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ABORDAGEM ATIVA: COMBATER PARASITOSES É BRINCADEIRA
Ana Carolina Tubaldini Vilela1 Igor Félix Miziara1 Jefferson Felipe Barbosa Felix1 José Paulo de Oliveira Souza1 Laís Regina Amaral Lima1 Luan Mayquel Fernando Ramos Izidoro1 Matheus Pagani1 Prof. Dr. José de Paula Silva2
Acadêmicos do Curso de Medicina – Universidade do Estado de Minas Gerais1 Professor de Parasitologia do curso de Medicina da Universidade do Estado de Minas Gerais2
RESUMO A ascaridíase, causada pelo nematelminto Ascaris lumbricoides, é uma das helmintíases mais comuns, se não a mais, no Brasil, tendo alta prevalência, afetando principalmente pessoas residentes de áreas rurais, urbanas marginalizadas e carentes, e crianças de escolas públicas. Tendo isso em vista, o trabalho de extensão visa à prevenção primária da doença em crianças do 4º e do 5º do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Jair Santos, em Passos, Minas Gerais. Na primeira visita à Escola, foi ministra uma pequena palestra lúdica, inteligível à faixa etária ouvinte, por meio de slides projetados. Foram ensinados às crianças os sintomas da ascaridíase, suas formas de infecção, e principalmente, as medidas preventivas, como sempre lavar as mãos e os alimentos antes de qualquer contato oral. Como a faixa etária encontra dificuldade em manter a atenção em assuntos fora do cotidiano, esses assuntos eram tratados por meio de personagens infantis nos slides, poucos textos escritos, e muita interação lúdica entre palestrantes e crianças, sempre visando à participação ativa dessas. Na segunda visita, foi feita uma pequena gincana com os alunos. Na quadra da Escola, foram divididas igualmente duas equipes, independente de sexo e de idade, e formadas duas fileiras. Ao som do apito, o primeiro integrante de cada fileira deveria correr até um monitor, posto a 30m de distância das fileiras, e bater na mão dele; quem batesse primeiro, deveria indicar dois membros de sua equipe para ir a uma bancada. Nessa bancada, outro monitor faria uma pergunta simples sobre a ascaridíase e, se respondida corretamente pelos alunos, a equipe que respondeu receberia um ponto, caso contrário, a equipe adversária o receberia. Venceria a equipe que tivesse mais pontos. Ao final, todos os alunos, independentemente de equipe, receberam jujubas em forma de minhoca. Com essa extensão, foi notado, por meio dos comentários, e mesmo pelas ações conscientes e inconscientes das crianças durante as atividades, que os alunos apreenderam a maioria das informações básicas necessárias à prevenção da ascaridíase, criando a esperança da redução da prevalência da helmintíase naquele ambiente escolar.
ABSTRACT On the first visit to the school, was given a small lecture, intelligible to the listening age group, through projected slides. Children were taught the symptoms of ascariasis, its forms of infection, and especially, preventive measures such as always washing hands and food before any oral contact. As the age group finds it difficult to maintain attention in subjects outside the daily life, these subjects were taught through children's characters on the slides, few written texts, and a lot of playful interaction between speakers and children, always aiming at their active participation. On the second visit, a little gymkhana was held with the students. In the school's court, two teams were divided equally, regardless of sex and age, and formed two lines. At the sound of the whistle, the first member of each line should run to a monitor, 30 meters away from the lines, and hit his hand. Whoever hit first, should indicate two members of his team to go to na examining board. On that board, another monitor would ask a simple question about ascariasis, and if answered correctly by the students, the responding team would receive a point; otherwise, the opposing team would receive it. The winner team would be the one that had more points. In the end, all students, regardless of team, received jelly beans in the shape of worms. With this extension, it was noticed through the comments, and even by the conscious and unconscious actions of the children during the activities, that the students learned most of the basic information necessary for the prevention of ascariasis, creating the hope of reducing the prevalence of the helminthiasis in that school environment.
INTRODUÇÃO A elevada prevalência de parasitoses na população mundial ainda é um dos grandes problemas de saúde pública, sendo que aproximadamente 25% da população mundial são acometidos por algum tipo de parasitose intestinal, segundo dados da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. (COSTA, 2017) As infecções parasitárias estão entre as desordens mais prevalentes nas crianças em idade escolar, de forma que estimativas recentes apontam que 55% das crianças no Brasil apresentam infecção por enteroparasitas (PEDRAZA, 2014; PRADO, 2001). Dessa forma, é especialmente necessária atenção sobre o problema, já que as enteroparasitoses representam um fator importante na etiologia das anemias carenciais e da desnutrição, pois a eficiência da utilização dos alimentos pode estar comprometida em razão das infecções parasitárias (BISCEGLI, 2009). Isso resulta em uma redução da capacidade cognitiva e causa prejuízos no aprendizado e crescimento em uma idade crucial da vida, podendo causar prejuízos no desenvolvimento (SOARES, 2016). As enteroparasitoses são doenças consideradas negligenciadas por pertencerem à um grupo que afeta predominantemente as populações mais carentes, contribuindo para o ciclo de pobreza, desigualdade e exclusão social e em escolas, a situação pode agravar-se em virtude da aglomeração aliada à falta de educação sanitária em algumas instituições. Isso facilita a prevalência de alguns parasitas, devido às diversas formas de disseminação em locais com grande número de pessoas. Assim, as unidades escolares podem potencializar o processo de transmissão e constituir um importante foco de contaminação. (ALBANO, 2016; MONTEIRO, 2017) Dessa forma, visando manter unidos os princípios da extensão e ensino e a interdisciplinaridade dos conhecimentos, o projeto tem como objetivo trazer, de forma lúdica, o conhecimento sobre as formas de prevenção primária de parasitoses intestinais, em especial a Ascaridíase, para as crianças cursando o ensino fundamental em uma escola pública da cidade de Passos. (LIMA, 2017).
MATERIAIS E MÉTODOS Para a elaboração da atividade de extensão em comunidade realizada na Escola Estadual Professor Jair Santos, no município de Passos-MG, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre estratégias de pedagogia voltadas ao público alvo da prática, que foi realizada com crianças do 4º e 5º ano do ensino fundamental dessa escola. A partir disso, foi elaborada uma palestra com a utilização de slides em “Power Point, associados ao projetor e computador fornecidos pela própria escola, para elucidar às crianças o processo de infecção, contágio, tratamento e prevenção da ascaridíase. Toda a palestra foi lúdica e voltada para o entendimento do público-alvo, utilizando linguagem simples e apropriada para a faixa etária que estava sendo ensinada. No segundo dia de atividades, foi realizado um jogo de perguntas e respostas para as crianças sobre a ascaridíase e o Áscaris Lumbricoides, que foram dividias em dois grupos com meninos e meninas. Cada etapa do jogo se iniciava com uma corrida de 30 metros com um integrante de cada equipe. A equipe que vencesse a corrida poderia responder primeiro a pergunta sobre a patologia. Foram realizados dez ciclos de perguntas. Todo o processo foi realizado na quadra poliesportiva da escola com supervisão dos professores e do diretor da instituição de ensino. As regras do jogo foram elaboradas e lidas para os participantes antes do início da atividade, elucidando possíveis dúvidas e normatizando o processo psicopedagógico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO O jogo realizado com as crianças do 4º e 5º ano da Escola Estadual professor Jair Santos de Passos-MG contém perguntas e respostas (Tabela 1) e uma descrição completa das regras (Tabela 2) que fazem-no efetivo e podem mostrar o nível de entendimento adquirido pelos alunos durante a palestra de uma hora previamente realizada. Naturalmente, as perguntas tinham um nível de complexidade compatível com a capacidade cognitiva de crianças que estão desenvolvendo suas habilidades durante a fase que Freud classifica como a mais adequada para se adquirir múltiplos conhecimentos, chamada de fase da latência do desenvolvimento freudiano. Como cada estudante só poderia participar de uma das etapas da competição pedagógica, todos tiveram a possibilidade de participar, seja da corrida ou das perguntas propriamente, o que gera uma estabilidade e um sentimento de realização em todos os participantes. Durante os 10 ciclos de perguntas, apenas uma vez a equipe que venceu a corrida não foi capaz de responder adequadamente o que lhes foi perguntado, portanto, o nível de conhecimento dos alunos sobre a parasitose após a palestra lúdica introdutória foi satisfatório, mostrando que um dos objetivos centrais da atividade foi alcançado com sucesso. Além disso, ao final do processo pedagógico, foi distribuída uma premiação para cada participante, tanto da equipe vencedora, como da equipe derrotada, a fim de mostrar que, no fim das contas, a experiência diferencial no ambiente escolar e o conhecimento adquirido para a vida são mais relevantes que a simples vitória na competição. O modo como foi tratada a atividade fez com que todos pudessem se sentir gratos e prestigiados, garantindo um bom relacionamento entre saúde e comunidade.
Tabela 1- Perguntas utilizadas na atividade pedagógica para se analisar a eficiência da palestra sobre a ascaridíase.
É importante sempre ressaltar que a tabela acima traz um modelo de resposta com linguagem na norma padrão da língua, porém, para a maior efetividade do projeto, é relevante buscar entender ao máximo a linguagem da criança e se fazer entender, com uma linguagem simples e adequada ao contexto social a ser utilizada.
Tabela 2- Regras utilizadas no “jogo da lombriga”, que foram lidas aos estudantes antes do início da competição e respeitada por todos durante o processo pedagógico-educacional.
Tabela 3- Tabela representativa do plano de ação aplicado.
Figura 1 –Execução da intervenção: O Jogo da Lombriga
CONCLUSÃO Com a elaboração desse projeto de extensão na comunidade, foi possível ter um bom entendimento das relações entre saúde e comunidade. Sendo que os resultados obtidos com o processo com as crianças foram muito positivos, já que elas demonstraram grande interesse e verdadeiro aprendizado ao longo dos dois dias de atividades. O alto percentual de acerto nas questões mostra que a palestra lúdica teve grande efetividade e que as questões pré-selecionadas estavam de acordo com o conteúdo que foi abordado com todos. Em geral, a atividade propiciou aos elaboradores uma grande experiência, que vai além da prática médica e da formação continuada, sendo um importante experimento social que vai de acordo com as diretrizes do curso de medicina.
REFERÊNCIAS ALBANO, F. A. P. et al. Frequência de estruturas parasitárias em banheiros e salas aula de escolas públicas de Teresina, Piauí. Revista de Patologia Tropical, Goiânia, v. 45, n. 2, p. 192-202. abr./jun. 2016. Disponível em: <http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/18833/2/ve_Fellype_Albano_et_al_2016.pdf >. Acesso em: 29 jun. 2017. BISCEGLI, T. S., Romera, J., Candido, A. B., dos Santos, J. M., Candido, E. C. A., &Binotto, A. L. (2009). Estado nutricional e prevalência de enteroparasitoses em crianças matriculadas em creche. Revista Paulista de Pediatria, 27(3), 289-295. COSTA, T. C. AVANÇOS E PERSPECTIVAS PARA O CONTROLE DE ENTEROPARASITOSES: Uma revisão. 2017. Disponível em: <http://177.107.89.34:8080/jspui/bitstream/123456789/407/1/ThaisCOSTA.pdf> Acesso em: 29 jun.2017 LIMA, C. M. B. L. et al. Intervenção educativa no conhecimento das geo-helmintíases em escola municipal. Revista Ciência em Extensão, v. 13, n. 1, p. 91-101, 2017. Disponível em: <http://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/view/1375/1354>. Acesso em: 29 jun. 2017 MONTEIRO, Ana Carolina da Silva et al. Prevalência e fatores associados à enteroparasitoses em escolares. 2017. Disponível em: http://tede.biblioteca.ufpb.br/bitstream/tede/9001/2/arquivototal.pdf Acesso em: 29 jun. 2017 PEDRAZA, D. F; QUEIROZ, D; SALES, M. C. Doenças infecciosas em crianças pré-escolares brasileiras assistidas em creches. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 511-528, Feb. 2014 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232014000200511&lng=en&nrm=iso>.Accesson 29 June 2017. <Http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014192.09592012> PRADO, Matilde da S. et al.Prevalência e intensidade da infecção por parasitas intestinais em crianças na idade escolar na Cidade de Salvador (Bahia, Brasil). Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 34, n. 1, p. 99-101, Feb. 2001 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822001000100016&lng=en&nrm=iso>. Acesso de 29 Junho 2017. SOARES, C. V. D. Rastreamento coproparasitológico em crianças de uma creche pública na cidade de Campina Grande – PB. 2016. 22f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2016.
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