É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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Entrevistas
ENTREVISTA COM MARIA LUDETANA ARAÚJO PARA A 77ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO POR BERE ADAMS
Maria Ludetana Araújo Apresentação – A entrevistada desta edição é a Professora e Doutora Maria Ludetana Araújo*. Trata-se de uma pessoa inspiradora e que tem uma intensa participação no cenário da Educação Ambiental do País, principalmente na região Amazônica. A sua trajetória é um exemplo de vida e uma motivação para todos nós. Bere Adams – Prezada Professora Ludetana, é uma honra e um prazer muito grande poder realizar esta entrevista com uma pessoa tão encantadora e importante para a Educação Ambiental no Brasil. Inicio a nossa entrevista com uma questão que sempre faço aos meus convidados. De onde surgiu o seu interesse pela Educação Ambiental e quando iniciou a sua trajetória por este tema tão desafiador e, ao mesmo tempo, cativante? Algo a motivou para enveredar por este caminho? Professora Ludetana – Estou muito feliz com o convite para a entrevista por essa conceituada Revista. E muito gratificante socializar com os leitores, o que sentimos, fazemos em prol da educação, especialmente quando o adjetivo é ambiental. Essa expressão e seu fazer em minha vida data da década de 1980. E, Já não estou só. Há uma legião de praticantes da educação ambiental emancipatória. Isso eu vi crescer paulatinamente. O interesse, a participação e atendimento ao chamado nos primeiros eventos internacionais e nacionais sobre meio ambiente foram fundamentais para nos inserirmos na educação ambiental, não só pela região que habitamos, mas principalmente pelo significado que brota do povo nas várias regiões que compõem a Amazônia paraense. Bere Adams – A Educação Ambiental é uma prática educacional que traz para a escola e espaços educadores, formais e informais, a importância de levarmos em conta o meio ambiente em todas as atividades que realizamos, em todos os setores da sociedade, e, por isto ela, é essencialmente interdisciplinar. Quais outras características da Educação Ambiental a Senhora destaca desta prática educacional que pretende promover a transformação dos sistemas sociais a partir da transformação das pessoas? Professora Ludetana – A persistência, o carinho, o cuidado e o respeito que cada participante pôde e pode oferecer. Sem exigências e obrigações, mas com firmeza para a realização de acordos que aos poucos foram sendo internalizados pelos parceiros que fomos agregando. Bere Adams – E qual é a importância das políticas públicas para a implantação da Educação Ambiental e quais são as principais entidades que a fomentam de forma mais efetiva? Professora Ludetana – Tivemos momentos ímpares, efetivos, grandiosos que resultaram em materialização das políticas públicas. Foram tão fortes que criou em nós a capacidade resiliente. Nós nos reinventamos. A Constituição determina em seu Art. 225 [...] que é obrigação do Governo prover a educação ambiental juntamente com a coletividade. Isso é fato. Mas, destaco o papel das organizações privadas (não governamentais) e das Universidades. Bere Adams – O Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental na Amazônia/GEAMAZ, que é coordenado pela Senhora, estuda “os aspectos teóricos, práticos e metodológicos da inserção da Educação Ambiental nas políticas de gestão de sistemas de ensino e de meio ambiente nos mais diversos cenários amazônicos”, conforme descrito no site do grupo. Conte-nos como surgiu o GEAMAZ, qual a sua importância e o que a Senhora pode destacar deste trabalho tão importante, principalmente com a preocupação com o ambiente amazônico. Professora Ludetana – Durante mais de 20 (vinte) anos trabalhei em parceria com a professora Marilena Loureiro no Grupo de Estudos em Educação e Cultura na Amazônia – GEAM, no qual ela atuava como coordenadora. Com a mudança da professora de instituto, surgiu a necessidade que criarmos um grupo para atender, de imediato, as questões da pesquisa e da extensão na área da Educação Ambiental no Instituto de Ciências da Educação – ICED, principalmente pra articular, mobilizar e fortalecer o trabalho ambiental de educação ambiental na Amazônia. Atualmente o GEAMAZ conta com mais de 70 pesquisadores, parceiros e facilitadores que, voluntariamente, aderiram aos projetos. Contamos, ainda, com parcerias de outros grupos de pesquisa da UFPA, como o próprio GEAM e o GEMAS (Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente e Sustentabilidade). O GEAMAZ trabalha com quatro linhas de pesquisa: Educação Ambiental na educação básica; Educação Ambiental no ensino superior; Educação Ambiental, Tecnologia, Inovação e Produção de Materiais Didáticos; Educação Ambiental na Gestão Ambiental. Nosso principal objetivo é atuar desenvolvendo programas, projetos e ações de educação ambiental em diferentes contextos amazônicos, conhecendo, reconhecendo e valorizando os diferentes saberes que compõem esses espaços. Bere Adams – A Senhora é, também, colaboradora permanente do Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade Federal do Pará (GEMAS/UFPA). Tive a oportunidade de assistir a alguns vídeos no canal do Youtube: GEMAS UFPA. Fiquei encantada e senti uma renovação muito grande com o que pude ver e ouvir nos pré-fóruns e algumas palestras do fórum promovidas em lives. Conte-nos mais sobre este grupo e sobre as iniciativas desenvolvidas, por gentileza? Professora Ludetana – O GEMAS/UFPA iniciou suas atividades em 2015, sob a coordenação da professora Vanusa Carla Santos, e minha atuação como parceira se deu um ano depois. Desde então, temos avançado na elaboração de projetos e desenvolvimento de ações de educação ambiental, tanto no GEMAS quanto no GEAMAZ, e fortalecido essa parceria com a organização de seminários anuais que tem sido organizados pelos dois grupos de pesquisa. O GEMAS atua com suas linhas de pesquisa voltadas a Economia Circular que envolve a gestão de resíduos, trabalhos com catadores, criação de emprego e renda, e o GEAMAZ atua na área da Educação Ambiental para a sensibilização e formação continuada da cidadania, transformação socioambiental dentro desse contexto de produção e descarte incorreto de resíduos sólidos, de degradação de meio ambiente e das formas de vida na nossa região (Feiras Sustentáveis, Campanhas, Oficinas de empoderamento feminino e de adolescentes, Apoio na elaboração de programa de Educação Ambiental nas Instituições e nas Comunidades; produção de material didático e e-books). Bere Adams – Em uma das palestras que assisti por vídeo, a Senhora fala que: “Só através do encantamento é que nós vamos conseguir que as pessoas possam fazer a Educação Ambiental”. O que a senhora poderia falar mais sobre isto aos que ainda têm receio ou dúvidas em relação este fazer educacional? Como poderíamos evidenciar o prazeroso e o apaixonante deste fazer Educação Ambiental? Professora Ludetana – Com múltiplos olhares, com apoio, com orientação. Todo começo é valido, sem taxação de que só nós sabemos. A crítica é sugestão, é recomendação. A motivação é integrar. É multiplicar com informação e formação. É envolver, aproveitando o que de melhor a pessoa oferecer. Pode ser pequeno. Mas, sempre lembro que é fazendo que a gente chega lá. Bere Adams – O que a Senhora poderia nos falar sobre as novas tecnologias e, consequentemente, sobre novas metodologias político-pedagógicas para a Educação Ambiental que possam interferir na formação de educadores de todas as áreas, e de todos os níveis do ensino? E sobre a Educação Ambiental neste tempo de pandemia? Professora Ludetana – Eu mesma estou em um processo constante de aprendizagem e de apropriação de tecnologias que tornem o ensino/prática e todo processo de aprendizagem significativo. E isto não é tão fácil, mas é desafiador, e todos podem ganhar, nos diversos espaços. É uma grande ação interdisciplinar, cada um se doando para que o outro também aprenda a inovar utilizando as TICs e as metodologias inovadoras que favorecem uma aproximação maior com todos os segmentos. Em relação à educação ambiental, as tecnologias nos ajudaram a chegar mais longe, a levar conhecimentos a um número maior de pessoas, como no curso de Educação ambiental on-line promovido pelo Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental na Amazônia – GEAMAZ, que contou com mais de mil inscritos e alguns vídeos atingiram mais de três mil visualizações. Bere Adams – Em outra fala a Senhora aponta que a Educação Ambiental envolve: Sentimento – Ação – Razão. Poderia, por gentileza, detalhar a importância destes três aspectos para a prática da Educação Ambiental? Professora Ludetana – Sem afetividade e efetividade não chegaremos onde nos propomos. Hoje contamos com muitos colaboradores que desenvolvem a contento suas ações, reconhecendo seus limites (AÇÃO) nos chamam (RAZÃO) e nos dispomos por que amamos o que fazemos (SENTIMENTO). Para mim é tripé para continuar com nossas ações. Juntamos com os esforços de cada um. Sabedores que só fica mais difícil. Reconhecemos, no outro, a sinergia necessária e possível para a prática da Educação Ambiental. Bere Adams – Querida, Professora Ludetana, sem dúvida a cooperação e o esforço coletivo são fundamentais para que, através das práticas de Educação Ambiental se concretizem e se promovam as transformações necessárias, pois somente unindo esforços será possível enfrentar e superar as dificuldades que vamos encontrando pelo caminho. Em nome de toda equipe da revista Educação Ambiental em Ação, agradeço pela sua disponibilidade de nos conceder esta entrevista tão enriquecedora e desejo-lhe cada vez mais sucesso em todos os seus projetos. Muito obrigada!
*Associada I da Universidade Federal do Pará (UFPA). Graduação em Licenciatura em Pedagogia - Administração Escolar (1981) e em Licenciatura Plena em História (1978), ambas pela UFPA. Especialização em Orientação Acadêmica/UFPA (1979) e em Educação Ambiental pela University of Strathclyde - Escocia (1996). MBA em Desenvolvimento de Alianças Intersetoriais-FIA/USP (2006). Doutorado em Filosofia e Ciências da Educação pela UNED - Madrid (2012). Coordenadora (período de 1998 a dezembro de 2006) do Núcleo de Estudos e Educação Ambiental da Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará, onde desenvolvi trabalho de implantação e coordenação da Política de Educação Ambiental no estado do Pará. Atualmente é Coordenadora do Parfor/UFPA desde 2010 e professora do Programa de Pós-graduação em Rede nacional para o Ensino das Ciências Ambientais. Possui experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Ambiental, consultoria, coordenação e desenvolvimento de vários projetos de pesquisa, ensino e extensão na área de educação e de gestão ambiental em instituições publicas e empresas privadas. E-mail para contato: ludetanaaraujo@yahoo.com.br |