Rico é aquele que sabe ter o suficiente. Lao Tze
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 90 · Março-Maio/2025
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Relatos de Experiências
14/03/2025 (Nº 90) PROJETO #UMAESCOLAMAISSUSTENTÁVEL: PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM UMA ESCOLA DE BOQUIM-SE
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PROJETO #UMAESCOLAMAISSUSTENTÁVEL:

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM UMA ESCOLA DE BOQUIM-SE



Andressa Sales Coelho (Coorientadora)1, José Renan Félix dos Santos2, Laura Jane Gomes (Orientadora)3, Marcos Antônio Goes Costa4



1Doutora em Ecologia e Recursos Naturais - Universidade Estadual do Norte Fluminense. Professora das Redes Estadual de Sergipe e Municipal de Aracaju; andsalescoelho@gmail.com

2Graduado em Química licenciatura-Faculdade Pio Décimo, Especialização-Ensino de Química, Especialização em EPT, Especialização Educação Ambiental. Professor da rede particular e Secretário Escolar-Rede Estadual. felixrenanveh@gmail.com Tel. (79) 99912-6684.

3Doutora em Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de Campinas, Professora Titular do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Sergipe; laura@academico.ufs.br Tel. (79) 98805-3659.

4Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Rede PRODEMA pela Universidade Federal de Sergipe, Professor da Rede Estadual de Sergipe, marcosgoessapao@gmail.com Tel. (79) 99934-1783.

Resumo: Este artigo aborda a crescente preocupação com a sustentabilidade e a necessidade de práticas ambientais responsáveis, destacando o papel essencial da escola e da educação ambiental na formação de valores e hábitos que promovam a sensibilização ambiental dos estudantes. O objetivo do presente artigo foi relatar a experiência da implementação do projeto "#UmaEscolaMaisSustentável", estruturado em torno de oito medidas sugeridas pelos participantes da disciplina. O desenvolvimento do projeto utilizou uma abordagem metodológica prática e participativa, fundamentada no Aprendizado Baseado em Projetos (ABP). Os resultados obtidos demonstraram que a integração de práticas sustentáveis no ambiente escolar pode gerar um impacto significativo, tanto na formação socioambiental dos estudantes quanto na consolidação de uma cultura de responsabilidade ambiental na escola e na comunidade.

Abstract: This article addresses the growing concern about sustainability and the need for responsible environmental practices, highlighting the essential role of schools and environmental education in the formation of values ​​and habits that promote environmental awareness among students. The objective of this article was to report the experience of implementing the project "#UmaEscolaMaisSustentável", structured around eight measures suggested by the participants of the course. The development of the project used a practical and participatory methodological approach, based on Project-Based Learning (PBL). The results obtained demonstrated that the integration of sustainable practices in the school environment can generate a significant impact, both in the socio-environmental formation of students and in the consolidation of a culture of environmental responsibility in the school and in the community.



INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, observa-se uma crescente preocupação com a busca pela sustentabilidade e a necessidade de práticas ambientais responsáveis, tanto em escala global quanto local. A sociedade contemporânea enfrenta uma série de desafios ambientais, exacerbados pela urbanização acelerada e pelo uso intensivo de tecnologias, que têm distanciado as novas gerações do contato direto com a natureza (Irala & Fernandez, 2001).

Morin (1999) destaca a importância de repensar os paradigmas atuais de desenvolvimento, promovendo práticas que integrem o conhecimento ecológico com a ação social. Leff (2001) argumenta sobre a necessidade de redefinir o desenvolvimento propondo uma nova racionalidade ambiental que contemple a diversidade cultural e o uso sustentável dos recursos naturais.

Nesse contexto, a escola desempenha um papel essencial, pois além de ser um espaço de construção do conhecimento, é um ambiente que influencia diretamente na formação de valores e hábitos que acompanham o indivíduo ao longo da vida. De acordo com Sauvé (2005), a Educação Ambiental deve ser encarada como um processo de desenvolvimento de uma consciência crítica e cidadã, levando os educandos a compreenderem seu papel como agentes de transformação socioambiental.

A relação entre a formação docente e a Educação Ambiental é fundamental para que as escolas consigam incorporar práticas sustentáveis de maneira eficaz. Formar professores capacitados e engajados com temas ambientais não apenas facilita a implementação de projetos sustentáveis, mas também inspira os alunos a adotarem práticas ecológicas e a desenvolverem uma compreensão mais profunda sobre o impacto de suas ações no meio ambiente (Guimarães, 2007). Segundo Lima (2010), o educador que compreende a importância da sustentabilidade pode se tornar um facilitador, conduzindo os alunos a uma aprendizagem significativa sobre questões ambientais e incentivando atitudes mais conscientes em relação ao uso dos recursos naturais. Segundo Jacobi (2003), a educação ambiental é essencial para fomentar a conscientização ambiental e deve ser trabalhada como um processo contínuo, que promova o protagonismo dos alunos na criação de soluções sustentáveis.

No entanto, a Educação Ambiental ainda enfrenta desafios para ser plenamente inserida nos currículos de formação docente, o que limita a capacidade das escolas de abordarem esses temas de forma mais sistemática e eficiente (Carvalho, 2012). A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n.º 9.795/99, estabelece diretrizes importantes para a inclusão da Educação Ambiental no Brasil. Dias (2004) aborda em suas obras, que tal implementação muitas vezes se limita a iniciativas pontuais e descontínuas, não incorporando plenamente a perspectiva de longo prazo e transversalidade necessária para uma transformação efetiva. Nesse sentido promover projetos que apresentem e desenvolvam a Educação Ambiental em escolas, assim como a proposta apresentada pelo projeto "#UmaEscolaMaisSustentável" tornam-se essenciais, oferecendo uma abordagem prática e interdisciplinar, promovendo o engajamento de estudantes e professores na adoção de práticas sustentáveis.

A implementação das ações de projetos torna-se necessária quando se depara com resultados como o Programa Cidades Sustentáveis (2024) em que o Município de Boquim aparece na posição 4.398 de um total de 5.568 municípios brasileiros, segundo o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC). Este artigo teve como objetivo relatar a experiência da implementação do projeto "#UmaEscolaMaisSustentável" numa escola considerada Centro de Excelência, no Município de Boquim-SE.

METODOLOGIA

A educação ambiental nas escolas é uma ferramenta essencial para promover a sensibilização ambiental e o desenvolvimento de práticas sustentáveis que impactem positivamente as futuras gerações. O projeto "#UmaEscolaMaisSustentável" foi desenvolvido no Centro de Excelência Cleonice Soares da Fonseca, da esfera Estadual, localizado no Município de Boquim-SE na região centro-sul do Estado e distante da capital 87 km. O projeto com perfil interdisciplinar e prático visou promover uma cultura de sustentabilidade dentro e fora da escola, abordando suas atividades, desafios e resultados com o intuito de criar uma série de intervenções que pudessem ser aplicadas no ambiente escolar, com o intuito de conscientizar e educar os estudantes sobre práticas sustentáveis que podem ser replicadas em suas vidas cotidianas.

O colégio possui apenas o Ensino Médio em Tempo Integral e um total de 340 estudantes matriculados, com as aulas iniciando às 07:30 horas e encerrando às 16:35 horas. O projeto teve início em julho de 2022 e se estendeu até dezembro do mesmo ano (2º semestre) como resultado da disciplina eletiva “Inovação e Sustentabilidade", ofertada a partir dos Itinerários Formativos Comuns (IFC) e sugeridos pelos professores das diferentes áreas do conhecimento. Essas disciplinas eletivas são apresentadas aos estudantes no início de cada semestre num evento chamado “Feira das Eletivas” quando os professores apresentam o tema e a ementa da matéria a ser ministrada e por meio de um formulário via Google Forms, os discentes escolhem aquela que mais se identificam. Após a votação e lista de inscritos (Total de 35 estudantes) foram formadas as turmas com discentes do 1º, 2º e 3º Anos. com uma carga horária total de 40 aulas por semestre, sendo duas semanais ministradas na quarta-feira e seguindo o cronograma proposto com atividades específicas.

Foram apresentados e discutidos durante as aulas alguns conceitos fundamentais como Agenda 2030, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Desenvolvimento Sustentável, Resíduos Sólidos, entre outros, que compreendem a parte teórica. Também foram desenvolvidas práticas investigativas em que, de forma ativa, os estudantes caminharam por todo estabelecimento e nas redondezas da instituição, para perceberem e sugerirem medidas ecológicas mais sustentáveis e que pudessem ser implementadas no colégio.

Para alcançar os objetivos de formação ambiental e conscientização ecológica, o projeto foi estruturado em torno de oito medidas iniciais sugeridas pelos integrantes da disciplina (professores e estudantes), sendo que cinco foram efetivadas (Palestras Educativas; Horta auto irrigável; Coleta de papelão e produção de papel reciclado; Segunda-feira sem carne e Produção de cartilha) e três não implementadas durante o período da disciplina (Capacitação e aproveitamento da água condensada do ar condicionado; Coleta de óleo de cozinha para fabricação de sabão caseiro e fabricação de lixeira de caixas de papelão para coleta seletiva). Estas ações permitiram o desenvolvimento de habilidades práticas nos estudantes, promovendo seu envolvimento ativo em questões ambientais e incentivando o diálogo sobre sustentabilidade dentro de suas comunidades.

O desenvolvimento do projeto baseou-se em uma abordagem metodológica prática e participativa, voltada para a sensibilização dos estudantes e da comunidade escolar em relação à sustentabilidade. Essas práticas foram selecionadas para atender às demandas de um projeto de sustentabilidade que é, ao mesmo tempo, viável e replicável em diferentes contextos escolares. Através da disciplina eletiva, os alunos não só participaram da implementação dessas medidas, mas também foram incentivados a compartilhar os conhecimentos adquiridos com seus familiares e comunidades, promovendo assim uma cadeia de sensibilização ambiental.

A metodologia aplicada centrou-se no aprendizado baseado em projetos (ABP), no qual os alunos assumem o protagonismo na execução de atividades práticas e na solução de problemas ambientais locais (Moran, 2015, p.15; Bacich e Moran, 2018, p.27). Esse método se alinha à abordagem de metodologias ativas, onde o foco é proporcionar um aprendizado experiencial e colaborativo. Para alcançar as medidas propostas no projeto utilizamos as seguintes metodologias:

- Palestras Educativas para a Comunidade Escolar

Foram organizadas mensalmente palestras para os 35 estudantes matriculados na disciplina, abordando temas como conservação ambiental, coleta seletiva, práticas sustentáveis no dia a dia e a importância da educação ambiental. Para as apresentações, foram selecionados palestrantes com conhecimentos específicos em suas áreas. Os temas incluíram reciclagem, Agenda 2030, descarte consciente de materiais eletrônicos e problemas do microplástico. Para apresentação das palestras, foram selecionados palestrantes com conhecimentos e práticas específicas em suas áreas de atuação.

- Horta Auto irrigável

A iniciativa visou ensinar práticas sustentáveis, como economia de água e cultivo de alimentos sem agrotóxicos. O processo envolveu etapas de construção, plantio e colheita, com a participação ativa dos estudantes. Para construção da Horta foram utilizadas madeira, garrafa pet, barbante, brita, algodão e areia. E para construção dos cavaletes para fixação das garrafas pet as madeiras foram obtidas em entulhos de construções que não seriam mais aproveitadas pela construtora e, portanto, cedidas pelo dono. Cada garrafa pet é composta por um reservatório de água na parte de baixo em que o barbante transfere a água do reservatório para a terra que está na parte superior funcionando como uma raiz artificial.

- Coleta de Papelão e Produção de Papel Reciclado

A coleta de papelão e papel foi realizada nas residências dos estudantes e na escola. Os materiais coletados foram estocados para venda e experimentação de técnicas de produção de papel reciclado. Com relação a reciclagem do papel e produção de papel reciclado foram realizadas quatro aulas práticas no laboratório de Biologia, onde tínhamos liquidificador industrial, torneiras e pias para facilitar o processo de produção do papel.

- Segunda-feira sem Carne

A prática foi implementada com oficinas de culinária saudável e vegetariana, conduzidas por voluntários. Os estudantes participaram na preparação de pratos e visitaram um restaurante vegetariano para explorar alternativas sustentáveis.

- Produção da Cartilha Uma Escola Mais Sustentável

A cartilha socioambiental foi elaborada pelos próprios estudantes envolvidos que desenvolveram os textos e escolheram as fotos, com o objetivo de ser um recurso educativo acessível, dividida em seções que detalham cada ação sustentável do projeto, contendo instruções passo a passo, orientações de fácil compreensão e ilustrações que facilitam o entendimento dos processos. Seu objetivo era disseminar conhecimento e incentivar a adoção de práticas ecológicas dentro e fora da escola.



RESULTADOS E DISCUSSÃO

- Palestras Educativas para a Comunidade Escolar

As palestras impactaram positivamente os estudantes, levando-os a adotar práticas sustentáveis, como separação de lixo e redução do consumo de carne. No total foram realizadas quatro palestras, que de acordo com Mota (2018), funcionam como um mecanismo poderoso de engajamento, levando o conhecimento além do ambiente escolar e incentivando a disseminação de práticas sustentáveis na comunidade local (Figura 1). Sobre coleta seletiva e conservação ambiental, a ministrante que é coletora ambiental, foi pontual em suas colocações enfatizando a importância da reciclagem dos resíduos sólidos para o município e argumentou como essa coleta contribui para a geração de renda para as famílias locais.

Sobre a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável o palestrante, biólogo e doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente destacou a importância dos mesmos e a urgente necessidade de se colocar em prática para o futuro sustentável do planeta. Sobre o destino dos materiais eletrônicos, um empreendedor local, ressaltou a importância do descarte consciente e seletivo para esses resíduos e finalmente o professor de Química falou sobre os problemas do microplástico na sociedade moderna, enfatizando os diversos problemas causados ao meio ambiente e a saúde humana.

Figura 1 – Palestra com Coletora Ambiental

Os ministrantes se expressaram com conhecimento de causa e por terem vivenciado o que falavam atraíram a atenção e concentração dos estudantes durante suas falas, propiciando momentos de transmissão de conhecimento e receptividade, levando os estudantes a reconsiderarem seu comportamento ambiental e se sensibilizarem a incluir em seu cotidiano mudanças simples, efetivas e permanentes no que diz respeito a práticas sustentáveis. Esse fato se consolida através dos relatos de alguns discentes sobre as mudanças de atitudes adquiridas como, criar o hábito de separar o lixo de forma seletiva, economizar água e energia elétrica, adotar pelo menos uma vez ao mês o não consumo de carnes, a procura de alimentos mais saudáveis e orgânicos.

- Horta Auto irrigável

Os estudantes desenvolveram habilidades práticas e socioambientais ao participar da construção e manejo da horta. Tendo como principal objetivo o cultivo de hortaliças sem a necessidade de regá-las com frequência, economizando tempo e água, a construção de uma horta auto irrigável foi uma das iniciativas centrais do projeto, permitindo que os estudantes acompanhassem o cultivo de alimentos saudáveis e desenvolvessem uma conexão direta com a natureza, percebendo o ciclo natural de crescimento das plantas cultivadas e responsabilidade ao cuidar das mesmas (Figura 2). Segundo Lima (2015), o contato com atividades de cultivo agrícola em um ambiente escolar pode estimular o respeito pela natureza e uma compreensão mais clara sobre a importância da alimentação saudável.

Figura 2 – Horta Auto irrigável

Com o manejo da horta auto irrigável, além de competências críticas e reflexivas em relação ao consumo consciente e ao impacto ambiental, os estudantes desenvolveram habilidades práticas e competências socioambientais. Com os 150 recipientes construídos foram coletados alfaces, rúculas, coentros, cebolinhas, manjericões e hortelã miúda, sem uso de nenhum agrotóxico. A participação e interesse dos estudantes durante o projeto foi contínuo tanto para a limpeza quanto para a irrigação, embora não tenha sido homogêneo. Essa atividade teve uma duração de 5 meses entre construção, plantação e colheita, ressaltando que os produtos colhidos foram consumidos na própria escola, nas saladas preparadas pelas cozinheiras num momento de partilha e comemoração pelos resultados.

- Coleta de Papelão e produção de papel reciclado

A coleta de papelão e papel das residências dos estudantes e da escola teve início logo nas primeiras aulas da disciplina com a participação maciça dos discentes como uma ação de sensibilização sobre a reciclagem e reutilização de materiais, sendo estocados na instituição para a venda com o objetivo de adquirir livros digitais e produzir papel reciclado. Silva (2019) observa que iniciativas de coleta seletiva nas escolas incentivam uma postura mais crítica dos estudantes sobre a quantidade de resíduos que produzem, levando-os a refletir sobre formas de consumo mais conscientes.

Com a experimentação de várias técnicas observadas na internet para a melhoria do produto, chegou-se a produção de um papel de boa qualidade e dobrável, porém com custo alto de energia e mão-de-obra, tornando a medida ineficaz para aquele momento. Vale ressaltar que houve uma evolução na confecção do papel reciclado durante o processo, concluindo que é possível investir nessa área podendo gerar lucro numa futura oportunidade (Figuras 3 e 4). Quanto a coleta de papelão, gerou-se rapidamente um problema de logística (armazenamento desse material) no colégio, o que impediu a implementação desta medida sustentável. Por iniciativa dos próprios estudantes os materiais coletados foram doados a cooperativa de catadores de materiais recicláveis do Município de Boquim – CONSCENSUL.

Figuras 3 e 4 – Papéis reciclados produzidos

- Segunda-feira sem Carne

A prática da "Segunda-feira sem Carne" foi implementada com o intuito de incentivar a reflexão sobre os impactos ambientais da produção de carne e promover hábitos alimentares mais sustentáveis. Segundo a FAO (2021), a redução do consumo de carne é uma das medidas recomendadas para diminuir a pegada de carbono e preservar os recursos naturais. Essa iniciativa buscou despertar nos estudantes o interesse por uma alimentação mais saudável e sustentável, com ênfase no impacto ambiental de suas escolhas alimentares.

A medida foi implementada contando com Oficina de culinária saudável e vegetariana (Figuras 5 e 6) com participação da voluntária de uma (Chef Vegana) e atuação efetiva dos estudantes envolvidos, na produção dos próprios alimentos, no cardápio foram produzidos bife de legumes, bobó de banana da terra, estrogonofe de batata inglesa acompanhados de arroz. Houve também a visita dos estudantes a um Restaurante Vegetariano, localizado no Município de Lagarto – Sergipe, o “Salutare Veg”, mostrando aos mesmos novas possibilidades na alimentação sustentável.

Figuras 5 e 6 – Oficina de Culinária saudável e vegetariana

A segunda sem carne, movimentou alguns discentes e até mesmo funcionários da cozinha, com a sugestão de introduzir um cardápio vegetariano no colégio, o que surpreendentemente teve uma aceitação acima do esperado (estudantes da disciplina tiveram a ideia de fazer um levantamento de quantos discentes aceitariam experimentar um cardápio sem carne e o resultado obtido foi de 132 pessoas). A oficina despertou o interesse em aprender mais sobre a culinária vegetariana e aos poucos inserir no dia a dia, pois as receitas ensinadas além de práticas demonstraram aceitação no paladar dos estudantes. O bobó de banana da terra, o bife de legumes e o estrogonofe de batata inglesa mostram-se como alternativas viáveis para serem inseridos no cardápio escolar ao longo do tempo em todas as escolas do Estado de Sergipe, sendo uma medida com potencial replicável.

- Produção de Cartilha Uma Escola Mais Sustentável

Segundo Silva (2019), o uso de cartilhas educativas em ambientes escolares contribui significativamente para a criação de uma consciência ecológica, pois oferece um material acessível e focado, capaz de facilitar a assimilação de conteúdos complexos de maneira prática e visual. Com a cartilha, buscou-se não só instruir sobre o uso consciente dos recursos naturais, mas também incentivar a prática de ações sustentáveis que possam ser replicadas fora da escola, alcançando a comunidade. Estudos demonstram que materiais impressos e ilustrados, como as cartilhas, são eficazes para fixação de conteúdos em educação ambiental (Rodrigues & Silva, 2019).

A cartilha (Figura 7) apresentou as medidas adotadas: palestras educativas, horta auto irrigável (Figura 8), coleta de papelão e produção de papel reciclado e a segunda sem carne. Também apresentou estratégias para controle do consumo de eletricidade (Figura 9) com o objetivo de promover a sensibilização sobre o uso eficiente desses recursos. Contendo orientações sobre o desligamento de lâmpadas e ar-condicionado ao fim das aulas, com o intuito de reduzir o desperdício energético. Souza e Miranda (2018) destacam que o monitoramento e o controle dos hábitos de consumo nas escolas podem impactar significativamente a redução do consumo de energia e água, além de fomentar uma cultura de responsabilidade ambiental entre os estudantes e o corpo docente.

Figuras 7 – Cartilha Figura 8 – Horta Auto Irrigável Figura 9 – Controle de energia

O conteúdo da cartilha foi baseado nos resultados das medidas citadas e em pesquisa bibliográfica sobre práticas sustentáveis e metodologias de educação ambiental, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2, 3, 4, 7, 11 e 12 da ONU. (Figura 10). É importante ressaltar que, segundo o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC), há indicadores específicos para medir o progresso de cidades e comunidades em relação aos ODS, o que torna importante a introdução de práticas sustentáveis desde o contexto escolar para contribuir positivamente com esses índices (Programa Cidades Sustentáveis, 2024). Ao distribuir a cartilha, buscamos não apenas transformar a prática escolar, mas também levar essa consciência para o ambiente familiar dos estudantes e, assim, impactar a comunidade.

Figura 10 – Alinhamento de medidas implantadas com ODS

A elaboração e distribuição da cartilha sobre consumo consciente foi uma ferramenta essencial para reforçar as práticas sustentáveis entre os alunos e a comunidade escolar. Ela possibilitou que os conceitos trabalhados em sala fossem documentados e acessíveis de forma prática, promovendo a consulta e a aplicação contínua das orientações de sustentabilidade. Esse material consolidou o aprendizado dos alunos, ao mesmo tempo em que serviu como um registro das práticas implementadas e uma referência de fácil acesso para a comunidade escolar. Foram confeccionadas 50 cartilhas distribuídas pelas salas, e alguns participantes da eletiva faziam questão de ir em todas os recintos da escola para desligar todos os aparelhos eletrônicos e elétricos. A cartilha socioambiental desempenhou um papel crucial no projeto “#UmaEscolaMaisSustentável”, pois é uma ferramenta educativa que consolida as práticas e os conhecimentos discutidos em sala de aula e sua utilização se estendeu até o primeiro semestre de 2023 com a renovação da Disciplina Eletiva. Segundo Rodrigues e Silva (2019), a criação de cartilhas em programas de educação ambiental facilita a disseminação de práticas sustentáveis e a sensibilização de forma acessível, proporcionando um meio de consulta contínua para os alunos e a comunidade.

A experiência também sugere que práticas sustentáveis integradas ao currículo escolar, como as implementadas no projeto, podem transformar o ambiente escolar em um espaço de aprendizado e experimentação ambiental. Isso vai ao encontro da visão de Carvalho (2012), que aponta a necessidade de uma educação ambiental que transcenda a teoria e permita que os alunos experimentem e vivenciem práticas sustentáveis em sua vida escolar.

Além disso, o uso da cartilha como material de apoio demonstrou ser uma estratégia eficaz para reforçar o aprendizado e facilitar a replicação das práticas. Em termos de inovação, a adoção de medidas como a coleta de óleo e água condensada do ar-condicionado trouxe soluções sustentáveis para questões cotidianas, mostrando que a escola pode adotar uma postura ativa em práticas de conservação ambiental. Isso não só cumpre o objetivo de promover a sustentabilidade no ambiente escolar, como também cria um ambiente de inovação, no qual os alunos podem visualizar e participar de soluções ecológicas viáveis.

- Ações planejadas mas não implementadas

Algumas medidas planejadas para inserir no projeto não foram implementadas por circunstâncias diversas, a saber:

1) captação e aproveitamento da água condensada do ar-condicionado, sendo que, água coletada teria a finalidade de regar plantas e limpeza de áreas comuns da escola, integrando práticas sustentáveis de reutilização de recursos. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (2020), combater o desperdício de água, continua sendo um dos maiores desafios ambientais no Brasil. No entanto, a prática não teve sucesso, devido à dificuldade em sua implementação, levando em consideração todo o processo envolvido, como: instalação de canos, presilhas e baldes para coleta, acompanhamento e recolhimento da água coletada. Tendo em vista que os estudantes e professores têm sua carga horária preenchida pelas atividades escolares em geral, e a execução dessa medida demandaria dedicação e acompanhamento contínuo para obter sucesso;

2) coleta de óleo de cozinha usado nas residências dos alunos e na escola para a fabricação de sabão caseiro, com o intuito de evitar a poluição ambiental decorrente do descarte inadequado desse material. Segundo estudos de Costa e Almeida (2017), o descarte inadequado de óleo é uma das principais causas de poluição da água. No entanto a implementação desta medida não se consolidou por desinteresse dos participantes, tanto estudantes quanto professores;

3) fabricação de lixeiros de caixas de papelão para coleta seletiva de resíduos sólidos em diferentes pontos da escola. Estas caixas serviriam como uma ferramenta visual e prática para reforçar o hábito de separar resíduos recicláveis. Estudos de Reis e Silva (2016) indicam que práticas de coleta seletiva são essenciais para a construção de uma consciência ambiental coletiva, promovendo a destinação correta dos resíduos e reduzindo o impacto ambiental. Em virtude da aquisição de lixeiros de coleta seletiva por parte do colégio, essa medida se tornou desnecessária. É importante frisar que as medidas que não deram certo podem ser implementadas em outras instituições de ensino e que as mesmas devem ser criadas de acordo com as necessidades ambientais de cada colégio.

As práticas realizadas no projeto demonstraram que ações bem estruturadas podem gerar impactos significativos na formação de uma sensibilização ambiental, tanto entre os estudantes quanto na comunidade escolar. Através da implementação de medidas práticas e educativas, foi possível perceber um engajamento inicial promissor, com resultados que transcenderam o ambiente escolar, como a adoção de hábitos sustentáveis no cotidiano dos estudantes e suas famílias. Embora alguns desafios tenham surgido durante o processo, como a logística de armazenamento e o acompanhamento contínuo de certas atividades, os resultados obtidos reforçam o potencial transformador da educação ambiental integrada ao currículo escolar. Essas iniciativas não apenas despertaram nos estudantes o interesse por práticas ecológicas, mas também os capacitaram como agentes de mudança, evidenciando que a sustentabilidade é uma meta alcançável quando promovida de forma colaborativa e prática.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto “#UmaEscolaMaisSustentável” destacou-se pela implementação de cinco práticas principais: palestras educativas, horta autoirrigável, coleta de papelão e produção de papel reciclado, a iniciativa "Segunda-feira sem Carne" e a elaboração de uma cartilha socioambiental. Essas ações proporcionaram aos estudantes uma vivência prática da sustentabilidade, ampliando sua sensibilização ambiental e promovendo mudanças significativas em seus hábitos diários. Além disso, o envolvimento da comunidade escolar evidenciou o potencial multiplicador dessas práticas, demonstrando que a educação ambiental pode transformar o ambiente escolar e impactar positivamente a comunidade local.

Durante a execução do projeto, algumas dificuldades foram identificadas, como a adesão irregular dos participantes nas atividades práticas e desafios logísticos relacionados ao armazenamento de materiais recicláveis. Essas limitações reforçam a importância de estratégias que incentivem o engajamento contínuo e a colaboração entre todos os envolvidos, garantindo maior consistência no cumprimento dos objetivos propostos.

Apesar dessas lacunas, o projeto revelou-se uma ferramenta eficaz para integrar a educação ambiental ao cotidiano escolar, promovendo uma formação socioambiental transformadora. As práticas implementadas não apenas alcançaram os objetivos propostos, mas também criaram um modelo replicável que pode ser adaptado por outras instituições. A experiência demonstrou que ações simples, quando realizadas de forma colaborativa, podem gerar impactos duradouros, formando cidadãos mais conscientes e comprometidos com a preservação do meio ambiente.



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Ilustrações: Silvana Santos