Tendo em vista a atual importância econômica do setor do eventos e considerando o impacto ambiental que decorre dessas realizações, é importante às instituições de ensino, sensibilizar os futuros profissionais para a preservação dos recursos naturais evidenciando medidas que contribuam para o desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, o Curso Superior de Graduação Tecnológica em Eventos, da Universidade de Fortaleza (Unifor), criado no ano 2012, oferta durante o primeiro semestre, a disciplina Gestão Ambiental e Sustentabilidade em Eventos. A carga horária equivale a 36 horas/aula e propõe-se a desenvolver no aluno a capacidade de “conscientizar, compreender e aplicar a relação socioambiental, frente à gestão de negócios em turismo e eventos visando à sustentabilidade.” (UNIFOR, 2017)

A referida disciplina vinculou-se ao Programa de Monitoria Acadêmica da Universidade de Fortaleza em 2016. Desta forma, a docente conta anualmente com o apoio de duas monitoras para condução de atividades complementares de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, as monitoras conduzem o Grupo de Estudo Dirigido (GED) e tem condições de desenvolver competências de iniciação à docência: a) tiram dúvidas dos conteúdos aplicados em sala de aula; b) dão suporte a vida acadêmica esclarecendo sobre o curso e demais programas institucionais c) contribuem para aproximação dos colegas junto ao mercado, sobretudo motivando e evidenciando oportunidades ofertadas pelo curso.

A crescente internacionalização de normas e boas práticas relativas a sustentabilidade em eventos, trazem para a sala de aula um cenário em que diferentes referenciais teóricos e metodologias de ensino são cada vez mais necessários para promover a compreensão dos conteúdos apresentados.

A GRI – Global Report Iniciative (2012), por exemplo, estabelece diretrizes específicas dirigidas aos organizadores de eventos, que permitem que os mesmos, antes ou depois do evento, comuniquem informação qualitativa e quantitativamente acerca do seu desempenho face à sustentabilidade.

Benefícios internos e externos na adoção das diretrizes do GRI

Fonte: GRI (2012)

Além de referencial teórico técnico, vinculado a normas e padrões internacionais, a disciplina também recorre a autores que exponham o tema de outras maneiras.

Quadro 1: Práticas a serem adotadas na realização de eventos sustentáveis

Adaptado de Santos (2011)

Ainda assim, o estudo de casos práticos é cada vez mais necessário para que os alunos compreendam os obstáculos, os benefícios e as práticas viáveis considerando o mercado local como ambiente real de atuação.

Dentro dessa proposta, convidou-se um profissional especializado para um diálogo direto com os alunos mostrando o caso do Eubiose Ecofestival.

A Construção da Experiência

Para a construção desse relato de experiência, fez-se o seguinte percurso metodológico:

1 Busca por “ecofestival” em buscadores e redes sociais

Para encontrar um evento de entretenimento realizado em Fortaleza que pudesse servir como caso prático para a disciplina, buscou-se por “evento sustentável Fortaleza” e “evento verde Fortaleza”, contudo, o resultado não foi satisfatório. Ao procurar por “ecofestival Fortaleza”, o Eubiose apareceu entre os primeiros resultados. Procedeu-se a visita ao site e redes sociais (Facebook) para conhecer melhor o conceito do evento.

2 Pesquisa no site do Eubiose Ecofestival

Eubiose Ecofestival, um evento holístico e alternativo, criado como forma de oferecer ao público algo diferente aos grandes shows apresentados hoje no Brasil. A primeira edição do evento aconteceu em 2015. Tem como princípio fundamental a unificação de corpo, alma e espírito, além de despertar a preocupação com a integração homem-natureza a partir dos princípios da permacultura.

Figura 01: Capa do site do Eubiose Ecofestival

Fonte: https://www.eubioseecofestival.com/ Data de Acesso: 05 de março de 2017

3 Convite ao organizador do evento através de e-mail

A partir dos dados disponíveis no site do evento, entrou-se em contato por e-mail explicando a proposta da disciplina e do GED, bem como, o interesse em conhecer mais sobre o evento. O produtor do Eubiose Ecofestival, Davi Farias, mostrou-se solicito e disponível para conversar com os alunos.

4 Divulgação da atividade

A divulgação da palestra foi feita através da página interna da Unifor (clipping do Unifor Online) disponível a toda comunidade acadêmica e compartilha nas redes sociais diretamente pela professora e monitoras da disciplina. O convidado também compartilhou a ação em sua página pessoal, tendo um engajamento de 132 pessoas reagindo a publicação e 11 comentários.

5 Realização da aula e apresentação do evento

A aula aconteceu no dia 31 de março de 2017. Tratou-se de uma exposição dialogada com amplo espaço para perguntas, comparações e comentários. Teve duração de 2h15 (das 18h00 às 20h15). O site do evento foi a base para apresentação dos conceitos, espaços e práticas do evento. Também recorreu-se ao site do Boom Festival, evento realizado em Portugal e que inspirou a criação do Eubiose.

6 Avaliação da experiência

Após a aula, foi enviado aos alunos um formulário eletrônico utilizando os recursos do Google Forms para avaliação da experiência. O recurso, além de avaliar a compreensão sobre alguns aspectos apresentados na palestra, também ajudou a validar a experiência pedagógica.

Resultados e Discussões

O produtor do evento, Davi Farias, apresentou no início da conversa, o seu percurso profissional. Formado em Administração, não encontrava satisfação na profissão que exercia. Ao visitar o sitio de um amigo, tomou contato com as práticas de permacultura e bioconstrução. Também por música eletrônica, percebia que nas raves e festas, os espaços chill out, caractecrizados por um ritmo mais leve, próprio das atividades de relaxamento, ocupavam um contexto secundário nessas festas.

Assim, ao mudar-se para um sítio, decidiu reunir seus interesses e promover um evento de música eletrônica centrado no chill out., permacultura e atividades holísticas (biodança, reiki, yoga, espaço de cura, oficina de mandalas, oficina de horta orgânica). A primeira edição do Eubiose Ecofestival aconteceu em 2015 e contou com 200 pessoas. A edição de 2016 teve 230.

Das práticas propostas por Santos (2011), identificou-se o reaproveitamento dá água; gestão de resíduos; uso econômico de energia; opção por materiais e ambientação de pouco impacto ambiental. Não foram identificados ações de neutralização de carbono e promoção da acessibilidade nas práticas do Eubiose Ecofestival. A fala do produtor do evento, trouxe também temas polêmicos sobre a responsabilidade do organizador diante do (cada vez mais comum) consumo de drogas e introduziu na aula o debate sobre redução de danos.

Sobre os resultados da pesquisa aplicada após a palestra: 28 respondentes de 35 presentes, ou seja, obteve-se 80% de respostas. 100% identificaram que o diferencial do Eubiose Ecofestival está nas práticas de sustentabilidade desenvolvidas. Também verificou-se que 96,4% assimilaram de forma apropriada o conceito de bioconstrução e de permacultura aplicado ao planejamento de espaços de eventos alternativos. Também todos os alunos identificaram que Ecstasy e LSD são as drogas sintéticas mais presentes em festas de música eletrônica. Os respondentes sinalizaram que o risco associado ao consumo de drogas é bastante elevado, e vai desde a elevação do risco de ataque cardíaco ao aumento de situações de violência e assédio durante as festas, devendo o produtor de evento estar atento a essas variáveis que podem implicar em danos à imagem do evento. Os alunos mostraram-se satisfeitos ou muito satisfeitos com a atividade.

Considerações Finais

Os profissionais de eventos precisam cada vez mais atuar no mercado de maneira ética e responsável, atentos também às necessidades de gestão sustentável de seus projetos. Por isso, a relevância da disciplina de Gestão Ambiental e Sustentabilidade em Eventos no contexto da Graduação Tecnológica em Eventos.

Esse relato de experiência mostrou que o diálogo com profissionais de mercado e a exposição de eventos reais que utilizam na prática o que é visto na disciplina traz resultados significativos o processo de ensino-aprendizagem. A conversa contribuiu para promover uma visão holística da organização de ecofestivais, despertando a consciência dos alunos para muitos fatores antes negligenciados, tais como o desperdício de alimentos, materiais e recursos naturais.

A prática da monitoria acadêmica, como exercício de iniciação à docência, é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento do monitor e o GED aproxima professor, monitor e alunos e por meio do compartilhamento de conhecimentos e experiências profissionais e acadêmicas.

Referências

GRI. (2012). Sustainability Reporting Guidelines & Event Organizers Sector Supplement. Global Report Initiative. Amesterdã. Disponível em: goo.gl/KfDGgG Acesso: 28/08/2017

UNIFOR. Graduação Tecnológica em Eventos. Disponível em: goo.gl/k6ZTg6 , acesso em 25/07/2017.

EUBIOSE ECOFESTIVAL. Disponível em: https://www.eubioseecofestival.com. Acesso: 25 de agosto de 2017.

SANTOS, Meire D. Eventos verdes. In: Matias, Marlene (org) Planejamento, organização e

sustentabilidade em eventos culturais, sociais e esportivos. Barueri, SP: Manole, 2011.