vida e para muitos é imperceptível (SILVA e LEMOS, 2014). No entanto, não deve passar despercebido pelo professor, mas associar o problema com o cotidiano do aluno, ou seja, conteúdo com realidade. Nesse momento, é pertinente dar valor às interações entre educando e educador, de forma ativa na construção do processo EA, trabalhando seriamente as relações homem e natureza. Isso permite que o aluno faça uma análise do seu conhecimento e dos valores com base no contexto em que vive. (GUIMARÃES, 2013).

O professor, ao passar o conhecimento para os alunos, deve, também, enfatizar os problemas dentro da escola, como os resíduos produzidos, tendo em vista que a educação desempenha um papel fundamental para o futuro no planeta. (SILVA e LEMOS, 2014). A este respeito Silva e Lemos (2014) descrevem que,

Devemos sempre lembrar que, da mesma forma que cuidamos e preservamos do espaço da nossa casa porque sentimo-nos inseridos nela, é preciso que todos se sintam integrados à natureza, pois se sentirem excluídos, a degradação será inevitável. (SILVA e LEMOS, 2014, p.8).

Ainda, outro item a salientar é que a EA tenha como procedimento uma metodologia pedagógica voltada à solução de problemas socioambientais (GUIMARÃES, 2007). Ou seja, o educando tem que conhecer primeiramente os problemas locais da sua comunidade, buscando soluções. Com isso, desenvolverá uma educação crítica, que seja aplicada na prática.

O licenciado em Ciências Biológicas necessita articular ideia voltada ao cotidiano dos alunos, estabelecendo critérios que sejam um agente facilitador para EA. Para isso, há a necessidade de que o futuro professor tenha uma ampla bagagem referente ao assunto. Durante a sua formação acadêmica, os seus professores devem inserir momentos que sejam voltados aos problemas socioambientais, que são vários, não só na disciplina de EA, mas, também, nas demais (GUIMARÃES, 2007, 2013).

Melo e Kort (2010) destacam a necessidade de uma conscientização ambiental envolvendo pessoas, incentivando cada vez mais práticas de cidadania, promovendo o comprometimento da comunidade no gerenciamento de resíduos no meio urbano. Considera-se que este processo deve ser de maneira conjunta, envolvendo o estímulo de boas práticas, seja na resolução de problemas com resíduos sólidos como os de saúde pública, garantindo, assim, a qualidade de vida e o bem-estar da população. Em resumo, a escola tem um papel fundamental na questão de orientar sobre a destinação correta dos resíduos, pois se percebe, através dos escolares, como está caminhando a sociedade. Enfim, o padrão de consumo deles reflete na escola e no contexto social em que estão inseridos.

Como futuros docentes, os licenciandos precisam propor estratégias plausíveis para a reflexão dos impasses relacionados com o consumismo exagerado (TALAMONI e SAMPAIO, 2008; GUIMARÃES, 2013). A educação formal deve fomentar o anseio de mudança, buscando procedimentos que sejam eficientes e inseparáveis da realidade, propondo um trabalho em conjunto com a comunidade escolar e incentivando a consciência ambiental e postura cidadã responsável (TALAMONI e SAMPAIO, 2008). Esse cenário desejável, para uma comunidade escolar, criará um ambiente de trabalho mútuo, abrindo espaço para vivências trazidas pelos alunos em uma educação socioambiental.

No âmbito escolar, destaca-se uma experiência publicada por Souza et al (2013). Esses autores elaboraram um projeto, denominado “Utilixo”, desenvolvido nas escolas públicas municipais de Cruz das Almas, na Bahia. Teve como principal objetivo conscientizar os alunos acerca da problemática dos resíduos e as possíveis formas de reaproveitar recursos materiais. O projeto destacou, ainda, poluição, doenças, coleta seletiva, os 3R’s e a sustentabilidade, apresentado de forma lúdica e, ao mesmo tempo, buscando despertar um senso crítico.

No estudo supracitado, constataram que nem todos os docentes trabalham com a EA de forma transversal, pois alegam ter empecilhos para desenvolver essa temática em sala de aula, como: questões de orçamento e espaço físico; a falta de motivação pela incompreensão do tema; além da dificuldade de gerenciar projetos e comprometimento do corpo docente e discente. De acordo com Souza et al (2013), há uma certa dificuldade por parte dos professores em acrescentar ao seu programa de aula as questões ambientais.

Acerca dos estudos sobre resíduos sólidos no âmbito universitário, os autores Duraes, Oliveira e Ribeiro (2017) identificaram os resíduos produzidos no campus da Faculdade UnB de Planaltina (FUP) /DF, verificando as principais fontes geradoras e, também, as iniciativas para minimizar a segregação dos resíduos. Através dos dados obtidos, constatou-se que o campus da FUP gera quatro toneladas de resíduos ao mês, ou seja, 900 gramas por pessoa ao dia. Considerando que 73% dos resíduos são recicláveis - como já tem uma coleta seletiva no campus - foi comprovado que a EA deve ser contínua, com ações que visam estimular a redução e geração dos resíduos entre acadêmicos e colaboradores.

Seguindo pelo mesmo caminho, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) também promoveu a implantação da coleta seletiva no âmbito acadêmico. O primeiro passo foi à conscientização da comunidade universitária, vendo a necessidade de mudança em seu comportamento, a partir de uma EA permanente. Na instituição referida, de acordo com Juliatto, Calvo e Cardoso (2011), a gestão dos resíduos sólidos é uma incumbência dos professores, alunos de diversos cursos e funcionários, promovendo práticas responsáveis para a condução desse projeto. Nesta perspectiva, houve a redução do consumo e estão caminhando ao desenvolvimento sustentável, gerando economia dos recursos da Universidade.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s (BRASIL, 1998), a EA tem que estar presente em todas as áreas de conhecimento, unida com os demais componentes disciplinares, dando outro olhar, criando várias maneiras para desenvolver os assuntos associados ao meio ambiente. Essas perspectivas, com enfoques interdisciplinar e transdisciplinar, também são referenciadas na Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018). Nesse ponto de vista, é possível contemplar nos planejamentos didático-pedagógicos a valorização da sustentabilidade, discutindo alternativas que possam amenizar os problemas causados pelo descarte incorreto dos resíduos sólidos, como por exemplo, através do conhecimento e valorização boas práticas para mudar esse cenário.



Resultados e discussão

O tema “resíduos sólidos”, abordado nesta pesquisa, é bem difundido nas mídias, ou seja, é o tema da atualidade. Há, constantemente, procura de uma solução para esse problema, o qual acompanha a sociedade através dos tempos: o que fazer com a geração exagerada de resíduos produzidos pela humanidade? Com o questionário aplicado aos acadêmicos, concluintes no Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, verificou-se comprometimento da Universidade com essa temática, a qual deve ser abordada durante toda a graduação.

Ao todo participaram do estudo, voluntariamente, nove acadêmicos concluintes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. No que se refere ao sexo, constatou-se que sete são mulheres e dois homens. Um fator relevante é que, tradicionalmente, o curso em Licenciatura em Ciências Biológicas, no âmbito nacional, tem uma predominância feminina.

A semestralidade dos acadêmicos variou do 6° ao 8°, tendo uma média de idade em torno dos 29 anos, a maioria residente em municípios situados no Vale dos Sinos e apenas um domiciliado em Taquara/RS, localizada no Vale do Paranhana.

Segundo o Projeto Pedagógico do Curso - PPC (2019), a formação destes profissionais é voltada para a área da docência no ensino de Ciências e Biologia, capazes de trabalhar com autonomia, competência e ética. Podem atuar junto com a comunidade, propondo soluções, bem como preservação do meio ambiente, de maneira responsável e na gestão dos recursos naturais. Assim, o futuro licenciado terá um papel essencial, o de contribuir na minimização dos problemas ambientais, como uma estratégia para trabalhar com a temática resíduos sólidos em sala de aula, sendo necessário um conhecimento básico para abordar esse assunto.

Verificou-se que seis dos participantes do estudo já atuaram como docente (L2, L3, L4, L6, L8, L9) ou tiveram alguma experiência profissional na área de ensino de Biologia, porém, só quatro deles (L4, L6, L8, L9) abordaram a temática resíduos na prática profissional.

Os resíduos têm se tornado um enorme problema ambiental do mundo contemporâneo. O aumento da população e o consumo exagerado têm gerado subprodutos que incorporam o cenário atual, além disso, prejudicando a capacidade de regeneração do meio ambiente. (TALAMONI; SAMPAIO, 2008)

Ao serem questionados sobre a definição do termo “resíduos sólidos”, os licenciandos trouxeram distintas visões, que perpassaram a ideia de materiais e produtos descartáveis, como também produtos inorgânicos e materiais provenientes das atividades antrópicas. São elencadas, no Quadro 1, suas percepções a respeito dessa palavra.

Quadro 1. Concepção sobre o termo “resíduos sólidos”.

Categoria

Subcategoria

Licenciando

Materiais/produtos descartáveis.

Produtos que são descartados pelas pessoas.

L1, L3, L4, L8

Qualquer material que precise ser descartado, como latas, papel, vidros, alimentos, materiais hospitalares e lixo sanitário.

L3, L4

Produtos inorgânicos.

Rejeitos que não são orgânicos, que precisam de um destino adequado.

L2, L9

Residual das atividades humanas.

Materiais provenientes das atividades antrópicas.

L5

Resíduo sólido ou seco.

Matéria prima que pode ser utilizada na fabricação de outros materiais.

L6

Produtos que usamos no dia-dia e descartamos corretamente ou incorretamente.

Materiais de vários estados.

L7

Fonte: a pesquisa (2019).

Percebeu-se uma maior recorrência da subcategoria “Produtos que são descartados pelas pessoas”, na óptica de L1, L3, L4, L8. Esse resultado vai ao encontro da ideias do teórico visitado, Narvaes (2011, p. 549), o qual afirma que resíduo sólido pode ser definido como: “Substâncias que sobram de uma operação ou processo – natural ou provocado pelo homem – que são geralmente descartados, podendo ou não ser nocivas à saúde humana e ao ambiente.”

Quando os licenciandos foram questionados sobre o que usam para fazer rascunho, oito assinalaram a opção: o verso das fotocópias. Essa atitude demonstra um comprometimento com o ambiente e com o consumo sustentável.

Além disso, procurou-se investigar em quais momentos da graduação os licenciandos tiveram abordagem acerca da temática resíduos sólidos. Os acadêmicos L2, L3, L4, L6, L8 e L9, mencionaram a disciplina de Princípios e Práticas em Educação Ambiental, apenas o L9 citou “Ciências no Processo Educativo” e “Biologia no Processo Educativo”. Segundo a PNEA (BRASIL, 1999), a EA não pode ser restrita a uma disciplina, deve haver a transdisciplinaridade. Dessa forma, reforça-se a necessidade de tematização sobre resíduos sólidos em todo o currículo da graduação, perpassando todos os componentes curriculares.

A EA é fundamental no gerenciamento dos resíduos sólidos, pois envolve de forma participativa diferentes protagonistas neste processo. Conforme a Constituição Federal, art. 225º, parágrafo VI, é preciso promover a EA em todos os níveis de ensino (BRASIL, 1988). Dentre todos os níveis educacionais, destaca-se o ensino superior, principalmente na formação de professores, que devem desempenhar o papel como educadores ambientais.

Dando continuidade à apresentação dos resultados, buscou-se analisar a percepção dos licenciandos em relação à diferença entre aterro sanitário e lixão. Conforme o Quadro 2, pode-se averiguar o conhecimento dos licenciandos construído durante a vida acadêmica.

Quadro 2. Diferença sobre “aterro sanitário e lixão”.

Categoria

Subcategoria

Licenciando

O aterro sanitário é um local legalizado – licenciado, já o lixão é um espaço irregular.

Aterro sanitário é um lugar de descarte de resíduos sólidos, legalizado e um lixão não segue normativas, descarte sem controle.

L1, L2, L5

No aterro sanitário é adotado um processo para diminuir os impactos ambientais. No lixão não há proteção no solo, poluindo nascentes.

L2, L3, L7

No aterro sanitário há a disposição dos resíduos separados por materiais por uma empresa ou por cooperativa, onde há preocupação ambiental com o solo, água e ar.

L7, L8

No aterro sanitário o solo é impermeabilizado, há a verificação da liberação de gases e líquidos e há tratamento do chorume.

L4

Nos lixões não há um manejo adequado dos rejeitos, causando diversos impactos ambientais. Sem separação ou reciclagem.

L4, L8

O aterro sanitário é um local controlado e o lixão é uma área a céu aberto sem gerenciamento.

No aterro sanitário há adoção de medidas de contenção da poluição, os resíduos não ficam expostos, protegendo o lençol freático. No lixão não há seleção dos resíduos e nem contenção.

L9

O aterro sanitário é um espaço destinado à colocação de rejeitos após a triagem. No lixão não há uma manta que protege o solo.

L6

O aterro sanitário é um ambiente controlado, com impermeabilizações no solo e verificação periódica das emissões de gases e líquidos.

L4

Fonte: a pesquisa (2019).

Como pode ser observado, todos os licenciandos demonstraram uma clareza referente ao questionamento descrito no Quadro 2, porém, L2, L3, L4, L7 e L9 tendem a ter mais aproximação com as definições de Narvaes (2011). Segundo a autora, aterro sanitário compreende um local destinado a receber os resíduos gerados pela atividade humana (resíduo doméstico), sendo um local distante das cidades e de lençóis subterrâneos. Nesse local, todo detrito é enterrado por várias camadas de terra, tendo um tratamento do chorume e resquício de gases. Já o significado de lixão, compreende o contrário, são acúmulos de resíduos a céu aberto, não há nenhum controle, contaminando o solo e águas subterrâneas (NARVAES, 2011)

Quando os licenciandos foram questionados acerca de atitudes conscientes com relação à sustentabilidade, oito responderam (L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L9) que, às vezes costumam comprar produtos que causem menos impactos ao meio ambiente, mesmo que sejam mais caros. Já na questão seguinte, seis dos entrevistados (L2, L4, L5, L6, L8, L9) raramente têm o hábito de substituir um determinado produto por um similar que gere menos impacto ao planeta.

Na gestão adequada dos resíduos sólidos e suas implicações, conforme Mesquita (2007), deve haver estratégias, ações e procedimentos que atendam à minimização da geração de resíduos e o consumo responsável, com a participação de todos os segmentos da sociedade, tendo como princípios um gerenciamento adequado e sustentável. De acordo com a Agenda 21 (Brasil, 2004),

Conscientização da sociedade quanto à necessidade de adotar novos hábitos de produção e padrões de consumo, especialmente em relação aos recursos hídricos e à energia, privilegiando o emprego de tecnologias limpas, a utilização racional dos recursos naturais, a redução da geração de resíduos, e o incentivo à certificação da cadeia produtiva. (BRASIL, 2004, p.35)

Em suma, a Agenda 21 propõe que a gestão dos resíduos sólidos seja de imensa importância para preservação do meio ambiente, buscando soluções e novos hábitos de consumo.

Assim a reciclagem e reutilização são alternativas para essa mudança, que deve ocorrer na sociedade, encontrando maneiras que amenizem o consumo exagerado da população em geral. Porém, os índices de resíduos descartados só aumentaram. Na página WWF Brasil (Fundo Mundial para a Natureza), de 4 de março de 2019, encontra-se menção do Brasil no que se refere a quantidade de lixo produzido atualmente pelo homem. Assim descreve a reportagem, conforme os estudos realizados pela entidade:

O Brasil, segundo dados do Banco Mundial, é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, ou seja, reprocessadas na cadeia de produção como produto secundário. Esse é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%. (WWF-BRASIL)

Esses dados são alarmantes. Será que os acadêmicos têm ideia da dimensão a que pode chegar essa situação, se continuarem consumindo desta maneira desenfreada. Se houver um olhar diferenciado nessa questão dos resíduos, perceber-se-á que o problema traz consigo outras consequências, não só para o meio ambiente, mas para a população em geral. Lutzenberger (2012) no seu livro Manual de Ecologia – do jardim ao poder”, destaca: “folha seca não é lixo”. No trecho que segue, ele explica:

A folha morta cai ao chão, é desmanchada por toda sorte de pequenos organismos, principalmente insetos, colêmbolos, centopeias, ácaros e moluscos, e depois é mineralizada por fungos e bactérias. As raízes capilares das grandes árvores chegam a sair do solo e penetrar na camada de folhas mortas para reabsorver os nutrientes minerais liberados. Poucas semanas depois de caídos, os nutrientes estão de volta ao topo, ajudando a fazer novas folhas frutos e sementes. (LUTZENBERGER, 2012, p.13).

O autor orienta a ter uma visão sistêmica da temática “resíduos”, pois necessita-se dos recursos da natureza para sobrevivência de todas as espécies, ampliando a nossa área de visão diante dessa adversidade.

Nessa linha de pensamento, foi abordada a diferença entre reciclar e reutilizar na percepção dos licenciandos (Quadro 3).

Quadro 3. Diferença entre reciclar e reutilizar.

Categoria

Subcategoria

Licenciando

Reciclar é transformar/ Reutilizar é reaproveitar.

Na reciclagem o resíduo volta a ser matéria prima. Na reutilização há o reaproveitamento do resíduo sólido para outro fim (uso), nova utilidade ao objeto antigo.

L1, L2, L3, L5, L6

O ato de reciclar refere-se à transformação (mudança da estrutura do material) do resíduo em outro no momento da remanufatura. Na reutilização não há transformação física do produto.

L4, L9

Na reciclagem o produto retorna para a indústria e a matéria prima é explorada na fabricação de novos itens, para outros usos. Na reutilização há o uso de determinado recipiente para outras finalidades, sem passar pelo processo industrial.

L7, L8

Fonte: a pesquisa (2019).

Conforme pode ser visto no Quadro 3, os licenciandos deram ênfase na subcategoria “Na reciclagem o resíduo volta a ser matéria prima. Na reutilização há o reaproveitamento do resíduo sólido para outro fim (uso), nova utilidade ao objeto antigo.” Descrito pelos acadêmicos L1, L2, L3, L4, L5 e L6, para L4, L7, L8, e L9, abordam nas subcategorias uma resposta mais detalhada referente ao tema questionado, sendo todas próximas aos conceitos apresentados por Narvaes (2011).

O termo reciclar equivale a todo resíduo sólido que pode ser utilizado para fabricação de produtos novos, com a mesma qualidade e resistência de artefatos compostos por matéria-prima extraída do meio ambiente. No caso de reutilizar, está relacionada com a sustentabilidade, voltada a ideais ecológicos, reduzindo o consumo de produtos, reusando resíduos descartados para ouras finalidades (NARVAES, 2011)

Em relação ao grau de comprometimento com a separação correta dos resíduos sólidos, os licenciandos marcaram seu posicionamento numa escala de 1 a 10, conforme demonstra o Quadro 4.

Quadro 4. Grau de comprometimento com a separação correta de resíduos sólidos.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10








L1

L2

L4

L7

L3

L6

L9

L5

L8

Fonte: a pesquisa (2019).

Nota-se que o grau de comprometimento dos licenciandos decresce, isso reforça que acadêmico de Licenciatura em Ciências Biológicas tem que exercer ativamente o seu papel nesse contexto, pois a separação correta dos resíduos é fundamental nos dias atuais.

Nesse sentido, o PCN do Meio Ambiente (BRASIL, 2000) traz que a escola, tem a tarefa de fomentar um ambiente escolar harmônico e favorável a respeito do que os alunos necessitam aprender, contudo, constituindo a sua identidade como futuros cidadãos responsáveis de seus deveres com o meio ambiente, de modo a terem um comportamento de proteção e mudança sobre o mesmo.

Destaca-se, assim, que o graduado passa a fomentar a EA quando estiver lecionando, pois a maneira mais eficaz é começar um diálogo com nossas crianças e adolescentes, e nada melhor que na escola, onde o professor pode debater este assunto de grande interesse dos ambientalistas.

Na sequência desta pesquisa, os licenciandos foram indagados se conhecem ou já visitaram o Grupo Interno de Gerenciamento Ambiental – GIGA, localizado no Campus II da Universidade Feevale, o qual é responsável pelo destino correto dos resíduos produzidos nos Campus I, II e III, que são gerados na universidade. No GIGA é realizada uma coleta seletiva, onde os resíduos são separados conforme o tipo: seco, vidro, orgânico, pilhas e baterias, metais, infectante e químico, conforme pode ser visto na Figura 1. O trabalho é realizado por três funcionários e uma supervisora.

Quadro1

Quadro2





Dentro da central de resíduos é feita a triagem do material que chega, sendo classificado conforme o tipo e, depois, pesado. Com isso há um controle da quantidade de resíduos dos Campus mensalmente. O GIGA segue uma ordem de prioridade na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos da seguinte maneira: não geração; redução; reutilização; reciclagem; tratamento e disposição final. Nesse contexto, os licenciandos foram questionados se já visitaram o GIGA. Os dados estão representados no Quadro 5.

Quadro 5. Você conhece o GIGA (Grupo Interno de Gerenciamento Ambiental) da Universidade Feevale e já o visitou em algum momento?


Licenciando

Conhece

L2, L7, L8, L9

Não conhece

L1, L5

Conhece e já visitou

L3, L4, L6

Fonte: a pesquisa (2019).

É importante salientar que, dentre acadêmicos concluintes, apenas o L3, L4 e L6 conhecem e já visitaram o GIGA, o que se considera um número nada expressivo. Os conhecedores, provavelmente, são alunos que participaram de atividades relacionadas à extensão. É de suma importância aproveitar esse local para uma visita técnica associada com a EA, averiguando o papel da Universidade em questões ambientais, dentre as quais o destino correto dos resíduos sólidos produzidos pelos alunos e professores, ou seja, tudo que é consumido para o funcionamento do Campus.

Sabe-se que o problema dos resíduos sólidos ultrapassa as fronteiras da educação, não é algo tão simples a resolver. Há uma relação forte entre o ser humano e o meio ambiente, a qual é vital para as relações ecológicas, uma vez que a todo o momento o ser humano respira, necessita de recursos hídricos e socializa com outros seres vivos. Nesse sentido, há a necessidade de pensar em uma educação socioambiental (GUIMARÃES, 2013). A este respeito, Guimarães (2013) enfatiza que,

[...] conscientizar não é simplesmente transmitir valores “verdes” do educador para o educando: essa é a lógica da educação “tradicional”; é, na verdade possibilitar ao educando questionar criticamente os valores estabelecidos pela sociedade, assim como os valores do próprio educador [...] (GUIMARÃES, 2013, p.31).

As percepções dos graduados com respeito ao manejo correto dos resíduos sólidos possibilitam a conscientização da importância da gestão desses rejeitos para a preservação dos recursos naturais. Para Francisco e Jahno (2017), ao firmar uma relação entre a Gestão de Resíduos e Educação Ambiental, necessita-se de uma percepção ativa desse processo, onde o sujeito participa efetivamente. Dessa forma, é possível que o sujeito reconheça as adversidades ambientais, para encontrar as possíveis soluções, passando a ser um agente transformador, desenvolvendo suas aptidões e atitudes vinculadas à conduta ética e ao seu papel na sociedade.

A última questão do questionário está relacionada com a destinação incorreta dos resíduos sólidos. Para evidenciar essa atitude é apresentada uma imagem com várias irregularidades quando o descarte ocorre em local inapropriado, causando vários danos ao meio ambiente (Figura 2). Os acadêmicos foram convidados a comentar acerca dos procedimentos adequados, do ponto de vista socioambiental, sugerindo uma intervenção pedagógica.

Quadro3

Forma1

É importante salientar que as respostas dos acadêmicos L1, L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9 demostraram entendimento sobre as contrariedades causadas pela destinação incorreta de resíduos sólidos no ambiente, bem como as estratégias apropriadas para corrigir essa situação. Dessa forma, dão ênfase na EA, evidenciando a maneira correta a ser realizada, ou melhor, a conscientização.

Mucelin e Bellini (2008) salientam que os impactos ambientais negativos, visíveis e agressivos que afetam o meio ambiente, correspondem ao descarte inadequado e à disposição incorreta de resíduos sólidos, depositados em fundos de vale, às margens de ruas ou curso d’água. Isso acarretará inúmeros prejuízos ao ambiente, ou seja, essas práticas contínuas podem contaminar a água que consumimos no dia a dia, gerando uma proliferação de vetores que transmitem doenças. Ainda, acompanha outros problemas tais como: assoreamento; enchentes e alagamentos; a poluição visual; mau cheiro e a contaminação do solo.

Ao realizar uma EA que tenha a participação do cidadão na busca de soluções dos problemas, o professor deve adotar metodologias que incentivem o aluno a argumentar fatos e ideias referentes a um determinado tema, como soluções para o descarte correto dos resíduos sólidos. (REIGOTA,1996)

Em relação à intervenção pedagógica apenas o acadêmico L8 descreve de forma detalhada: "A intervenção pedagógica primeiramente parte de uma sensibilização dos alunos, fazendo-os compreender que todas as ações humanas reverberam no meio ambiente, uma vez que o aluno entenda que ele também faz parte do meio ambiente, certamente irá repensar sobre suas atitudes, bem como a propagação destas informações para seu ciclo social.”

O aluno precisa ter percepção, para constatar que é parte do meio ambiente. Há uma relação ativa em sua manutenção, procurando ter uma preocupação em manter a natureza como extensão de sua casa, ajudando a preservar esses locais com uma simples atitude, separar os resíduos de acordo com seu destino. (MUCELIN e BELLINI, 2008). Ainda, a esse respeito, conforme Brasil (2000) nos PCN Meio Ambiente:

Na escola, podem-se criar formas adequadas de coleta e destino do lixo, reciclagem e reaproveitamento de materiais. É possível também discutir comportamentos responsáveis de “produção” e “acondicionamento” em casa, e nos espaços de uso comum; o tipo de embalagens utilizado nos produtos industrializados e as diversas formas de desperdício; o prejuízo causado por produtos descartáveis não-biodegradáveis; formas de pressionar os produtores para mudanças no sistema de produção e materiais empregado. (BRASIL, 2000, PCN Meio Ambiente, p.224)

O professor tem uma tarefa nada fácil, devendo estimular, por meio dos alunos, a promoverem uma mudança no pensamento da família, para que tenham uma nova percepção em relação aos problemas ambientais trabalhados em aula. Com isso, será possível trazer para o ambiente familiar uma visão sobre os problemas causados pelo destino incorreto dos resíduos sólidos.

No mundo atual o maior dilema é como aproveitar os resíduos através dos 3’Rs, reduzir, reutilizar e reciclar, consumindo de forma sustentável e evitando prejudicar o meio ambiente (REIGOTA, 1996; MUCELIN e BELLINI, 2008; GUIMARÃES, 2013). Assim, o principal protagonista nessa mudança é o docente.

Considerações finais

O estudo realizado com os licenciandos emergiram várias visões para conceituar o termo resíduos sólidos como: “materiais/produtos descartáveis”, “produtos inorgânicos”, “residual das atividades humanas” e “resíduo sólido ou seco”. Todos esses termos estão relacionados com o descarte de materiais provenientes do consumo da população em geral. Portanto, esses dados reforçam o embasamento teórico dos acadêmicos, confirmando a sua compreensão sobre o assunto.

Um ponto que merece destaque está relacionado com abordagem da temática resíduos sólidos na graduação, em que os acadêmicos que responderam citaram o componente curricular intitulado “Princípios e Práticas em Educação Ambiental”. Foi indicado pela maioria que essa é a única disciplina que estuda esse tema tão presente no dia a dia da população, um dos principais problemas da atualidade. Esse resultado evidencia a falta de engajamento dos licenciandos com projetos extensionistas desenvolvidos no âmbito universitário.

Verificou- se, também, um desconhecimento dos graduandos relativo ao processo de gerenciamento de resíduos na instituição pesquisada, a qual possui o GIGA da Feevale. Constatou-se que somente três licenciandos tiveram oportunidade de conhecer e visitar esse espaço. Acredita-se que seria pertinente usufruir mais deste setor, já que a universidade possui um local que trabalha com a separação e destinação de resíduos. O espaço pode ser usado como extensão das aulas, associando com outros cursos, mas dando ênfase nas áreas de educação ambiental, em especial na formação docente.

Em relação à diferença entre aterro sanitário e lixão, os licenciandos demonstraram um embasamento teórico, trazendo diversas concepções, destacando que: “o aterro sanitário é um local legalizado – licenciado” e “lixão é um espaço irregular”, já na outra perspectiva: “o aterro sanitário é um local controlado” e o “lixão é uma área a céu aberto sem gerenciamento”. Todas na mesma direção, as quais se relacionam com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).

Já as percepções dos alunos em relação aos termosreciclagem e reutilização”, estão de acordo com o que é visto na literatura especializada. Pode-se observar que a palavra reciclar está associada com a transformação em um novo produto, onde os resíduos sólidos são separados por suas composições, passando por um processo de transformação, o qual permite que mais tarde a matéria-prima volte para indústria, sendo utilizada na fabricação de outros produtos. Verificou-se, também, que os acadêmicos têm clareza sobre o termo “reutilização”, o qual corresponde a reaproveitamento, ou seja, dar outro destino para esses resíduos. Um exemplo seria reaproveitar os copos de café, feitos de isopor, para o plantio de mudas de flores ou chás, como pode ser observado no setor do GIGA/ Universidade Feevale.

Com base nos resultados analisados, considera-se que o grau de comprometimento dos licenciandos com relação à separação correta dos resíduos está satisfatório. Nessa lógica, observa-se que os acadêmicos estão concluindo a graduação sabendo discernir quais são seus deveres em prol da manutenção da qualidade ambiental e conseguindo identificar ações sustentáveis, em especial, relacionadas com o gerenciamento de resíduos.

Quando os acadêmicos foram questionados sobre intervenções pedagógicas socioambientais, percebeu-se certa dificuldade em formular uma estratégia de ensino que pode ser aplicada ao atuarem como docentes. A maioria dos licenciandos associou a EA como responsável pela conscientização

Acredita-se que fomentar a transdisciplinaridade e interdisciplinaridade na escola é dever dos professores de Ciências e Biologia. A EA pode ser relacionada com as demais áreas do conhecimento e com a participação da comunidade escolar, passando a ter uma visão holística sobre os impactos ambientais.

Considera-se, a partir dos dados levantados, que a formação universitária, em específico o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, está dando subsídios teórico-práticos sobre o gerenciamento de resíduos sólidos e os possíveis impactos ambientais causados pela má destinação desses. Contudo, esse assunto deve ser ampliado nas demais áreas de formação, levando em consideração o comprometimento da Universidade em questões ambientais, como ações sustentáveis.

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Ilustrações: Silvana Santos