Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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12/03/2015 (Nº 51) ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA E AMBIENTAL DE UM SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM RESIDÊNCIAS
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ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA E AMBIENTAL DE UM SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM RESIDÊNCIAS

 

Sílvio Lacerda de Oliveira1, Roberto Araujo Bezerra1, Francis Lee Ribeiro2, Kenia Alves Pereira Lacerda3

 

1 - Doutorando em Ciências Ambientais, Universidade Federal de Goiás. E-mail: silvio.lacerda@bol.com.br

2 - Doutora em Economia Aplicada, docente da Universidade Federal de Goiás. E-mail: francisleerib@gmail.com

3 - Doutoranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Goiás, docente do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Goiás. E-mail: kenialacerdaalves@gmail.com

 

 

Resumo

A demanda de água no mundo industrializado tem resultado em uma crescente necessidade de tecnologias de coleta, reuso e utilização racional deste recurso cada vez mais escasso. Uma alternativa para tal problemática é a coleta e utilização de águas pluviais, o que caracteriza uma possível solução ambiental. O presente trabalho teve como objetivo a avaliação econômica e ambiental de um sistema de captação de águas pluviais em residências. Um dos obstáculos para implantação de projetos de aproveitamento de água pluviais é a falta de divulgação desta tecnologia, bem como dados sobre custos que envolvem a implantação deste tipo de projeto. Diante desta constatação, é fundamental difundir conhecimentos que possibilitem práticas sustentáveis e incentivem o uso racional dos recursos naturais. A análise de custos apontou um investimento de R$ 2.835,00 para implementar o projeto em uma casa de 83 m2, com uma economia anual de R$ 466,80. A adoção de sistemas de coleta de água pluvias para armazenamento e uso, mesmo não sendo um excelente investimento do ponto de vista estritamente econômico, é uma alternativa a ser considerada nos programas governamentais, que dentre outros benefícios, minimiza os problemas consequente da impermeabilização do solo em áreas urbanas. Para uma mudança de atitude por parte da comunidade, a implementação deste tipo de projeto deve ser precedida de ações de educação ambiental, em programas de uso racional da água.

Palavras chave: águas pluviais, aproveitamento, análise econômica e ambiental.

 

Introdução

Atualmente o meio ambiente vem se destacando amplamente na imprensa, nos meios técnicos e científicos das ciências naturais, na administração pública e até no campo político. Há uma diversidade de problemas que demandam atenção por parte da sociedade. Dentre estes, destaca-se a água, tanto por ser um dos mais preciosos recursos ambientais, uma vez que é indispensável para a vida no planeta quanto por estar se tornando um bem cada vez mais escasso.

Apesar da água ser encontrada em quase toda parte do planeta, a grande maioria está nos oceanos. Segundo Rebouças (2004) apenas 2,5% da água presente no globo é água doce. A distribuição natural deste recurso não é uniforme no planeta, existem regiões no Brasil, como o Nordeste, que sofrem com sua carência, pela baixa pluviosidade e baixa regularidade de ocorrência de precipitações.

Embora o Brasil tenha uma  posição privilegiada  em termos de reservas hídricas,  nota-se que a distribuição desta água não é equilibrada. Segundo Werneck (2006) 80% da água brasileira se encontra na região amazônica, onde habita 5% da população nacional, e vários centros urbanos no país já sofrem problemas de abastecimento.

Para Lima et al., (2011) esta escassez da água doce é devida a fatores como o consumo excessivo de água bruta, mudanças climáticas, poluição e o consumo insustentável dos recursos hídricos. Esse problema tem gerado preocupação e incentivado ao racionamento e à busca de soluções alternativas para a escassez e campanhas para um uso racional.

Na maioria das edificações a água potável é utilizada para a realização de quase todas as atividades, sem uma análise prévia da qualidade da água necessária. O conceito do uso racional para a conservação da água consiste na associação da gestão, não somente da demanda, mas também da oferta de água, de forma que usos menos nobres possam ser supridos, sempre que possível, por água de qualidade inferior (OLIVEIRA et al, 2007).

Dentre as alternativas disponíveis, destaca-se a captação e aproveitamento de água pluvial precipitada para fins não potáveis, tais como, descargas de vasos sanitários, irrigação de jardins, limpeza de pisos e calçadas. Hagemann (2009) aponta este aproveitamento como uma solução para a redução do consumo de água potável. 

Com um adequado sistema de captação da água pluvial é possível reduzir o consumo de água potável, gerando diversos benefícios, como economia financeira por uma menor utilização de água do sistema público, disponibilização de água potável para um número maior de pessoas, diminuição do problema de escoamento de água de chuva, que gera alagamentos e enchentes, podendo contribuir para a diminuição do pico de inundações (TOMAZ, 2003).

Lima et al. (2011) citam outros aspectos positivos no uso dos sistemas de aproveitamento de água pluvial: utilização de estruturas existentes na edificação (telhado, lajes e rampas); baixo impacto ambiental; água com qualidade aceitável para vários fins, com pouco ou nenhum tratamento; redução dos investimentos na captação da água em mananciais cada vez mais distantes das concentrações urbanas para atender a demanda diária e a de pico; menor entropia, ou seja, redução dos custos energéticos de transporte e dos custos de tratamento, pois a água terá o nível de tratamento adequado a seu uso (o custo energético representa de 25 a 45% do custo total das operações de sistemas de abastecimento de água); melhor distribuição da carga de água pluvial imposta ao sistema de drenagem.

Um dos obstáculos para implantação de projetos de aproveitamento de água pluviais é a falta de divulgação desta tecnologia, bem como dados sobre custos que envolvem a implantação deste tipo de projeto.

A proposta deste artigo é realizar uma análise de viabilidade econômica de um projeto para captação de água de chuva para uso em residências, com base em dados disponíveis na literatura científica, custos reais de implantação e propor um modelo de análise para este tipo de empreendimento, baseado nos dados de cada residência e dos resultados que cada proprietário pretende alcançar. Podendo estes dados serem utilizados em trabalhos de Educação Ambiental.

 

 

 

Metodologia

Inicialmente, pretende-se mostrar os dados médios de consumo de água no país, e junto com a revisão bibliográfica, estabelecer os materiais necessários para a implementação de um sistema simplificado, mas eficiente, para coleta de água de pluvial, permitido finalmente a análise econômica do sistema com base na Taxa Interna de Retorno (TIR) e o payback, que seria o tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acumulado se iguala ao valor desse investimento, caso a taxa de retorno seja positiva.

Neste exercício trabalharemos com uma residência de 83 m2 (anexo 1) com 04 moradores, nas condições pluviométricas de Jataí-GO, cidade representativa do Centro-Oeste.

Os sistemas de coleta e aproveitamento de água pluvial devem ser independentes e isolados do sistema de abastecimento convencional, e consistem, de maneira geral, na coleta; condução; armazenamento; tratamento (facultativo) e distribuição. A captação é a coleta da água da chuva que cai sobre os telhados ou lajes da edificação. Através de calhas esta água é conduzida até o local de armazenamento, passando por equipamentos de filtragem e descarte de impurezas, onde poderá ser desviada as primeiras águas de chuva (first flush).

Quando a primeira chuva da temporada começa a cair, as primeiras águas literalmente lavam o telhado, trazendo todos os contaminantes que devem ser evitados no sistema, tais como detritos, fezes de animais, folhas, poeira. Werneck (2006) recomenda o dispositivo desenvolvido por NETO (2003) para desvio automático das primeiras águas da chuva através de uma conexão “T” intercalada no tubo que conduz à cisterna, a água é direcionada a um pequeno reservatório que, ao ficar cheio, faz com que a água siga para a cisterna. Este dispositivo, que pode ser construído no próprio local com tubulação comum e argamassa ou concreto, dispensa a presença de uma pessoa para manuseá-lo no momento de início da chuva. No entanto, este pequeno reservatório deve ser esvaziado antes do início da chuva seguinte, para que o desvio das primeiras águas ocorra novamente. Existem modelos automáticos, como o desenvolvido por TEXAS WATER DEVELOPMENT BOARD (2005) com desvio automático das primeiras águas da chuva (standpipe), onde não há um volume exato de água a ser desviado no primeiro fluxo. Este volume varia em função do número de dias secos, do montante e do tipo de sujeiras acumuladas, da projeção de árvores por sobre as coberturas, etc. O documento cita indicações que variam de 40 a 200 litros para cada 100 m² de área de captação.

As pesquisas feitas mostram que o first flush varia de 0,4 L/m2 de telhado a 8 L/m2 de telhado conforme o local. Na falta de dados locais, Tomaz (2003) sugere o uso do first flush no valor de 2 L/m2 de área de telhado.

É recomendável a utilização de telas sobre as calhas ou grelhas nos tubos de quedas para conter detritos de maiores dimensões como folhas. No entanto, estes sistemas requerem constante manutenção.

Após passar pelo filtro, a água é armazenada em reservatório, que pode ser enterrado, tipo cisterna ou suspenso tipo caixa d`água, de onde as tubulações irão distribuí-la para o consumo não potável.

O tratamento da água pluvial depende da qualidade da água coletada e de seu uso final. A coleta de água para fins não potáveis não requer grandes cuidados de purificação, embora certo grau de filtragem, muitas vezes, seja necessário. Para um tratamento simples, podem-se usar processos de sedimentação natural, filtração simples e cloração (MARINOSKI, 2003).

Para o planejamento do sistema de captação, armazenamento e análise financeira é necessário conhecer ou estimar o consumo da residência onde o sistema será implementado.

De acordo com Netto et al. (1998), o consumo de água é influenciado por fatores como o clima, o padrão econômico da população, o número de habitantes da cidade, os hábitos da população, o sistema de fornecimento e cobrança da água, o custo da água entre outros.

Em países europeus o consumo por pessoa por dia está situado entre 150 e 250 litros, enquanto que nos Estados Unidos este consumo é superior a 300 litros por pessoa por dia (OLIVEIRA, 2005)

No Brasil, em residências de cidades de porte médio o consumo chega a 200 litros por habitante por dia, podendo elevar-se até 400 litros em bairros de nível econômico mais elevado e reduzir-se para valores de 120 litros por habitante por dia em cidades de menor porte (OLIVEIRA, 2004). Normalmente, projetos de sistemas prediais hidráulicos consideram o consumo de água diário per capita de 150 l/hab.dia (Gonçalves, 2011). De acordo com o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento, no ano de 2011 foi atribuído o valor médio de 160 l/hab.dia, conforme mostra a tabela 1.0, embora exista uma tendência de alta com o aumento do poder aquisitivo da população. Logo, no exercício em tela, uma família de 4 pessoas consumiria 19.200 L mês ( 4 X 160 X30). Em caso de novas edificações, o consumo de água é uma estimativa, mas para edificações existentes, baseia-se no consumo real.

 

Tabela 1.0 – Consumo médio de água em cada região do Brasil, nos anos de  2004 e 2011.

 

 

Consumo Médio de Água (l/hab.dia)

Região

2004    2011

Norte

111,7 – 151,2

Nordeste

107,3 – 120,6

Sudeste

147,0 – 189,7

Sul

124,6 – 147,9

Centro-Oeste

133,6 – 157,5

Brasil

141,0 – 162,6

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: SNIS, (2011).

 

 

Werneck (2006) em uma revisão abrangente, analisando residências do Brasil, colômbia, Eua, Alemanha, Reino Unido,Suiça, aponta que 50% do consumo de água de uma residência poderia ser de água não potável. Como nesta análise o gasto seria de 19.200L mês, cerca de 9.600 L poderiam vir de captação da água de chuvas.

            Para o cálculo do reservatório é necessário conhecer o consumo diário (Cd) e a autonomia do sistema mesmo que não chova (prazo de intermitência). Obviamente quanto maior o reservatório maior a independência do sistema público de abastecimento, mas também maiores os custos. Foi adotado um periodo de intermitência de 15 dias. Como a residência em estudo recebe água tratada regularmente pelo abastecimento público, não há necessidade de se armazenar água por longos períodos. O dimensionamento do reservatório parte do princípio que ao acabar o estoque de água de chuva, será consumida água potável mesmo nos pontos de consumo não potável.

A obtenção do registro histórico das precipitações é fundamental para o dimensionamento do sistema de coleta de águas pluviais. Através dele, observa-se não só a quantidade de água precipitada diariamente e/ou mensalmente, mas também os períodos sem chuva.

Existem no Brasil várias entidades que, na maioria dos casos, podem fornecer os índices pluviométricos, como por exemplo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e diversas Universidades e Institutos Federais, que fornecem este dados gratuitamente.

Para Jataí/GO foi encontrado o valor de 1.621 mm/ano, concentradas nos meses de setembro a maio, conforme tabela 2.0. A média mensal, mesmo considerando os meses com baixa precipitação, ficou em 135 mm/mês. Foi adotado o valor conservador de 100 mm/mês, para os cálculos de implantação, coleta e viabilidade, e 8 meses com ocorrência de precipitação, dados semelhantes aos encontrados por Cruz et al (2006).

 

TABELA 2.0: histórico das precipitações do município de Jataí entre 1999 e 2013, em mm mensais e anuais.

meses

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

média

janeiro

147,1

287

295

323,6

240

268

228

102

276

303

141

190,4

245

342

279

244,34

fevereiro

200

219

206

416,6

229

363,4

82,1

226

295

317

217

214,5

240

327

204

250,51

março

273,9

428

108

318,8

270

125,8

381

290

152

384

222

358

359

274

371

287,73

abril

34,7

81,4

62

29,1

158

107,5

72,9

162

66,3

244

53,6

165,4

92,6

182

162

111,49

maio

2,4

3,3

192

65,8

32,1

37,2

34,9

17,1

60,1

61,7

16,2

6,3

24,8

49,8

39,4

42,88

junho

3,1

0

12,2

0

0

8

2,4

1,7

4,5

2,3

29,3

2,1

30

52,3

9,2

10,47

julho

0

3

6,6

28,3

0

15,1

0

9,6

31,2

0

5,8

4,1

0

3,1

0,3

7,14

agosto

0

22,5

33,6

19,2

10,4

0

11,7

11,3

0

0,6

20,3

0

5,5

0

2,6

9,18

setembro

80,7

64,7

65,6

38,6

21,6

8,6

73

58,9

21,4

12,3

198

9,9

19,2

74,5

6,7

50,26

outubro

101,8

139

80,3

69,5

198

105,6

86,5

216

104

150

207

197,2

114

77,5

97,4

129,59

novembro

183,5

206

274

96

58

210,3

169

182

215

194

289

201,7

124

286

140

188,48

dezembro

229,9

264

445

267,5

304

376,5

450

350

248

211

333

216,3

260

155

227

289,13

mm/ano

1257

1718

1780

1673

1521

1626

1591

1627

1475

1879

1733

1566

1514

1822

1537

1621,24

Fonte: INMET, 2014

 

O Consumo Diário de Água (Cd) é obtido pelo seguinte cálculo

Cd = N x CI

Onde:

N = número de moradores da residência

CI = consumo estimado ou real por morador da residência

Cd = 4 x 160 = 640 L dia

Consumo Diário de Água Não potável(Cdnp)

Cdnp = Cd x S

Onde:

Cd = consumo diário

S = % de água não potável no consumo total, padronizado em 50%

Cdnp = 640 x 50% = 320 L

Volume a ser armazenado (V)

V = Intermitência x Cdnp

Intermitência: 15 dias

Cdnp =320

V = 15 x 320 = 4.800 L, um reservatório de 5.000 litros atenderia esta demanda.

Para o cálculo da quantidade de água que poderá ser coletada no sistema, necessariamente deve se conhecer a área do imóvel, considerando como área de captação a projeção horizontal da cobertura sobre o solo, acrescido de beirais, quando este existirem, na variação de 30 a 50 cm de cada lado. A construção analisada possui 83 m2, laterais com 11,35 x 7,35 m, com os beirais de 32,5 cm na parte mais larga e 0,30 cm nas demais extremidades, resultando nas medidas 12 x 7,95 m = 95,4 m2 de área de captação (anexo 2). Utiliza-se a seguinte equação:

Q =I x A x Coeficientede runoff,

onde:

Q = quantidade de água coletada no mês

I = intensidade pluviométrica (mm/mês), 100 mm nesta análise.

A = área de captação (m²),95,4 nesta análise.

Coeficiente de runoff = adota-se o valor fixo de 0,8, correspondendo as perdas por evaporação, retenção ou respingo.

Q = 100 x 95,4 x 0,8 = 7.632 L

Um sistema eficiente depende de calhas dimensionadas de acordo com a intensidade pluviométrica da região e área de captação, de forma a evitar empoçamentos e que a água derrame, ocasionando menor eficiência. Deverá ainda atender a ABNT NBR 10844/89.

Vários autores, como Tomaz (2003) e Macintyre (1996), apresentam fórmulas para o cálculo da vazão de água na calha e para o dimensionamento desta. Embora pluviosidade e vazão seja um dado variável em cada local, na falta deste dado, pode se adotar um valor padrão, 200 mm/h, com boa margem de segurança (TOMAZ, 2003). Não é a quantidade total de água precipitada, mas sim a quantidade em um determinado tempo. Por isso, o cuidado ao consultar os registros históricos. O que importa para dimensionamento das calhas e condutores é a intensidade pluviométrica, isto é, os litros por minuto.

Conforme NBR 10844/89 a vazão na calha é dada pela equação:

Q= I x A / 60

Sendo:

Q= vazão de pico (litros/min)

I= intensidade pluviométrica (mm/h)

A= área de captação (m2)

A = 200 x 95,4 / 60 = 318 L/min

Como a construção em análise possui duas águas simétricas (2 sentidos de declividade do telhado, este valor é dividido por 2 no dimensionamento de calha).

318 L/min / 2 = 159 L/min para cada lado do telhado.

O dimensionamento da calha é feito utilizando a fórmula de Manning:

Q= 60000 x (A/n) x R (2/3) x S 0,5

Sendo:

Q= vazão de pico (L/min)

A= área da seção molhada da calha (m2)

n= coeficiente de rugosidade de Manning. Para concreto n=0,013 e para plástico n=0,011.

R= raio hidráulico= A/P = r/2 (raio hidráulico ou raio médio, que equivale à razão entre a área molhada e seu perímetro. Para calhas semi-circulares, encontra-se que R = r/2:

onde r é o raio da calha, Werneck, 2006)

P= perímetro molhado (m)

S= declividade da calha (mm/m) que equivale à razão entre a variação de altura

ao longo da calha e seu comprimento até o início do cano de condução para o reservatório. Existem tabelas com dados de vazão e condução que facilitam este dimensionamento (tabela 3.0).

Tabela 3.0 – Capacidade das calhas semicirculares.

Capacidade dos condutores horizontais (calhas) – vazão em litros/minuto.

Diâmetro do tubo D (mm)

Tipo de material: plástico, fibrocimento, aço e metais não ferrosos

Inclinação 0,5%

Inclinação 1%

Inclinação 2%

Inclinação 4%

50

32

45

64

90

75

95

133

188

267

100

204

287

405

575

125

370

521

735

1.040

150

602

847

1.190

1.690

200

1.300

1.820

2.570

3.650

Fonte: http://www.sempresustentavel.com.br/

 

Consultando a tabela 3.0 percebe-se que uma calha com diâmetro de 100 mm atende com segurança a demanda de 159L/min, mesmo com declividade de 0,5%.

Desta forma, condutores de 100 mm, por serem em seção cheia, serão suficientes para conduzir ao reservatório.

Para o estudo de viabilidade, é preciso conhecer o custo de utilização da água tratada via sistema oficial de abastecimento, no caso as tarifas praticadas pela empresa Saneamento de Goiás S/A - SANEAGO.

A maioria das empresas de fornecimento de água tratada cobra de seus consumidores tarifas progressivas, de forma diferenciada dependendo da quantidade de água consumida e tipo de consumo, residencial, comercial ou industrial, conforme se pode concluir pela análise da tabela 4.0.

 

Tabela 4.0 - Estrutura tarifária praticada pela empresa Saneamento de Goiás S/A – SANEAGO em 2014.

:: TARIFAS DE ÁGUA E ESGOTO ::

    Categorias

Faixas de Consumo/Economia (m3/mês)

Tarifas

Água (R$/m3)

Esgoto (R$/m3)

Coleta e afastamento

Tratamento

Residencial Normal

1 a 10

2,45

1,79

0,49

 

11 a 15

2,78

2,03

0,56

 

16 a 20

3,17

2,32

0,63

 

21 a 25

3,60

2,63

0,72

 

26 a 30

4,07

2,97

0,81

 

31 a 40

4,64

3,39

0,93

 

41 a 50

5,24

3,83

1,05

 

acima de 50

5,98

4,37

1,20

Fonte: SANEAGO https://www.saneago.com.br/site/agencia/tabela.php?servicos=0

 

A análise de custo e viabilidade econômica é feita com base no custo total de instalação, derivada de materiais, mão de obra de instalação (anexo 3) e a economia que se consegue pela substituição da água da rede pública pela água captada no sistema de coleta de água pluvial. Os custos com mão-de-obra foram obtidos através de uma estimativa de preço realizada por profissionais especializados em execução de projetos hidrossanitários.

A residência em análise, com um consumo diário de 640 litros, totalizaria 19.200 litros mensais ou 19,2 m3= 20 m3 para fim de tarifação, totalizando o valor mensal de R$ 63,40. Com a utilização de água de chuva só se utilizaria 9,8 m3 da rede pública, no valor de R$ 24,50 a economia seria de R$ 38,9 mensais, R$ 466,80 ao ano, pois o consumidor mudaria de faixa de consumo. Não consideraremos a redução do valor na taxa de esgoto na análise econômica, por razões éticas, pois o esgoto continuaria a ser emitido, mas o cálculo deste, por ser derivada do consumo de água, também sofreria um decréscimo no valor cobrado. O que neste caso representaria uma economia de R$ 42,20 mensais (50% de 20 m3 x 2,28).

A análise de custos, a preços de fevereiro de 2014, considerando um reservatório de 5.000 litros e uma residência de 83 m2, apontou um investimento de R$ 2.835,00 para implementar o projeto (anexo 3); como a economia conseguida foi de R$ 466,80, num cálculo simples, o payback do investimento se daria em 6 anos e 1 mês, ou seja, o prazo para que o investimento seja resgatado pela economia da água.

Inicialmente parece um bom investimento, pois o capital investido de R$ 2.835,00 proporcionaria um retorno de R$ 466,80 ao ano, aproximadamente 16,46% de juros anuais, mas há que descontar os juros remuneratórios sobre o período, que seria o custo de oportunidade, a renda que se conseguiria em outras aplicações, normalmente calculados em 12% ao ano, restando 4,46% de juros reais. Considerando esta taxa, o payback seria de 22,5 anos, o que talvez nao seja tao atrativo.

O valor do reservatório de fibra de vidro de 5.000 L representou  48,74 % dos custos de implementação, poderia se considerar a utilização de um reservatório menor, principalmente em locais com chuvas bem distribuidas. Um reservatório de 2.000 L foi cotado em R$ 490,00 e o de 3.000 L em R$ 700,00 o que reduziria consideravelmente o valor total do sistema, mas teria que ser refeito o estudo para verificar o quanto do consumo seria atendido com esta mudança.

Outras questões que aumentariam a viabilidade do sistema seria o número de moradores na residência, famílias com mais membros poderiam conseguir uma economia maior, e cidades com uma pluviosidade mais uniforme também aumentaria a utilização do sistema.

Werneck (2006) ressalta que se a precipitação é elevada em determinada localidade, pode-se especificar menores reservatórios, o que vem a abaixar o custo do investimento total. Uma grande área de captação permite que o reservatório tenha menores dimensões, por poder se abastecer mais facilmente, mesmo nos meses de seca. Com bons volumes de água armazenada, reduz-se o consumo de água tratada e sua conta, reduz-se o investimento inicial, ao não adquirir reservatórios de grandes dimensões, e o tempo de retorno do investimento.

Na análise deste projeto foram considerados basicamente os custos diretos de capital investido, matéria-prima e mão de obra. Os custos indiretos, como elaboraçào de projeto e acompanhamento não foram considerados, em parte por se tratar de projeto simples, que pode ser elaborado pelo próprio interessado, não considerando o custo de oportunidade. Também não foram considerado os benefícios intangíveis, que requerem alguma interpretação subjetiva para a sua avaliação e quantificação, como por exemplo ter água à disposição mesmo que falhe o abastecimento público, a auto-imagem por estar fazendo algo ambientalmente correto e servir de exemplos para vizinhos, amigos e a comunidade.

Um benefício adicional da adoção de sistemas de captação de águas pluviais seria a redução do volume de água de chuva que seria levada para o sistema público de escoamento, minimizando assim os problemas consequentes da impermeabilização do solo em áreas urbanas.

Em um primeiro momento, os ganhos serão frutos da economia no consumo dos recursos. O exemplo de um proprietário servirá como incentivo a outros indivíduos da comunidade e, quando um número significativo de pessoas praticarem hábitos sustentáveis, poderá ser observada uma melhora na qualidade de vida local, o que, de certo ponto, será fruto do investimento de cada um, porém impossível de ser avaliado por qualquer estudo e viabilidade. Uma redução maciça no consumo de água poderá significar também alguma redução no custo de seu fornecimento ou, no mínimo, a manutenção das tarifas atuais, não ocorrendo aumento excessivo das tarifas futuras (Werneck, 2006).

Financeiramente, ainda deve ser considerada a possibilidade de surgirem incentivos diversos. Como exemplo, pode-se considerar algum incentivo fiscal a ser criado pela Prefeitura, como desconto no IPTU. Este incentivo também poderia vir do estado, da União ou mesmo da empresa responsável pelo fornecimento de água.

Porém nenhum valor de construção do projeto, ou tempo de resgate destes valores substitui a importância ambiental deste tipo de ação.

Considerações finais

A adoção de sistemas de coleta de água pluvias para armazenamento e uso, embora não seja um excelente investimento do ponto de vista estritamente econômico, é uma alternativa a ser considerada nos programas governamentais, que dentre outros benefícios, minimiza os problemas consequente da impermeabilização do solo em áreas urbanas.

A aceitação e adoção do sistema pela sociedade, sua aplicação em programas habitacionais governamentais poderá gerar economia aos proprietários dos imoveis, bem como economizar água potável, além de contribuir para o debate sobre uso racional de água, mas não poderá constituir em ação isolada, sob pena de ser uma ação muito pontual e localizada, com poucos resultados coletivos.

Para um uso eficiente (menor consumo e melhor uso) da água disponível, seja ela proveniente dos sistemas públicos de abastecimento ou de fontes alternativas como é a chuva, é fundamental a conscientização dos usuários do porquê de se poupar a água, pois a cultura de um povo não é algo que se modifique instantaneamente, é necessário todo um processo de mudança, de educação ambiental por meio de ações locais e conscientização para a adoção de novas posturas frente ao meio ambiente.

 

Referências

 

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NETTO, J. M. A.; FERNANDEZ, M. F. Y.; ARAUJO, R. e ITO, A. E. Manual de Hidráulica. 8 ed. São Paulo: Ed. Edgard Blücher, 669p, 1998.

OLIVEIRA, L. H. de, et al. Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável - Levantamento do estado da arte: Água. São Paulo: USP, 2007. Disponível em: Acesso em fevereiro de 2014.

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WERNECK, G. A. M. Sistemas de utilização da água da chuva nas edificações: o estudo de caso da aplicação em escola de Barra do Piraí. Rio de Janeiro: UFRJ/ FAU, 2006.

 

 

 

 

Anexos

1 -  planta baixa da utilizada como referência.

Description: C:\Users\Silvio\Documents\CIAMB\silvio\Economia ambiental\Artigo final\planta baixa (1).jpg

Cortesia: CRC construtora

 

2 – Vista lateral com área de captação.

Description: C:\Users\Silvio\Documents\CIAMB\silvio\Economia ambiental\Artigo final\vista lateral.jpg

 

 

3 - Orçamento dos materiais e mão de obra para implementação do sistema.

Produto  Descrição

Marca

Qtd

Preço unit.

Vlr. total

TUBO ESG 100MM

AMANCO

4,000

37,90

151,60

TUBO ESG  100MM

AMANCO

4,000

37,90

151,60

JOELHO ESG 90 X 100MM

AMANCO

2,000

5,19

10,39

CAP ESG 100MM

AMANCO

2,000

5,42

10,83

LUVA ESG 100MM

AMANCO

2,000

3,55

7,09

ADESIVO 175 GR

AMANCO

1,000

8,52

8,52

ABRACADEIRA TIPO U 2,1/2

UTILAR 

10,00

1,26

12,55

TE ESG 100 X 100

AMANCO

1,000

8,96

8,96

RESERVATORIO 0250 LITROS FIBRA

BAKOF 

1,000

150,24

150,24

BOIA CX D'AGUA 3/4

AMANCO

1,000

7,19

7,19

ADAPT SOLD C/ FLANGE 50 X 1 1/2

AMANCO

1,000

19,48

19,48

RED ESG EXC 100 X 50

AMANCO

1,000

4,41

4,41

REG (BASE) GAVETA 1. 1/2

DOCOL 

1,000

77,23

77,23

ADAPT SOLD CURTO 50 X 1 1/2

AMANCO 

2,000

2,32

4,64

RESERVATORIO 5000 LITROS FIBRA

BAKOF 

1,000

1.382,93

1.382,93

ADAPT SOLD C/ FLANGE 60 X 2

AMANCO 

3,000

24,23

72,68

REG ESFERA SD  60MM

AMANCO 

1,000

52,99

52,99

TUBO SOLD  25MM

AMANCO

2,000

11,20

22,40

JOELHO SOLD 90 X 20LL

AMANCO 

10,000

0,39

3,88

TIJOLINHO MACICO 4,5 X 09 X 19

CERAMIC 

350,000

0,33

115,00

CIMENTO

CIPLAN

15,000

23,12

346,81

AREIA LAVADA

---------

1,000

60,00

60,00

BRITA Nº 0

---------

0,50

45,00

22,50

MÃO-DE-OBRA

 

 

 

 

PEDREIRO/ENCANADOR

---------

4,00

120,00

480,00

 

 

Ilustrações: Silvana Santos