Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/03/2017 (Nº 59) ANÁLISE DA EFICÁCIA DE UMA PALESTRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA PARA O PARQUE ESTADUAL DO MONGE, LAPA-PR
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ANÁLISE DA EFICÁCIA DE UMA PALESTRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA PARA O PARQUE ESTADUAL DO MONGE, LAPA-PR

 

Mariana Meira Micaloski, mestranda em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná, marianamicaloski@hotmail.com.

Alexandre França Tetto, professor doutor do departamento de ciências florestais da Universidade Federal do Paraná, tetto@ufpr.br

 

 

Resumo

 

A Educação Ambiental (EA) visa a construção de valores e conscientização do indivíduo em relação as problemáticas ambientais e conservação do meio ambiente. A Lei do SNUC prevê como um dos objetivos das Unidades de Conservação (UCs) a promoção da educação ambiental. Sendo essa uma das principais estratégias para a conservação da biodiversidade, vê-se a importância de projetos que visem a educação ambiental. Com isso, o presente trabalho teve como objetivo analisar a eficácia de uma palestra sobre unidades de conservação, voltada mais especificamente para o Parque Estadual do Monge, para tal análise aplicou-se um questionário antes e após a palestra. Os resultados mostraram que 87,3% dos estudantes não sabiam o que é uma unidade de conservação, após a palestra esse percentual caiu para 41,8%. Em relação ao Parque do Monge, 73% dos alunos não sabiam qual era o objetivo da área, com os ensinamentos da palestra, 45% dos estudantes compreenderam que o parque tem como objetivo a preservação da natureza. Os dados obtidos mostraram que a palestra surtiu efeito positivo na compreensão dos estudantes em relação às unidades de conservação e em especial ao Parque Estadual do Monge.  

 

Palavras-chave: unidades de conservação, conscientização, percepção ambiental.

 

Abstract

 

Enviromental Perception of the Population of Lapa – Paraná, Brazil regarding Monge State Park

 

Studies of environmental perception contribute to a more rational use of natural resources. Such studies are important for a better understanding of the interaction between man and the environment, and one of the greatest difficulties in protecting ecosystems is the existence of different perceptions of their value and importanceamong individuals from different cultures. The present study aimed to characterize environmental perception of the population of the city of Lapa regarding the Monge State Park, through the application of questionnaires. The results showed that 63.27% of those interviewed did not know what a conservation unit is. Although the municipality has four conservation units, 69.39% are unaware of the existence of such areas in the city. Regarding Monge Park, 48% of respondents stated that they did not know what the park`s objective was, and among the 52% who answered that they knew the park`s purpose, 22% said that thisconservation unit had tourism as its only purpose in the city. Data obtained shows poor understanding of the population on issues related to conservation units and the Monge State Park.

Key Words– conservation unit, full protection, nature conservation

 

 

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) é o processo que visa a construção dos valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências de um indivíduo voltadas para a conservação ambiental (BRASIL, 1999).Carvalho (2006) considera a educação ambiental como uma preocupação dos movimentos ecológicos com a prática de conscientização, sendo ela capaz de chamar a atenção para os problemas ambientais.

Há registros sobre a educação ambiental desde a década de 60, mas seu reconhecimento internacional ganhou significância em 1977, quando foi realizada a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi, na Geórgia, União Soviética, na qual foram estabelecidos a finalidade, os objetivos, os princípios e as estratégias para a promoção da EA, que visavam repensar e rever o desenvolvimento da sociedade (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014).

No Brasil a EA surgiu em 1981, por meio do estabelecimento da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA – Lei nº 6.938) que junto com outros instrumentos legais, como Rio-92, Política Nacional de Educação Ambiental, Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e a Carta da Terra, determinaram os princípios, objetivos e diretrizes da educação ambiental, propiciando sua efetividade no processo de institucionalização como política pública (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014).

Os problemas ambientais estão cada vez mais presentes no cotidiano, mostrando a necessidade de desenvolvimento de trabalhos voltados para as questões ambientais e para a conscientização da população.

Já há a conscientização das instituições de ensino da necessidade de trabalhos que envolvam as problemáticas ambientais e muitas iniciativas estão começando a ser tomadas e incorporadas nos currículos escolares. A educação ambiental nas escolas propicia a formação de cidadãos conscientes sobre a realidade socioambiental do mundo.

As escolas possuem dois papéis principais, o papel educador e o papel social. Em seu papel educador, as escolas têm como objetivo proporcionar a educação formal de direito a todos, e em seu papel social visam a humanização do sujeito, e esta humanização não vem apenas das informações e conceitos disponibilizados nas instituições de ensino, mas também do trabalho realizado sobre a formação de valores e atitudes, com mais ações práticas do que teóricas, para que osestudantes possam aprender a valorizar, respeitar e praticar ações voltadas para a conservação da natureza.

A educação, além de ensinar, deve ter o foco na integração do ensino com a vida, conhecimento com a ética, reflexão com a ação, para que se possa ter uma visão de totalidade (MORAN, 2000). A educação ambiental é uma das áreas de conhecimento dentro da educação marcada pela existência de duas principais abordagens, a educação e a “questão ambiental”. Na prática, ela pretende modificar as relações entre a sociedade e a natureza, objetivando garantir uma melhor qualidade de vida com a sensibilização das pessoas e buscando desenvolver o senso crítico em relação ao ambiente (CERRATI; LAZARINI, 2009).

Segundo a Lei nº 9.985 de 2000, a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), em seu artigo 4º, há a especificação de que um dos objetivos do SNUC é promover a educação e a interpretação ambiental (BRASIL, 2000). Cerrati e Lazarini (2009) afirmam que a educação ambiental é uma das principais estratégias para a conservação da biodiversidade, com isso, sensibilizar e despertar a consciência crítica da população do entorno de uma unidade de conservação têm sido uma prática adotada para estimular a participação da população na proteção dos recursos naturais.

De acordo com Pádua (2012), não há nenhum roteiro pronto de como elaborar projetos de educação ambiental em unidades de conservação, mas é importante que tais metodologias utilizadas estejam adequadas conforme as necessidades da comunidade envolvida.

Nesse contexto, vê-se a importância de projetos que visem o trabalho da educação ambiental com a população do entorno, para que tal população compreenda a importância de sua relação com a unidade de conservação na preservação e conservação do ambiente e seus recursos naturais. 

O presente trabalho teve como objetivo analisar a eficácia de uma palestra sobre unidade de conservação voltada, em especial, para o Parque Estadual do Monge.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

Área de estudo

O Parque Estadual do Monge (PEM) está localizado na cidade da Lapa, uma das cidades mais antigas do estado do Paraná, que teve sua origem ligada ao tropeirismo, quando a cidade era usada como “pouso” aos tropeiros ao longo da “Estrada da Mata”, que fazia parte do Caminho do Viamão, estrada que ligava o Rio Grande do Sul a Sorocaba, em São Paulo (IAP, 2002).

            O município da Lapa está localizado na porção sudeste do estado do Paraná, região metropolitana de Curitiba, a 62,8 km de distância da capital do Estado. Sua área territorial corresponde a 2.097,751 km², com uma população estimada de 47.557 habitantes, sendo que 60,6% dos habitantes correspondem a população urbana (INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2016).

O Parque Estadual do Monge foi criado a partir da Lei nº 4.170, de 22 de fevereiro de 1960, e está localizado a 3 km de distância da sede da cidade da Lapa (FIGURA 1) e recebeu este nome por possuir uma gruta que, entre 1847 e 1855, teria servido de abrigo a um monge ermitão, o monge João Maria d’ Agostini. Imigrante italiano que veio ao Brasil em 1844, João Maria d’ Agostini teria sido um frei da ordem de Santo Agostinho, que pregava na Matriz da Lapa por volta dos anos de 1845. Como prática apostólica, percorria os estados do sul a fim de espalhar o bem, orientando e receitando ervas medicinais às pessoas que o procuravam. Devido sua prática, os caboclos lhe atribuíram curas milagrosas e passaram a chamá-lo de “São João Maria”. O monge São João Maria se abrigou na região do parque onde se dedicou ao estudo das plantas do local, fazendo orações públicas e medicando os enfermos, tornando-se um líder religioso e atraindo habitantes de todos os arredores que acreditavam que o monge era milagroso. Por estas histórias o parque ficou conhecido devido a Gruta do Monge e a uma fonte existente no local, o qual acredita-se ser milagrosa, o que faz com que o parque atraia um grande número de romeiros movidos pela fé (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2002).

 

FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL DO MONGE


Fonte: adaptado de Hornung (2007).

 

            Unidade de conservação classificada na categoria de manejo de proteção integral, o Parque do Monge, segundo a Lei do SNUC, tem como objetivo básico preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais, ou seja, educação e interpretação ambiental, pesquisa científica e turismo.

 

Obtenção e análise de dados

            O trabalho foi realizado com estudantes do nono ano do ensino fundamental do Colégio Estadual General Carneiro, localizado na região central da Lapa, sendo que este foi selecionado devido sua maior representatividade de estudantes do ano escolhido dentro das escolas estaduais localizadas na cidade. Trabalhou-se com cinco turmas, sendo três turmas do período da manhã e duas do período da tarde, totalizando 134 estudantes.

            A pesquisa baseou-se em três etapas principais, em um primeiro momento aplicou-se um questionário para os estudantes que visava obter informações sobre seus conhecimentos prévios acerca de unidades de conservação e sobre o Parque Estadual do Monge. A segunda etapa consistiu na apresentação da palestra sobre unidades de conservação e mais especificamente sobre o Parque do Monge aos estudantes, e na terceira etapa aplicou-se novamente um questionário aos estudantes afim de analisar o quanto de conhecimento foi absorvido.

            Para os questionários foi escolhido o método semi-estruturado, que consiste em um questionário semiaberto e que permite uma maior liberdade de resposta aos entrevistados.

            O primeiro questionário constituiu-se num total de doze perguntas, o qual perguntavam sobre os conhecimentos dos estudantes sobre o que seria “meio ambiente”, o que é uma unidade de conservação, se conheciam alguma UC e quais, se já haviam visitado o Parque do Monge e com que frequência visitavam, se já ouviram falar sobre a Lei do SNUC, se conheciam o IAP, se haviam tido educação ambiental ou aprendido sobre o parque em alguma disciplina, se já tiveram alguma atividade desenvolvida no parque, se sabiam o objetivo do PEM, se sabiam da existência de restrições de uso e acesso a unidade, se achavam que suas atitudes poderiam afetar ou influenciar de alguma forma o parque, e que benefícios o parque traz a cidade da Lapa. O segundo questionário foi mais objetivo, contendo seis questões: o que é uma unidade de conservação, o objetivo do Parque do Monge, quem é o responsável pela administração e gestão, quais são os usos permitidos, se as atitudes pessoais poderiam afetar ou influenciar a área e quais os benefícios que o parque traz à cidade.

 

Resultados e discussão

De acordo com a Lei nº 6.938 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, “meio ambiente” seria o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”, em linguagem mais simplificada, seria o conjunto de condições e influências que cercam um ser vivo ou uma comunidade, e que agem sobre eles.

            Quando questionados sobre o que seria “meio ambiente”, 49,3% dos estudantes responderam que é tudo aquilo que está relacionado a natureza, como as florestas, a fauna e flora, 22,4% disseram não saber o que seria e 28,3% deram outras respostas como “lugar limpo sem poluição”, “meio ambiente é cuidar da natureza”, “paisagem sem desmatamento” e “todos os lugares que não são fechados”. 

            Outra questão foi sobre Unidades de Conservação (UCs), que, de acordo com a Lei Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)“são espaços territoriais e seus recursos ambientais que possuem o objetivo de conservação e possuem limites definidos e regime especial de administração que garantam uma adequada proteção a área” (BRASIL, 2000). Quando questionados pela primeira vez se sabiam o que é uma unidade de conservação, 87,3% dos estudantes responderam que não sabiam o que era. Após a palestra, que explicava o que é uma UC, a porcentagem de estudante que respondeu que não sabia caiu para 41,8% e 58,2% responderam que uma unidade de conservação é uma área com objetivo de conservação e preservação da natureza.

            A cidade da Lapa possui quatro unidades de conservação: a APA da Escarpa Devoniana, a Floresta Estadual do Passa Dois, o Parque Estadual do Monge e a Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata do Uru (IAP, 2002). Levando isso em consideração,perguntou-se se conheciam alguma UC na cidade e 94,8% disseram não conhecer nenhuma, apenas 5,2% responderamconhecer alguma unidade, dando como exemplo apenas o Parque do Monge. Cabe destacar que 90,3% dos estudantes já visitaram o Parque do Monge, porém observou-se que, apesar de já terem ido até a área, os estudantes não obtiveram nenhuma orientação ou explicação sobre o parque.

            No primeiro questionário também foi perguntado se os estudantes já tinham ouvido falar sobre a Lei do SNUC e 97,8% não tinha conhecimento sobre a lei. Também foi indagado se conheciam o IAP, levando em consideração que o Parque Estadual do Monge é administrado pelo órgão ambiental do estado do Paraná, e somente 15,7% dos estudantes conheciam  IAP.

            A institucionalização da educação ambiental (EA) no Brasil teve início em 1981 com a implantação da Política Nacional de Meio Ambiente, que estabeleceu, no âmbito legislativo, a necessidade de inclusão da EA em todos os níveis de ensino e, em 1999, foi aprovada a Lei nº 9.795, que dispõe sobre a educação ambiental. Segundo esta lei, a educação ambiental deve estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, tanto em caráter formal como não-formal, devendo ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal, abrangendo: a educação básica (infantil, fundamental e médio), superior, especial, profissional e de jovens e adultos (BRASIL, 1999).

            Com isso, perguntou-se aos estudantes se em alguma disciplina, tanto do nono ano como em anos anteriores, eles haviam tido educação ambiental ou se aprenderam sobre o Parque Estadual do Monge, e 52,2% dos estudantes responderam que não.Dos 47,8% que responderam que sim, justificaram a resposta afirmando que haviam tido uma aula sobre o parque na disciplina de geografia. O Parque do Monge está localizado a 3 km de distância da sede da cidade, devido a esta pequena distância há um grande potencial de desenvolvimento de atividades na unidade de conservação em questão, porém, apenas 3% dos estudantes já realizaram alguma atividade educativa na área.

            O parque, por ser uma unidade de conservação de proteção integral, tem como objetivo principal a preservação da natureza. Quando questionados sobre qual seria o objetivo do PEM (Gráfico 1), 73% disseram não saber, 16% responderam que o objetivo do parque é a visitação, 9% acredita que o Parque do Monge tem como objetivo a preservação da natureza local e 2% deu outras respostas como “juntar lixo”, “mostrar a beleza da Lapa” ou objetivos religiosos.

 

Gráfico 1 – Respostas do primeiro questionário sobre o objetivo do Parque Estadual do Monge

 

 

            Durante a palestra foi explicado aos estudantes qual o objetivo do Parque do Monge e após a aplicação do segundo questionário (Gráfico 2), os estudantes que acreditavam que o parque possui como objetivo principal a preservação e conservação da natureza subiu de 9 para 45. Os que responderam que não sabiam caiu de 73 para 26%, dos 16% que responderam que o objetivo era a visitação, 3% continuaram com a mesma resposta e os 2% que deram outras respostas subiu para 26%, dando respostas como “purificação do ar e da água”, “mostrar a importância de uma UC”, “beneficiar a natureza e purificar a água” entre outras.

 

Gráfico 2 – Respostas do segundo questionário sobre o objetivo do Parque Estadual do Monge

 

 

 

 

            Como já comentado anteriormente, o Parque Estadual do Monge tem como responsável pela sua administração e gestão o órgão ambiental do estado do Paraná, ou seja, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Quando perguntado no primeiro questionário, 84,3% dos estudantes não conheciam este órgão, após a palestra, no qual foi explicado sobre a responsabilidade administrativa das unidades de conservação, sendo que podiam ser estaduais, municipais e particulares, 69% dos estudantes compreenderam que tal órgão é responsável pela gestão do PEM (Gráfico 3), 22% responderam não saber quem seria o responsável e 9% deram outras respostas, dizendo que os responsáveis pela administração do parque são “ambientalistas”, “prefeitura” e “todos que frequentam”.

 

Gráfico 3 –Respostas do segundo questionário sobre o responsável pela administração do Parque Estadual do Monge

 

 

            Sendo permitido apenas o uso indireto dos recursos naturais da área - pesquisa cientifica, educação ambiental, interpretação ambiental e turismo, por ser uma unidade de conservação de proteção integral - os estudantes foram questionados se sabiam de restrições ao uso do parque, 79,1% não souberam responder e 20,9% dos estudantes responderam que sabiam de restrições ao uso, porém com respostas errôneas, afirmando que não era permitido o uso do parque com a utilização de automóveis e bicicletas. Após a palestra, onde foi explicado tanto os usos permitidos de unidades de conservação de proteção integral quanto de uso sustentável, 13,9% responderam que não sabiam quais seriam as restrições e 86,1% compreenderam que por ser de proteção integral, apenas a visitação na área era permitida, “não podendo levar nada de dentro do parque embora”.

            Os estudantes também foram indagados se achavam que suas atitudes poderiam afetar ou influenciar o Parque do Monge.Na análise do primeiro questionário, 50% dos estudantes responderam que suas atitudes não afetavam ou influenciavam a unidade, já com a análise do segundo questionário, 25,6% mantiveram a resposta de que não, enquanto 74,4% concluiu que suas atitudes podem sim afetar ou influenciar o parque, compreendendo que quando visitam o parque é importante manter a limpeza do local não jogando lixo e preservando a vegetação existente.

            Como última pergunta dos dois questionários, indagou-se aos estudantes quais os benefícios que o Parque do Monge trazia para eles e para toda a comunidade da Lapa. Como resposta, no primeiro questionário (Gráfico 4), 48% responderam não saber quais seriam os benefícios, 29% acreditam que o parque traz como benefício uma área de lazer para a cidade, 7% veem como benefício o contato com a natureza que a área proporciona, 8% responderam que há benefícios com a melhoria da água e do ar da cidade e 8% deram outras respostas como “paz e tranquilidade” e “preservar a cultura e religião da cidade”.

 

Gráfico 4 – Respostas do primeiro questionário sobre os benefícios que o Parque Estadual do Monge traz a cidade da Lapa

 

 

            Durante a palestra conversou-se bastante com os estudantes sobre a importância da preservação e conservação das áreas naturais, sobre seus benefícios diretos e indiretos para a cidade, comentou-se que na área do parque existem vários exemplares de espécies arbóreas ameaçadas de extinção, como a araucária e a imbuia, também foi explicado que por localizar-se em um local topograficamente mais elevado, há muitas nascentes dentro do parque que desaguam em canais que abastecem a cidade e que também desaguam no rio Estiva, um dos tributários do rio da Várzea, um dos principais afluentes do rio Iguaçu. Com isso, no segundo questionário também foi perguntado quais os benefícios que o Parque do Monge traz a eles e a cidade (Gráfico 5), 15% mantiveram a resposta de não saber sobre os benefícios, 40% responderam como benefícios principais água e ar puro para a cidade, 23% dos estudantes acreditam que o principal benefício do parque é manter uma natureza preservada, 18% dos estudantes veem como benefício do parque a cidade ter um local para lazer e 4% deram outras respostas como “preservação da história da cidade, “melhoria de vida da população” e “paz e tranquilidade”.

 

Gráfico 5 – Respostas do segundo questionário sobre os benefícios que o Parque Estadual do Monge traz a cidade da Lapa

 

 

            No ano de 1997, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) lançou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que é uma coleção de documentos com orientações ao cotidiano escolar, apresentando os principais conteúdos que devem ser trabalhados e a forma como podem ser trabalhados. Esses documentos são divididos em volumes que abrangem: língua portuguesa, matemática, ciências naturais, geografia, história, arte, educação física, língua estrangeira e temas transversais.

            A criação dos temas transversais como parte do currículo do ensino fundamental visa à formação cidadão dos estudantes e à valorização de aspectos culturais, sociais, ambientais e da saúde dos futuros cidadãos. Dentro destes temas transversais está o meio ambiente, que, segundo os PCNs, a escola deve trabalhar com a temática ambiental durante os nove anos de ensino fundamental, contribuindo para que os estudantes, ao final do ensino fundamental, sejam capazes de (BRASIL, 1998, p. 197):

 

·         Identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se afetivamente ligados a ela, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente [!];

[...]

·         Compreender que os problemas ambientais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto local quanto globalmente;

·         Conhecer e compreender, de modo integrado, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente [!];

[...]

·         Compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem, aplicando-os no dia-a-dia.

 

Também, de acordo com a Lei 9.795, a Lei de Educação Ambiental, são princípios básicos da EA a concepção do ambiente em sua totalidade, bem como a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais (BRASIL, 1999), porém, por meio da realização desse projeto de educação ambiental nesta escola da cidade da Lapa, pode-se observar que apesar de garantido por lei, a temática ambiental é pouco trabalhada com os estudantes.

Os estudantes que participaram desse projeto estão no último ano do ensino fundamental, teoricamente, segundo os PCN, já deveriam ter passado por todas as temáticas regulares e transversais e deveriam ter um conhecimento sobre o ambiente ou até mesmo sobre o Parque Estadual do Monge, devido sua proximidade com a cidade.

 

CONCLUSÃO

            A partir da análise dos dados obtidos, chegou-se à conclusão de que a palestra surtiu efeito positivo quanto a percepção deles em relação às UCs, em especial ao Parque do Monge.

Há necessidade de intensificar esse tipo de atividade, bem como melhorá-la com a prática, disponibilizando materiais para séries iniciais do ensino fundamental, uma vez que crianças se interessam mais em aprender sobre a natureza e levam consigo seu aprendizado por toda a vida.

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm>. Acesso em 26 out 2016.

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Temas Transversais. Ensino Fundamental. Terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em 02 jun 2016.

 

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 24 mar 2016.

 

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2006.

 

CERRATI, T. M.; LAZARINI, R. A. M. A pesquisa-ação em educação ambiental: uma experiência no entorno de uma unidade de conservação urbana. Ciência & Educação, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 383- 392, 2009.

 

INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ (IAP). Plano de Manejo do Parque Estadual do Monge. Curitiba, dezembro de 2002.

 

INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL(IPARDES). Caderno estatístico município de Lapa.  Curitiba, março de 2016.

 

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Educação ambiental: por um Brasil sustentável. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental; Departamento de Educação Ambiental. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 2014.

 

MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: MORAN, J. M.; MASETTO, M. T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000.

 

PADUA, S. M. Educação ambiental em unidades de conservação. In: Gestão de unidades de conservação: compartilhando uma experiência de capacitação. Brasília: WWF-Brasil e IPÊ, 2012.

 

Ilustrações: Silvana Santos