Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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05/03/2018 (Nº 63) LEVANTAMENTO PRELIMINAR E IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DA ENTOMOFANUA DE UMA ZONA RURAL NO MUNICÍPIO DE INHUMA, PIAUÍ, BRASIL
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ



LEVANTAMENTO PRELIMINAR E IMPORTÂNCIA AMBIENTAL DA ENTOMOFANUA DE UMA ZONA RURAL NO MUNICÍPIO DE INHUMA, PIAUÍ, BRASIL



Marcos Renê da Costa Marinho¹, Benício Silva Dias1, Jéssica Pereira dos Santos², Elaine Ferreira do Nascimento3, Polyanna Araújo Alves Bacelar4




¹ Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí / Universidade Aberta do Brasil, Polo de Apoio Presencial de Inhuma – PI. E-mail: marinho-bio@bol.com.br

2 Especialista em Gestão Ambiental pelo Instituto Superior de Educação São Judas Tadeu, Mestre e Doutoranda em Medicina Tropical pela FIOCRUZ PIAUÍ. E-mail: jessik_ssantos@hotmail.com

3 Assistente Social. Mestre e Doutora em Ciências pelo IFF / FIOCRUZ, Pesquisadora Fiocruz Piauí e docente da FACEMA. E-mail: negraelaine@gmail.com

4 Mestre em Genética e Melhoramento pela UFPI. Professora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Piauí, Centro de Educação Aberta e a Distância, Teresina – PI. E-mail: polyannabio_gen@hotmail.com



RESUMO


Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento preliminar da diversidade de insetos presentes em uma área rural de Inhuma, Piauí, Brasil e expor as amostras em forma de oficina, enfatizando a importância ecológica e promovendo educação ambiental para agricultores rurais.


Palavras-chave: Agricultores. Sensibilização. Educação Ambiental. Insetos.



ABSTRACT


This work aimed to carry out a preliminary survey of the diversity of insects present in a rural area of ​​Inhuma, Piauí, Brazil and to expose the samples in the form of a workshop, emphasizing the ecological importance and promoting environmental education for rural farmers.


Keywords: Farmers. Sensitization. Environmental Education. Insects.



1 INTRODUÇÃO


O filo Arthropoda é o maior e mais abundante do mundo, com um enorme número de espécies em diferentes habitats, variabilidade morfológica e de distribuição cosmopolita devido ao poder adaptativo destes organismos ás mudanças ecossistêmicas (ALVARENGA et al., 2016). Proporcionam equilíbrio ambiental e constituem um dos filos mais importantes ecologicamente, com grande parte do fluxo energético de ecossistemas passando pelo corpo destes animais, além da renovação de nutrientes do solo (BORGES et al., 2016). Dentre os artrópodes, os insetos constituem o maior grupo, com uma variedade estimada em aproximadamente um milhão de espécies descritas nas mais diversas regiões, sendo que cerca de 5000 são coletadas e classificadas anualmente (GALLO et al., 2002). São geralmente considerados vilões por serem relacionados a danos na agricultura (GARLET et al., 2016), no entanto, servem de alimento para uma grande quantidade de vertebrados e garantem a manutenção e existência de florestas (GONÇALVES, 2015).

O papel que os insetos desempenham é de grande contribuição biológica, estando envolvidos em processos ecológicos como polinização, predação e ciclagem de componentes edáficos. Contribuem também para o equilíbrio populacional de alguns animais e plantas, além disso, pela capacidade adaptativa, podem ser usados como indicadores de biodiversidade (CAMARGO et al., 2015; ROCHA et al., 2015). Valorizar sua importância bioecológica torna-se um instigante desafio no que se refere ao conhecimento popular, visto que empiricamente são associados principalmente a algumas propriedades medicinais, alimento, atividades lúdicas e místico-religiosas (ALVES et al., 2015; MELO et al., 2015).

Considerando a grande variedade e propriedades das espécies destes invertebrados, no Brasil os estudos sobre essa temática são restritos e limitados, ocorrendo descaso quanto à divulgação de conhecimento para a população, mormente para os que manejam o solo (NODARI; GUERRA, 2015). Além disso, em um ambiente equilibrado as cadeias alimentares são em proporções que garantem a continuidade das espécies e com a interferência antrópica, a partir da introdução de sistemas agrícolas, o ambiente natural e a diversidade da entomofauna edáfica são degradados (RODRIGUES et al., 2016). Em atividades de monocultivo, por exemplo, espécies passam a subsistir e outras a proliferarem, afetando atividades nos processos de decomposição e manutenção dos plantios (GARLET et al., 2016).

Assim, os trabalhadores rurais tendem a degradar o ambiente e a entomofauna, visto que não se sensibilizam e não compreendem o dinamismo do equilíbrio ecológico (BOMFIM et al., 2016). Para minimizar essa problemática, uma metodologia aplicável é a Educação Ambiental (EA), sendo utilizada para redefinir a percepção e o entendimento sobre o assunto, a conscientização da comunidade e a transformação individual de seus integrantes (FILHO et al., 2017). Este processo educativo deve ser visto de forma permanente, se adequando aos costumes empíricos e peculiares de cada público (ARAÚJO et al., 2017).

O Piauí possui grandes áreas com a presença de variados habitats destes artrópodes, como no município de Inhuma que apresenta zonas de matas nativas características de caatinga, típico do semiárido nordestino, bem como áreas modificadas pela ação do homem na agricultura. É relevante que se elaborem estratégias com a finalidade de obter informações sobre a diversidade de artrópodes e o equilíbrio ambiental existentes nesta região, para que ocorra a produção e troca de conhecimento adequados às populações locais.

Assim, o presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento preliminar da diversidade de insetos presentes em uma área rural de Inhuma, Piauí e expor os resultados na forma de oficina educativa para produtores rurais e alunos do curso Técnico em Agropecuária de uma escola agrícola do campo. O intuito foi de enfatizar a importância bioecológica destes insetos e promover educação ambiental, consequentemente, incentivando atitudes para a preservação do meio em que vivem.



2 MATERIAL E MÉTODOS


O levantamento da entomofauna foi realizado em uma área de 1 ha de mata nativa na localidade denominada Contendas, na zona rural a oeste do município de Inhuma, Piauí, a 13 Km da BR 316 (Figura 1). A área foi georeferenciada com GPS e está situada nas coordenadas geográficas de latitude 06° 38` 8,3`` S e longitude 4° 48` 16,4`` W, a uma elevação de 338 m. Foram realizadas coletas durante o mês de setembro de 2015, com o auxílio de armadilha de solo do tipo Pitfall, adaptado de Greenslade (1964). Coletaram-se os insetos em recipientes com capacidade para 1000 ml, sem iscas, preenchidos com aproximadamente 200 ml de formol a 4% (Figura 2A). A solução foi reposta entre o terceiro e quarto dia de coleta, devido às altas temperaturas que provocavam a evaporação do líquido. Foi delineado um transecto com a montagem de cinco estações de coleta, cada uma com quatro armadilhas, onde em cada canto da área foi montado uma estação a 20 m das extremidades e a quinta estação localizada ao centro da área (Figura 2B).



Figura 1 - Localização do município de Inhuma, Piauí (A). Área de coleta, localidade Contendas, em imagem de satélite indicado pela seta vermelha e localização central do município de Inhuma indicado pelo círculo amarelo (B).

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2017.



Figura 2 – Estação de coleta com armadilha Pitfall instalada, indicada pela seta vermelha (A). Croqui das estações de coleta com a área contornada pelo pontilhado amarelo e com as armadilhas representadas pelos pontos brancos (B).

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2017.



Os animais coletados foram levados ao Laboratório de Biologia do polo Luiz de Sousa Leal da Universidade Federal do Piauí (UFPI) em Inhuma-PI. Em seguida foram acondicionados em potes plásticos etiquetados contendo álcool 70% e encaminhados para triagem. Nessa etapa, separou-se o material ao nível de ordem com o auxílio de microscópio estereoscópico e de chave dicotômica específica (Figura 3). Amostras desses insetos foram montadas em caixa entomológica (Figura 4).



Figura 3 - Identificação das amostras em microscópio estereoscópio (A). Armazenamento das amostras devidamente identificadas, em potes plásticos com álcool 70% (B).




Figura 4 - Exemplares montados (A), caixa entomológica (B).

A oficina ocorreu em Aroazes, Piauí, em outubro de 2015. O conteúdo foi embasado por meio de estudo bibliográfico e implementado com os resultados da coleta de campo (Figura 5). Neste momento, os insetos capturados foram apresentados aos agricultores e alunos do curso técnico em agropecuária na Escola Agrícola de Montes Claros em Aroazes, Piauí. Realizou-se uma abordagem de forma interativa e dinâmica sobre as principais ordens de insetos, dando ênfase na importância da biodiversidade e interações biológicas relevantes que desempenham na natureza.


Figura 5 - Público alvo da oficina (A). Apresentação em forma de slides e exposição dos espécimes de insetos coletados(B).



Foram aplicados questionários pré-teste, com questões sobre o assunto a ser abordado, para avaliar o entendimento prévio dos participantes sobre o tema em questão. Após a oficina, foi aplicado um questionário pós-teste para verificar sobre o conhecimento adquirido durante a apresentação e o que mudou na opinião de cada um após a exposição do trabalho. Os questionários aplicados foram analisados de forma comparativa e seus dados plotados em gráficos para melhor análise.



3 RESULTADOS E DISCUSSÕES


3.1 Ordens coletadas

Foram coletados 705 insetos das ordens: Hymenoptera (616), Coleoptera (37), Isoptera (31), Blatodea (12), Orthoptera (5), Diptera (3), Neuroptera (1). A Ordem Hymenoptera, apresentou maior abundância de animais obtidos representando 87,4% dos insetos coletados, em seguida as ordens Coleoptera, com 5,2%, e Isoptera, com 4,5%. As demais ordens juntas contabilizaram 2,9% (Figura 6). Amostras destes animais foram expostas durante a oficina, por meio de caixa entomológica.

Figura 6 - Porcentagem por ordem de insetos coletados na localidade Contendas, Inhuma,

Piauí.

A ordem Hymenoptera foi representada em sua grande maioria por formigas e nas ordens Coleoptera e Isoptera, os besouros e cupins, respectivamente. A ordem Hymenoptera também foi a mais abundante encontrada em diferentes estágios de sucessão secundária na Caatinga do Monumento Natural Grota do Angico em Sergipe (SANTOS et al., 2012). Na Área de Proteção Ambiental do Araripe, os insetos edáficos que predominaram foram os Coleopteras seguidos dos Hymenopteras (AZEVEDO et al., 2016).

Todos estes insetos identificados participam de processos importantes nos ecossistemas, atuando tanto como predadores no controle biológico, em interações mutualísticas e na base da cadeia alimentar de outros animais (RUPPERT; BARNES, 2005). Possuem ainda influência na ciclagem de nutrientes, formação de poros, agregação do solo (MACHADO et al., 2015), bem como utilização comprovada como excelentes bioindicadores (BAGLIANO, 2012; PINHEIRO et al., 2013; ROCHA et al., 2015).

Apesar de o método Pitfall capturar uma larga escala de insetos, a variedade da biodiversidade pode ser melhor explorada com diferentes tempos de coleta e estações climáticas. Maior número de insetos (9588) foi coletado com intervalo de sete dias, nos meses de Junho e Julho de 2012, em área de mata nativa no Rio grande do Norte (FARIAS et al., 2012). Na fazenda escola do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Ipanguaçu, 10.699 e 17.484 são as quantidades coletadas durante três meses, em duas áreas (CARVALHO et al., 2016).


3.2 A oficina

A metodologia educativa abordou sobre conceitos e importância da biodiversidade, bem como informações sobre artrópodes especificando sobre os insetos. Contemplou também sobre as coletas de entomofauna realizadas neste estudo. Participaram, de forma voluntária, 20 indivíduos com faixa etária entre 16 e 45 anos, com a maioria (50%) sendo jovens adultos com idade de 19 a 25 anos (Figura 7). Houve arguições e debates sobre o assunto.



Figura 7 – Distribuição da faixa etária dos participantes da oficina, em porcentagem.


Antes do momento educativo, um pré-teste com oito questões foi aplicado, a fim de analisar o conhecimento prévio dos participantes. Após, um questionário pós-teste com sete questões serviu para verificar se a oficina contribuiu ou não com a sensibilização do público sobre a importância ambiental e da biodiversidade destes invertebrados.


3.3 Análise comparativa do pré e pós-teste

De início perguntou-se sobre equilíbrio ecológico, que representa a situação de estabilidade entre indivíduos de um ecossistema, sendo um requisito para a manutenção de aspectos característicos e qualidade do meio ambiente (RAMOS; AZEVEDO, 2010). Este questionamento apresentava quatro alternativas para a resposta, sendo três erradas e uma correta. No pré-teste foi observado que 15% dos participantes ainda não tinham conhecimento sobre o assunto, mas 85% possuíam um entendimento prévio. No pós-teste observou-se que todos os participantes passaram a compreender sobre o conceito de equilíbrio ecológico depois de participarem da oficina com abordagem sobre o tema (Figura 8). Assim, ratifica-se que é necessário prosseguir os esforços ao nível educativo e da cidadania, nomeadamente nos domínios da consciencialização ambiental, da educação e da formação (RAMOS, 2012).


Figura 8 – Representação gráfica das respostas do público participante sobre a compreensão de equilíbrio ecológico, em porcentagem. Pré-teste (A) e pós-teste (B).

Questionou-se os participantes, no pré-teste, sobre sua colaboração com o meio ambiente no momento de manejo da plantação. Disponibilizou-se quatro alternativas com apenas uma sendo a resposta ideal, que seria realizar o plantio mas também preservar áreas de mata nativa na propriedade. Quando se interfere na composição e caracteristicas naturais de matas nativas e sua biodiversidade, há possibilidades de que resulte em variações abióticas, como fertilidade do solo e clima (SOUSA et al., 2015). Do total, 80% optaram pela alternativa correta e os demais disseram colaborar queimando e desmatando para o manejo (Figura 9A). Esta técnica pode degradar o ambiente, causando impactos na biodiversidade de espécies existentes, além de afetar o solo interferindo nos processos orgânicos, deteriorização das características e redução do potencial produtivo (FEARNSIDE, 2005; SOUZA et al., 2015).


Figura 9 – Gráfico representativo sobre as respostas quanto à forma de colaboração com o meio ambiente durante o manejo do plantio. Pré-teste (A) e pós-teste (B).


Este dado reflete o perfil dos trabalhadores rurais no Brasil e sua necessidade de capacitação profissional para o cultivo de forma correta. Resultado similar em um estudo no Rio Grande do Sul revelou que as práticas de uso e manejo do solo utilizadas na maioria das propriedades rurais, são inadequadas e tem intensificado o surgimento de processos erosivos, assoreamento dos canais de drenagem, perda de qualidade da água e da diversidade das espécies florestais (CAPOANE; SANTOS, 2012). No pós-teste, todos os participantes escolheram a alternatica correta demonstrando que entenderam como poderiam colaborar com a preservação do ambiente no exercer de sua profissão (Figura 9B).

Quando questionados sobre a importância ambiental dos insetos, todos os participantes responderam terem conhecimento, antes da oficina. No entanto, as perguntas sequentes eram pra detalhar em que eles relacionavam essa importância. Sobre a opinião se havia qualidade no solo com pouca variedade de insetos, 35% dos participantes no pré-teste responderam que não, no pós-teste uma quantidade significativa mudou de opinião, totalizando 85% de respostas negativas (Figura 10).



Figura 10 – Representação gráfica sobre o questionamento se havia qualidade do solo com pouca variedade de insetos. Pré-teste (A) e pós-teste (B).


Isso demonstrou que possuíam um estigma de que uma variedade grande de insetos em um solo causasse apenas danos e após o processo educativo, passaram a compreender que a entomofauna faz interação favorável com o meio. Pouca variedade de inseto pode prejudicar o equilíbrio no ecossistema, além disso, a fauna edáfica e serapilheira possuem propriedades e funções que determinam a qualidade do solo (SILVA; AMARAL, 2013; GRUGIKI et al., 2017).

No mesmo sentido, perguntou-se também se é bom ou ruim possuir uma grande variedade de insetos nas suas propriedades. No pré-teste, 70% afirmaram ser ruim, no pós-teste, inverteu-se a opinião com 70% respondendo ser bom (Figura 11). Acredita-se que passaram a compreender que uma grande variedade de insetos não significa excesso de pragas nas plantações. Estes animais são usados até mesmo como bioindicadores de qualidade ambiental, já que participam de importantes processos naturais (OLIVEIRA et al., 2014).

Figura 11 - Opinião dos participantes sobre a existência de grande variedade de insetos na propriedade. Pré-teste (A) e pós-teste (B).



A pergunta seguinte era pra saber as noções dos participantes sobre como evitar problemas com insetos na plantação, dando como certa a alternativa que afirmava que com práticas corretas de manejo ajudaria a diminuir estes problemas. As demais alternativas eram erradas, totalizando quatro opções de resposta. No pré-teste, 85% responderam corretamente e 15% afirmaram que evitavam problemas colocando agrotóxico periodicamente na plantação, revelando ser esta uma prática comum entres os agricultores.



Figura 12 - Opinião dos participantes sobre a melhor maneira de evitar problemas com insetos na plantação. Pré-teste (A) e pós-teste (B).


O uso destes produtos causam intoxicação (VIERO et al., 2016), riscos ambientais e ocupacionais aos trabalhadores (BELO et al., 2012). No pós-teste, 100% responderam corretamente (Figura 12). Isso significa que falta apenas uma orientação educativa para que estes profissionais saibam manejar seus plantios de forma a evitar problemas com pragas e consequentemente, prejuízos financeiros. A conservação de predadores e parasitoides em um ambiente resulta em um controle e equilíbrio de insetos em uma área se aplicadas práticas corretas de manejo (SILVA; BRITO, 2015).

Por fim, questionou-se no pré-teste sobre a perspectiva de todos em relação à oficina e no pós-teste qual a opinião sobre o desenvolvimento desta. No primeiro, 20% esperavam obter informações sobre como acabar com os insetos e no segundo, todos afirmaram que o trabalho realizado ajudou a obter informações sobre técnicas adequadas de cultivo em convivência com os insetos e sua importância para o equilíbrio biológico (Figura 13).



Figura 13 - Opinião dos participantes sobre o correto objetivo da oficina. Pré-teste (A) e pós-teste (B).


Assim, percebeu-se que o público deste trabalho educativo se sensibilizou quanto à temática abordada, visto que houve uma conexão com o saber do agricultor (COSTA et al., 2017). O conhecimento tradicional pode sofrer intervenções externas. Em diversas localidades, os indivíduos que nelas residem podem perceber, utilizar e classificar recursos naturais de forma que estas interferências podem ser positivas ou negativas, podendo acrescentar ou modificar ao entendimento de cada um (NETO; PACHECO, 2004). As ações educativas devem se embasar no conhecimento empírico e mobilizar a comunidade, assim, será propagado para todos os atores sociais.



4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A variedade e o número de insetos coletados foram significativos numa perspectiva produtiva e positiva para o trabalho, apesar das coletas terem sido realizadas em um único período curto de tempo e na época de clima seco e quente. Os insetos da ordem Hymenoptera se apresentaram em maior quantidade e variedade na região, em relação à entomofauna coletada no solo. É necessária a realização de novas pesquisas, envolvendo outros métodos e períodos de coleta, para que se possam entender efetivamente as relações entre a biodiversidade e o equilíbrio do ecossistema na região. A exposição da amostra destes animais em caixa entomológica, durante o processo educativo, foi bastante proveitosa visto que essa mediação possibilitou que os agricultores e estudantes agrícolas assimilassem melhor a informação.

Quanto ao público alvo da oficina educativa, foi possível observar que o conhecimento prévio sobre a importância ambiental dos insetos estava relacionado ao estigma de que estes apenas causam danos e isso ocorre por meio de pragas nas plantações. Além disso, não possuíam a informação necessária sobre como aplicar técnicas adequadas aos seus cultivos, sendo que costumeiramente preferiam aplicar práticas equivocadas, como o uso de veneno no plantio.

Após a temática discutida, muitos participantes passaram a perceber que com informação e práticas adequadas de manejo, é possível estabelecer relações ambientais para que a biodiversidade seja preservada e seus cultivos não sejam prejudicados. Compreenderam ainda que a interação entre os insetos e o meio é fundamental para o equilíbrio ecológico.

Diante do exposto, percebeu-se que este trabalho educativo logrou êxito em seus objetivos propostos, que eram de discutir com os trabalhadores do campo sobre as boas práticas ambientais e sensibilizá-los a respeito da importância e preservação da entomofauna. Esse saber viabiliza o exercer de atitudes que contribuam para o desenvolvimento sustentável. Sugere-se a oferta de cursos de qualificação periodicamente para trabalhadores rurais e jovens que estão se capacitando na área agrícola, para que possam produzir com uma menor interferência na integridade dos ecossistemas.



REFERÊNCIAS


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Ilustrações: Silvana Santos