Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Prêmio: Destaques
05/03/2018 (Nº 63) JOVENS MAPEADORES NA REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES AMBIENTAIS
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JOVENS MAPEADORES NA REDUÇÃO DE RISCOS DE DESASTRES AMBIENTAIS



Responsável pelo trabalho: Sabrina Dinorá Santos do Amaral; Charlene Cristina Conzi Mehlecke; Monalisa da Silva

Instituição: Secretaria Municipal de Educação de Taquara

Cidade: Taquara

Número de pessoas envolvidas: Diretamente 448 alunos, 28 professores e 3 organizadores. Indiretamente cerca de 45 mil cidadãos

Telefone e e-mail:051985834009 gaiaguria@gmail.com





Eixo 1: Educação Ambiental na construção das sociedades sustentáveis

Tema: Educação para a Redução de Risco de Desastres e para a Resiliência





Apresentação

O município de Taquara-RS, apresenta em seu Programa Municipal de Educação Ambiental, uma linha de ação voltada a formação de jovens ambientalistas, a partir da criação e fomento de COM-VIDA´s – Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas escolas. Em 2017, se propôs um trabalho coletivo das COM-VIDA´s do município, voltado a auxiliar a Defesa Civil de Taquara na construção do Plano Municipal de Contingência.

Nesta perspectiva a Secretaria Municipal de Educação e mobilizadores do Instituto Gaia Guria propuseram o projeto Jovens Mapeadores na temática “educação em prevenção de riscos de desastres ambientais”, com o objetivo formar jovens, através do mapeamento de Riscos de Desastres no âmbito das comunidades escolares, disponibilizando repertório, conteúdos e metodologias científicas utilizadas por órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, visando mapear áreas de risco como contribuição para um planejamento participativo do Plano Municipal de Contingência.

Este projeto, desenvolvido em duas etapas, oficinas nas escolas e fórum de socialização, envolveu diretamente cerca de professores e 448 alunos da COM-VIDA de 20 escolas municipais,e indiretamente toda a comunidade escolar destas escolas, totalizando cerca de 45 mil pessoas.




Justificativa:

A interdependência dos problemas ambientais globais desafiam nossa percepção com um sentimento de insegurança e de incertezas das suas consequências, caracterizado por Beck como“sociedade de risco”. As cidades buscam se preparar para possíveis desastres ambientais, e saber identificar estas possibilidades e as ações necessárias para mitigar e ou desenvolver a resiliência de uma comunidade, evidenciaa necessidade de constituição de uma sociedade sustentável, contextualizada nos atuais debates e fundamentada nas ações desenvolvidas no âmbito da Educação Ambiental escolar.

Com o início da construção do plano municipal de contingência de Taquara, o Instituto Gaia Guria observou uma importante oportunidade de mobilizar as escolas para a relevância de ações de redução do risco de desastres naturais através do mapeamento de áreas do bairro da escola sobre,visando fomentar uma cultura de prevenção e resiliência, para proteger a população dos desastres de origem natural e humana.



Desenvolvimento

O projeto Jovens Mapeadores na redução de riscos de desastres ambientais teve a participação da COM-VIDA das seguintes escolas municipais de ensino fundamental: Nereu Wilhelms; Caramuru; Rosa Elsa Mértins; 25 de Julho; 17 de Abril; Dr. Lauro Muller; Dr. Alípio Sperb; Getúlio Vargas; Tomé de Souza; Antônio Martins Rangel; João Martins Nunes; Júlio Maurer; Emílio Leichtveis; RudiLindenmeyer; Calisto Letti; Zeferino Neve; Arlindo Martini e TheóphiloSauer. Participaram ainda duas escolas municipais de educação infantil, Vovó Mathilde e Leonel Brizola.

Sua metodologia resume-se em duas etapas, sendo elas; oficinas temáticas em cada escola participante, e o Fórum de socialização dos mapas produzidos pelos alunos.

A primeira etapa foi subdividida em 3 oficinas, sendo a primeira voltada para a preparação com alinhamento sobre o tema, nela foi trabalhado conteúdos como impactos e desastres naturais; tipos de riscos, conceito e o que fazer; resiliência; vídeos; questionário para identificar os desastres e riscos que já vimos no nosso bairro.

É a etapa em que há maior convergência com o currículo escolar, e onde os alunos foram incentivados a pensar, mapear, reconhecer, debater e planejar em cima da realidade em que estão inseridos. A imagem 1 os apresenta exercitando também outras habilidades, como trabalho em grupo, negociação, visão crítica, argumentação, priorização e protagonismo juvenil.

Imagem 1: Alunos sendo apresentados ao projeto na primeira oficina.

A oficina de mapeamento, foi a segunda oficina desenvolvida em cada escola, nela se elaborou do roteiro de mapeamento, com base no debate inicial sobre os conceitos utilizados. O roteiro é o documento que guia o trabalho de campo nas proximidades da escola para mapeamento com fotos, analisando os riscos e desastres encontrados.

Nesta etapa, como pode-se observar na imagem 2, os participantes percorreram o bairro em que a escola está inserida, com GPS e máquinas fotográficas, registrando os riscos encontrados no caminho.

Imagem 2: Saída de campo para identificação de riscos no bairro



A Oficina de construção do mapa foi a última atividade nas escolas e serviu para análise coletiva dos dados de campo realizada com base nas anotações e imagens produzidas pelos participantes na oficina anterior.

Para otimizara construção do mapa, foi disponibilizado um período de registro e a análise das imagens, para que as fotos pudessem ser organizadas, com o mapa do bairro.Os participantes identificaram os locais das imagens e utilizando-se de ícones, os registram no mapa, construindo ainda uma legenda para tal.

Diante do mapa de riscos que pode ser observado na imagem 2, foi trabalhado, através da oficina de futuro, as possibilidades de ações, constituindo assim mais uma contribuição para o Plano de Contingenciamento Municipal.

Imagem 3: Construção do mapa de riscos pelos alunos

Com cada vez mais experiências com riscos, torna-se imprescindível construir resiliência. Segundo Hogann (2010), “ser resiliente” trata-se de uma característica que pode ser produzida ou reforçada, entendida ainda, como um processo que desenvolve capacidades adaptativas para seu funcionamento e adaptação após um desastre.

Para uma sociedade que visa tornar-se sustentável, com prevenção e enfrentamento de riscos ambientais, promover a resiliência é uma das maneiras mais eficientes para sua constituição.

Sendo assim, a segunda e última etapa deste projeto foi o Fórum Regional de COM-VIDAS. Momento de socialização do mapa de riscos de cada escola, que contou com a presença das Com-Vida´s das 20 escolas envolvidas e de 8 escolas convidadas, de municípios vizinhos, totalizando os cerca de 448 alunos, da imagem abaixo.

Imagem 4: Fórum Regional de Comissões de Meio Ambiente

Neste Fórum, cada escola pode apresentar seu mapa, com pontos e fotografias selecionados por eles na primeira versão do mapa do bairro. Este mapa foi transferido para um Banner, como se visualiza na imagem abaixo.

Imagem 5: Alunos socializando o mapa de riscos de seu bairro

Cada COM-VIDA selecionou de seu mapa, um ponto prioritário, tendo como critério a necessidade urgente de mitigação. Este ponto foi apresentado numa composição do mapa de riscos de desastres ambientais do município que ornamentou o palco do Fórum. Na imagem abaixo, a cópia deste mapa foi entregue ao prefeito municipal, juntamente com a cópia de todos os mapas produzidos, compondo o relatório final deste projeto.

Imagem 6: Prefeito recebendo o relatório final do projeto

O Fórum ainda ofereceu aos participantes, oficinas práticas voltadas à resiliência e a prevenção de riscos a partir da mobilização social, desenvolvidas por parceiros. Dentre estas destacamos, compostagem com a EMATER; cuidando da água com a CORSAN; separação de resíduos com o Rotary Club; Resiliência no bairro com a Defesa Civil; Resgate em desastres com o Corpo de Bombeiros Regional.


Conclusão


No desenvolvimento das Oficinas de preparaçãose pode perceber que os alunos já conheciam o tema e foram mediados com perguntas provocativas, para que esse conhecimento se manifestasse. Perguntas como: “O que é ser resiliente?”; “O que é risco para vocês?”; “Um desastre é natural?”

Na Oficina de Mapeamento a elaboração do roteiro apresentou o quanto os alunos conheciam de sua comunidade e durante as saídas de campo, puderam colocar em prática os conceitos trabalhados. A comunidade recebeu bem a visita dos alunos, em todas as 20 comunidades onde o projeto foi desenvolvido.

A construção coletiva do mapa, de riscos de cada escola, é o resultado do conhecimento construído nas oficinas de mapeamento, são informações apresentadas por ícones no mapa do bairro para que identifique o local de cada informação selecionada. Os alunos aprenderam a utilizar o GPS, realizaram registros fotográficos e materializaram seu espaço comunitário.

O encerramento fez parte da Semana do Meio Ambiente das Escolas de Taquara, ocorrendo em 09 de Junho, nas Faculdades Integradas de Taquara, FACCAT, com o Fórum de Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na escola.

O projeto estudou os 14 riscos que mais ocorrem no estado e em nossa região, em 60 oficinas, 9 bairros e 5 distritos de Taquara. Foram 143 ruas mapeadas e 150 riscos identificados.Como se pode percebertratou-se de um processo que resultou além do mapeamento de riscos destas comunidades, também na capacitação de alunos e professores que poderão identificar e mitigar estes riscos, assim como serem multiplicadores destas informações.

Referências

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Rio de Janeiro: Editora 34, 2010.

BRASIL, Governo Federal. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Edição Especial para países de língua Portuguesa. Programa de Educação Ambiental do ICAE, 1992.

BRASIL, Governo Federal. Lei n. 9.795, de 27 abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, 28 abr. 1999.

BRASIL, Ministério da Educação. Programa Nacional Escolas Sustentáveis. Versão Preliminar de 02.06.2014. Brasília, DF: MEC, 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília: Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação, 2012.

BRASIL. Ministério da Integração. Política Nacional de Defesa Civil. 2010.

CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. (org.). Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003.

HOGANN, Daniel Joseph; MARANDOLA, Eduardo; OJIMA, Ricardo. População e ambiente: desafios à sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010.

TOMINAGA, Lídia. Santoro, Jair. Desastres Naturais: conhecer para previnir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009.





Ilustrações: Silvana Santos