Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
13/03/2023 (Nº 82) O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL?
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O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL?

Ana Lucia Machado fala sobre a urgência de uma educação ambiental que nos reconecte ao mundo natural, seus ciclos e encantos

Por: Ana Lúcia Machado -



Vivemos como nunca antes um distanciamento entre homem e natureza, e sua consequente ruptura com processos de vida. Até 2050, segundo dados da ONU, 66% da população mundial se concentrará em centros urbanos. No Brasil este percentual já chegou a 84%. Esse afastamento faz com que vivamos como se não fizéssemos parte da natureza, como se dela não dependesse nossa sobrevivência. Não nos reconhecemos mais como parte de um ciclo contínuo e interdependente de vida.

Enfrentamos uma crise civilizacional generalizada e sem precedentes com o esgotamento do planeta, devido ao estilo de vida incompatível com a exploração dos recursos naturais finitos, com demandas cada vez maiores de bens de consumo, excesso de produção de resíduos, poluição do ar, dos rios, mares e envenenamento do solo.

Precisamos refletir à cerca do impacto que nós, seres humanos, temos causado a este organismo vivo que é a Terra. Temos que repensar nossa maneira de ser e estar no mundo. O que acontecerá ao planeta se continuarmos consumindo e explorando seus recursos? Será possível sobrevivermos às mudanças climáticas? O que acontecerá com a humanidade?

Em maio de 2021, por ocasião da ‘Conferência Mundial sobre a Educação para o Desenvolvimento Sustentável’, a UNESCO elaborou um relatório mostrando que a educação formal não tem preparado os alunos para atuarem em um mundo onde as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade se apresentam como uma das maiores ameaças à vida humana.

Depois de ter analisado os currículos de educação de 50 países, a UNESCO apelou para que a Educação Ambiental seja colocada no centro dos currículos escolares até 2025. Nas palavras de Aidrey Azoulay, diretora geral da instituição, “a educação deve preparar os alunos para compreenderem a atual crise ambiental […]. Para salvar o planeta, devemos transformar a nossa forma de viver, produzir, consumir e interagir com a natureza.”

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A Educação Ambiental frente ao contexto global de degradação devido a ação predatória do homem, deveria ser pauta prioritária de todos os líderes mundiais.

O que é afinal Educação Ambiental? Por que essa abordagem é fundamental em nossos dias?

A verdadeira educação ambiental se dá por meio do experienciar. Acontece quando geramos a oportunidade para que os seres humanos tenham interações diretas com a natureza, quando promovemos a conexão e a relação de cada indivíduo com o meio em que vive e orientamos ações pró-ambientais, a partir de uma visão sistêmica, despertando a consciência da ligação e interdependência entre todos os seres viventes e os elementos naturais, como a terra, a água e o ar.

Quanto mais expostas e integradas aos ambientes naturais as pessoas estiverem, maiores as oportunidades de experiências e vivências positivas com a natureza. Esta experiências vão aguçar o senso de pertencimento e a consciência sobre o cuidado que devemos ter com cada ser vivente, seja ele um outro ser humano, um vegetal, um animal, um rio, o mar, ou o próprio ar que respiramos.

Quando conhecemos a natureza por meio de experiências diretas, nos responsabilizamos pelas relações que estabelecemos com ela. Daí advém a ética do cuidado. O cuidado está na essência do humano. Ele é a base possibilitadora da existência humana enquanto humana, como afirma o teólogo Leonardo Boff.

Se negligenciarmos essa base, caminharemos para nossa própria extinção. Precisamos resgatar essa essência. Boff atribui a falta de cuidado à desconexão com o TODO, e ao desconhecimento de que todas as coisas estão ligadas umas às outras.



Educação Ambiental, educação dos sentidos

A educação ambiental está diretamente relacionada à educação dos sentidos. Ela acontece à luz do sol, ao contemplar o arco-íris depois de uma forte chuva de verão e exalar o cheiro de terra molhada, ao comer frutas colhidas do pé e entender de onde vem os alimentos, ao sentir o vento no rosto e perceber que todos respiramos o mesmo ar, ao ouvir o farfalhar das folhas secas debaixo de nossos pés e captar nossa ligação com o solo, ao constatar a importância do frescor da sombra de uma árvore num dia quente.

Vivências no mundo natural criam memórias afetivas em relação à natureza, imprimem registros sensoriais pelo corpo.





Talvez nossas crianças e nossos jovens saibam muito mais sobre a natureza de ouvir os professores, de pesquisar em livros e assistir documentários. Não que esse conhecimento não tenha valor, entretanto essas informações não são suficientes para causar encantamento e estabelecer um vínculo de afeto e cuidado com a natureza.

Tampouco falar nas escolas, entre quatros paredes, sobre temas como o aquecimento global, biodiversidade, a extinção de espécies, e a preservação do meio ambiente, despertará o interesse dos alunos pelo mundo vivo.



Educação pela natureza

A relação direta com a natureza, essa sim, tem o potencial de tocar o coração, suscitar emoções positivas e ser muito mais efetiva em termos de despertar a consciência sobre a importância da preservação ambiental, pois só cuidamos e amamos aquilo que conhecemos de maneira concreta, no mundo real, tridimensional.

Isto é o que capacitará as novas gerações com habilidades, conhecimento prático, atitudes e valores para agir pelo planeta e enfrentar os desafios globais nos âmbitos sociais, econômicos e ambientais, que urgem nos nossos dias. Integrar-se à natureza, permitindo que ela exerça sua vocação educadora na construção coletiva de conhecimento, produz um aprendizado significativo com poder de mudar nossa perspectiva e a partir disso transformar nossas ações no mundo.

Se quisermos preservar nossa própria existência será preciso discutir as interrelações humanas, buscarmos uma alimentação saudável, praticarmos o consumo consciente, a economia circular, e revermos nosso conceito de felicidade. Todas essas questões abrangem a educação ambiental.

Se quisermos garantir cidadãos cuidadores do planeta, precisaremos resgatar os vínculos de crianças, jovens e adultos com a natureza e principalmente investir na formação de um reservatório de experiências vivas e reais desde o começo da vida, estimulando a apreciação e o respeito pela terra e por todos os seres vivos.

Educando Tudo Muda

Ana Lúcia Machado é educadora, especialista na primeira infância. Autora dos livros ‘A Turma da floresta uma brincadeira puxa outra’ e ‘Livro do Educador brincando com a natureza’. Seu trabalho está focado em reconectar as crianças à natureza por meio do brincar e da arte, e na formação de professores facilitadores da relação da criança com o mundo natural.

Para mais informações visite o site educandotudomuda.com.br.



Fonte: O que é Educação Ambiental? - CicloVivo



Ilustrações: Silvana Santos