Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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05/03/2018 (Nº 63) USO DA DRAMATIZAÇÃO TEATRAL, COMO FERRAMENTA MOTIVADORA, PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA DE GEOGRAFIA, NA MODALIDADE DE ENSINO DE JOVENS E ADULTOS
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Uso da dramatização teatral, como ferramenta motivadora, para o ensino-aprendizagem na disciplina de geografia, na modalidade de ensino de jovens e adultos

José Gustavo da Silva Melo1; Elisabeth Regina Alves Cavalcanti Silva2; Mariana da Silva Melo3; Daniella Roberta Silva de Assis4

1Mestre em Desenvolvimento Urbano, pelo Departamento de Urbanismos, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Departamento de Ciências Geográficas. Rua 10, N. 95, Maranguape I, CEP 53444-530, Paulista, PE, Brasil. Fone: +55 81 9 99396778. E-mail: josegustavo_melo@hotmail.com

2Professora Ma. de Gestão Ambiental, no Departamento de Engenharia Ambiental, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) e Doutoranda em Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente – PRODEMA/UFPE. Alcântara, MA, Brasil. Fone: +55 81 9 97773347 E-mail: bellhannover@hotmail.com & elisabeth.silva@ifma.edu.br

3Graduanda em Direito, Faculdade Joaquim Nabuco, UniNabuco. Rua 10, N. 95, Maranguape I, CEP 53444-530, Paulista, PE, Brasil. Fone: +55 81 9 99396778. E-mail: marianameloadv13@gmail.com

4 Doutoranda em Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente – PRODEMA/UFPE, Departamento de Ciências Geográficas. Rua 10, N. 95, Maranguape I, CEP 53444-530, Paulista, PE, Brasil. Fone: +55 81 9 99396778. E-mail: daniellaassis@yahoo.com.br.



Resumo. Este artigo se constitui em uma pesquisa voltada para questões relacionadas à prática de intervenção pedagógica, por meio da dramatização do ensino de geografia. Observadas as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Esta pesquisa tem como objetivo analisar a intervenção pedagógica, por meio da dramatização de questões referentes ao ensino-aprendizagem do conceito de paisagem geográfica, na educação de jovens e adultos. O uso de metodologias de ensino interativas, atrativas e que possibilitem o trabalho em grupo constitui-se como o tema motivador do projeto de intervenção. Logo, optou-se por utilizar o teatro para ensinar a paisagem, por compreender que este é um recurso de fácil acesso, bem como uma experiência cultural divertida. Por sua vez, a realização do projeto pautou-se pelo desenvolvimento e execução de um plano de ensino que abordasse o conteúdo globalização, através do uso do teatro como principal procedimento de ensino-aprendizagem. Tal intento constatou que as práticas teatrais favorecem o desenvolvimento da capacidade comunicativa entre os alunos e entre alunos e a disciplina de geografia, bem como sua integração no ambiente escolar.

Palavras-Chave: Projeto Pedagógico; Estratégias de ensino; Formação plural; Percepção do saber

INTRODUÇÃO

O ambiente escolar é um campo de pesquisa riquíssimo, no entanto para que esse espaço se torne alvo de pesquisas e trabalhos, que pensem e elaborem formas de melhorar e até sanar as questões educacionais, é preciso uma integração entre universidade e escola, ou seja, teoria e prática (LOPES, 2013; VIEIRA, 2011). Nesse contexto, o estágio é um meio pelo qual é possível pesquisar a escola e suas caracterizações, promovendo assim o conhecimento de sua realidade cotidiana.

Para tanto, é necessário assinalar a importância da incorporação da pesquisa pelo estágio como atributo de suas atividades. Essa incorporação promove diretamente a articulação da prática com a teoria, tornando os processos vivenciados na escola um produtos da pesquisa feita no ambiente escolar (RAU, 2011; BOAL, 2008).

No entanto, nas escolas públicas há sempre problemas de diversos aspectos a ser tratados e resolvidos, isso é histórico e faz parte da realidade de todos os atores envolvidos no ambiente escolar (CASTELLAR; VILHENA, 2010). Porém, algumas escolas conseguem sanar grande parte desses problemas, seja de caráter estrutural, funcional e/ou organizacional, que assolam as instituições escolares.

Portanto, no mundo globalizado e repleto de informações, a escola deve disponibilizar atrativos aos alunos de modo que os mesmos consigam assimilar os conteúdos propostos (SAVIANI, 2009). Visto que, hoje existem dezenas de teorias, metodologias, estratégias de ensino, todas bem estruturadas, porém nem todas eficazes (FRANCO, 2009). Assim, dentre as inúmeras estratégias podemos destacar uma que contribui, não somente no sentido de aprendizagem, mas também na socialização dos alunos, nos referimos à dramatização.

Essa ferramenta teatral tem como finalidade buscar, na escola, a participação, a motivação, o estimulo, o convívio social, bem como o crescimento cultural, da linguagem oral e corporal (MORAIS; OLIVEIRA, 2008). Tal atividade pode ser usada em todas as etapas do ensino e disciplinas curriculares. Pois, na maioria dos casos geram bons e satisfatórios resultados, desde que tenha um acompanhamento qualificado e efetivo (SEVERINO, 2007). 

O teatro está inserido no universo das artes e â caracterizado por ser uma atividade que mistura artesanato e sofisticação, teoria e prática, espontaneidade e construção estática, racionalidade e irracionalidade, criatividade e técnica. Sendo também uma arte que mescla palavra, imagem, som, ação, luz, poesia e dramaticidade. Já que, é uma arte aberta e dinâmica, que sempre está sendo reinventada (DÓRIA, 2011).

Portanto, a dramatização ou apresentação teatral na escola é de grande valia, isso porque possibilita uma melhor compreensão dos conteúdos, além de promover uma socialização, aumento da criatividade, memorização entre outros fatores positivos na construção do conhecimento (VEIGA; VIANA, 2010). 

Diante disso, a problematização da realidade escolar, com base em leituras sobre ensino de Geografia, subsidiou a construção do Projeto, pois demonstrou a falta de motivação, a pouca importância e o desprezo que os alunos têm pela disciplina de geografia, devido em especial, a visão distorcida que se tem da aplicação do conhecimento da referida disciplina na vida e no mundo real (GATTI, 2009).

A escola campo, Escola Municipal Manoel Gonçalves da Silva, onde se realizou o estágio e por conseguinte a intervenção pedagógica, está localizada no bairro de Maranguape I, Paulista, Pernambuco, Brasil. Trata-se de um bairro que compõe o distrito de Maranguape, cujo município (Paulista) faz parte da Região Metropolitana do Recife (RMR), o referido fica a 11 km da capital (Recife), próximo das áreas centrais, o que para alguns pesquisadores (SAVIANI, 2009) revela uma inclusão socioespacial dos moradores.

Não obstante, o presente estudo pretende analisar a intervenção pedagógica, por meio da dramatização de questões referentes ao ensino-aprendizagem do conceito de paisagem geográfica, na educação de jovens e adultos. Para tal, avaliar-se-ão os procedimentos envolvidos nas atividades de estudo e pesquisa com vistas à intervenção na realidade dos alunos da modalidade de jovens e adultos.

Contudo, ressalta-se que os fundamentos teórico-disciplinares devem ser priorizados e trabalhados em todo o Projeto de Intervenção, em sala de aula. Sem esquecer, que a realidade da escola deve ser considerada pela permanente reflexão teórica.

MATERIAL E MÉTODO

A análise do contexto geográfico da área foi realizada na fase do diagnóstico da escola (Estágio III), na fase seguinte (Estágio IV), observação e intervenção de aulas, proporcionando oportunidade de acompanhar a rotina da sala de aula, o que subsidiou a estruturação do Projeto de Intervenção Pedagógica.

Porém, antes da aplicação do procedimento metodológico, dramatização, foi introduzida uma aula dialogada sobre o papel da geografia, objetivando ampliar o ensino-aprendizagem e suavizar as críticas à disciplina. Todas as aulas foram marcadas por muito diálogo e questionamentos, especialmente, sobre a cultura capitalista, semelhanças e diferenças entre Brasil e os demais países do mundo. Visto que, é através dos resultados das avaliações realizadas, na sala de aula, que constatamos o interesse dos alunos, por novas formas de aprendizagem.

Matérias usados no projeto

Utilizou-se o mapa mundi, como forma de localizar e visualizar a dimensão e as “fronteiras” globais, entre os países. Assim como, o recurso das palavras cruzadas (opcional), para aborda os conteúdos fenômenos naturais e aspectos humanos de modo integrado. Aconselha-se a fazer uma seleção de imagens e solicitar que os alunos busquem mais representações das paisagens em jornais, revistas, livros e sites para confecção de um painel.

Cabe destacar que, a principal atividade desenvolvida foi à dramatização de uma peça teatral, escrita e dirigida pelo docente mediador, o professor estagiário, após pesquisas em diversas bibliografias e demais recursos que serviram de complementação do objetivo primordial, a peça.

Como não se encontra uma peça teatral adequada ao tempo de aula, fomos obrigados a escrever um roteiro com algumas partes por completar, procurando enfatizar cada um dos conteúdos sobre a Globalização, tratando-se também das curiosidades de forma bem divertida e simples. O roteiro teatral começa da seguinte forma:

Estudantes em cena: Estão sentados em volta da mesa.

Caroline: (gesticulando preocupada) Estamos em apuros! Como vamos sair dessa?

Marcos: (Diz) Imagine! Fazer um trabalho sobre o _________onde os países tem várias____________! Isto sim é um problema.

Procedimentos Metodológicos

Para cada aula foi proposto atividades, pensado em avaliar a realização do trabalho coletivo, frente a uma sociedade cada vez individualista (MACLAREN, 2006). Tais atividades buscaram acrescentar novas informações e saberes ao alunado, a cada aula. Não se deve construir avaliações individuais, mas uma análise de como o alunado trabalha em grupo, bem como do esforça para realizar as ações propostas. As referidas estão distribuídas da seguinte forma:

  • Trabalho em grupo com palavras cruzadas para melhor entendimento sobre os aspectos naturais, políticos e econômicos “Geomundiais”;

  • Trabalho em grupo buscando distinguir a estrutura social, cultura e religião, ciência e tecnologia no diversos países do mundo, através de reportagens de jornais, textos e imagens (sites);

  • Trabalho em grupo com imagens retiradas de jornais, revistas e meio digital buscando conhecer as diferentes paisagens do mundo;

  • Complementação do roteiro e encenação de uma peça teatral “conversando com a Geografia” que focalizou paisagem Global: aspectos naturais, sociais e políticos (APÊNDICE 1).

Ao recorrer a esse tipo de metodologia o professor terá a oportunidade de avaliar a postura de cada aluno, especialmente ligados ao comportamento desenvolvido coletivamente ou individual. Atividade como essa atrai os “alunos problemas”, pois muito deles possuem potenciais nesse seguimento, e que devem ser explorados.

Para o desenvolvimento das atividades do Projeto de Intervenção foi solicitado ao Professor supervisor do estágio IV (Professor de Geografia da Escola campo) da Fase 4 do EJA, cinco aulas de quarenta e cinco minutos cada, realizadas nos dias 13/10 (duas aulas) e 20/10/2016 (três aulas).

Deste modo, o presente documento está estruturado da seguinte forma: no tópico dramatização como possibilidade no ensino de Geografia apresentam-se considerações sobre a educação geográfica, a formação de professores, a elaboração do plano de ensino e sobre a seleção da temática Globalização para ensinar o conceito de paisagem. Na sequência há o tópico desenvolvendo a proposta: os procedimentos utilizados nas aulas, onde se encontra uma descrição das cinco aulas ministradas buscando destacar o conteúdo.

RESULTADOS E DISCUSÃO

Filósofos, em diversas épocas da História, já destacavam a importância do ensino das artes na escola através de jogos de expressão: Montaigne, por exemplo, afirmava que jogos de criança não são esportes e deveriam ser sua mais séria ocupação. Leibniz apoiava o teatro com a condição de que fosse instrutivo (MENDOZA ALARCÒN, 2012). Para Locke, a arte deveria ser prática e para Rousseau, a primeira fase da educação da criança deveria ser quase inteiramente baseada em jogos (RODRIGUEZ, 2012; COURTNEY, 2003).

Não obstante, o ensino sobre paisagem relaciona-se bastante com o que pode ser visto, mas requer também a identificação da localização das paisagens estudadas, pensando nisso ao longo das aulas foram utilizados alguns instrumentos de ensino, como: matérias de jornal, artigos científicos e jogos lúdicos.

Desenvolvimento do projeto de forma estratégias

O ensino de Geografia é imprescindível para a edificação da cidadania. Pois, segundo Pontuschka; Paganelli (2007) o ensino de educação geográfica na escola consiste em proporcionar aos indivíduos e/ou cidadãos, uma compreensão da espacialidade das coisas, dos fenômenos que elas vivenciam, diretamente ou não, como parte da história social. Desta forma, a proposta de utilizar o teatro enquanto recurso pedagógico em sala de aula, ou melhor, como metodologia de ensino tem o objetivo de alcançar um processo de ensino-aprendizagem do conceito geográfico de paisagem.

Consequentemente, adotou-se a conceituação, de Santos (2006, p. 61), sobre paisagem que diz: “Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem”. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abrange. Uma vez que, a referida categoria de análise, não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.

Diante do exposto, foi pensado para minimizar prejuízos desse pensamento desvirtuado, o uso do teatro como metodologia de ensino-aprendizagem, particularmente, do conceito paisagem. As referências usadas foram Pontuschka; Paganelli (2007) para o ensino de Geografia; Santos (2006) sobre a paisagem, Tardif (2002) sobre a formação de professores, em Eidt (2009) encontramos referências sobre a práxis escolar; entanto, para Bittar; Oliveira; Morosini (2008) a discussão sobre teoria e prática na formação dos professores, fornecida pelas faculdades de Geografia encontram-se defasadas se compararmos a realidade observada no ambiente escolar, situação que por vezes causam choques e embates entre os professores, alunos e gestão educacional, ou melhor, gestão escolar.

É necessário compreender que ao final da elaboração da intervenção, o Professor poderá ser transformado pelo produto de seu trabalho, ou seja, humanizado devido a maior apreensão do conhecimento historicamente produzido pelo homem.

No entanto, vale esclarecer que, nesta perspectiva, a apreensão dos saberes historicamente elaborado pela humanidade, pelo processo racional e intencional, é priorizada e se articulam aos conhecimentos denominados científicos, que se distanciam dos conhecimentos espontâneos e empiristas.

Portanto, a elaboração de projetos de intervenção na escola é fundamental para a formação docente (ESTEBAN, 2004). Logo, segundo Eidt (2009) a realização de pesquisa nos cursos de formação inicial de professores tem grande importância para o docente, à medida que, durante o processo de aperfeiçoamento da profissão, ele desenvolve valores, comportamentos e atitudes que contribuem para problematizar a realidade.

Por sua vez, a formação plural é relacionada à realidade profissional, sendo esse um dos objetivos das faculdades de Licenciatura, especificamente, a de Geografia. Desta maneira, o Teatro propicia aos acadêmicos o entendimento da realidade profissional a partir da realização do projeto de intervenção pedagógica (SCHAFFRATH, 2007). Logo, não basta reproduzir ipsis litteris aquilo que é apresentado nos livros ou pelos professores, mas, a partir do que lhe é proposto, reconstruindo o conhecimento de um ponto de vista crítico e reflexivo.

A dramatização como possibilidade no ensino de Geografia

Para início do Projeto de Intervenção Pedagógica faz-se necessário observações e relatórios sobre a estrutura física da Instituição de Ensino, para se constata a mínima estrutura, sendo esta, simples e adequada ao ensino, porém bastante criatividade do professor, no que tange a utilização dos materiais didáticos. Em seguida fez-se uma entrevista com o alunado (sujeito do projeto), o resultado dessa, evidenciará se os estudantes da Escola possuem as condições necessárias para o desenvolvimento do projeto (TELLES, 2008; SANTOS, 2005).

Desta forma, ao transformar o material de estudo o aluno transforma a si mesmo e o meio em que está inserido. Assim compreendido, o ato de estudar é dimensionado como uma atividade constitutiva do ser humano e transformadora da realidade. O estudante se defronta com o conhecimento e com a realidade a fim de melhor compreendê-los, explicá-los, transformá-los.

A partir dos resultados da entrevista e leituras sobre ensino de Geografia, construiu-se o Projeto de Intervenção Pedagógica, em que se busca ensinar a referida ciência, através da dramatização. Sobre a dramatização, Farias (2008) pondera que esse procedimento é muito adequado ao ensino, diante da possibilidade de desencadear processos mentais importantes para o desenvolvimento dos alunos, visto que, cria condições de expressão criativa e propiciar o trabalho coletivo.

Torna-se preponderante desenvolver um plano de ensino que busque uma metodologia construtivista, entendida como a mais adaptada, já que se objetiva a interação entre e com os alunos (JESUS, 2006; GATTI, 2003). Para que, assim, eles construam o seu próprio conhecimento sobre paisagem.

Partindo-se da premissa que a intervenção pedagógica é uma interferência que um profissional, tanto o educador quanto o psicopedagogo, faz sobre o processo de desenvolvimento ou aprendizagem do sujeito, o qual no momento apresenta problemas de aprendizagem (PONTUSCHKA; PAGANELLI, 2007). Entende-se que na intervenção o procedimento adotado interfere no processo, com o objetivo de compreendê-lo, explicitá-lo ou corrigi-lo (BLAUTH, 2007). É preciso introduzir novos elementos para que o sujeito, pense, elabore de uma forma diferenciada, quebrando padrões anteriores de relacionamento com o mundo das pessoas das ideias. 

O tema escolhido para este projeto de intervenção pedagógica, Globalização, está de acordo com o conteúdo proposto pela da escola, para o ano de 2016. Por sua vez, foi escolhida como campo da intervenção (Recorte Teórico) a Fase 4 Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que corresponde aos 8º e 9º anos, do ensino fundamental regular, Modalidade Básica de Educação.

O plano de ensino foi estruturado num conjunto de cinco aulas de quarenta e cinco minutos cada, sobre os seguintes conteúdos:

  • 1ª aula: O papel do conceito paisagem na Geografia e os aspectos físicos e ambientais da Globalização;

  • 2ª aula: Aspectos políticos, econômicos e populacionais do sistema capitalista;

  • 3ª aula: Através de imagem conhecer um pouco da cultura, principais cidades do Mundo;

  • 4ª aula: Complementação e dramatização de uma peça teatral visando compreender a paisagem Global e a relação entre aspectos naturais e sociais;

  • 5ª aula: Entrevista com os alunos participantes, sobre as impressões e saberes apreendidos posteriormente a implantação do projeto.

Concordando com a Confederação Nacional de Educação (II CONAE 2014) e a Federação Nacional de Educação (FNE) que a escola é um lugar de socialização do conhecimento e é especialmente importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes a única, de acesso ao mundo letrado, do conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a arte (DOURADO, 2014; SAVIANE, 2014; XIMENES, 2014).

Logo, percebe-se o quanto é importante a busca de estratégias sérias e diversificadas que favoreçam tais contatos, pois é lamentável que muitos alunos “passem pela escola” sem ter-lhes sido proporcionadas situações mais específicas ao seu desenvolvimento comunicativo e expressivo (DESGRANGES, 2006; CABRAL, 2006).

Intervenção Pedagógica e seus resultados na sala de aula da FASE IV EJA

Na primeira aula foi feita a apresentação do Projeto e o passo a passo das atividades do estágio da faculdade de licenciatura em Geografia, da Universidade Federal de Pernambuco. No tocante a avaliação da aula teve como base o preenchimento das lacunas do roteiro, deve-se ressaltar que o resultado foi satisfatório apesar do grande número de alunos que faltaram nesse dia (13/10/2016).

No iniciar da segunda aula indagou-se aos alunos o que eles se lembravam da aula passada, servindo assim, como recapitulação introdutória desta aula. As respostas foram assinaladas no quadro para uma visão abrangente das mesmas. Partindo desse apoio de conteúdo, o qual se baseou na compreensão da história política, aspectos econômicos e populacionais da globalização, se construiu o saber cientifico, mediado pelo professor, do conceito de paisagens. Tal ferramenta auxiliou na elaboração e apresentação da dramatização, desenvolvida nas aulas subsequentes.

Durante essa aula realizou-se exposição sobre os aspectos humanos e sociais da paisagem, utilizando como recurso didático reportagens de jornais e revistas (TV, Eletrônicas e WEB) de grande circulação no Brasil. Depois da exibição dos conteúdos solicitou-se que os estudantes se reunissem em quatro grupos, cada grupo ficou responsável por ler, fazer um resumo e apresentar aos colegas a reportagem de sua competência.

Os temas das reportagens foram: o terrorismo no Mundo, as Olimpíadas RIO2016, terremoto na Itália e o PIB do Brasil. Os estudantes aceitaram a atividade proposta, porém, fizeram vários questionamentos, que foram respondidos a contento dos questionadores.

Na terceira aula, 20/10/2016, os alunos fizeram uma exposição dialogada sobre a reportagem lida, por cada grupo, gerando assim, perguntas sobre o conteúdo. Posteriormente, a explanação questionou-se os alunos sobre as imagens das diferentes paisagens, projetadas em cada matéria jornalística, solicitou-se aos mesmos, uma explicação para este fato. A sua maneira, cada grupo expõe suas respostas, com argumentos para subsidia-la. A nosso ver, os argumentos empregados por eles, para responder a indagação sobre os diferentes tipos de paisagem, retratadas pela globalização, foram satisfatórias.

Na sequencia a 4ª aula teve como conteúdo as paisagens capitalistas: aspectos naturais, sociais e políticos. Para tal, foram usados recursos didáticos (Livro, WEB e Revistas), também foi avaliada a dramatização de uma peça de teatral, entregue na primeira e segunda aula, no dia 13/10/2016, para apresentação na quarta aula. Foi utilizado como veiculo pedagógico a dramatização, pois esse é um procedimento sistematizador e consolidador da temática paisagem, tratada nas três aulas anteriores.

Ao se iniciar a peça, percebemos que os estudantes assistiam à peça teatral concentrados, como todos completaram o roteiro, alguns acompanharam a dramatização lendo o roteiro e dando sugestões as personagens. Logo, analisou-se a dramatização como atividade produtiva, pois todos interagiram na aula e dialogaram sobre o conteúdo proposto.

Finalmente, na 5ª aula, reservada para entrevistas com os estudantes, a respeito dos saberes abordados nas cinco aulas. Não obstante, obtivemos respostas extremamente satisfatórias, visto que os estudantes demostraram um grande interesse e agilidade pela intervenção realizada. Por sua vez, procurou-se aproximar o Projeto de Intervenção Pedagógica da realidade escolar, que infelizmente não conta com materiais didáticos para teatro. Sendo assim, optou-se por realizar uma atividade simples, porém que motivasse os alunos a construir conhecimento.

A realização do ensino-aprendizagem pauta-se pela indissociabilidade, entre a teoria e prática, já que tal entendimento provoca a relação de interdependência. Já que a atividade teórica possibilita o conhecimento da realidade e a afirmação das finalidades para sua transformação, uma vez que a teórica não é suficiente. Logo, é necessário que prática atue sobre essa, pois é ela que, com base no social é capaz de revelar a verdade ou a falsidade. Ou melhor, é a partir da prática que podemos verificar se existe correspondência entre o pensamento e a realidade (GANDIN, 2008).

Alinhado a isso, Bittar; Oliveira; Morosini (2008) dizem que o cotidiano no ensino é uma importante referência no processo de ensino-aprendizagem, quer se trate da educação básica e/ou EJA, quer se trate do ensino superior.

Logo, considera-se de grande relevância o imbricamento entre teoria e prática, para efetivar a práxis na sala de aula, por isso iniciam-se as atividades do estágio, com leituras de texto, visita a escola campo e monitoria de aulas.

Contudo, a escola é um ambiente totalmente social, a diversidade de identidades nela presente contribui para que ela seja um espaço cultural, de descobertas, de conhecimento, de aprendizagens, de emoções, de relações e comportamentos (SIMIONI, 2008). Analisar a escola como um espaço sociocultural significa compreendê-la na ótica da cultura, sob um olhar mais denso, levando em consideração a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, negros e brancos, adultos e adolescentes, enfim, alunos e professores, seres humanos concretos, sujeitos sociais e históricos, presentes na história, atores na história (SAVIANI, 2014; EIDT, 2009).

CONCLUSÃO

O teatro é uma forma de representar a realidade vivida, de conhecer as possibilidades que temos diante de um problema, além de propiciar aos alunos um roteiro elaborado que busque a percepção e a construção de algo, tornando a aula mais atraente para o alunado. Todavia, o docente tem, por obrigação, que buscar, constantemente, novos caminhos para que todos tenham atenção e vontade de apreender mais, mediando e desenvolvendo potencialidades.

Sendo assim, considera-se que é possível aliar conhecimento geográfico e atualidades, em sala de aula, tendo em vista descobrir a realidade atual, bem como fatos que podem ser construídos, ponderando sempre sua explicação no tempo histórico.

Conclui-se que o Projeto de Intervenção Pedagógica, por meio da dramatização, cumpriu o objetivo principal de trabalhar o conceito geográfico de paisagem de forma bastante dinâmica. Devido ao tempo das aulas e o grande conteúdo proposto, em conversas com os alunos, identificou-se que os mesmos compreenderam o que é a paisagem e como esse estudo é feito pela Geografia, assim como a relevância da disciplina na formação do cidadão, enquanto ser pensante e crítico da sociedade.

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Ilustrações: Silvana Santos