Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
13/03/2023 (Nº 82) O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FITOSSANIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA- UM DESAFIO.
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O ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E FITOSSANIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA- UM DESAFIO.

Marcia de Fatima Inacio1 , Lorraynne Oliveira de Souza2 e João Carlos da Silva³



1 Eng. Florestal, MSc Ciências Ambientais e Florestais, PhD Agronomia – Ciências do Solo, Tecnologista do Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e-mail: marcia@jbrj.gov.br.

2 Granduanda em Ciencias Biológicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense, estagiária do JBRJ;

3 Pedagogo e MSc. em Avaliação pela Cesgranrio, Coordenador do Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.



RESUMO

Fomos pegos de surpresa em 2020, todos os planos previamente estudados tiveram que ser refeitos. Docentes tiveram que se reinventar diante de câmeras e equipamentos improvisados e se transformarem em mestres de Ensino Remoto. No Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro o quadro não foi diferente. A Instituição que abriga desde 2016 o Projeto Florescer, onde jovens em situação de risco social e vulnerabilidade econômica recebem alimentação, ajuda financeira e aulas sobre diversos temas no formato de módulos presenciais e práticos. Entre os módulos está a Responsabilidade Socioambiental II, que é abordada dentro da Educação Ambiental, o uso de Recursos Ambientais e Fitossanitários. Todo esse contexto, assim como o que ocorreu no resto do mundo, teve que ser adequado para o formato on line. Neste trabalho descrevemos o processo de ensino de educação ambiental e fitossanidade em tempos de pandemia no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Educação Ambiental, inclusão social, ensino on line.



INTRODUÇÃO

O mundo que conhecemos foi drasticamente modificado no início do ano de 2020. Um vírus se tornou uma grande ameaça, transformou hábitos, ameaçou populações inteiras e passou do imaginário científico para o mundo real. Passamos a usar máscaras a fim nos proteger e de proteger o outro, os cuidados com assepsia foram redobrados, o isolamento social foi imposto como forma de sobrevivência. O primeiro país a ser atingido foi a China, mais precisamente a cidade de Wuhan no final do ano de 2019. Depois foi uma sequência de relato de casos em todo o planeta, fazendo com que em 11 de março de 2020, Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), declarasse que estávamos vivendo uma contaminação pandêmica de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) (Figura 1) (UNASUS, 2020).

(https://www.unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-de-saude-declara- pandemia-de-coronavirus).

Figura 1 – Países atingidos pelo Sars-Cov-2 em 11 de março de 2020. Fonte: https://segredosdomundo.r7.com/pandemias/

Esse estado de coisas totalmente desconhecido causou uma ruptura no sistema que havia sido estabelecido para o processo de aprendizagem. Docentes tiveram que, em questão de meses ou até mesmo dias, se adaptar e se reinventar para um sistema de ensinos remoto e a distância devido às novas condições sanitárias impostas (LIMEIRA et al, 2020).

O mundo já viveu outras pandemias como a “Peste Bubônica”, que tomou conta da Europa no século 14, matando cerca de 75 a 200 milhões de pessoas, reduzindo drasticamente a população mundial; a “Gripe Espanhola”, que em 1918 matou cerca de 40 a 50 milhões de pessoas; a varíola, que já foi erradicada mas que por mais de 3 mil anos aterrorizou o planeta. Também se enquadram na definição de pandemia o Tifo, que entre 1918 e 1922, matou mais de 3 milhões de pessoas e a cólera, a primeira das pandemias. Essa doença em 1817, matou centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo. Seu agente de transmissão, a bactéria Vibrio cholerae sofreu mutações e continua provocando novos surtos epidêmicos, principalmente em países com problemas de saneamento. Em 2019 morreram mais de 40 mil pessoas no Iêmen. A tuberculose surgiu pouco depois, em 1850, e chegou a matar 1 bilhão de pessoas até a descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928. Em tempos mais recentes duas pandemias antecederam o Covid 19, a AIDS, que desde a década de 1980 já causou a morte de mais de 20 milhões de pessoas e a Gripe Suína causada pelo H1N1, que foi a primeira pandemia registrada no século 21. Surgida em 2009, o vírus apareceu em porcos do México e rapidamente se espalhou, causando a morte de cerca de 16 mil pessoas. Entretanto, para essa população que nos tempos atuais vive a realidade docente/discente, essa condição é totalmente nova (segredos do mundo,

Esse estado de coisa atingiu de sobremaneira as instituições de ensino e educação, assim como órgãos que abrigam projetos de cunho social como o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro, localizado na zona sul da cidade de mesmo nome, abriga dentre outros setores o Centro de Responsabilidade Socioambiental – CRS. No Centro são desenvolvidos vários projetos, e dentre estes o Florescer. Um projeto criado em 1997, onde atualmente 54 jovens recebem formação pré-profissionalizante com o objetivo de desenvolver as habilidades intelectuais, culturais, sociais e ambientais que facilitem sua inserção no mercado de trabalho (SILVA et al., 2015).

Esses jovens pertencem a famílias em situação de vulnerabilidade econômica e risco social, moradores de comunidades próximas ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. No CRS são ensinadas especializações técnicas que os capacitam em Jardinagem, Parataxonomia, Agente de Desenvolvimento Socioambiental ou Assistente Administrativo nos contratempos de aulas escolares. O Projeto conta com um espaço físico de 800 m2 que abriga salas de aula, áreas comuns, biblioteca, cozinha, refeitório e uma horta orgânica que serve como elemento de convívio e integração, fornece alimento e sedia aulas práticas (Figura 2 e 3) (AQUINO & ASSIS, 2005). Além do espaço físico do CRS, os educandos têm acesso a toda estrutura do Jardim Botânico, que em uma versão bastante resumida se traduz em 54 ha de um Arboreto cuidadosamente cultivado, orquidário, cactário, herbário, diversas coleções e laboratórios de pesquisa científica.

O tema principal abordado no presente trabalho foi a dificuldade de despertar o interesse de docentes e discentes desse grupo específico no ensino a distância da educação ambiental no Projeto Florescer do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (OLIVEIRA, 2020). A forma encontrada para tratar os múltiplos aspectos que envolveram o longo período de quarentena onde havia a dificuldade de transmissão de conteúdo, a ausência de presença física tão importante em se tratando de menores em situação de vulnerabilidade social, são alguns dos aspectos também abordados.

Figura 2 – Horta orgânica cultivada no Projeto Florescer.



Figura 3: Hall de entrada do Projeto Florescer.

OBJETIVO GERAL

Relatar a experiência e os resultados alcançados no processo de ensino remoto de educação ambiental e fitossanidade em tempos de pandemia no Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.



OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Relatar essa primeira experiência do ensino remoto de educação ambiental e fitossanidade em tempos de pandemia no CRS;

  • Verificar o aprendizado e o interesse de jovens para o tema através do ensino remoto;

  • Aprimorar e adaptar os recursos disponíveis visando atender a diversidade do público discente no ensino de educação ambiental e fitossanidade;

  • Aprimorar o modelo para que possa ser aplicado extramuros do projeto Florescer.



METODOLOGIA



O Jardim Botânico e o Projeto Florescer



O projeto abriga 04 cursos de capacitação que são: Jardinagem com ênfase em agroecologia, Monitoria de Espaços de Ciência e Cultura, Parataxonomia e Manejo de Coleções Biológicas, Assistente Administrativo com Ênfase em Sustentabilidade. A grade acadêmica dos cursos é organizada em módulos que versam sobre educação, cidadania, ecologia, cursos de jardinagem, parataxonomia e oficinas de arte. A Educação Ambiental permeia por toda a grade de forma trans e interdisciplinar, buscando fundamentar uma consciência ecológica e crítica acerca do meio ambiente em cada educando.



Módulo “ Responsabilidade Socioambiental II - Recursos Ambientais e Fitossanidade.

O tema Recursos Ambientais e Fitossanidade ministrado dentro do módulo acima versa sobre aspectos que envolvem o mundo físico em que vivemos e as interferências provocadas pelo homem. Esse tema é tratado dentro dos diferentes cursos que compõem o Projeto Florescer. Nele tratamos a Biosfera e os recursos ambientais, ar água, solo; Seres vivos, animais, vegetais, microscópicos que nele habitam. O início da Agricultura, os desmatamentos inerentes ao crescimento populacional e expansão das cidades. O surgimento de pragas e doenças próprias de monocultivos. As primeiras tentativas de controle, a descoberta dos agrotóxicos e os métodos alternativos como controle biológico e defensivos botânicos (BETTIOL & CAMPANHOLA, 2003; LOPES. & ALBUQUERQUE, 2018). O curso, quando presencial, envolve o uso de equipamentos como lupas, microscópios e visitas a campo para observação direta de sintomas e sinais de patógenos vegetais (Figura 4)

O grande desafio nesse mundo pandêmico foi transmitir esse conteúdo, mantendo o interesse dos discentes utilizando para isso apenas recursos virtuais (VIDAL et al, 2010).



Figura 4 – Ciclo demonstrativo das reações consequentes dos desmatamentos e instalação de grandes culturas agrícolas.



Discentes

A turma era formada por onze educandos com idades entre 15 e 20 anos, sendo que dois alunos Samuel e Felipe eram não videntes (Figuras 5 e 6) (MOREIRA, 2013). Todos eram atendidos pelo Projeto Florescer do Centro de Responsabilidade Socioambiental do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e se encontravam em condições de vulnerabilidade econômica e risco social. Em condições normais, esses educandos frequentam diariamente o Centro, assistem aulas de conteúdos diversos tais com português, inglês, ciências dos solos, artes e educação. Com a crise que chegou no início de 2020 os educandos passaram a se comunicar com o centro de forma virtual, o contato e as trocas continuaram por todo o período. Como forma de minimizar as perdas no que se refere a alimentação foram distribuídas pelo Centro cestas básicas para todas as famílias.



Figura 5 –Aula remota de Fitossanidade.



Figura 6 - Dois educandos não videntes (a) Samuel, (b) Felipe.



Avaliação

A avaliação foi realizada em duas etapas, a primeira envolveu atividades práticas como a colheita de material de estudo na residência de cada um, visualização, descrição dos sintomas e sugestão de possível agente causador de danos (Figura 7).

A segunda parte da avaliação envolveu questões com respostas que deveriam ser mais elaboradas, que exigiam do aluno a capacidade de discorrer sobre o tema correlacionando com vivências práticas (Figura 8).



Figura 7 – Etapa 1 de Avaliação do tema Recursos Naturais e Fitossanidade.

Figura 8 - Etapa 2 de Avaliação do tema Recursos Naturais e Fitossanidade.



RESULTADOS E DISCUSSÃO



Parte 1 – Descrição das aulas

Foram realizadas aulas com um modelo teórico-prático. Na parte teórica, foram feitas apresentações de no 50 minutos cada com tempo posterior para perguntas e respostas, utilizando-se a metodologia expositiva com uso de imagens, sempre estimulando a participação do aluno. Durante o processo foi possível observar um alto nível de interação e um alto nível de participação de todos alunos ao longo da atividade. No modelo remoto, esse tipo de método é importante para definir os primeiros passos conceituais e o contato dos alunos com o conteúdo abordado.

As atividades práticas foram feitas através do método de experimentação. Foi possível constatar que o contato na prática é fundamental para fixação do conteúdo teórico além de estimular uma maior interação entre os alunos.



Parte 2 –Questões objetivas

Dos onze discentes que iniciaram o módulo, nove concluíram a parte 1 da avaliação, sete videntes e dois não videntes (Tabela 1). A maioria utilizou folhas para a avaliação (88 %), apenas uma aluna escolheu trabalhar com o fruto. Todos cumpriram as etapas de selecionar material com sintomas para posteriormente fotografar e descrever os sintomas. No que se refere a sugestão de possível agente, dois alunos se posicionaram como agente não identificado e um aluno classificou com processo oxidativo o sintoma apresentado. Nesse momento o objetivo do processo foi exercitar a prática investigativa e a observação. Uma aluna utilizou um pimentão e tentou reproduzir todo o processo até o surgimento de infecção bacteriana, o que não ocorreu, muito provavelmente devido a pouca umidade (Figura 9). Mais dois alunos estão representados nas fotos, Lyara e Natan (Figuras 10 e 11). Assim sendo considero que os objetivos foram plenamente alcançados.

Tabela 1 - Respostas fornecidas por alunos do módulo Responsabilidade Socioambiental II sobre o uso dos Recursos Ambientais e a Fitossanidade.às perguntas elaboradas na Figura 8.



ALUNOS

Estrutura

Nome vulgar

Sintomas

Possível agente segundo os

discentes

Felipe**

folha

hortelã pimenta

Folha seca e quebradiça

Formigas

Fernanda

folha

limoeiro

Manchas circulares

(amareladas)

Insetos (gafanhotos e

formigas)

Iris *

fruto

pimentão

Manchas negras e murcha

Processo oxidativo

Jeferson

folha

jibóia

Amarelecimento

Queimadura de sol

Lilly

folha

cróton

Manchas aureoladas e

circulares, clorose.

Patógeno

Lyara *

folha

cafeeiro

Manchas circulares e

amarelecimento nas folhas.

Microorganismo

Natan*

folha

cróton

Sintomas holonecróticos

Não identificado

Pedro

folha

coleus

Manchas nas faces adaxial e abaxial de folhas e caules. Surgimento de pontas brancas, que se multiplicavam ao longo do

tempo.

Cochonilhas

Samuel**

Folha

boldo

Murcha

Não identificado

* Discentes que tiveram suas fotos exibidas neste trabalho.

** Discentes não videntes.





Figura 9 – Pimentão (Capsicum annuum) utilizado pela educanda Íris, fruto íntegro (a), fruto após 5 dias do corte (b), teste do copo (c ).





Figura 10 - Folha de café (Coffea arábica), utilizado pela educanda Lyara.





Figura 11 - Folha de croton (Codiaeum variegatum), utilizado pelo educando Natan.



Parte 3 – Questões subjetivas

A forma de escrita livre acerca dos três tópicos propostos permitiu que os educandos relacionassem fatores adicionais à discussão principal, atingindo o objetivo de demonstrar que o mundo vivo se inter-relaciona continuamente. Apesar de alguns equívocos de taxonomia e biologia de microorganismos que foram cometidos, a compreensão da interconexão, das relações de causa e efeito e do papel do homem dentro desse contexto foi compreendida.



3.1 -O MUNDO MICROSCÓPICO (NEMATÓIDES, FUNGOS, BACTÉRIAS E VÍRUS VEGETAIS).

Alguns educandos disseram já saber da existência de microorganismos, principalmente devido às doenças humanas, a informação nova foi a existência de seres similares que afetam plantas, causando sintomas diversos que são perceptíveis a qualquer ser humano, como manchas, necroses.

Foi a parte que mais achei interessante, microorganismo tão pequenos e que mesmo assim podem ter uma grande ação. Nas plantas podem causar um grande estrago com manchas, necrose, podridão, declínios nas plantas em geral e outros.. “ (Lyara)

Nas palavras de dois alunos podemos observar a relevância do entendimento de se conhecer para se preservar, assim como da responsabilidade que temos em cuidar desse mundo para o futuro:

O estudo de organismos microscópicos é essencial para o entendimento de questões gigantescas, como o desenvolvimento de uma doença ou até mesmo sua cura” (Iris)

Aprender sobre fitossanidade foi maravilhoso ,por mas que de forma empírica eu tinha conhecimento de algumas coisas,pude entender que vírus e bactérias são coisas diferentes,assim como os fungos e micróbios ,eu tive a oportunidade de conhecer aonde cada um deles atua ,e a tamanha importância e responsabilidade que temos de proteger toda essa nossa linda natureza .”(Samuel)

Outros destacaram a importância dos organismos benéficos como fungos que deram origem a penicilina, assim como das inter relações entre insetos e microorganismos, a importância das cadeias e teias alimentares:

Para mim foi uma experiência muito enriquecedora, pois se trata de um universo que embora seja tão pouco discutido, mas tão cotidiano e presente no nosso dia a dia. É incrível saber que alguns desses seres, como discutimos em uma das aulas, por exemplo o fungo que tínhamos como um ser vivo não tão agradável era de tanta importância pro nosso dia a dia e a solução para diversos problemas”. (Pedro)

Em relação ao mundo microscópico foi muito legal aprender sobre isso, até porquê ressalta que nem todo fungo ou inseto é maléfico, mas que alguns podem ser bem úteis para os seres humanos, por exemplo os remédios. O mais curioso para mim foi saber que as formigas não coletam folhas para comer, mas sim para alimentar um fungo que vive dentro do formigueiro e depois elas se alimentam dele.” (Lilly)



3.2 - FALE SOBRE PARASITISMO VEGETAL E EM HUMANOS.

A importância em se compreender a especificidade das relações parasita planta, que chega muitas vezes ao nível de espécie/variedade foi bastante abordada. Tivemos a preocupação de esclarecer que um parasita de tomate não afeta um pimentão, por exemplo.E que mesmo sendo muito similares aos parasitas humanos, os vírus, bactérias , fungos e nematóides de plantas são inócuos para nós. E sim, só atingem as plantas suscetíveis e não a todas. A grande maioria dos alunos desconheciam esse fato. Foi com certa surpresa e muito interesse que o tema foi abordado e discutido.

Assim como em humanos as plantas também podem ter parasitas ou doenças. Plantas ‘expressam’ quando há a presença de organismos maléficos, mudam sua cor, e a forma de estarem postas, podendo secar ou morrer. (Iris)”

Ficou bem claro para os discentes que há alta especificidade nas relações parasita hospedeiro. Ao corrigir as questões respondidas observei que apenas um dos discentes não entendeu a alta especificidade que há entre hospedeiro e parasita o que torna impossível a contaminação de pessoas por microorganismos de patologia vegetal. Assim como o surgimento de doenças em espécies diferentes causada por um mesmo microorganismo.

Dois pontos muito importantes nesse tema foi a compreensão da existência de formas similares de contaminação (correntes de ar, proximidade, inseto transmissor) entre humanos e plantas e a diferença de sintomas causados. Gripe passa de pessoa a pessoa através da proximidade, o mesmo ocorre com um fungo que se dissemina em uma plantação. A relação entre os sintomas apresentados por plantas e pessoas provocou comentários bem interessantes na turma.

Nas plantas e nos seres humanos há o risco de contaminação quando próximos, como um homem poder passar para outra pessoa da mesma forma que uma planta pode passar algo ruim para outra. Com esses seres que parasitam Nos humanos ele pode ser prejudicial a saúde atacando o sistema imunológico da mesma forma que ele adoece as plantas. (Lyara)”

Microorganismos que afetam pessoas e plantas além de serem de espécies diferentes, atuam de forma diferente. Por exemplo, os sintomas que uma bactéria deixa numa planta não é o mesmo que causa num ser humano. (Lilly)



    1. - IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL.

A compreensão de que o equilíbrio depende de ações humanos mais restauradoras e conservacionistas pode ser observada em todas as respostas. O tema uso irracional de agrotóxicos em virtude da introdução de grandes monocultivos e foi citado. A preservação de floresta e formas alternativas de produção de alimentos também (ROSA et al, 2013).

Importante preservar para evitar pragas e doenças”. (Jefesson)

A importância da preservação na prevenção de doenças de plantas. É muito importante que isso aconteça, pois senão pode afetar diretamente a gente caso isso aconteça em plantas comestíveis, e devemos tomar cuidado nas grandes plantações, uma vez vi um documentário que falava sobre a monocultivo das seringueiras, para extrair látex, e depois de um tempo todas as árvores ficaram doentes, isso porque com a falta de outras espécies próximas a elas, as seringueiras ficam mais propícias a terem doenças, por isso é necessário que estudemos sobre isso para que possamos evitar essas situações”.(Lilly)

Também existe o fato de que a grande quantidade de agrotóxicos são utilizados nas plantas para se livrar de insetos ou pestes, podendo ser prejudicial para a nossa saúde e para os próprios agricultores que entram em contato com essas substâncias químicas. (Lyara)

O uso de agrotóxicos podem contaminar e poluir o solo, água e até mesmo o ar. Além disso pode fazer mal para os humanos. O EPI é a melhor forma de prevenir o trabalhador rural contra intoxicações e acidentes que podem colocar a sua vida em risco.” (Natan)

A poluição do solo, rios, oceanos águas subterrâneas foi citada como uma consequência grave de todo o processo decorrente da não preservação. O surgimento de grandes pragas e doenças vem em decorrência do desequilíbrio causado principalmente por ação humana. A necessidade de se produzir impulsiona a indústria do agrotóxico que por sua vez se espalha no ambiente causando mais poluição e destruição devido ao uso não consciente. A pratica da educação ambiental, assim como a introdução de conceitos de cultivo consciente deve ser amplamente disseminada (SOUZA-DIAS et al., 2017). Os resultados obtidos a partir de uma experiência em uma turma pequena conduzida sob condições mínimas em um sistema remoto em meio a uma pandemia são indiscutivelmente favoráveis a que essa informação seja transmitida insistentemente. Soma-se a isso a presença de dois alunos não videntes, que foram expressivamente brilhantes em todo o processo, reforçando que a Educação Ambiental deve permear em todo e qualquer momento. Finalizo com a brilhante colocação do aluno Pedro:

E diante de tantos detalhes, o conhecimento compartilhado reafirmou a necessidade de se preservar os recursos e espaços que estão a nossa disposição, pois são fonte de respostas para muitas perguntas em pauta ou que ainda nem foram feitas!” (Pedro)



CONSIDERAÇÕES FINAIS

É notório o agravamento do problema existencial em jovens em situação de risco social no contexto atual de ensino. Sua própria condição de vida, onde um grande número de pessoas mora em poucos cômodos, a internet é precária muitas vezes além da ausência de tempo dedicado exclusivamente ao aprendizado. Todas essas dificuldades somadas a ausência de contato físico ou visual com o corpo docente e outros profissionais atuantes como psicólogos e pedagogos tornaram bastante difícil a transmissão de conhecimento. Um outro ponto a se ressaltar é a dificuldade em se ensinar algo que é de caráter biológico e experimental na forma remota. Especialmente em se tratando de fitossanidade, que envolve o toque, a visão e aparatos de lentes para visualização de seres microscópicos.

Entretanto, com os meios disponibilizados considero que houve um aproveitamento além do satisfatório por parte de 80 % dos discentes. Cabendo observar o incrível interesse e o afinco dos não videntes. No caso desses discentes optei por conversar com os dois em separado dos demais, uma vez que toda a descrição de sintomas deve ser associada a algo perceptível sem o auxílio da visão. Algo como um calor gerado por uma infecção humana (febre) ou a luz do sol, a rugosidade de alguns tecidos e a umidade escorregadia de matéria orgânica em decomposição.

Foi solicitado que antes das aulas houvesse coleta de material que tivesse rugosidade ou erupções perceptíveis pelo toque e esse material foi de grande auxilio na descrição dos mesmos. Não foi um desafio fácil, mas de extremo retorno. A taxa de resposta foi além da satisfatória.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BETTIOL, W. & CAMPANHOLA, C. Métodos Alternativos de Controle Fitossanitário. Jaguariúna, SP, Embrapa Meio Ambiente, 279 p., 2003.

LIMEIRA, G. N. .; BATISTA, M. E. P.; BEZERRA, J. de S. . Challenges of using the new technologies in higher education in front of the COVID-19 pandemic. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 10, p. e2219108415, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i10.8415. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/8415. Acesso em: 21 mar. 2022.

LOPES, C. V. A. & ALBUQUERQUE, G.S. C. Agrotóxicos e seus impactos na saúde humana e ambiental: uma revisão sistemática. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 42, n.117, p.508-534, abr-jun 2018.

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VIDAL, E.M., BESSA MAIA, J.E. Introdução à Educação a Distância -

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Ilustrações: Silvana Santos