Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
13/09/2022 (Nº 80) ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA: PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PRÁTICA EDUCATIVA DURANTE A PANDEMIA DA COVID 19
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ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA: PRINCÍPIOS NORTEADORES DA PRÁTICA EDUCATIVA DURANTE A PANDEMIA DA COVID 19

Luana Monteiro da Costa1

1Mestranda do Programa de Pós-Graduação Em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Federal do Amazonas

diretoralmc@yahoo.com.br



Resumo: Este artigo tem como finalidade apresentar os resultados de um estudo realizado através de uma oficina didático-pedagógica com professores que ministram ciências de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública de Manaus - Amazonas, partindo do referencial didático-pedagógico dos Três Momentos Pedagógicos - 3MP, sistematizados por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011) que sugerem uma situação de estudo e aprendizagem baseada em problemas, metodologia que tem em sua essência, a possibilidade de promover a reflexão sobre a realidade como proposta mais adequada para implementar a Alfabetização Ecológica em contexto de pandemia da Covid-19. Os resultados demonstram que a formação do profissional, tanto na universidade como a continuada, são estratagemas fundamentais que vem respaldar a prática pedagógica dos educadores. A pesquisa também apresentou recomendações quanto a continuidade de outras investigações dentro da temática, o que torna este trabalho valioso para reflexões.

Palavras-chave: Alfabetização ecológica; Ensino de Ciências; Formação de professores; Três momentos pedagógicos; Covid 19.

Abstract: This article aims to present the results of a study carried out through a didactic-pedagogical workshop with teachers who teach science from the 6th to the 9th year of Elementary School in a public school in Manaus - Amazonas, based on the didactic-pedagogical reference of the Three Moments Pedagogical - 3MP, systematized by Delizoicov, Angotti and Pernambuco (2011) that suggest a situation of study and learning based on problems, a methodology that has, in its essence, the possibility of promoting reflection on reality as the most appropriate proposal to implement Literacy Ecological in the context of the Covid-19 pandemic. The results demonstrate that the training of professionals, both at the university and in continuing education, are fundamental stratagems that support the pedagogical practice of educators. The research also presented recommendations regarding the continuity of other investigations within the theme, which makes this work valuable for reflection.

Keywords: Ecological literacy; Science teaching; Teacher training; Three pedagogical moments; Covid-19.

Introdução

Capra afirma que a Alfabetização Ecológica, Ecoalfabetização ou Ecoliteracia, deve se tornar com um tempo, um pré-requisito para os sujeitos do futuro, principalmente para políticos, líderes empresariais e profissionais, tornando-se um aspecto importante a ser destacado dentro do currículo, em todos os níveis – desde a educação infantil até o ensino médio, faculdades e universidades, na educação continuada e no treinamento de profissionais (CAPRA, 2006; 2020; 2022). Assim é inescusável aos educadores refletir sobre os aspectos que fomentam a AE e a caracterizam para que possam desenvolver suas práticas pedagógicas pautadas nestes princípios fundamentais.

O autor ao se aprofundar sobre o termo AE, afirma que o primeiro passo para desenvolvimento do processo é compreender os princípios de organização que os ecossistemas desenvolveram ao longo do tempo para sustentar a vida (CAPRA, 2006, 2020; 2022).

Define inclusive que o conhecimento dos princípios básicos da ecologia, fundamentam o processo de AE que são: interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade e diversidade e no pleno cumprimento de cada um, alcançasse a sustentabilidade. Tais princípios fundamentam a prática educativa de AE e avançam, em sentido de se tornarem verdadeiros princípios de vida na sociedade (CAPRA, 2022).

Comecemos refletindo sobre o princípio de Interdependência Ecológica que se refere a todos os elementos de uma comunidade ecológica que apresentam entre si, uma interligação, uma vasta e intrincada rede de relações, que chamamos teia da vida. Sua própria existência e sobrevivência, baseia-se nas suas relações. Refere-se à dependência mútua de todos os processos vitais dos organismos - é a essência de ser de todas as relações ecológicas. Por consequência, a ação de cada ser vivo depende da ação de outro no ecossistema. A sobrevivência da comunidade depende do êxito dos seus membros, assim como o sucesso de cada membro depende do sucesso da comunidade (CAPRA, 2022).

Nutrir a comunidade significa nutrir essas relações. O padrão básico da vida é o padrão em rede que significa que as relações entre os membros de uma comunidade ecológica não são contínuas nem lineares, envolvendo diversos laços de realimentação. Cadeias lineares de causa e efeito existem muito raramente nos ecossistemas. Desse modo, uma perturbação não estará limitada a um único efeito, mas tem probabilidade de se espalhar em padrões cada vez mais amplos. Ela pode até mesmo ser amplificada por laços de realimentação interdependentes, capazes de obscurecer a fonte original da perturbação (CAPRA, 2022).

O princípio de Reciclagem refere-se à natureza cíclica dos processos ecológicos. Os laços de realimentação dos ecossistemas são as vias ao longo das quais os nutrientes são continuamente reciclados. Sendo sistemas abertos, todos os organismos de um ecossistema produzem resíduos. Mas o que é resíduo para uma espécie é alimento para outra, de modo que o ecossistema como um todo permanece livre de resíduos. As comunidades de organismos têm evoluído dessa maneira ao longo de bilhões de anos, usando e reciclando continuamente as mesmas moléculas de minerais, de água e de ar. (CAPRA, 2022).

Cabe aqui uma diferença entre a nossa economia que produz continuamente resíduos e a ecologia que apresenta um sistema cíclico, com retroalimentação e aproveitamento de resíduos sustentável. Nossos padrões devem ser cíclicos/sustentáveis de produção e de consumo, imitando os processos cíclicos da natureza e para isso, devemos reorganizar nossas atividades econômicas (CAPRA, 2022).

Outro princípio é o de Parceria que é uma característica fundamental nas comunidades sustentáveis. Num ecossistema, os intercâmbios cíclicos de energia e de recursos são sustentados por uma cooperação generalizada. Neste sentido a cooperação que ocorre há milhões de anos garante a coevolução. A parceria é a tendência para formar associações, ligações, cooperações e, neste sentido, garantir a vida a todos (CAPRA, 2022).

Nas comunidades humanas, parceria significa democracia e poder pessoal, pois cada membro desempenha um papel e é valorizado. À medida que uma parceria se concretiza, cada sujeito compreende melhor as necessidades dos outros. Os sujeitos aprendem, mudam e coevoluem. Percebemos assim uma tensão existente entre economia e a ecologia, bem como nossa sociedade está estruturada e a sustentabilidade ecológica que a Alfabetização Ecológica preconiza. O sistema capitalista prega a competição, a expansão e a dominação; viver com sustentabilidade, numa perspectiva de AE enfatiza a cooperação, a conservação e a parceria.

O princípio de Flexibilidade é uma consequência dos diversos laços de realimentação, que garantem a volta ao equilíbrio sempre que houver um desvio com relação à norma, devido a condições ambientais mutáveis. Perturbações ocorrem o tempo todo, pois o meio ambiente está sempre mudando, o que leva a uma transformação contínua. Todas as variáveis disponíveis num ecossistema podem variar como densidade populacional, disponibilidade de nutrientes, sempre flutuam. Dessa forma o ecossistema se mantém num estado flexível, prontos para se adaptar a novas condições. A teia da vida é uma rede flexível e flutuante, mais dinâmica, com maior flexibilidade e capacidade para se adaptar.

A flexibilidade também é uma estratégia que corresponde à resolução de conflitos, pois toda comunidade apresentará contradições e conflitos, apresentará estabilidade e de mudança, ordem e liberdade, de tradição e de inovação. Tais conflitos podem ser resolvidos estabelecendo-se um equilíbrio dinâmico, em vez de decisões rígidas, ambos os lados de um conflito são importantes, dependendo do contexto, e que as contradições no âmbito de uma comunidade são sinais de sua diversidade e de sua vitalidade e, desse modo, contribuem para a viabilidade do sistema.

A Diversidade no ecossistema está ligada à estrutura em rede do sistema. Um ecossistema diversificado será flexível, pois contém muitas espécies com funções ecológicas sobrepostas que podem, parcialmente, substituir umas às outras. Quando uma espécie é destruída, uma comunidade diversificada será capaz de sobreviver e de se reorganizar, pois outros elos da rede podem, pelo menos parcialmente, exercer a função da espécie destruída. Em outras palavras, quanto mais complexa for a rede, quanto mais complexo for o seu padrão de interconexões, mais elástica ela será.

A diversidade étnica e cultural nos seres humanos, com uma rede de relações diversas, torna a comunidade elástica, capaz de se adaptar a situações mutáveis da mesma forma. Ao contrário, com uma comunidade fragmentada em grupos e em indivíduos isolados, a diversidade poderá, facilmente, tornar-se uma fonte de preconceitos e de atritos. Quando a comunidade estiver ciente de sua interdependência, a diversidade ficará enriquecida, assim como seus membros e a comunidade.

Capra (2006 e 2020) e Leff (2002) destacam porém que o processo de AE deve ser tratado dentro de uma perspectiva interdisciplinar, onde as áreas de conhecimento são solicitadas a promover o intercâmbio teórico a fim de contribuir para a reflexão e aprofundamento do fenômeno e também, numa perspectiva transversal, onde a realidade do aluno e diversos temas que façam à conexão com a sua vida se aproximem da prática educativa, na tentativa de trazer a relevância na abordagem de conteúdos na vida um estudante.

Assim, práticas pedagógicas que seguem este caminho, superam abordagens ambientais simplistas e pontuais, pois objetivam uma transformação mais profunda no conteúdo, no processo e no alcance da educação em todos os níveis (CAPRA, 2006, 2022).

Metodologia

Neste trabalho optamos pela Pesquisa Qualitativa Participante, pois buscamos contribuir para o desenvolvimento de processos de Alfabetização Ecológica junto aos pesquisados que vivenciam o contexto na escola pública visto que esse tipo de pesquisa promove a geração de conhecimentos e significados que se dão socialmente e parte da interação com a comunidade humana e o pesquisador que se insere no contexto para realizar a coleta de informações, desvelando aspectos mais profundos do comportamento humano.(CRESWELL, 2007).

Esta investigação cumpriu aos critérios éticos exigidos na resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012, que regulamenta quanto às diretrizes e normas para o desenvolvimento de pesquisas envolvendo seres humanos, sendo o projeto submetido ao Comitê de Ética - CEP da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, sendo aprovado de acordo com o Parecer Consubstanciado No. 5.252.705.

Os participantes da oficina são os professores de uma escola pública que ministram a disciplina de ciências para estudantes do sexto ao nono ano do ensino fundamental que foram selecionados através de amostra de conveniência, de acordo com o grupo disponibilizado naturalmente no locus da pesquisa (CRESWELL, 2007).

O instrumento escolhido foi a Oficina didática pedagógica por ser um instrumento que pode mobilizar processos diferenciados de aprendizagem junto aos sujeitos. A oficina didática pedagógica, observaram-se os princípios de Alfabetização Ecológica de Capra (2006), chamados nesta pesquisa de Indicadores de Alfabetização Ecológica, seguindo o mesmo caminho metodológico testado e validado pelos autores, a senhora Vontobel (2019) e o senhor Queiroz (2013) em suas pesquisas, apenas direcionado para professores que são os sujeitos da nossa investigação, visto que desenvolveram seus trabalhos efetivamente, para estudantes. Logo, os Indicadores de AE são: interdependência ecológica, reciclagem, percepção, flexibilidade e diversidade.

Os dados foram analisados na perspectiva da Análise Textual Discursiva, por ser um meio analítico que se dedica ao entendimento de ciência e de seus caminhos, com a compreensão do objeto da pesquisa, considerando as vivências de quem passou pelo processo (MORAES; GALIAZZI, 2007) promovendo a reflexão entre a teoria e a prática educativa materializada, analisando seus significados dentro de um contexto social no qual são construídos (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011).

Foram utilizados os princípios de AE definidos por Capra (2020, 2021), a saber: Interdependência ecológica, Parceria, Reciclagem, Diversidade e Flexibilidade como categorias de análise, já concebidas pela pesquisadora e outros (QUEIROZ, 2014; VANTOBEL, 2019) como indicadores que atestam o processo de AE em pleno curso.

Resultados

A oficina didática-pedagógica objetivou contribuir para o desenvolvimento de processos de Alfabetização Ecológica junto aos educadores. Sendo assim, o instrumento foi organizado a partir do referencial de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), dos três momentos pedagógicos: problematização inicial, organização e aplicação do conhecimento, esclarecendo, item por item, no qual iremos descrever as informações coletadas.

Inicialmente, houve um diálogo sobre a Alfabetização Ecológica, fazendo uma aproximação entre o contexto atual e as percepções dos teóricos que fundamentam a teoria e os princípios que norteiam a prática educativa. Em seguida houve a distribuição de dois textos para cada professor, adaptados do livro “Ensino de Ciências: fundamentos e métodos” de Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), com o título geral “Aluno: sujeito do conhecimento” e subtítulo “Cenas e questões de um cotidiano escolar” e o outro, “Escola, currículos e programação de Ciências” com subtítulo “Cenas e questões de um cotidiano escolar” onde os educadores puderam ler e refletir sobre os mesmos em silêncio.

Foi solicitado que os professores refletissem a partir de uma questão problematizadora: Tomando em consideração o contexto escolar atual e as novas propostas sobre currículo, você saberia apontar as diferenças entre o primeiro e o segundo texto? Em seguida, foi pedido que cada professor elaborasse um texto, destacando as diferenças de cada um. Ao final deste primeiro momento, foi dado início a segunda parte.

No segundo momento, no momento de organização do conhecimento, os professores apresentaram seu texto com o devido respaldo teórico, bem como, a sua compreensão quanto à questão problematizadora de forma expositiva e dialogada, tendo a oportunidade tirar dúvidas, oportunizando reflexões. Os docentes debateram sobre a construção do texto e o que cada parte viria a ser.

No terceiro momento, o de aplicação do conhecimento, foi pedido que construíssem uma atividade interdisciplinar em grupo, com a temática Covid-19 articulada com os princípios de Alfabetização Ecológica. A cada dúvida, pediam esclarecimentos sobre os conceitos abordados, diferenciando e aprofundando cada um. Para a execução da atividade foi permitido que utilizassem os materiais disponíveis como, internet, livros e outros que julgassem necessário neste sentido, elaboraram a atividade como observamos na Tabela 1, a seguir:



Tabela 1: Aula 1

Objetos de conheci

mento



Objetivos:



Atividade:




Subcategorias

Indicadores de AE

Categorias

Conhecendo a China

· Apresentar um mapa e mostrar a localização geográfica do país.

· Apresentar dados geográficos da população, economia, IDH, língua, custo de vida, cultura do povo, como surgiu o povo chinês, etc.



Refletir sobre a destinação dos lixo e resíduos sólidos na China.

1) Trabalho de grupo:

Para a atividade o professor deverá montar um grupo no Whatssap para que os alunos possam postar seus trabalhos.

a) Pesquisar no Youtube vídeos de até 10 minutos que falem sobre a China (com ênfase em dados geográficos da população, economia, IDH, língua, custo de vida, cultura do povo, como surgiu o povo chinês, etc) e postar no grupo e no facebook da escola.

b) Elaborar um texto de uma lauda em grupo falando do que mais chamou atenção sobre o vídeo escolhido durante a pesquisa.

c) Assistir o vídeo dos demais grupos e comentar no Whatsapp sobre alguma informação diferente que você achou importante.

d) Pesquisar sobre a destinação do lixo doméstico e industrial no Brasil.

Cooperação mútua rumo a um objetivo comum

Comprometimento pessoal

Reconhecimento da importância das relações e do meio.

Lidar com conflitos internos

Lidar com diversos olhares e opiniões

Reflexão quanto a produção e descarte do lixo

Parceria



Interdependência ecológica



Flexibilidade



Diversidade



Reciclagem



Durante o processo de elaboração das atividades constantemente, era solicitado o esclarecimento quanto à compreensão dos princípios de AE. E nesta lógica, os educadores perceberam que os princípios estariam ora relacionados com os objetos de conhecimento de forma específica e em outro momento, correlacionados com as atitudes/comportamentos que os estudantes deveriam empreender para concluir a atividade proposta da Tabela 1.

O princípio da Reciclagem foi contemplado no desenvolvimento de atitudes dos estudantes para desenvolver as atividades propostas, pois deveriam “Utilizar prioritariamente, materiais descartados pelo homem para desenvolver as atividades, se houver a necessidade” visto que ao tratá-los podem refletir sobre a natureza cíclica dos processos ecológicos, os laços de realimentação dos ecossistemas que são vias por onde os nutrientes são reciclados, analisando sobre o que é resíduo para uma espécie é alimento para outra, de que forma o ecossistema permanece livre de resíduos procedendo com um paralelo para as comunidades humanas que explora os recursos da natureza, transforma-os em produtos e posteriormente, em lixo.

A utilização de estratégias de trabalho em grupo, são medidas que podem, potencialmente, por em prática a Interdependência ecológica e a Parceria que são princípios muitos próximos, visto que em ações onde os sujeitos são desafiados a estabelecer múltiplas relações entre todos os membros do grupo de trabalho, procedendo com a cooperação de forma democrática, com respeito, compreensão, valorização e empatia de forma que garanta o alcance de um objetivo comum de forma imediata, no trabalho de grupo em sala de aula, e principalmente, a longo prazo, tais princípios possam ser vivenciados e exercidos em sociedade (CAPRA, 2022).

As práticas escolhidas pelos educadores exercitam a Flexibilidade e a Diversidade pois, em vista a um bem comum, os estudantes são desafiados a buscarem um entendimento mútuo, respeitando as diversas formas de agir e pensar num grupo de trabalho.

A Flexibilidade e a Diversidade são princípios que instigam o entendimento mútuo, a resolução de conflitos, o tratamento de diferentes opiniões acerca de um tema/procedimento, etc. Todo grupo ou comunidade haverá sempre, muitas olhares e abordagens diferentes sobre uma mesma temática, então é natural que contradições e conflitos ocorram que não podem ser resolvidos em favor de um ou outro lado e desta feita, a riqueza, multiplicidade e até mesmo a plasticidade de um grupo, comunidade ou sociedade é o exercício da convivência, mesmo com a Diversidade que existe e sempre existirá de forma inevitável (CAPRA, 2022).

Conflitos são inexoráveis, mas são muito mais bem-resolvidos estabelecendo-se um equilíbrio dinâmico, em vez de decisões rígidas. O princípio da Flexibilidade trata sobre o conhecimento de que ambos os lados de um conflito podem ser importantes, dependendo do contexto, e que as contradições no âmbito de uma comunidade são sinais de sua diversidade e de sua vitalidade e, desse modo, contribuem para a viabilidade do sistema (CAPRA, 2022).

Além dos princípios de AE observados na atividade, ficou aparente que as mesmas contemplam a interdisciplinaridade em algum momento, seja no processo de ensino, na abordagem do professor, como por exemplo apresentando um objeto de conhecimento dentro de outra área como a “China”, explorando elementos como a “localização geográfica do país, utilizando dados geográficos da população, economia, IDH, língua, custo de vida, cultura do povo, etc”, em “um mapa” ou na aprendizagem, com os próprios estudantes se utilizando de outra área do conhecimento, para mobilizar a aprendizagem em profundidade.

Apesar de Capra não ter afirmado de forma expressa a utilização da interdisciplinaridade, em suas palavras está implícito seus elementos visto que a problemática ambiental é percebida dentro de um contexto social, histórico e cultural e certamente exige um tratamento específico, um caminho metodológico diferenciado em vista da sua complexidade, para um trabalho consistente, pois lança mão da abordagem de diversos olhares do conhecimento para tratar em profundidade um tema (JAPIASSU, 2011) ou seja, a Interdisciplinaridade favorece um estudo dos fenômenos contemplando diversos aspectos, de forma múltipla e em todos os níveis (FAZENDA, VARELLA, ALMEIDA, 2013).

Discussão

Longe de encerrarmos o debate a respeito de Alfabetização Ecológica, mas avançar e assim, expandir o conhecimento científico, apresentando algumas considerações, percebidas pela pesquisadora como pertinentes e que poderão abrir portas a novas pesquisas e reflexões que certamente hão de contribuir para a sociedade, para a construção do conhecimento, para o debate, para a pesquisa acadêmica e científica.

Ao desenvolvermos a oficina didático-pedagógica, pudemos contribuir para o desenvolvimento de processos de AE e com reflexões quanto às dúvidas e compreensão do termo. Desta feita, a atividade elaborada apresentou todos os indicadores de AE referendadas por Capra (Interdependência Ecológica, Reciclagem, Flexibilidade, Diversidade e Parceria) assim como, contemplou a Interdisciplinaridade e a Transversalidade.

Desta forma, em colaboração ao profissional da área da educação, percebe-se que o conhecimento científico pode contribuir para a formação do sujeito-educador de seu tempo e sua história e desta forma, valorizar o professor e os seus saberes, proporcionando possibilidades ímpares de formação continuada, com a aproximação a novos conhecimentos pedagógicos, teóricos e epistemológicos diferenciados, não sendo o único mecanismo, porém um dos passos fundamentais para garantir uma educação de qualidade, sem excluir do debate, outras questões também importantes, reconhecendo desta forma, a atuação do docente que tem impacto dentro e fora de sala de aula, seja no desempenho dos estudantes, na qualidade da escola e no progresso do país.

Bibliografia

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CAPRA, Fritjof. Uma visão sistêmica para enfrentar os problemas globais. Conferência: Lições de Gaia: Uma perspectiva sistêmica da pandemia de Covid. 2020. Disponível em: < https://www.fronteiras.com/ativemanager/uploads/arquivos/agenda_conferencias/721c53949d27aea9886aba4eedb8cf50.pdf>. Acesso em: 10 de jan. de 2021.

CRESWELL, J.W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Tradução Luciana de Oliveira da Rocha. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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FAZENDA, Ivani Catarina Arantes; VARELLA, Ana Maria Ramos Sanchez; ALMEIDA, Telma Teixeira de Oliveira. Interdisciplinaridade: tempos, espaços, proposições. Revista e-Curriculum, vol. 11, núm. 3, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo, Brasil, 2013.

JAPIASSU, H. Ciências: questões impertinentes. São Paulo: Ed. Ideias & Letras, 2011.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. 2 ed. São Paulo, Cortez, 2002.

MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise Textual Discursiva: processo constitutivo de múltiplas faces. Ciência & Educação, São Paulo, v.12, n.1, p. 117-128, abr. 2006.

MOZZATO, A. R.; GRZYBOVSKI, D. Análise de Conteúdo como Técnica de Análise de Dados Qualitativos no Campo da Administração: Potencial e Desafios. RAC, Curitiba, v. 15, n. 4, p. 731-747, jul./ago. 2011.

QUEIROZ, Ricardo Moreira de. Alfabetização ecológica no Ensino Fundamental utilizando o “caramujo africano” Achatina fulica. Dissertação de Mestrado Acadêmico em Educação em Ciências na Amazônia - Universidade do Estado do Amazonas. – Manaus: UEA, 2013.

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Ilustrações: Silvana Santos